O novo pacote de medidas do governo contra os trabalhadores da
Função Pública
Ontem, dia 10/10/2012, realizou-se uma reunião entre os sindicatos da
Frente Comum e o secretário de Estado da Administração
Pública. Ela apenas serviu para confirmar o conjunto de malfeitorias que
este governo pretende fazer contra os trabalhadores da Função
Pública. Como muitos trabalhadores me têm pedido
informações corretas sobre as alterações que este
governo pretende introduzir no Estatuto da Aposentação,
até para poderem decidir a sua vida, vamos começar por elas,
embora o pacote que o governo apresentou aos sindicatos contenha muitas mais
medidas gravosas para os trabalhadores.
As alterações que o governo pretende introduzir no Estatuto da
aposentação são três: (1) Alargamento da base
contributiva (ver ponto 16 do Anexo onde está a disposição
constante do projeto de lei do OE 2013); (2) Alteração da formula
de cálculo da pensão de aposentação (ponto 18 do
anexo); (3) Aumento da idade de aposentação para 65 anos (ponto
19 do anexo). Expliquemos então quais as consequências para os
trabalhadores se as alterações que o governo pretende introduzir
no Estatuto da Aposentação forem aprovadas pela Assembleia da
República, e quando entram em vigor, até porque várias
órgãos de informação, por falta de rigor, criaram
grande confusão.
A primeira alteração é o
alargamento da base contributiva
, o que significa que os trabalhadores passarão a descontar para a CGA
sobre tudo, ou sobre quase tudo que recebem. A proposta de lei do governo
estabelece que a base de incidência será tal como é
definida para Segurança Social. E a base de incidência desta
são as
Prestações sujeitas a incidência contributiva, nos termos
previstos no Código do Imposto sobre os Rendimentos de Pessoas
Singulares IRS
(ver ponto 16 do anexo onde está desenvolvido). É evidente que
este alargamento da base contributiva determinará uma
redução da remuneração liquida atual do
trabalhador, mas aumentará a pensão futura.
Esta disposição só entrará em vigor após a
publicação da lei do OE 2013.
A segunda
alteração que o governo pretende introduzir diz respeito à
fórmula de cálculo da pensão relativa ao tempo de
serviço que o trabalhador prestou até ao fim de 2005, ou seja, ao
P1 (
trabalhadores que entraram para a Função Pública
até 1993). Esta pensão é calculada com base na
remuneração que o trabalhador tinha em 2005, sendo depois
revalorizada com base num coeficiente oficial publicada pelo governo. Este
coeficiente é calculado com base no Índice de Preços do
Consumidor e é aplicado para anular o efeito corrosivo da
inflação na remuneração. Segundo esse índice
publicado pelo governo, a remuneração de 2005 terá ser
aumentada em 13,9% em 2012, para que corresponda ao mesmo valor de 2005. Este
aumento de 13,9% é o índice de atualização
utilizado atualmente pela CGA e pela Segurança Social para calcular as
pensões dos trabalhadores que se aposentaram e reformaram este ano. O
governo quer alterar este coeficiente de revalorização
diminuindo-o apenas para os trabalhadores da Função Publica. E
quer que ele deixe de ser calculado com base na taxa de inflação
e passe a ser calculado com base na percentagem de aumento do
índice 100 da escala salarial das carreiras do regime geral da
função pública entre o ano a que respeitam e o ano da
aposentação.Como este aumento é controlado pelo
governo, e tem subido menos que os preços, o governo pretende desta
forma reduzir as pensões de aposentação. Para se ficar com
uma ideia da redução basta dizer o seguinte: entre 2005 e 2012, o
coeficiente de revalorização com base no Índice do
Preços do Consumidor, que é atualmente utilizado pela CGA e pela
Segurança Social, aumentou 13,9%, enquanto o índice 100 da
Função Pública subiu apenas 8,2%, ou seja, menos 5,7
pontos percentuais. A redução na remuneração de
2005 revalorizada que serve para calcular pensão (P1) determinará
uma diminuição média na pensão de
aposentação para os trabalhadores da Administração
Central que estimamos em 70 por mês e para todos os trabalhadores
de todas as Administrações Públicas (Central, Local e
Regional) que calculamos em 50 por mês. No entanto, a baixa
depende do valor da remuneração do trabalhador em 2005. Qualquer
trabalhador poderá calcular a redução que terá na
sua pensão correspondente ao tempo de serviço até 2005,
fazendo a seguinte conta: (a) Multiplique a remuneração de 2005,
primeiro por 1,139 e depois por 1,082; (b) Seguidamente multiplique cada um dos
valor obtidos pela seguinte fracção: numero anos de
serviço que fez até 2005 a dividir por 40; (c) A diferença
que obtém é a redução que terá na sua
pensão se a formula de calculo for alterada como pretende o governo. E
segundo a proposta do governo
esta disposição tem efeitos retroativos pois, segundo ela,
aplica-se a todas as pensões atribuídas pela CGA a partir
da publicação da lei, independentemente da data de
receção pela Caixa do requerimento e da data a considerar para
efeitos da aplicação do artº 43 do Estatuto da
Aposentação; portando, aplica-se a todos os pedidos de
aposentação, mesmo entrados na CGA em 2012, mas que não
sejam despachados até a entrada da em vigor da presente lei com
exceção, segundo o diretor adjunto da CGA, dos trabalhadores que
indicarem uma data de 2012 para a aposentação.
È previsível que o governo dê instruções
à CGA para que atrase ainda mais a emissão dos despachos para que
mais este corte seja aplicado nas pensões dos trabalhadores. Estimamos
que esta alteração da formula de cálculo reduzirá
as pensões da totalidade dos trabalhadores da Função
Pública que se aposentem já neste regime, que entraram para a
Função Pública até 1993 e estão ainda no
ativo, em mais de 20 milhões por ano.
O que se poderá chamar a um governo que fala tanto em
convergência, mas que aplica critérios diferentes aos
trabalhadores da Função Pública e aos do sector privado, e
que utiliza expedientes desta natureza para roubar mais uma parcela da
pensão aos seus trabalhadores. É evidentemente um governo sem
princípios e sem moral, que não respeita minimamente o principio
da estabilidade das leis que é fundamental para a segurança dos
cidadãos.
A única justificação que apresentou é que a
troika quer, e como está de cócoras perante ela
submete-se aos estrangeiros, não possuindo qualquer sentido de dignidade
nacional.
A terceira alteração que este governo pretende fazer é na
idade de aposentação para 65 anos, incluindo o das carreiras
especiais.
No ponto 19 do Anexo estão os artigos dos diplomas que o governo
pretende revogar que inclui, nomeadamente, o da PSP, GNR, Forças
Armadas, Marinha, policia marítima, professores, enfermeiros, guardas
florestais, investigação e fiscalização do SEF,etc.
Esta alteração da idade de aposentação, segundo a
proposta do governo, produz efeitos a partir da entrada em vigor do
presente diploma
Segundo o diretor adjunto da CGA esta alteração da idade de
aposentação não se aplica aos trabalhadores que pedirem a
aposentação em 2012.
Em resumo, das alterações ao Estatuto da
aposentação, duas delas alteração da base
contributiva e aumento da idade de aposentação para 65 anos
só se aplica a partir de 2013; segundo o subdiretor da CGA aos
trabalhadores que pedirem a aposentação em 2012, mesmo que o
documento seja despachado em 2013 não se aplica os 65 anos. Em
relação à alteração da formula de
cálculo do P1, ela já se aplica aos pedidos de
aposentação feitos em 2012 que não tenham sido despachados
até à entrada em vigor da lei, com exceção daqueles
que indicaram uma data de aposentação de 2012.
Para além destas disposições, o novo pacote de
malfeitorias deste governo ainda inclui muitas outras, estando as principais no
anexo que consta também deste estudo. Queremos apenas chamar a
atenção para as seguintes.
Em clara violação do acórdão do Tribunal
Constitucional, o governo pretende confiscar aos trabalhadores da
Função Pública o subsidio de férias (para os com
remunerações superiores a 1100) ou uma parte dele (para os
com remunerações entre 600 e 1100). E subsidio de Natal
é dividido em 12 partes e acrescentado à
remuneração de cada mês para o trabalhador pagar o aumento
brutal do IRS em 2012 (mais 3.300 milhões ) através da
subida significativa da retenção do IRS que se verificará
em 2013; os trabalhadores só passarão a direito a abono em
deslocações por motivos de serviços, no caso das
diárias se superiores a 20 KM (atualmente 5 km) e se forem por dias
sucessivos têm de ser superiores a 50 km (atualmente 20 km) para terem
direito a abono; o pagamento das horas extraordinárias é reduzido
para um quarto do valor atual (12,5% na1ª hora, 18,75% nas horas
subsequentes); o trabalho noturno na Administração publica
é reduzido de 1,5 remuneração para 1,25, e o de 2
remunerações (trabalho noturno aos sábados depois das 20
horas, domingos, feriados e dias de descanso semanal) passa para1,5
remuneração; o trabalhador perde direito à
remuneração nos 3 primeiros dias que esteja doente, e perde 10%
da remuneração base diária a partir do 4º dia
até ao 30º dia; é confiscados aos aposentados da CGA e aos
reformados da Segurança Social 90% do subsidio de ferias aos que
receberem pensões superiores a 1100, e apenas aos aposentados da
CGA, e não aos pensionistas da Segurança Social, uma parcela
menor do subsidio aos que recebam pensões entre os 600 e os
1100; etc.
Desta forma, desrespeitando os seus direitos, os trabalhadores da
Administração Publica foram transformados por este governo em seu
inimigo principal inimigo. No entanto, é necessário que os
portugueses, e nomeadamente, os trabalhadores não se deixem iludir pelo
governo porque o que ele pretende, e o que está a tentar fazer,
é destruir a Administração Pública e os
serviços que esta presta à população (saúde,
educação, segurança social, etc.), para assim criar
áreas de negócio lucrativas para os privados pagas pelo OE e por
elevados preços pelos consumidores. É previsível que este
novo e violento ataque aos trabalhadores da Função Pública
leve muitos a se aposentarem prematuramente. Se isso suceder
verificar-se-á uma profunda degradação dos serviços
públicos com consequências dramáticas para toda a
população. A direita e os seus defensores falam muito em
redução da despesa pública, mas é importante que os
trabalhadores não se deixem iludir porque, na maior parte das vezes, o
que eles querem é reduzir a despesa do Estado com a saúde, a
educação e a segurança social dos portugueses
(funções sociais), para os obrigar, se as quiserem ter, a pagar
preços altos aos privados. È necessário nunca esquecer isto
11/Outubro/2012
Os anexos deste estudo encontram-se
aqui
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[*]
Economista,
edr2@netcabo.pt
,
www.eugeniorosa.com/
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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