Preços sem controlo fazem disparar inflação e lucros em
Portugal
RESUMO DESTE ESTUDO
Duas perguntas que certamente muitos portugueses já fizeram foram as
seguintes: Porque razão a inflação em Portugal aumentou
tanto em 2006? Porque razão empresas como a EDP, a Galp Energia, que
detém a Petrogal e a Gás de Portugal, a PT, etc obtêm
tantos lucros ?
Em 2006, os preços no consumidor aumentaram em Portugal 3,1%, quando a
subida média na U.E. foi apenas de 1,9%., o que significa que o aumento
em Portugal foi 63% superior à media comunitária.
Não
foram os custos do trabalho a causa do aumento tão elevado em Portugal
pois, segundo o Eurostat, na UE estes aumentaram entre 2% e
2,6%, enquanto em Portugal subiram apenas 0,1%, o que significa que o aumento
em Portugal foi inferior à media da UE entre 20 e 26 vezes.
Em 2006,
o preço da electricidade doméstica sem impostos, em Portugal, era
superior em 24,3% ao preço médio comunitário, e o
preço médio do gás doméstico, também sem
impostos, era em Portugal superior em 34% ao preço médio
comunitário.
Entre 2005 e 2006, o preço médio dos
combustíveis, sem incluir impostos, aumentou em Portugal 27,1%, enquanto
o aumento médio na U.E. foi de 20,4% e, com impostos, em Portugal 19,1%
e na U.E. 10,4%. Em consequência, em 2006, o preço médio
dos combustíveis em Portugal, sem impostos, era já igual ao
preço médio da União Europeia (0,54). O preço
com impostos era superior ao preço médio comunitário
(Portugal: 1,20 ; UE:1,19).
O preço sem impostos
é o que reverte para as empresas (é a fonte dos seus lucros). E
isto acontece apesar de os custos mensais da mão-de-obra em Portugal
serem
menos de metade dos da UE (em 2005, segundo o Eurostat, o custo mensal
médio -12 meses- na UE25 era de 3140 euros, enquanto em Portugal era
apenas de 1.557 euros).
Os preços da electricidade e do gás do Eurostat e os dos
combustíveis da Direcção Geral de Energia do
Ministério da Economia mostram que 2006 foi um ano de ouro para as
grandes empresas, e um ano de sacrifício para os portugueses. Eles
tiveram
de pagar preços mais elevados para financiar não só o
aumento dos impostos como também os lucros escandalosos das empresas.
Isto também prova a total ineficácia das chamadas entidades
reguladoras, nomeadas pelo governo, para impedir o aumento abusivo dos
preços.
|
Em 2006, os preços no consumidor aumentaram em Portugal 3,1%, enquanto
na União Europeia subiram 1,9%, o que significa que o aumento verificado
em Portugal foi 63% mais elevado do que a média comunitária. Este
aumento tão elevado dos preços em Portugal, quando o comparamos
com a média comunitária, para além de contribuir
fortemente para o agravamento das condições de vida da maioria
dos portugueses, já que os salários e as pensões tiveram
aumentos inferiores, reduz a competitividade da economia portuguesa pois acaba
por tornar os produtos portugueses mais caros quer no mercado interno quer no
mercado externo onde enfrentam uma concorrência cada vez mais intensa e
global. Face a esta disparidade, normalmente os defensores do pensamento
económico único respondem que a causa são as subidas
salariais (é exemplo o artigo de Daniel Amaral no
Expresso
de
11/01/2007). No entanto, este argumento é desmentido mesmo pelo
serviço oficial de Estatística da União Europeia como
mostra o gráfico seguinte.
De acordo com os dados do gráfico o custo horário do trabalho
aumentou, em 2006 relativamente a 2005, na União Europeia entre 2%
(UE12) e 2,6% (UE25), quando em Portugal cresceu apenas 0,1%, ou seja, o
aumento percentual na União Europeia foi entre 20 vezes e 26 vezes
superior ao verificado em Portugal.
PREÇOS DA ELECTRICIDADE, DO GÁS E DOS TELEFONES EM PORTUGAL
SÃO SUPERIORES AOS PREÇOS MÉDIOS COMUNITÁRIOS
Entre as rubricas que mais contribuíram para o aumento dos preços
em Portugal estão as que incluem a electricidade, o gás e os
transportes.
De acordo com o serviço oficial de Estatística da União
Europeia o Eurostat os preços da electricidade e do
gás em Portugal sem incluir impostos, ou seja, os preços que
alimentam os lucros das empresas são bastante superiores aos
preços médios europeus, apesar dos salários médios
em Portugal corresponderem a menos de metade dos salários médios
europeus. O quadro seguinte, construído com dados publicados pelo
Eurostat, mostra a disparidade dos preços praticados em Portugal quando
comparamos com os preços médios praticados na União
Europeia.
QUADRO I Preços da electricidade e do gás doméstico
sem impostos em Portugal e na UE
(Preços sem impostos que revertem para as empresas)
PRODUTOS
|
2006
|
ELECTRICIDADE DOMÉSTICA- Euro / kWh
|
Portugal
|
0,134
|
União Europeia-25
|
0,1078
|
Preço da electricidade em Portugal é mais elevado do que na UE
|
+ 24,3%
|
GÁS DOMÉSTICO - Euro / GJ
|
Portugal
|
13,83
|
União Europeia
|
10,02
|
Preço do gás em Portugal é mais elevado do que na UE
|
+ 38,0%
|
Fonte : Eurostat
Em 2006, o preço sem incluir impostos, ou seja, o preço que
reverte para as empresas e que é a fonte dos seus lucros, da
electricidade era, em Portugal, 24,3% superior ao preço médio
praticado na União Europeia (inclui 25 países), e o do gás
doméstico era, em Portugal, 38% superior ao preço médio
europeu.
No entanto, apesar de o preço da electricidade pago pelo consumidor
domestico e recebido pelas empresas ser já em Portugal muito mais elevado
do que o preço médio da União Europeia, em 2007
este aumentou mais 6%. E como se isso já não
fosse suficiente a EDP acabou de anunciar a sua pretensão em
aumentá-lo ainda mais agora com a justificação de que isso
é necessário para pagar as reformas antecipadas e as
indemnizações de centenas de trabalhadores que pretende que
abandonem a empresa (reformas antecipadas ou despedimentos). E tudo isto, que
desmente a propaganda governamental de envelhecimento activo, com o objectivo
de manter ou mesmo aumentar os lucros já prometidos aos
accionistas. É surpreendente a reacção da chamada Entidade
Reguladora, cujo presidente acabou de ser nomeado pelo actual governo, que, face
à exigência de mais aumentos de preços por parte da EDP,
declarou aos media que estava a estudar a proposta da empresa e que se ela fosse
favorável aos cinco milhões de clientes a iria aprovar. Como se o
aumento de preços pudesse ser favorável às famílias
e
não à EDP.
Segundo o Eurostat, em 2005, o preço das chamadas telefónicas
locais, com IVA, era em Portugal (0,37 euros por 11 minutos) superior ao
preço médio praticado na UE25 (0,35) em 5,7%.
PREÇOS DOS COMBUSTIVEIS AUMENTARAM EM 2006 MAIS EM PORTUGAL DO QUE NA UE
A variação dos preços dos combustíveis em Portugal
é paradigmático das consequências, por um lado, da
privatização das empresas públicas como a Galp e, por
outro lado, da liberalização dos preços tão
defendida pelo pensamento económico dominante de cariz neoliberal que,
segundo ele, devia determinar a baixa de preços e grandes
benefícios para os consumidores, mas o que tem causado de facto
são subidas de preços muito superiores aos preços
médios da União Europeia. Os quadros seguintes,
construídos com dados divulgados pela Direcção Geral de
Energia do Ministério da Economia, que se encontram disponíveis
no seu "site", mostram bem o que se tem verificado em Portugal a
nível dos preços dos combustíveis, que tem provocado o
aumento significativo dos preços dos transportes utilizados pela
população e dos preços no consumidor.
QUADRO II Variação dos preços médios dos
combustíveis em Portugal e nos países da União Europeia
entre 2005 e 2006
PAÍSES
|
Preços sem impostos
|
Preços com impostos
|
2006
|
2005
|
2005-06
|
2006
|
2005
|
2005-06
|
Alemanha
|
0,50
|
0,43
|
17,4%
|
1,23
|
1,15
|
7,5%
|
Áustria
|
0,53
|
0,45
|
16,5%
|
1,09
|
0,99
|
10,7%
|
Bélgica
|
0,53
|
0,45
|
17,0%
|
1,20
|
1,13
|
6,2%
|
Dinamarca
|
0,54
|
0,45
|
20,1%
|
1,24
|
1,13
|
9,9%
|
Espanha
|
0,54
|
0,45
|
20,1%
|
1,03
|
0,93
|
11,8%
|
Finlândia
|
0,55
|
0,45
|
23,3%
|
1,22
|
1,10
|
11,5%
|
França
|
0,50
|
0,41
|
21,1%
|
1,20
|
1,09
|
9,5%
|
Grécia
|
0,57
|
0,47
|
21,0%
|
1,00
|
0,89
|
13,2%
|
Holanda
|
0,57
|
0,49
|
16,6%
|
1,30
|
1,20
|
8,0%
|
Irlanda
|
0,54
|
0,43
|
26,3%
|
1,15
|
1,01
|
13,5%
|
Itália
|
0,57
|
0,48
|
19,1%
|
1,27
|
1,16
|
9,4%
|
Luxemburgo
|
0,55
|
0,46
|
20,0%
|
1,05
|
0,93
|
12,1%
|
Portugal
|
0,54
|
0,43
|
27,1%
|
1,20
|
1,01
|
19,1%
|
Reino Unido
|
0,51
|
0,41
|
25,6%
|
1,41
|
1,30
|
7,8%
|
Suécia
|
0,52
|
0,45
|
17,0%
|
1,24
|
1,14
|
8,8%
|
MÉDIA UE
|
0,54
|
0,45
|
20,4%
|
1,19
|
1,08
|
10,4%
|
Fonte: Direcção Geral de Geologia e Energia
Ministério da Economia e Inovação
Entre 2005 e 2006, os preços médios dos combustíveis, quer
inclua ou não os impostos, aumentaram mais em Portugal do que na
União Europeia, sendo já iguais ou mesmo superiores aos
preços médios europeus.
Efectivamente, entre 2005 e 2006, o preço médio dos
combustíveis, sem incluir impostos, aumentou, em Portugal, 27,1%
enquanto o aumento médio na UE foi de 20,4%; e em
relação ao preço incluindo impostos, o aumento em
Portugal atingiu 19,1% quando a subida média na UE foi de 10,4%, ou
seja, praticamente metade da verificada em Portugal. Como consequência
destes aumentos desiguais, em 2006, o preço médio sem impostos
era em Portugal igual ao preço médio da UE (Portugal e UE:
0,54 euros) quando, em 2005, o praticado em Portugal era inferior ao
preço médio da UE (Portugal: 0,43 euros; UE: 0,45 euros); e
em relação ao preço médio dos combustíveis
com impostos, em 2006, ele era em Portugal já superior ao preço
médio da UE (Portugal : 1,20 euros; UE: 1,19 euros) quando em 2005
se verificava o contrário (Portugal 1,01; UE: 1,08).
EM 2006 O PREÇO MÉDIO DA GASOLINA 95 AUMENTOU EM PORTUGAL MAIS DO
QUE NA UE
Se no lugar de se analisar a variação do preço de todos os
combustíveis em conjunto, analisar-se apenas um deles de amplo consumo,
como é a gasolina, as conclusões não são
diferentes. O quadro seguinte, construído com dados que estão
também disponíveis no "site" da Direcção
Geral de Energia do Ministério da Economia, mostra a
variação do preço da gasolina 95 em Portugal e na
União Europeia entre 2005 e 2006
QUADRO III Preço da gasolina 95, sem impostos e com impostos,
em Portugal e na União Europeia em Junho de 2005 e de 2006 (em
euros)
PAÍSES
|
Preços sem impostos
|
Preços com impostos
|
2006
|
2005
|
2005-06
|
2006
|
2005
|
2005-06
|
Alemanha
|
0,50
|
0,40
|
25,4%
|
1,34
|
1,22
|
9,6%
|
Áustria
|
0,53
|
0,43
|
21,7%
|
1,14
|
1,03
|
11,1%
|
Bélgica
|
0,53
|
0,43
|
23,5%
|
1,35
|
1,23
|
9,8%
|
Dinamarca
|
0,55
|
0,43
|
26,3%
|
1,36
|
1,22
|
11,6%
|
Espanha
|
0,53
|
0,42
|
26,0%
|
1,09
|
0,96
|
13,9%
|
Finlândia
|
0,54
|
0,40
|
35,7%
|
1,38
|
1,20
|
14,5%
|
França
|
0,49
|
0,38
|
30,5%
|
1,29
|
1,15
|
11,9%
|
Grécia
|
0,56
|
0,44
|
26,0%
|
1,03
|
0,89
|
15,8%
|
Holanda
|
0,58
|
0,48
|
22,2%
|
1,48
|
1,36
|
9,2%
|
Irlanda
|
0,52
|
0,40
|
31,5%
|
1,17
|
1,01
|
14,9%
|
Itália
|
0,55
|
0,45
|
22,5%
|
1,34
|
1,22
|
10,0%
|
Luxemburgo
|
0,55
|
0,45
|
23,9%
|
1,14
|
1,02
|
12,0%
|
Portugal
|
0,55
|
0,41
|
34,4%
|
1,34
|
1,11
|
20,2%
|
Reino Unido
|
0,50
|
0,38
|
30,1%
|
1,39
|
1,28
|
9,0%
|
Suécia
|
0,50
|
0,41
|
21,8%
|
1,31
|
1,19
|
10,0%
|
Média UE
|
0,53
|
0,42
|
26,6%
|
1,28
|
1,14
|
12,0%
|
Fonte: Direcção Geral de Geologia e Energia -
Ministério
da Economia e Inovação
Entre 2005 e 2006, o preço da gasolina 95, sem impostos, portanto o que
reverte para as empresas, aumentou em Portugal 34,4% quando a subida
média na União Europeia foi de 26,6%, o que determinou que o
preço médio em Portugal em 2006 (0,55 euros) fosse superior ao
preço médio praticado na União Europeia (0,53 euros). Em
2005, a situação era inversa (Portugal: 0,41 euros; UE: 0,42
euros). Se se incluir os impostos, o preço médio da gasolina 95
aumentou, entre 2005 e 2006, 20,2% em Portugal e 12% na União Europeia.
Fica assim claro a incapacidade das chamadas entidades reguladoras para
impedir o aumento abusivo dos preços.
O gráfico seguinte permite ficar com uma percepção clara
do ritmo do aumento dos preços dos combustíveis em Portugal e nos
países da União Europeia entre 2005 e 2006 quer sem impostos
(linhas referidas com o digito "1") quer com impostos (linhas
referidas com o digito "2").
Como mostram as linhas do gráfico relativas a Portugal, foi
precisamente nosso País que se verificaram os maiores aumentos, medidos
em cêntimos, entre 2005 e 2006. E isto considere-se quer o preço
médio de todos os combustíveis quer o preço médio
do gasóleo e da gasolina.
Os dados oficiais do Eurostat e do Ministério da Economia revelam que
2006 foi certamente mais um ano de ouro em Portugal para as grandes empresas
que obtiveram elevados lucros, e um ano de sacrifícios para os
portugueses que tiveram de pagar preços mais elevados do que os
preços médios comunitários para alimentar os lucros
daquelas empresas e as receitas do Estado. O verificado em 2006 também
mostra de uma forma clara a ineficácia das chamadas entidades
reguladoras, cujos membros são nomeados pelo governo, para impedir o
aumento abusivo dos preços, já que elas têm uma atitude
passiva chegando mesmo a dar cobertura e a justificar a acção
destas empresas em maximizar os lucros à custa dos consumidores
(recorde-se o Banco de Portugal com os arredondamentos abusivos, a entidade
reguladora da electricidade com a proposta de aumento do preço em 16%, e
a da concorrência que até este momento se tem mantido passiva
perante os escandalosos aumentos de preços dos combustíveis que
os dados da Direcção Geral de Energia do Ministério da
Economia revelam).
28-29/Janeiro/2007
Economista,
edr@mail.telepac.pt
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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