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No dia 19/01/2010, realizou-se a ultima reunião da Comissão de Acompanhamento do Programa Operacional Emprego, Formação e Desenvolvimento Social (POEFDS), em que participamos, para analisar o Relatório Final de Execução Final. O POEFDS era, no âmbito do 3º Quadro de Apoio Comunitário, um programa estratégico, pois visava a qualificação dos portugueses, a defesa do emprego, e a promoção social, que devia ter sido realizado no período 2000-2006 mas que, por incapacidade do governo, foi prolongado até 2009. Era um programa em que se gastaram 2.720,7 milhões de euros, sendo 1.697,5 milhões de fundos comunitários e 1.023,2 milhões de fundos nacionais. Apesar da sua importância e do elevado montante de gastos, quem tenha lido as mais de 400 páginas que constituem o Relatório Final de Execução rapidamente conclui que não é possível avaliar a qualidade e os resultados da formação realizada, nem o impacto desta e de outras medidas a nível da sociedade portuguesa (empregabilidade e progressão na carreira dos formandos; modernização, aumento da produtividade e da competitividade das empresas, etc). E isto porque 35 anos após se ter iniciado em Portugal a formação profissional co-financiada pela UE continuam a não ser disponibilizados os dados essenciais para se poder fazer isso. Assim, em relação ao Eixo 1 destinado à formação de jovens que entram na vida activa, que inclui o programa "Novas Oportunidades", em que se gastaram 669,9 milhões de euros, não existem quaisquer dados sobre o número de acções feitas, nem sobre horas de formação realizadas (não se sabe se cada acção de formação teve a duração de 20 horas, 50, 100 , 500 ou 1000 horas); nem áreas de formação (se foram acções de informática ou de qualquer outra matéria); nem sobre os resultados obtidos pelos formandos (quantos tiveram aproveitamento e quantos nem terminaram as acções, quantos conseguiram obter o diploma do 9º ano e do 12º ano no âmbito do "Programa Novas Oportunidades"); nem sobre a empregabilidade (se depois de terminarem a formação conseguiram arranjar emprego, ou se continuaram no desemprego). Relativamente ao Eixo 2 , destinado à formação de trabalhadores empregados, em que se gastaram 656,2 milhões de euros, dados fundamentais para avaliar a formação realizada (nº de acções de formação, total de horas de formação, áreas de formação, resultados obtidos pelos formados, etc) assim como o seu impacto quer para os formandos (empregabilidade, progressão na sua carreira profissional, etc) quer para as empresas (modernização, aumento da produtividade e competitividade, etc.) não existem no Relatório de Execução Final do POEFDS apresentado. Em relação à Administração Pública o escândalo é ainda maior. Entre 2000/2008, existiram dois programas de formação (POAP e POEFDS) que abrangiam 390.000 trabalhadores da Administração Pública Central (não incluía a saúde e a educação). O número de formandos nos oito anos foi apenas de 350.000. Como 39,22% dos formados, ou seja, 137.283 eram dirigentes, técnicos superiores e chefias administrativas que representavam apenas 8,3% dos 390.000 trabalhadores da Administração Pública abrangidos por estes dois programas de formação, isto significou que para os restantes 357.741 restaram apenas 212717 vagas para formação. Portanto, durante o período 2000-2008, pelo menos 145.024 trabalhadores do 390.000 da Administração Pública Central abrangidos pelo POAP e PEFDS não tiveram acesso a qualquer formação. E mesmo os que tiveram acesso tiveram direito a participar numa acção de formação em oito anos. Por outras, o governo nem cumpre aquilo que estabeleceu na lei para o sector privado, ou seja, 35 horas de formação profissional anual a que tem direito cada trabalhador. Não deixa de ser incompreensível este comportamento do governo face às repetidas declarações do 1º ministro quanto à grande importância da formação profissional dos portugueses. Para além disto, não existem dados que permitam avaliar a qualidade mesmo da pouca formação feita assim como do seu impacto a nível da carreira profissional dos trabalhadores e na melhoria dos serviços públicos. Em resumo, gastou-se muito dinheiro comunitário e nacional com formação mas com os dados disponíveis no Relatório Final de Execução não se consegue nem avaliar a qualidade das acções realizadas, nem o seu impacto a nível de empregabilidade e progressão na carreira dos trabalhadores, nem a nível da modernização, do aumento da produtividade e competitividade das empresas portuguesas. Tudo isto continua perante a passividade da Comissão Europeia e do Governo Português, que só estão interessados em saber se o dinheiro foi gasto de acordo com os regulamentos, não se importando nem de avaliar as acções realizadas com esses fundos nem de saber o seu impacto a nível dos trabalhadores e da sociedade. E isto apesar de o País ocupar os últimos lugares a nível escolarização e qualificação da sua população na União Europeia. |
Em 19/01/2010 realizou-se a última reunião da Comissão de
Acompanhamento do Programa Operacional de Emprego, Formação, e
Desenvolvimento Social (POEFDS) para analisar o Relatório Final de
Execução. Uma conclusão que imediatamente se tira da
leitura das mais de 400 páginas que constituem o Relatório Final,
é que após 35 anos de formação profissional em
Portugal cofinanciada pela União Europeia continua-se a não
dispor de dados que permitam fazer quer a avaliação da qualidade
dessa formação quer a análise do seu impacto na sociedade
portuguesa. Para um 1º ministro e um governo que falam tanto na
necessidade de qualificação e de utilizar bem os escassos
recursos postos à disposição do País para se
desenvolver, não deixa de ser estranho isso acontecer, até porque
estão em jogo 2,7 mil milhões de euros.
NO POEFDS FORAM GASTOS 2.720,7 MILHÕES DE EUROS DE FUNDOS
COMUNITÁRIOS E DE FUNDOS NACIONAIS
O quadro seguinte, construído com dados que se encontram no
Relatório Final de Execução do POEFDS, mostra como foram
gastos por eixos os 2.720,7 milhões de euros.
QUADRO I Repartição dos gastos de Fundos
Comunitários e Nacionais no âmbito do POEFDS
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Milhões |
Milhões |
% do TOTAL |
| Eixo 1 - Formação qualificante e transição para a vida activa (Formação de jovens) | 822,1 | 821,7 | 30,2% |
| Eixo 2 -Formação ao longo da vida a adaptabilidade (Formação de adultos) | 658,6 | 656,2 | 24,1% |
| Eixo 3 - Qualificar para modernizar a Administração Pública (Formação dos trabalhadores da Função Pública) | 39,3 | 36,3 | 1,3% |
| Eixo 4 - Promover a eficácia das politicas de emprego | 155,7 | 156,7 | 5,8% |
| Eixo 5 - Promoção e desenvolvimento social | 984,5 | 988,3 | 36,3% |
| Eixo 6 -Assistência Técnica | 34,6 | 34,6 | 1,3% |
| Eixo 7 -Promoção do Emprego e protecção social | 30,0 | 26,9 | 1,0% |
| TOTAL | 2.724,9 | 2.720,7 | 100,0% |
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Total de Formandos |
Acumulada |
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Total de Formandos |
Acumulada |
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do TOTAL |
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| Dirigentes | 9.226 | 5,5% | 5,5% | 4.869 | 2,7% | 2,7% | 14.095 | 4,0% | 4,0% | 5.868 |
| Técnicos Superiores | 77.008 | 46,0% | 51,5% | 34.712 | 18,9% | 21,6% | 111.720 | 31,8% | 35,8% | 22.985 |
| Chefias administrativas | 5.425 | 3,2% | 54,8% | 6.558 | 3,6% | 25,1% | 11.983 | 3,4% | 39,3% | 3.406 |
| Técnicos | 19.742 | 11,8% | 66,6% | 60.542 | 33,0% | 58,1% | 80.284 | 22,9% | 62,1% | |
| Técnicos Profissionais | 24.977 | 14,9% | 81,5% | 15.127 | 8,2% | 66,3% | 40.104 | 11,4% | 73,6% | |
| Administrativos | 23.357 | 14,0% | 95,4% | 48.826 | 26,6% | 92,9% | 72.183 | 20,6% | 94,1% | |
| Outros | 12.993 | 7,1% | 100,0% | 12.993 | 3,7% | 97,8% | ||||
| Operários | 562 | 0,3% | 95,8% | 562 | 0,2% | 98,0% | ||||
| Auxiliares | 5.443 | 3,3% | 99,0% | 5.443 | 1,6% | 99,5% | ||||
| Candidatos a funcionários | 160 | 0,1% | 99,1% | 160 | 0,0% | 99,6% | ||||
| Estagiários | 1.462 | 0,9% | 100,0% | 1.462 | 0,4% | 100,0% | ||||
| TOTAL | 167.362 | 100,0% | | 183.627 | 100,0% | | 350.989 | 100,0% | | 390.000 |