"Impulso jovem", mais uma trama do governo & troika
Para impor uma baixa generalizada dos salários
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Tal como sucedeu com a medida anunciada pelo governo em Maio deste ano de que os desempregados que aceitassem emprego a receber um salário inferior ao subsídio que estavam a receber podiam acumular durante seis meses metade do subsidio de desemprego e durante os seis meses seguintes 25% o governo também apresentou um programa designado "Impulso Jovem". Segundo ele, este programa visaria combater o desemprego jovem (desempregados com idade até aos 30 anos). Contudo, o mesmo não cria emprego permanente, apenas temporário (apenas estágios de 6 meses, com excepção da Administração que é 12 meses não prorrogáveis), pago pelo Estado, e que visa também a baixa generalizada dos salários nominais em Portugal. Assim, de acordo com o "Impulso Jovem" um trabalhador com até ao nível de escolaridade secundária incompleta receberá uma remuneração correspondente a um IAS, ou seja, 419,22, o rendimento do limiar da pobreza; para os que possuem o secundário completo a remuneração é de 1,25 IAS, ou seja, 524,02 ; os com uma licenciatura ou com um mestrado receberão uma remuneração correspondente a 1,65 IAS, ou seja, 691,75 ; e os com um doutoramento terão direito a remuneração entre 1,65 IAS, isto é, 691,75 e 2,25 IAS, ou seja, 943,25. Nas empresas até 10 trabalhadores o Estado comparticipará durante 6 meses com 100% destas remunerações, e nas empresas com mais de 10 trabalhadores a comparticipação pública é de 70%. Caberá ao empregador apenas o pagamento apenas do subsídio de alimentação e transporte, do seguro de acidentes de trabalho e das contribuições à Segurança Social. Com estas medidas o governo prevê criar estágios com a duração de apenas 6 meses para 50.911 jovens até aos 30 anos despendendo 230,9 milhões de fundos públicos. Apesar desta despesa pública, o empregador que beneficiará de trabalho praticamente gratuito de trabalhadores de elevada escolaridade, findo os 6 meses não tem qualquer obrigação de dar emprego ao trabalhador, existindo no programa "Impulso Jovem" uma medida designada por " Apoio à contratação via reembolso das contribuições para a segurança ", que se traduz em dar mais dinheiro público aos patrões, e que consiste no seguinte: desde que haja criação liquida de emprego, através de contratos de trabalho a termo (a prazo) a trabalhadores até ao 30 anos de idade, o empregador tem direito a um " apoio, que terá uma duração máxima de 18 meses, correspondente a 90% das contribuições para a Segurança Social, até a um máximo de 175 por mês". O governo prevê gastar com este apoio aos patrões mais 42,6 milhões de fundos públicos. Para além destas medidas, existem no programa do governo "Impulso Jovem" mais três, que são medidas já experimentadas no passado, com reduzidos resultados práticos. E essas medidas resumem-se às seguintes: (1) Apoio ao empreendedorismo para recém-licenciados ou desempregados com qualificações superiores; (2) Empreendedorismo, rede de percepção e gestão de negócios que tem como objectivo a divulgação de negócios; (3) Empreendedorismo, cooperativas de jovens; (4) Microcrédito, apoio ao empreendedorismo. Com estes quatro programas o governo prevê apoiar 7.984 jovens empreendedores gastando 32,476 milhões de fundos públicos. O problema grave é que um país em grave recessão económica como é aquela que Portugal está, em que o poder de compra caiu de forma acentuada, sendo muito difícil a uma empresa subsistir nesta conjuntura, o que já está acontecer com as empresas existentes, e naturalmente com as novas empresas. É por essa razão que a taxa de mortalidade é muito elevada, sendo muito reduzido o número de empresas que conseguem sobreviver, após a sua criação, mais de um ano. Contrariamente ao que o governo pretende fazer crer à opinião pública, o programa "Impulso Jovem" não é um programa de criação de emprego permanente e de combate ao elevado desemprego jovem. Ele visa iludir os portugueses e adiar indefinidamente um verdadeiro programa de criação de emprego permanente e digno, o que pressupõe mais investimento, nomeadamente público. Aproveitando a situação difícil em que estão milhares de jovens desempregados, que por isso são obrigados a aceitar o que aparece e qualquer remuneração, o governo lança um programa de baixas remunerações pagas com fundos públicos, ou seja, de trabalho gratuito para os patrões, que visa também dar orientações a estes sobre os salários que devem praticar, o que já muitos patrões estão a fazer, como revelam as salários das ofertas de emprego que têm aparecido nos Centros de Emprego enviadas pelas empresas. O objectivo é a redução generalizada dos salários nominais, transformando Portugal num país do 4º mundo como os próprios defensores da direita reconhecem. É evidente que este programa não vai impedir que o desemprego continue a aumentar da forma como se tem verificado em Portugal. |
Em Maio deste ano o governo anunciou que os desempregados que aceitassem um
emprego com um salário inferior ao subsidio que estavam a receber, ou
seja, um emprego a receber o salário mínimo ou pouco mais,
poderiam acumular, durante 6 meses, metade do subsidio de desemprego, desde que
não ultrapassasse 500, com o salário, e depois, durante
mais 6 meses, 25%. O objectivo era claro: levar os desempregados a aceitar
salários extremamente baixos, acumulando com uma parte do subsidio de
desemprego, mas passado o primeiro ano a remuneração que
passariam a receber seria o salário contratado, mesmo que à sua
escolaridade e qualificações devesse corresponder uma
remuneração superior. É desta forma que o governo
está a provocar uma baixa generalizada dos salários nominais em
Portugal, que Passos Coelho tem afirmado que não é objectivo do
governo.
Face ao agravamento brutal do desemprego em Portugal, consequência da
terapia de choque que troika e governo teimosamente prosseguem, apesar de estar
a provocar a destruição da economia e da sociedade portuguesa, o
governo apresentou, com pompa e circunstância, um programa a que chamou
"Impulso Jovem" que supostamente, segundo o governo, visa combater o
desemprego de trabalhadores com idade até aos 30 anos. Mas estranhamente
o programa do governo não visa criar emprego permanente, mas apenas
emprego temporário e mal pago com a duração de apenas 6
meses (nem permite acumular 360 dias de descontos à Segurança
Social para o trabalhador poder ter direito ao subsidio de desemprego de 150
dias).
TRABALHO GRATUITO PARA OS PATRÕES, ONDE OS TRABALHADORES RECEBEM
REMUNERAÇÕES DE MISÉRIA PAGAS COM FUNDOS PÚBLICOS
Aproveitando-se da situação de desemprego prolongado em que se
encontram dezenas de milhares de jovens, muitos deles com o ensino superior, e
devido à pressão da opinião pública face ao grave
problema do desemprego, o governo, no lugar de implementar uma politica de
criação de emprego efectivo, pois só esta é que
poderá garantir a diminuição sustentada do desemprego,
apresentou um "programa" que, por um lado, servisse para enganar a
opinião pública através da redução
temporária do número de desempregados e, por outro lado,
contribuísse para a redução dos custos do trabalho
através de uma diminuição generalizada dos salários
nominais. Para isso, o governo aprovou aquilo que designou por "Impulso
Jovem", em que a medida mais importante é a criação
de estágios com a duração de 6 meses, recebendo os
trabalhadores, em troca, uma remuneração muito baixa paga com
fundos públicos, e sem qualquer garantia de que, findo os 6 meses,
tenham alguma hipótese de continuar a trabalhar. E este governo ainda
tem a desfaçatez de chamar a tal medida "
Passaporte emprego
", quando é verdadeiramente o passaporte para o trabalho
precário, para a continuação no desemprego e para baixas
remunerações.
O quadro seguinte, construído com os dados constantes do programa
"Impulso Jovem", mostra bem as baixas remunerações que
este governo pretende generalizar a todo o país.
Quadro 1 Remunerações pagas aos estagiários durante
seis meses com fundos públicos, segundo o nível de escolaridade e
o
sector de actividade
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| Sem ensino secundário completo | 419,22 | 419,22 | 419,22 | 419,22 | 419,22 | 419,22 | ||
| Com ensino secundário completo | 524,03 | 524,03 | 524,03 | 524,03 | 524,03 | 524,03 | ||
| Licenciado | 691,71 | 691,71 | 691,71 | 691,71 | 691,71 | 691,71 | 628,83 | |
| Mestres | 691,71 | 691,71 | 691,71 | 691,71 | 691,71 | 691,71 | 691,71 | 628,83 |
| Doutores | 691,71 | 691,71 | 943,25 | 628,83 | ||||
| Nº previsto de trabalhadores estagiários | 19.264 | 6.000 | 2.600 | 5.947 | 7.000 | 1.600 | 6.000 | 2.500 |
| Custo previsto Milhões euros | 84,3 | 23,5 | 18,5 | 26,8 | 24,7 | 12,1 | 19,0 | 21,9 |
| Custo médio mês por trabalhador | 729 | 653 | 1.184 | 751 | 590 | 1.266 | 529 | 729 |