Lucros da EDP atingiram 1.212 milhões em 2008 à custa de
preços superiores aos da UE e de impostos reduzidos
A EDP acabou de apresentar os resultados de 2008. E contrariamente ao que
sucedeu com a generalidade dos trabalhadores portugueses, cujas
condições de vida se agravaram, e com as PMEs, que lutam para
sobreviver, a EDP está a prosperar com a crise. Entre 2007 e 2008, os
seus lucros aumentaram em 192 milhões de euros, tendo atingindo 1.212,3
milhões de euros no último ano. Explicar como esta empresa tem
aumentado tanto os seus lucros é o objectivo deste estudo.
Em 2008, o preço sem impostos, ou seja, aquele que reverte para a
empresa, do gás em Portugal era superior ao preço médio
europeu em 41,2%. E o preço da electricidade em Portugal era superior ao
preço médio da União Europeia em 16,4%. O preço
médio ponderado do gás e da electricidade era em Portugal, em
2008, 18,5% superior ao preço médio do gás e da
electricidade na União Europeia. Fazendo cálculos apropriados
conclui-se que cerca de 224,4 milhões de euros dos 1.212,3 de lucros
líquidos obtidos pela EDP em 2008 tiveram precisamente como origem o ter
vendido o gás e a electricidade em Portugal a um preço muito
superior ao preço médio da União Europeia. Dito de outra
forma:
se a EDP tivesse vendido em Portugal o gás e a electricidade aos
preços médios da União Europeia, os portugueses teriam
pago menos 224,4 milhões de euros.
Entre 2007 e 2008, os Resultados Antes de Impostos obtidos pela EDP aumentaram
em 203,8 milhões de euros, pois passaram de 1.300,8 milhões
para 1.504,6 milhões , mas os impostos pagos e a pagar pela
EDP subiram apenas em 3 milhões de euros, pois passaram de 280,6
milhões de euros para apenas 283,8 milhões de euros. Como
consequência, a taxa de IRC em 2007 que foi de 21,6%, já inferior
à taxa legal de 25% de IRC, desceu, em 2008, para apenas 18,9%.
Se a EDP pagasse a taxa legal de 25% de IRC, ela teria de entregar ao Estado
mais 92,4 milhões de euros referentes aos lucros que obteve em 2008.
Em resumo,
devido a preços de gás e de electricidade praticados em Portugal
pela EDP muito superiores aos preços médios da União
Europeia e devido a benefícios fiscais, ou seja, à custa dos
consumidores e do Estado, a EDP conseguiu aumentar os seus lucros em 2008 em
cerca de 316,8 milhões de euros (224,4 M+ 92,4M).
Assim, é fácil prosperar em Portugal. Desta forma , fica
também claro a falta de vontade deste governo assim como da chamada
autoridade da concorrência para impedir que a EDP se aproveite da
posição dominante que tem no mercado português de
electricidade e da posição importante que tem no de gás.
Uma das justificações apresentadas pelos governos do PS, do PSD e
do PSD/CDS para privatizarem a EDP, que é uma empresa
estratégica, é que isso era necessário para constituir
grupos económicos portugueses fortes, para assim aumentar a
competitividade da economia portuguesa e alcançar elevadas taxas de
crescimento, e que isso também aumentaria a concorrência o que
determinaria a redução dos preços da electricidade e do
gás em Portugal. A realidade mostrou que isso não era verdade,
pois com a privatização as dificuldades financeiras do Estado
aumentaram devido à perda de uma importante fonte de receitas. Tem-se
verificado um crescimento anémico da economia portuguesa, e os
portugueses estão a pagar a electricidade e o gás a um
preço muito superior ao preço médio da União
Europeia. Para além disso, cerca de 50% do capital da EDP já se
encontram em mãos de investidores estrangeiros. Como se refere na
pág. 149 do Relatório e Contas,
já em 31/01/2007, 15% do capital da EDP era detido por investidores
espanhóis, 9% por investidores do Reino Unido, 16% por investidores do
resto da Europa e 10% por investidores dos Estados Unidos, o que somado
dá já 50%, ficando para investidores portugueses apenas 50%. Em
Junho de 2008, os principais grupos estrangeiros que detinham
acções da EDP, eram a IBERDROLA com 9,5% do capital da EDP, Caja
de Ahorros de Astúrias com 5,5%, PIA com 2,86%, SONATRACH com 2,23% , e
IPIC com 2%, o que somado dá já 22,09% do capital da EDP.
Falar em grupos económicos portugueses fortes revelou-se uma pura
mentira. É evidente que uma parte substancial dos elevados lucros
obtidos pela EDP em 2008, à custa também de preços
impostos aos consumidores portugueses muito superiores aos preços
médios da União Europeia e de impostos reduzidos, serão
transferidos para o estrangeiro agravando ainda mais o elevado défice da
Balança Corrente Portuguesa.
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A EDP acabou de apresentar os resultados de 2008. Contrariamente ao que sucedeu
com a generalidade dos trabalhadores portugueses, cujas condições
de vida se agravaram, a EDP prosperou em 2008 com a crise, pois os seus
resultados líquidos aumentaram, neste ano, em mais de 192
milhões de euros, tendo atingindo 1.212,3 milhões de euros.
Procurar compreender como esta empresa conseguiu aumentar tanto os seus lucros,
quando milhares e milhares de PMEs enfrentam dificuldades crescentes para
sobreviver, é importante. É o que se vai procurar fazer de uma
forma facilmente compreensível com este estudo.
OS PREÇOS DA ELECTRICIDADE E DO GÁS EM PORTUGAL SÃO
SUPERIORES, RESPECTIVAMENTE, 16,4% E 41,2% AOS PREÇOS MÉDIOS DA
UNIÃO EUROPEIA
De acordo com os dados divulgados pela administração da EDP, o
volume de negócios em 2008 atingiu 13.894,1 milhões de euros,
tendo 91,6% como origem fundamentalmente vendas de electricidade e a restante
parcela coube principalmente a vendas de gás.
O quadro seguinte, construído com dados do Eurostat, que é o
serviço oficial de estatística da União Europeia, mostra
os preços, sem impostos, portanto os que revertem para a empresa, de
electricidade e do gás praticados em Portugal, em Espanha e os
preços médios da União Europeia em 2008. Eles têm
como base o consumo médio de uma família média.
Em 2008, o preço sem impostos, ou seja, aquele que reverte para a
empresa, do gás em Portugal era superior ao preço médio
europeu em 41,2% , e ao preço espanhol em 20,1%. No mesmo ano; o
preço da electricidade em Portugal era superior ao preço
média da União Europeia em 16,4%, e ao preço da
electricidade em Espanha em 25,4%. Tendo em conta que 91,6% do volume de
negócios da EDP tem como origem fundamentalmente vendas de
electricidade, e o restante principalmente vendas de gás, conclui-se que
o preço médio ponderado do gás e da electricidade, sem
incluir impostos, era em Portugal, em 2008, cerca de 18,5% superior ao
preço médio do gás e da electricidade na União
Europeia. Fazendo os cálculos apropriados conclui-se que cerca de 224,4
milhões de euros dos 1.212,3 de lucros líquidos obtidos pela EDP
em 2008 tiveram precisamente como origem o ter vendido o gás e a
electricidade em Portugal a um preço muito superior ao preço que
vigorou na União Europeia. Dito de outra forma: se a EDP tivesse vendido
em Portugal o gás e a electricidade aos preços médios da
União Europeia, os consumidores portugueses teriam pago menos 224,4
milhões de euros.
OS RESULTADOS DA EDP AUMENTARAM EM 2008 203 MILHÕES DE EUROS, MAS O IRC
SUBIU APENAS 3 MILHÕES DE EUROS, TENDO A EDP PAGO MENOS 92,4
MILHÕES DE IMPOSTO
O quadro seguinte, construído com dados divulgados pela EDP, mostra os
Resultados Antes de Impostos (RAI) desta empresa em 2007 e 2008, assim como os
impostos (IRC e outros) pagos e a pagar.
Entre 2007 e 2008, os Resultados Antes de Impostos obtidos pela EDP aumentaram
em 203,8 milhões de euros, pois passaram de 1.300,8 milhões de
euros para 1.504,6 milhões de euros, mas os impostos pagos e a pagar
pela EDP subiram apenas em 3 milhões de euros, pois passaram de 280,6
milhões de euros para apenas 283,8 milhões de euros. Como
consequência, a taxa de imposto em 2007 de 21,6%, que já era
inferior à taxa legal de 25% de IRC, desceu, em 2008, para apenas 18,9%.
Se a EDP pagasse de IRC a taxa legal, que é exigida à
generalidade das empresas, teria de ter entregue ao Estado mais 92,4
milhões de euros.
METADE DO CAPITAL DA EDP JÁ É DETIDO POR ENTIDADES ESTRANGEIRAS
Uma das justificações apresentadas pelos governos do PS, do PSD e
do PSD/CDS para privatizar a empresa estratégica EDP é que isso
era necessário para constituir grupos económicos portugueses
fortes, para assim aumentar a competitividade da economia portuguesa e
alcançar elevadas taxas de crescimento, e que isso também
aumentaria a concorrência o que determinaria a baixa do preço da
electricidade e do gás. A realidade mostrou que isso não era
verdade, pois com a privatização as dificuldades financeiras do
Estado aumentaram devido à perda de uma importante fonte de receitas,
tem-se verificado um crescimento anémico da economia portuguesa, e os
portugueses estão a pagar a electricidade e o gás a um
preço muito superior ao preço médio da União
Europeia. Para além de tudo isto, já em 2007 cerca de metade do
capital da EDP era detido por entidades estrangeiras como mostra o quadro
seguinte construído com dados do Relatório e Contas de 2007.
Em 31/12/2007, 15% do capital da EDP era detido por investidores
espanhóis, 9% por investidores do Reino Unido, 16% por investidores do
resto da Europa e 10% por investidores dos Estados Unidos, o que somado
dá já 50%, ficando para investidores portugueses apenas 50%.
Em Junho de 2008, os principais grupos estrangeiros que detinham
acções da EDP, eram a IBERDROLA com 9,5% do capital, Caja de
Ahorros de Astúrias com 5,5% do capital, PIA com 2,86%, a SONATRACH com
2,23% , e a IPIC com 2%, o que somado dá já 22,09% do capital da
EDP
05/Março/2009
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Economista,
edr@mail.telepac.pt
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http://resistir.info/
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