O governo não compreendeu nem a gravidade nem a provável
duração da crise, investe pouco e oculta medidas insuficientes
com propaganda
RESUMO DESTE ESTUDO
O governo de Sócrates ainda não compreendeu nem a gravidade, nem
a dimensão, nem a provável duração da crise actual.
A prová-lo está o compromisso constante do PEC:2008-2011, enviado
à Comissão Europeia, de já em 2010 reduzir o
défice orçamental em 1.700 milhões de euros; baixar o
investimento público em -14,3%; diminuir os subsídios a
empresas de serviços públicos em -42,5%, o que provocará
aumentos significativos de preços; e de continuar a destruir, já
em 2009, emprego na Administração Pública, o que só
poderá agravar o desemprego no País.
O aumento de desemprego em Portugal não se pode combater sem aumentar o
investimento, pois é ele que cria emprego, e de dinamizar, de uma forma
imediata, o mercado interno.
De acordo com dados que o INE divulgou já em 30/01/2009, este ano o
investimento das empresas deverá baixar em 8,6%, o que significa menos
2.700 milhões de euros do que em 2008. Para compensar esta
redução significativa do investimento empresarial o governo, de
acordo com a chamada "Iniciativa para o Investimento e Emprego" que
justificou a Alteração ao OE2009, tenciona aumentar o
investimento público em apenas 300 milhões de euros em 2009 com o
objectivo de recuperar 100 escolas (segundo o governo, a
recuperação das 100 escolas terá lugar em 2009, em 2010 e
2011). É evidente que com tão reduzido aumento do investimento
público não se combate verdadeiramente o aumento do desemprego.
Melhor teria sido para o País e para os portugueses, que o governo, no
lugar de apoiar a banca com 24.000 milhões , e de utilizar 1.800
milhões de euros para anular, através da CGD, os prejuízos
do BNP, tivesse reforçado significativamente o investimento
público e aumentado o poder de compra dos portugueses com maiores
dificuldades para suportar a actual crise (reformados, desempregados e
trabalhadores com baixos salários), pois seria um medida que teria
efeitos imediatos na dinamização do mercado interno tão
necessário às empresas.
As medidas anunciadas pelo governo para combater o desemprego, são
manifestamente insuficientes. Muitas delas são medidas que já
existiam, cujos efeitos no combate ao desemprego tem sido reduzidos, que foram
repescadas por Sócrates e dados novos nomes para poderem passar como
medidas novas, uma forma de manipulação da opinião
pública.
Os 400 Gabinetes de Inserção Profissional (GIP), tão
propagandeados por alguns media, têm praticamente as mesmas
funções dos Centros de Emprego do IEFP, e das 333 UNIVA´s
(Unidades de Inserção na Vida Profissional) que estão em
funcionamento que o governo pretende desactivar, dos 10 Clubes de Emprego, e do
AGIIRE (Gabinete de Reestruturação Empresarial). A
diferença é que os apoios financeiros aos 400 GIP´s
são inferiores aos que eram concedidos às UNIVAs. Portanto, o
governo baralha e dá o mesmo, visando apenas enganar a opinião
pública e reduzir as despesas com o apoio aos desempregados.
O mesmo se pode dizer do "Programa Emprego-Inserção e
Emprego- Inserção +", que corresponde aos actuais POCs
(Programas Ocupacionais). A diferença é que os
beneficiários dos actuais POCs recebiam mensalmente o salário
mínimo nacional (450) mais o subsidio de refeição de
valor igual ao da função pública, enquanto no "novo
programa" passam a receber apenas 1 IAS (418 ).
Situação análoga se verifica no caso de estágios
profissionais para desempregados à procura de 1º emprego, que
já existiam. A diferença é a redução da
bolsa a que têm direito os desempregados. Até aqui o valor
máximo da bolsa podia atingir dois salários mínimos
nacionais (900) no caso de licenciados; com o "novo" programa o
valor máximo passa a ser de dois IAS (836).
Em 2006 foi publicado a "nova lei do subsídio de desemprego"
deste governo (DL 220/2006). Entre 2006 e Nov.2008, o número de
desempregados a receber subsídio diminuiu em 60.100. Actualmente apenas
58,7% dos desempregados recebem subsídio se se considerar o desemprego
oficial, e 44,7% se se considerar o desemprego efectivo de acordo também
com dados do INE. É urgente alargar o subsídio de desemprego,
alterando a lei actual. Mas a única coisa que este governo pretende
modificar na lei é permitir a suspensão do subsídio do
desemprego no caso de o desempregado arranjar emprego no prazo de 6 meses, e
quando seja despedido de novo poderá continuar a receber o
subsídio durante o período de tempo que faltava, mas não
quer alargar o subsídio de desemprego. O subsídio que pretende
criar de valor igual a 250 (60% de 1 IAS), a atribuir aos desempregados
sem subsidio de desemprego e sem recursos, não é um alargamento
do subsídio de desemprego, como alguns órgãos de
informação, entrando no jogo do governo, erradamente
propagandearam, mas sim um novo subsídio de valor inferior ao limiar de
pobreza, que não impedirá que saia da miséria quem o
receba, e que se pretende criar precisamente para não alargar o
subsídio de desemprego.
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Quem tenha analisado com atenção o
Programa de Estabilidade e Crescimento 2008-2011
(PEC:2008-2011), que este governo enviou à
Comissão Europeia no fim de 2008, assim como as Propostas de
Alterações do Orçamento de Estado para 2009 que o PS
aprovou, a conclusão que tira é que ele ainda não
compreendeu nem a gravidade, nem a dimensão, nem a provável
duração da crise actual.
Tal como aconteceu no passado recente, em que durante muito tempo
Sócrates negou a crise, mesmo quando vários indicadores
revelavam, a partir de Agosto de 2007, que ela era inevitável, e mesmo
depois de ela ter atingido com gravidade muitos países, incluindo
Portugal, agora também este governo continua a mostrar a mesma cegueira
perante as características qualitativamente diferentes da crise actual.
E tal como sucedeu no passado, essa cegueira tem graves consequências
porque impede que sejam tomadas as medidas adequadas.
A provar isso está o facto de que, de acordo com o PEC:2008-2011, este
governo tenciona, se continuar em funções para além de
2009, já em 2010: (1) Reduzir o défice orçamental de 3,9%
em 2009 para 2,9%, ou seja, em mais de 1.700 milhões de euros a
preços actuais; (2) Baixar o investimento publico de 4.820,5
milhões de euros em 2009 para 4.128,9 milhões de euros em 2010,
ou seja, em -14,3% em valores nominais, porque se entrar em conta com a subida
de preços a redução é ainda maior em termos
reais;(3) Continuar com a destruição líquida de empregos na
Administração Pública (menos 56.000 postos de trabalho
entre 2009 e 2011), o que agravará ainda mais o problema do desemprego;
(4) Reduzir os subsídios, nomeadamente a empresas públicas, por
ex. transportes colectivos que, entre 2009 e 2010, baixarão de 3.209,6
milhões de euros para apenas 1.847,2 milhões de euros, ou seja,
sofrerão um corte de -42,5%, o que se reflectirá, por ex., nos
preços dos transportes.
Para o governo de Sócrates, nem o País nem os portugueses
enfrentam uma crise grave. O ano de 2009 é apenas um ano anormal, e a
partir de 2010, como por milagre, tudo voltará à normalidade, e
então o governo, se continuar em funções,
continuará a politica de obsessão de redução do
défice, que conduziu também à crise com a gravidade que
está a ter em Portugal. A miopia, a insensibilidade e a
incompetência técnica deste governo são chocantes.
A PROPAGANDA COMO INSTRUMENTO UTILIZADO POR ESTE GOVERNO PARA MANIPULAR OS
MEDIA E A OPINIÃO PÚBLICA
Quem analise as medidas de apoio ao emprego e aos desempregados deste governo,
e não se limite a propagandeá-las sem qualquer
investigação como têm feito alguns órgãos de
comunicação social, rapidamente conclui que muitas delas
já existiam, que não tiveram quaisquer efeitos
significativos no passado no combate ao desemprego e no apoio aos
desempregados, e que agora apenas têm de diferente o terem um novo nome.
Comecemos por uma das medidas anunciadas pelo governo de Sócrates mais
propagandeada pela comunicação social: a criação de
400 GIP (Gabinetes de Inserção Profissional). Estes gabinetes
têm como objectivo substituir as 333 UNIVAs (Unidades de
Inserção na Vida Activa), os 10 Clubes de Emprego, e o AGIIRE
(Gabinete de Intervenção Integrada de
Reestruturação Empresarial) com o seus NIRPs (Núcleos de
Intervenção Rápida e Personalizada), também muito
propagandeados na altura em que foram criados (2005) mas agora esquecidos, com
reduzidos efeitos na criação e aumento do emprego.
De acordo com a
Portaria 127/2009
, que cria os GIPs, as suas
funções são as seguintes: (a) Informação
profissional; (b) Apoio à procura de emprego; (c) Acompanhamento dos
desempregados; (d) Captação de ofertas de emprego junto das
empresas; ( e ) Divulgação de ofertas de emprego; (f) Controlo
dos beneficiários do subsidio de desemprego; etc.. Por outras palavras,
estes gabinetes têm como objectivo fazer precisamente aquilo que os
Centros de Emprego do IEFP fazem ou deviam fazer. O que diferencia estes GIPs
das anteriores UNIVAs, que substituem, é que o apoio financeiro dado
pelo governo ainda às entidades que criarem os GIPs (Câmaras,
associações empresarias e sindicais, escolas, etc.) é
ainda menor do que era concedido às UNIVAs, ou seja, é uma medida
que visa reduzir os custos financeiros. Uma UNIVA tinha uma
duração de três anos, enquanto o GIP tem um período
de vida de dois anos. Para despesas de instalação de um GIP o
governo concede um subsidio de 5.000, enquanto para uma UNIVA era
concedido 6.470. Para pagar a remuneração do animador o
governo pretende agora conceder, durante o período de vida, a cada GIP
18.392 euros, quando era dado a cada UNIVA 29.700 euros.
No caso dos POCs (Programas Ocupacionais) que estavam em vigor, agora chamados
pelo governo "Programa Emprego- Inserção e Emprego
Inserção +", criado pela Portaria 128/2009, antes os
beneficiários dos POCs recebiam o salário mínimo nacional
(450), agora com o "novo" Programa passam a receber apenas 1
IAS (418 ).
No caso de estágios profissionais para desempregados à procura de
1º emprego, que já existiam, a diferença mais importante
é a redução da bolsa a que tem direito o desempregado.
Anteriormente, o valor máximo da bolsa podia atingir dois
salários mínimos nacionais (900) no caso de licenciados;
agora, de acordo com a Portaria 129/2009 o valor máximo é dois
IAS (836). A outra diferença é que a duração
aumenta de 9 meses para 12 meses.
Nos estágios para desempregados com mais de 35 anos, criados pela
Portaria 131/2009, designados "Estágios Qualificação
Emprego", com a duração máxima de 9 meses, a bolsa
varia entre 522 (ensino básico completo) e 836
(licenciatura) acrescido de subsíio de alimentação igual
ao da função publica.
Para além destes instrumentos são criados, através da
Portaria 130/2009, uma série de benefícios para as empresas,
muitos deles à custa da redução da receita da
Segurança Social.
Nas empresas até 49 trabalhadores, seja qual for a sua
situação económica e financeira, é reduzida a
contribuição patronal para a Segurança Social em 3 pontos
percentuais (-12,6%) relativas às remunerações dos
trabalhadores com 45 ou mais anos. Só estamedida custará à
Segurança Social, em perda de receita, segundo o próprio governo,
169,9 milhões de euros.
Segundo a mesma Portaria, as empresas que contratarem a termo jovens até
aos 35 anos ou desempregados de longa duração serão
isentas durante 36 meses de pagar contribuições para a
Segurança Sócia (em alternativa poderão receber um premio
de 2.000 por cada emprego e a isenção de
contribuições durante dois anos). Esta medida poderá
custar à Segurança Social, em perda de receita, cerca de 53,2
milhões de euros. O mesmo benefíio poderão ter as empresas
que contratarem a prazo trabalhadores com contrato de prestação
de serviços e de trabalho temporário. No fundo é a
substituição de uma forma de precariedade
(prestação de serviços e trabalho temporário) por
outra forma de trabalho precário (contrato a termo), sendo esta
financiada pelo Estado (Segurança Social e IEFP no caso dos 2000
por emprego).
O GOVERNO RECUSA ALARGAR A DURAÇÃO DO SUBSÍDIO DE
DESEMPREGO E CRIA SUBSIDIO DE VALOR INFERIOR AO LIMIAR DA POBREZA E QUE
MANTERÁ NA POBREZA QUEM O RECEBA
Um dos problemas sociais mais graves que existe em Portugal é
precisamente a existência de um elevadíssimo numero de
desempregados que não têm direito ao subsídio de
desemprego. Esta é uma das causas importantes do aumento da pobreza em
Portugal. Com o aumento previsto no desemprego em 2009, a gravidade deste
problema social aumentará mais.
De acordo com o Boletim Estatístico de Novembro de 2008, do GEP do
Ministério do Trabalho e Solidariedade Social, o numero de desempregados
a receber subsidio de desemprego, em Novembro de 2008, era apenas de 255.985.
Este numero tem diminuído desde a publicação do
Decreto-Lei 220/2006, a "nova lei do subsidio de desemprego" do
governo de Sócrates. Entre 2006 e Novembro de 2008, o numero de
desempregados a receber subsídio baixou em mais de 60.100. Esta
diminuição do numero de desempregados subsidiados determinou que
actualmente a percentagem daqueles que recebem subsidio de desemprego
corresponda apenas 58,7% do desemprego oficial, e somente a 44,7% do desemprego
efectivo (desemprego oficial + inactivos disponíveis + subemprego
visível).
Esta quebra nos desempregados com direito ao subsídio de desemprego foi
determinada por duas alterações importantes introduzidas por este
governo na lei do subsídio de desemprego que vigorou até 2006. E
essas alterações, que constam do Decreto-Lei 220/2006 do governo
de Sócrates, foram as seguintes: (a) Um prazo de garantia mínimo
de 450 dias de descontos para a Segurança Social nos 24 meses
imediatamente anteriores à data do desemprego (artº 22º do DL
220/2006), portanto se um trabalhador cai no desemprego e se arranja emprego
meses depois, se este não tiver uma duração superior 21
meses não tem direito a subsidio de desemprego no caso de ser novamente
despedido pois não tem 450 dias de desconto nos 24 meses anteriores ao
despedimento (artº 23º); (b) Redução entre 3 e 6 meses
do período de tempo a que o desempregado tem direito a receber subsidio
de desemprego (artº 37º do DL 220/2006).
O governo recusa-se a alterar estas duas disposições,
introduzidas pelo Decreto-Lei 220/2006, que tem levado à exclusão
de elevado número de desempregados do direito ao subsídio de
desemprego
A única alteração que pretende fazer, anunciada aquando da
divulgação da "Iniciativa de Investimento e Emprego",
mas que ainda não foi publicada, é a seguinte: No caso do
trabalhador conseguir arranjar emprego no prazo máximo de 6 meses a
contar da data do despedimento, o subsídio de desemprego é
suspenso Isto significa que no caso de novo despedimento ele recebe o
subsídio durante o tempo que faltava para terminar o período
anterior em que tinha direito a receber subsídio de desemprego.
Só no caso do novo emprego ser de duração superior a 21
meses, o que lhe permite descontar 450 dias para a Segurança Social,
é que o período a que tem direito a receber subsídio de
desemprego começará a contar novamente desde o início.
Em resumo, o governo de Sócrates recusa a um número significativo
(52%) e crescente de desempregados o direito ao subsídio de desemprego,
condenando-os á miséria. Para ocultar esta
intenção, este governo anunciou que vai criar um subsidio
inferior ao limiar da pobreza, a conceder aos desempregados que não
recebem subsídio de desemprego e sem recursos, a que alguns
órgãos de informação, participando na campanha do
governo de manipulação da opinião publica, chamaram
erradamente "alargamento do subsidio de desemprego". Este
subsídio inferior ao limiar de pobreza, que ainda não foi
publicado, será igual a 60% de um IAS (Indexante de Apoios Sociais), ou
seja, será igual a cerca de 250 euros, um valor que não
tirará da miséria os desempregados. O governo prevê que
sejam abrangidos por esta medida 50.000 desempregados o que
corresponderá a uma despesa que não deverá ultrapassar os
80 milhões de euros em 2009. Compare-se este valor com o prejuízo
de 1.800 milhões de euros já detectados no BPN que foi
nacionalizado e que será em última instância suportado pelo
Orçamento do Estado, apesar das declarações em
contrário do ministro das Finanças na Assembleia da
República que não diz a verdade (recordar o nosso artigo
18/12/2008), e nos mais de 240 milhões de euros que custarão
só em 2009 os benefícios concedidos às empresas à
custa da Segurança Social e do IEFP referidos anteriormente, e
rapidamente concluir-se-á quem está a ser verdadeiramente apoiado
por este governo.
A MAIORIA DAS MEDIDAS PREVISTAS NA PROPOSTA DE ALTERAÇÕES AO
ORÇAMENTO DO ESTADO PARA 2009 NÃO TERÃO QUAIQUER EFEITOS
EM 2009
A análise da Proposta de Alterações ao Orçamento do
Estado para 2009 que o governo apresentou, e que o PS aprovou na Assembleia da
República, leva à conclusão que a maioria das medidas
constantes dela não terão quaisquer efeitos em 2009. E isto
apesar da crise que o País e os portugueses enfrentam se fazer sentir de
uma forma grave em 2009.
Se analisarmos as medidas fiscais constantes da chamada "Iniciativa para o
Investimento e Emprego" que o governo apresentou, que justificou as
Alterações ao OE2009, conclui-se que elas não terão
qualquer impacto em 2009. Assim medidas como o novo sistema de incentivos
fiscais às empresas (RFAI2009), a dedução na colecta do
IRS até 250 de despesas com aquisição de
equipamentos relacionadas com redes de banda larga; aumento das
deduções no IRC de despesas das empresas com I&D; repetindo,
todas estas medidas se tiverem efeitos, eles só se farão sentir a
partir de 2010. Apenas terão efeitos em 2009, a redução do
Pagamento Especial por Conta de IRC de 1250 para 1000, uma
redução apenas de 250, e a chamada inversão do
pagamento do IVA em relação a entidades publicas sujeito passivos
de IVA, que não são a maioria (em regra, os serviços do
Estado não são sujeito passivos do IVA de acordo com o artº
4º do Código), e mesmo assim algumas delas poderão ter um
efeito perverso, que é o de os fornecedores do Estado terem de pagar o
IVA aos seus fornecedores antes de obterem o reembolso por parte do Estado.
Outras medidas, não fiscais, que têm alimentado a propaganda do
governo, só terão algum efeito se existirem famílias e
empresas interessadas nelas e em comparticipar nos seus custos que são
muito superiores aos comparticipados pelo Estado.
Estão neste caso as medidas não fiscais, tão
propagandeadas pelo governo, no campo das energias renováveis,
modernização da infra-estrutura tecnológica, e apoio
especial à actividade económica constantes da "Iniciativa
para o Investimento e Emprego" de Sócrates.
No campo da promoção de energias renováveis, o governo
propõe-se, por ex., apoiar a instalação de painéis
solares e de unidades de microgeração no segmento
doméstico e de serviços, portanto é necessário,
para a sua concretização, aparecerem famílias e empresas
interessadas na sua instalação e estarem disponíveis em
comparticipar nos seus custos.
Na área da modernização da infra-estrutura
tecnológicas, que "envolve o investimento de 1000 milhões de
euros, será essencialmente executado por operadores (privados) de
comunicações alguns dos quais já aderiram ao protocolo
promovido pelo Estado", portanto a sua concretização
está dependente de grandes grupos económicos privados
(PT-Telecom, ZON, a Vodafone que não aderiu, etc.) se disponibilizarem
em investir e, em período de crise, a sua disposição para
fazer isso é muito reduzida.
No apoio especial à actividade económica, as medidas previstas
incluem: (1) Uma linha de crédito no valor de 2000 milhões de
euros para PMEs, em que o Estado se disponibiliza em gastar 75 milhões
de euros na bonificação de juros, cuja
concretização dependerá de existirem pequenas e
médias empresas interessadas em investir; (2) Na dotação
de 150 milhões para um Fundo de Apoio à
reestruturação de fundo empresarial destinados a
operações de fusão e aquisição de empresas,
sendo da responsabilidade das empresas privadas interessadas pagar 67% das
despesas sendo as restante 33% das despesas comparticipadas pelo Estado; (3) A
cobertura adicional do risco de crédito até 4000 milhões
de euros referentes a exportações de PMEs, cuja
concretização dependerá, evidentemente, da
existência de PMEs com capacidade de exportar nas actuais
condições de crise; (4) Apoio à promoção
externa visando a captação de mais 200.000 visitantes que geram
250 milhões de euros, segundo o governo, receitas de turismo, cujo
concretização dependerá de existirem muitos mais turistas
estrangeiros interessados em visitar Portugal, o que parece difícil em
período de crise; etc.
Em resumo, em todas as áreas as medidas que constam da chamada
"Iniciativa de Emprego e investimento" do governo para combater a
crise, a sua concretização dependerá principalmente de
entidades externas sobre as quais o governo não tem qualquer controlo,
por isso a dimensão dos seus efeitos no combate à crise
serão certamente aleatórios e insuficientes.
A única medida, inteiramente dependente do governo, e com efeitos em
2009 é a reabilitação de 100 escolas. Mas estas são
para serem reconstruídas em 2009, em 2010 e em 2011. O investimento
previsto em 2009 com meios financeiros públicos é apenas de 300
milhões de euros, o que criará um numero de reduzido de postos de
trabalho, contrariamente ao propagandeado por Sócrates, o que é
grave tendo em conta a recente previsão do INE de uma
redução do investimento das empresas em 2009, em quase -10%
(menos cerca de 3.000 milhões de euros do que em 2008).
Em resumo, as medidas anunciadas pelo governo para combater a grave crise que o
País está mergulhado são manifestamente insuficientes e de
efeitos reduzidos. São necessárias e urgentes medidas para
dinamizar rapidamente o mercado interno, o que passa pela melhoria
rápida do poder de compra das classes que vivem em dificuldades
crescentes (reformados, desempregados, trabalhadores empregados com baixos
salários) e do investimento público para compensar a elevada
quebra prevista no investimento privado. Mas quanto tempo levará este
governo a perceber a gravidade da crise actual? É uma
questão que deverá preocupar todos os portugueses.
10/Fevereiro/2009
[*]
Economista,
edr@mail.telepac.pt
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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