Grécia: um país e um povo em luta pela sua dignidade e pelo seu futuro
por Eugénio Rosa
Nos órgãos de comunicação social dos últimos
dias podiam ler noticias como esta: "
Se a meio da semana as instituições (a "troika")
exigiam uma taxa de 23% para todos os bens e serviços (com
exceção de uma de 6% para medicamentos, livros e teatro), agora a
troika aceita uma taxa intermédia de 13% em alimentos básicos,
energia, água e hotéis, mantendo os 23% para a
restauração"
(Expresso on-line de 28/06/2015)
No período 2007-2014, a riqueza (PIB) por habitante caiu em Portugal
5,8%, enquanto na Grécia caiu 4,2 vezes mais (-24,4%); o investimento
diminuiu em Portugal 35,1%, mas na Grécia diminuiu 54,7% (passou de
25,6% do PIB para apenas 11,6%); o défice orçamental reduziu-se
em Portugal 39,2% (passou de 7,4% para 4,5%) mas na Grécia a
redução atingiu 65,7% (passou de -10,2% para -3,5%); o rendimento
nacional liquido disponível teve em Portugal uma redução
de 2,9%, mas na Grécia a redução atingiu 27,3%, ou seja,
9,4 vezes mais; a despesa de consumo em Portugal caiu 4% mas Grécia a
queda foi de 16,4%, ou seja, quatro vezes mais. Entre 2007 e 2014, foi
destruído em Portugal 10,5% do emprego, mas na Grécia atingiu
22,3%, ou seja mais do dobro. Entre 2007 e 2014, a taxa de desemprego aumentou
em Portugal 42,9% (passou de 9,1% para 13%), mas na Grécia a taxa de
desemprego subiu 226,2% (passou de 8,4% para 27,4%); a taxa de pessoas
ameaçadas de pobreza e exclusão social subiu em 10% em Portugal,
mas na Grécia aumentou 27,2%, ou seja, 2,7 vezes mais; e a taxa de
pessoas em situação de privação material severa
aumentou, em Portugal, 10,4%, mas na Grécia subiu 87%.
Entre 2010 e 2013, o rendimento médio equivalente por pessoa diminuiu em
Portugal entre 8,7% e 10,5% segundo o nível do ensino, mas na
Grécia a quebra variou entre 34,4% e 38,8%. Se análise foi feita
para o período 2010-2014, a quebra no rendimento médio
equivalente atinge, na Grécia, entre 39,9% e 42,1%. E é a uma
sociedade assim devastada que as chamadas
"instituições" ("
troika
"), Merkel e sócios querem impor mais cortes nas despesas
públicas, nomeadamente pensões, e subidas de impostos. A
Islândia, um país que recusou a "
troika
", viu o seu rendimento médio equivalente aumentar, no
período 2010-2013, entre 9,8% e 19,9%. Os comentários parecem
desnecessários, mas estes números do próprio Eurostat
merecem uma reflexão profundo sobre o que está acontecer nesta
Europa que não serve as pessoas.
Entre 2005 e 2014, a Alemanha acumulou um enorme saldo positivo na sua Balança Comercial (+1.460.461 milhões ), enquanto a Grécia acumulou um elevado saldo negativo (-176.108 milhões ) e Portugal também (-90.550 milhões ). Quase metade do gigantesco saldo positivo da Alemanha foi conseguido através de transações comerciais dentro da zona euro. E como se sabe, o saldo positivo de um país é conseguido à custa dos saldos negativos de outros países. E como mostram os dados do quadro 3, entre 2005 e 2014, o saldo positivo da Balança Comercial da Alemanha, que já era gigantesco em 2005 (117.189 milhões ), aumentou 58,5%, agravando os desequilíbrios dentro da União Europeia criando as condições que contribuíram para a que a crise que afeta toda a União Europeia e, de forma particular, Portugal, se transforme numa crise que tende a perpetuar. Apesar disso, e apesar dos tratados da U.E. disporem que tais desequilíbrios devem ser corrigidos, mesmo assim a Comissão Europeia não levou a cabo qualquer procedimento para os eliminar. E isto porque o principal culpado é a Alemanha, e a um país como a Alemanha não se pode desagradar, mesmo que isso represente uma clara violação dos Tratados da União Europeia. Mas não é só a nível do comercio que a Alemanha tem sido claramente beneficiada com a existência da U.E e, nomeadamente, com a zona do euro. Igualmente a nível de riqueza criada em outros países que é transferida para a Alemanha, contribuindo para o elevado nível de vida dos alemães, a situação também merece uma séria reflexão, como mostram os dados do Eurostat constantes do quadro 4. E isto até para que num momento em que a chantagem sobre a Grécia e sobre o povo grego atingem níveis inadmissíveis.
Antes de se analisar os dados do quadro 4 (
os valores de 2015 são previsões da Comissão Europeia)
, recorde-se o seguinte, para que eles sejam compreensíveis,: o PIB
é o valor da riqueza criada anualmente no país; o PNB é o
valor da riqueza que o país tem ao seu dispor em cada ano. E quais
são as conclusões que se tiram dos dados anteriores?
È evidente que um país altamente beneficiado com a
transferência de parte da riqueza criada em na Grécia e em
Portugal para o exterior foi a Alemanha. Neste momento em que a chantagem sobre
a Grécia tomou formas extremas é importante recordar este facto.
03/Julho/2015
[*]
edr2@netcabo.pt
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