Orçamento rectificativo confirma evasão e fraude fiscal
|
O governo acabou de apresentar na Assembleia da República um 2º Orçamento de Estado Rectificativo com um défice de 13.800 milhões de euros, ou seja, mais do triplo que o inicialmente previsto (inicial: 2,2%; agora: mais de 8,5%), com a justificação da redução significativa da receita fiscal que, segundo ele, se deve quase exclusivamente à crise. A direita (PSD e CDS) afirma que o aumento do défice se deve ao "descontrolo da despesa". Portanto ambos (governo e direita) procuram ocultar as suas intenções e ocultar também uma das causas mais importantes da grave situação orçamental como se mostra neste estudo. Ao tentarem reduzir todo o debate à "crise versus descalabro de despesas", o que procuram é impedir qualquer outra explicação para o descalabro registado. Eles recorrem assim ao chamado enquadramento manipulatório, que é uma forma, típica de manipulação cognitiva mencionada por Philippe Breton na sua obra "A palavra manipulada" Se se analisar a execução do OE para 2009 até Outubro deste ano, conclui-se que até esse mês, relativamente a idêntico período de 2008, as despesas do Estado aumentaram 5,8%. E a subida deve-se fundamentalmente ao aumento das despesas de capital (investimentos) que cresceram 32,3%, que são importantes para criar postos de trabalho e reduzir o aumento do desemprego; ao aumento das transferências para a Segurança Social, CGA, SNS, etc., que cresceram 21,4%, fundamentais no combate à pobreza (pensões sociais, RSI, acção social), no pagamento das pensões de aposentação e na prestação de cuidados de saúde à população As despesas com pessoal, cujos trabalhadores são tão atacadas, diminuíram nos dez primeiros meses em -18,2% (menos cerca de 2.000 milhões de euros do que em 2008). Portanto, o que a direita pretende ao falar no "descalabro das despesas" é reduzir as despesas do Estado que são fundamentais no combate à crise embora não tenha coragem para o declarar abertamente. Para isso ela oculta as suas intenções por trás de "palavras virtude" (combate ao descalabro das despesas) de aceitação fácil, imediata e generalizada. E isto porque é de prever que não esteja contra o gasto, só na Administração Central, de 677,7 milhões de euros nos primeiros 10 meses de 2009 na aquisição de serviços que beneficia fundamentalmente os grandes escritórios de advogados. O governo, por sua vez, vem dizer que a quebra significativa das receitas fiscais (menos -4.740,8 milhões de euros do que foi cobrado em 2008) o que provocou que o défice triplicasse (défice global inicial previsto: 3.851 milhões de euros; défice actual só orçamental: 13.800 milhões de euros) se deve quase exclusivamente à crise, em que ele não teria responsabilidade. No entanto, se se analisar a receita do IVA, que é aquela que cai mais (menos 2.541 milhões de euros, ou seja, menos 18,9%), conclui-se que a quebra da receita do IVA devida à redução do consumo interno se estima em 510 milhões de euros; a quebra de receita do IVA devido à redução da taxa de IVA de 21% para 20% (em 2008, a taxa de 20% só vigorou nos últimos quatro meses do ano) deverá rondar os 390 milhões de euros; e a quebra da receita do IVA devido à redução da receita do ISV, à baixa do preço do petróleo e das importações e a outros factores será certamente inferior a 400 milhões de euros. Somando todos valores obtém-se 1.300 milhões de euros. Como o governo prevê no Orçamento rectificativo que apresentou uma redução da receita fiscal só no IVA de 2.541 milhões de euros, ficam por explicar 1.241 milhões de euros, cuja redução só poderá ter como causa o aumento da evasão e da fraude fiscal. E certamente esta evasão e fraude também se verifica em outros impostos, embora possam ser de menor dimensão. E esta perda de receita é já da inteira responsabilidade do governo pois resulta do discurso permissivo governamental e do abandono, por parte da Administração Fiscal, a partir de 2008, do combate eficaz à evasão e fraude fiscal (os incumpridores até têm sido beneficiados através do alargamento dos prazos de pagamento dos impostos em falta anunciados pelo governo em Dez. 2009). Tudo isto poderá determinar a curto prazo o aumento dos impostos para reduzir o défice. Como se tudo isto já não fosse suficiente existe uma passagem na página 5 do Relatório que acompanha o Orçamento Rectificativo em que o governo procura descaradamente iludir a opinião publica e a própria Assembleia da República. É aquela em que diz que aplicar a parte que não foi utilizada dos 20.000 milhões de euros que tencionava emprestar à banca ou utilizar para avalizar empréstimos obtidos por ela, para financiar o défice orçamental é a mesma coisa. Ora isso é totalmente falso. Só no caso de a banca não pagar esses empréstimos é que o Estado, como avalista, teria de os pagar, e só no caso de o banco não poder depois reembolsar o Estado desse dinheiro é que isso aumentaria a divida pública. No financiamento do défice orçamental como o governo pretende agora utilizar uma parte dos 15.000 milhões que ainda restam do montante aprovado pela Assembleia da República, ela será utilizada imediatamente no pagamento de despesas do Estado dando origem ao aumento imediato do défice e da Dívida Pública que terá de ser paga certamente pelos contribuintes. Uma situação diferente que o governo pretende ocultar. |
O governo acabou de apresentar o 2º Orçamento de Estado
rectificativo para 2009, pois o 1º já tinha sido aprovado em
Janeiro aquando da chamada "iniciativa para o Investimento e
Emprego".E como era previsível o governo procura justificar a
apresentação deste Orçamento e o aumento do défice
que está a ele associado com a quebra significativa da receita fiscal a
qual seria determinada, segundo ele, pela crise. A direita (PSD e CDS) atacam
este Orçamento e o governo afirmando que o aumento significativo do
défice resulta do "descontrolo da despesa". No entanto, uma
análise objectiva leva à conclusão que ambos (PS e
direita) procuram ocultar as suas verdadeiras intenções e uma
parte importante da verdade.
O DISCURSO DE MANIPULAÇÃO DA DIREITA UTILIZANDO
"PALAVRAS-VIRTUDE" VISA OCULTAR A SUA INTENÇÃO DE
REDUZIR AS DESPESAS COM INVESTIMENTOS E SOCIAIS DO ESTADO
A direita utiliza aquilo que em técnica de manipulação se
designa como "palavras virtude" (o contrário são as
"palavras-veneno") com o objectivo de conseguir a adesão
fácil de quem a ouve e de esconder as suas verdadeiras
intenções. E essas palavras são o "combate ao
descontrolo das despesas" (Quem é que não está de
acordo com combate ao descontrolo das despesas?). Mas por baixo dessas
"palavras-virtude" ela esconde outras intenções que
não tem coragem de dizer.
Se analisarmos a execução do OE para 2009 até Outubro
deste ano, e são esses os dados que já estão
disponíveis, conclui-se que nos dez primeiros meses de 2009, comparando
com idêntico período de 2008, as despesas do Estado aumentaram
5,8%. E se a análise dessas despesas for mais detalhada, conclui-se que
esta subida deve-se fundamentalmente ao aumento das despesas de capital
(investimentos) que cresceram 32,3%, que são importantes para criar
postos de trabalho e reduzir o crescimento rápido do desemprego; ao
aumento das transferências para a Segurança Social, CGA, SNS,
etc., vitais para defender as condições de vida da
população, que cresceram 21,4%, As despesas com pessoal,
tão atacadas pela direita, pelo governo, e recentemente pelo FMI na sua
habitual politica de ingerência nos assuntos portugueses,
diminuíram -18,2% (menos cerca de 2.000 milhões euros do que em
2008).
Em resumo, o que o PSD e CDS estão a exigir quando falam em
"combate ao descontrolo da despesa", são cortes importantes
nas despesas de investimento do Estado que criam postos de trabalho, e nas
transferências do OE para a Segurança Social necessárias
para combater a pobreza (pensões sociais, RSI, Apoio Social, etc.); e
para a CGA a fim de assegurar o pagamento das pensões aos aposentados, e
a redução das transferências para o SNS que garantem
cuidados de saúde à população. Se não
são estas as despesas que pretende cortar, então diga quais
são, o que nunca fez. Ao ocultar as suas verdadeiras
intenções com "palavras positivas", o que a direita faz
é uma pura acção de manipulação da
opinião pública.
A QUEBRA SIGNIFICATIVA NA RECEITA FISCAL DEVE-SE TAMBÉM, E MUITO, AO
AUMENTO DA EVASÃO E FRAUDE FISCAL
O governo ao atribuir as causas da quebra significativa da receita fiscal quase
exclusivamente à crise, e ao procurar ocultar que aquela quebra é
também devido ao aumento significativo da evasão e da fraude
fiscal, o que pretende é esconder a sua responsabilidade no aumento
significativo do défice orçamental. No entanto, a análise
do que se está a verificar leva à conclusão que só
a nível do IVA a perda de receita devido ao aumento da fraude e da
evasão fiscal é muito significativa. O quadro seguinte,
construído com dados divulgados pelo Ministério das
Finanças e da Administração Pública, permite fazer
essa análise.
QUADRO I Execução do OE2008, OE2009 e 2º OE
Rectificativo para 2009
|
Execução Milhões |
Inicial Milhões |
Rectificativo Milhões |
Rectificativo/Execução 2008 |
(-) Execução 2008 Milhões |
(-) OE2009 |
IRS | 9.344,3 | 9.380,7 | 9.004,0 | -3,6% | -340,3 | -376,70 |
IRC | 5.989,0 | 5.882,5 | 4.623,0 | -22,8% | -1.366,00 | -1.259,50 |
Outros Directos | 12,9 | 10,4 | 8,0 | -38,0% | -4,9 | -2,40 |
ISP | 2.529,8 | 2.650,0 | 2.452,0 | -3,1% | -77,8 | -198,00 |
IVA | 13.430,0 | 14.355,0 | 10.889,0 | -18,9% | -2.541,00 | -3.466,00 |
ISV | 918,1 | 1.100,0 | 732,0 | -20,3% | -186,1 | -368,00 |
ISC Tabaco | 1.295,9 | 1.375,0 | 1.169,0 | -9,8% | -126,9 | -206,00 |
IA Bebidas Alcoólicas | 190,3 | 220,0 | 178,0 | -6,5% | -12,3 | -42,00 |
I Selo | 1.769,0 | 1.964,0 | 1.658,0 | -6,3% | -111 | -306,00 |
Outros Indirectos | 161,5 | 186,3 | 187,0 | 15,8% | 25,5 | 0,70 |
TOTAL | 35.640,8 | 37.123,9 | 30.900,0 | -13,3% | -4.740,80 | -6.223,90 |