No 3º trimestre de 2008 o desemprego atingiu 569 mil portugueses; os
desempregados com ensino superior aumentaram em 44%; e menos da metade dos
desempregados recebe o subsidio respectivo
RESUMO DESTE ESTUDO
O aumento do desemprego e da precariedade no nosso País, associado
à redução do apoio aos desempregados, está
também a contribuir fortemente para o aumento da miséria em
Portugal.
O governo tem afirmado que já foram criados 100 mil postos de trabalho,
mas a análise dos dados do INE revela que esse número resulta de
uma manipulação pelo, pois compara trimestres não
homólogos, portanto não comparáveis sob o ponto de vista
técnico devido à sazonalidade do emprego. Se a
comparação for feita entre trimestres homólogos, por ex.,
entre o 3º trimestre de 2005 e o 3º trimestre de 2008, o crescimento
do emprego liquido é já apenas de 65,8 mil. Entre o 2º
Trimestre de 2008 e o 3º Trimestre de 2008, verificou-se uma
destruição líquida de emprego, pois o emprego neste
período diminuiu em 32,3 mil. A continuar esta destruição
líquida de emprego nos trimestres seguintes, e nada garante que isso
não possa acontecer com a recessão económica, no fim de
2009 a população empregada poderá ser mesmo inferior
à do no inicio de 2005.
De acordo com o INE, no 3º Trimestre de 2008 o desemprego oficial atingiu
433,2 mil mas o desemprego efectivo ou corrigido, que inclui os
"inactivos disponíveis" e o "subemprego
visível", cujos dados são também divulgados pelo INE,
atingiu já 569,1 mi portugueses. Como consequência, a taxa
desemprego oficial de 7,7% sobe para 10,1%, que é a taxa de desemprego
efectiva ou corrigida.. Para 2009, tomando como base a previsão da OCDE
de Novembro de 2008, o desemprego e a taxa oficial de desemprego devem atingir
477,5 mil e 8,5% respectivamente, mas o desemprego efectivo e a taxa de
desemprego efectiva devem alcançar, respectivamente, 617,5 mil e 11%. E
entre o desemprego, o que tem crescido mais em Portugal é o de
escolaridade mais elevada,. o que revela que a economia portuguesa está
a criar fundamentalmente empregos de baixa escolaridade. Entre o 2º
Trimestre de 2005 e o 2º Trimestre de 2008, o desemprego oficial aumentou
2,6%, e o desemprego com nível de escolaridade até ao ensino
básico ou menos diminuiu -4%, mas o desemprego com ensino
secundário cresceu em 10,7%, e o desemprego com ensino superior aumentou
em 53,1%. Entre o 2º Trimestre de 2008 e o 3º Trimestre de 2008, o
desemprego oficial cresceu 5,6%, mas o desemprego de trabalhadores com o ensino
superior aumentou em 44,3%.
Apesar do desemprego ter aumentado, o apoio aos desempregados tem
diminuído em Portugal. O valor orçamentado em 2008 para pagar
subsídios de desemprego é inferior ao valor de 2007 em quase 200
milhões , e daquele total apenas 85% será gasto. E para
2009, apesar de se prever um aumento do desemprego, o orçamentado para
pagar subsídios de desemprego é inferior ao valor de 2008 em mais
de 200 milhões de euros. Entre 2006 e 2008, o numero de desempregados a
receber subsidio diminuiu em 50.000. E isto porque o Decreto-Lei 220/2006
publicado por Sócrates, reduziu o tempo a que o desempregado tem direito
de receber o subsidio de desemprego (artº 37), por um lado, e, por outro
lado, retirou aos desempregados, que tenham tido sucessivos empregos de curta
duração, o direito a receber subsidio de desemprego quando
estão desempregados (artº 23, nº2) . O governo de
Sócrates promove o trabalho precário de curta
duração e, depois, utiliza esse facto para retirar o direito a
esses trabalhadores a receber o subsidio de desemprego quando estão
desempregados.
Em Portugal, o emprego precário cresceu muito nos quatro anos de
governo de Sócrates. Entre o 1º Trimestre de 2005 e o 1º
Trimestre de 2008, o emprego aumentou 1,9% (+96,6 mil), mas o numero de
trabalhadores contratados a prazo cresceu 27,2% (+153,4 mil). Se a
comparação for feita entre o 3º Trimestre de 2005 e o
3º Trimestre de 2008, o crescimento do emprego é de 1,2% (+65,8
mil), enquanto o aumento dos trabalhadores contratados a prazo é de
23,1% (+137 mil). Se consideramos como precários os trabalhadores
contratados a prazo, mais os que estão inscritos na rubrica
"outros", mais os "trabalhadores por conta própria como
isolados", muitos deles a recibo verde, obtém-se, para 1º
Trimestre de 2005, 1.662 mil; para o 1º Trimestre de 2008, 1.811,8 mil; e
para o 3º Trimestre de 2008, 1.818, 3 mil. Em percentagem da
população empregada, os precários tem tido um crescimento
rápido nos 4 anos de governo de Sócrates : 31,8% no 1º
Trimestre de 2005; 34,9% no 1º Trimestre de 2008; e 35% da
população empregada no 3º Trimestre de 2008. Em resumo, o
pouco emprego que se criou foi fundamentalmente emprego precário que
poderá continuar a aumentar com as alterações que o
governo aprovou para o Código do Trabalho.
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Uma das promessas de Sócrates na campanha eleitoral foi a
criação liquida de 150.000 empregos. Mas essa promessa
também não será cumprida. É o que se conclui
analisando a forma como o emprego, o desemprego, o apoio aos desempregados
evoluiu em Portugal no período 2005-2009, utilizando os dados oficiais
do INE até 2008 e, para 2009, a previsão da OCDE de Novembro 2008
TAXA EFECTIVA DE DESEMPREGO ATINGE JÁ 10,1%, EMBORA A TAXA OFICIAL SEJA
7,7%
O quadro seguinte, construído com dados oficiais do INE, do
Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social, e com as
previsões da OCDE, mostra de uma forma quantificada como o emprego, o
desemprego, e o apoio aos desempregados evoluiu em Portugal no período
2005-2009
Um dos aspectos mais utilizados na propaganda governamental é a
criação líquida de cem mil empregos que, segundo o governo,
já se teria registado no período de governo de Sócrates. A
análise dos dados do INE constantes do quadro mostra que esse
número resulta de uma manipulação feita pelo governo, que
compara trimestres não homólogos. Efectivamente, se se comparar
o 3º trimestre de 2005 com o 3º trimestre de 2008, portanto dois
trimestres homólogos e, por isso, a comparação é
tecnicamente mais correcta, pois reduz o efeito da sazonalidade, o crescimento
do emprego liquido é já apenas de 65,8 mil. Por outro lado, e
como mostram também os dados do quadro, entre o 2º Trimestre de
2008 e o 3º Trimestre de 2008, verifica-se uma destruição
liquida de emprego, pois o emprego neste período diminuiu em 32,3 mil. A
continuar esta destruição nos trimestres seguintes, o emprego em
2009 poderá ser mesmo inferior ao emprego em 2005.
No 3º Trimestre de 2008 o desemprego oficial atingiu 433,2 mil mas o
desemprego efectivo ou corrigido, que inclui os "inactivos
disponíveis" (desempregados efectivos que por não terem
procurado emprego no período em que foi feito o inquérito
não foram incluídos no numero oficial de desemprego) e o
"subemprego visível" (desempregados que fazem pequenos
biscates para sobreviver, mas que por esse facto também não
são considerados no número oficial de desemprego); repetindo, se
adicionarmos ao desemprego oficial os "inactivos disponíveis"
e o "subemprego visível" já se obtém 569,1 mil
que é o numero efectivo de desempregados; e a taxa desemprego oficial
de 7,7% aumenta para 10,1%, que é a taxa de desemprego efectiva ou
corrigida.
Para 2009, tomando como base a previsão da OCDE de Novembro de 2008, o
desemprego e a taxa oficial de desemprego devem atingir 477,5 mil e 8,5%
respectivamente; enquanto o desemprego e taxa de desemprego efectiva devem
alcançar, respectivamente, 617,5 mil e 11%. Uma situação
grave sob o ponto de vista social e mesmo económico, pois é
riqueza que podia ser criada e pelo facto dos trabalhadores estarem no
desemprego não é criada.
É URGENTE ALTERAR A LEI DO SUBSIDIO DE DESEMPREGO DO GOVERNO
SÓCRATES
Como revelam os dados do Quadro I (coluna 9), enquanto o desemprego aumenta, o
numero de desempregados a receber subsidio de desemprego tem diminuído.
Entre Março de 2005 e Setembro de 2008, o número de desempregados
a receber subsidio de desemprego baixou de 317,5 mil para apenas 254,6 mil
(-59,9 mil), o que significa que a taxa de cobertura do subsidio de desemprego
desceu de 76,9% para 58,7% (-18,2 p.p.) em relação ao desemprego
oficial, e de 57,8% para 44,7% (-13,1 p.p.) tomando como base o desemprego
efectivo. Esta redução da taxa de cobertura do subsidio de
desemprego é uma consequência da aprovação, pelo
governo de Sócrates, do Decreto-Lei 220/2006. Existem, pelo menos, duas
disposições nesta lei, que não existiam na lei anterior,
que estão a determinar est situação e que, por isso, devem
ser rapidamente alteradas. A primeira, é a que consta no nº 2 do
artº 23 que dispõe que um trabalhador, no caso de ter sucessivos
empregos com duração, cada um deles, inferior a "450 dias de
trabalho com o correspondente registo de remunerações num
período de 24 meses anteriores à data de desemprego", nunca
tem direito ao subsidio de desemprego, mesmo que tenha descontado, nos
vários empregos, para a Segurança Social muitos mais dias do que
o prazo de garantia (450 dias). A segunda disposição ( o
artº 37º) reduziu, para milhares de desempregados, entre três e
seis meses o período de tempo a que têm direito a receber subsidio
de desemprego, porque faz depender a duração do subsidio
não só à idade do desempregado ( o que existia na lei
anterior), mas também do período de descontos para a
Segurança Social a contar desde o último período de
desemprego em que recebeu subsidio (que não existia na lei anterior).
O DESEMPREGO DE TRABALHADORES COM ENSINO SUPERIOR AUMENTOU 44% NO 3ºT-2008
Durante o governo de Sócrates, o desemprego tem aumentado mais nos
grupos populacionais com níveis de escolaridade mais elevada, como
revelam os dados do INE constantes do quadro seguinte.
Entre o 2º Trimestre de 2005 e o 2º Trimestre de 2008, o desemprego
oficial aumentou 2,6%, o desemprego com nível de escolaridade
até ao ensino básico ou menos diminuiu -4%, mas o desemprego com
ensino secundário cresceu em 10,7%, e o desemprego com ensino superior
aumentou em 53,1%. No 3º Trimestre de 2008, relativamente ao trimestre
anterior, o desemprego oficial cresceu 5,6%, mas o desemprego de ensino
superior aumentou em 44,3%. Esta evolução verificada no
período 2005-2008 revela que o emprego criado pela economia portuguesa
é fundamentalmente o da baixa escolaridade, pois o desemprego de
escolaridade mais elevada tem aumentado fortemente enquanto o de baixa
escolaridade tem descido, o que põe em causa uma das
"verdades" da propaganda oficial sobre a alteração do
perfil produtivo.
O GOVERNO PRETENDE REDUZIR O APOIO AOS DESEMPREGADOS EM 200 MILHÕES DE
EUROS EM 2009 APESAR DE SE PREVER QUE O DESEMPREGO AUMENTE
Apesar de todas as previsões apontarem para um aumento significativo do
desemprego em Portugal em 2009, o valor orçamentado para pagamento de
subsídios de desemprego em 2009 é inferior ao do
orçamentado em 2008, como revelam os dados da Segurança Social,
constantes do quadro seguinte.
A partir da publicação do Decreto-Lei 220/2006 pelo governo de
Sócrates, que alterou a legislação sobre o subsidio de
desemprego, tem-se verificado uma redução significativa quer do
orçamentado quer do gasto com o subsidio de desemprego. Assim, em
relação ao orçamentado, a despesa prevista com subsidio de
desemprego para 2008 é inferior à prevista para 2007 em quase 200
milhões de euros. E o efectivamente gasto, é inferior ao
previsto e tem diminuído de uma forma continua. Por ex., o valor do
gasto em 2008 corresponde a cerca de 85,6% do orçamentado para este ano.
E para 2009, apesar de se prever um aumento do desemprego, o orçamentado
para pagar subsídios de desemprego é inferior ao valor de 2008 em
cerca de 200 milhões , pois baixa de 1.779 milhões de euros
em 2008 para 1.578 milhões euros em 2009. Como consequência, se
esta situação não for alterada, com o aumento do
desemprego, a miséria entre os desempregados ainda vai aumentar mais.
O EMPREGO CRIADO NO PERIODO 2005-2008 FOI FUNDAMENTALMENTE PRECÁRIO
O emprego criado no período 2005-2008, por um lado, é emprego
volátil pois é facilmente destruído como aconteceu no
3º Trimestre de 2008, e, por outro lado, é fundamentalmente emprego
precário como mostra os dados do INE constantes do quadro seguinte.
No período 2005 a 2008, o que aumentou mais foram os trabalhadores
contratados a prazo. Entre o 1º Trimestre de 2005 e o 1º Trimestre de
2008, o emprego aumentou 1,9% (+96,6 mil), mas o numero de trabalhadores
contratados a termo cresceu 27,2% (+153,4 mil), portanto muito mais. Se a
comparação for feita entre o 3º Trimestre de 2005 e o
3º Trimestre de 2008, o crescimento do emprego é de 1,2% (+65,8
mil), enquanto o aumento dos trabalhadores contratados a prazo é de
23,1% (+137 mil).
Se definirmos como precários os trabalhadores contratados a prazo, mais
os que estão inscritos na rubrica "outros", mais os
"trabalhadores por conta própria como isolados" (muitos deles
"falsos recibos verdes"), obtém-se, para 1º Trimestre de
2005, 1.662 mil; para o 1º Trimestre de 2008, 1.811,8 mil; e para o
3º Trimestre de 2008, 1.818, 3 mil. Em percentagem da
população empregada, o grupo de trabalhadores precários
tem tido um crescimento rápido nos 4 anos de governo de Sócrates
: 31,8% no 1º Trimestre de 2005; 34,9% no 1º Trimestre de 2008; e 35%
da população empregada no 3º Trimestre de 2008. Em resumo, o
pouco emprego que se criou neste período foi fundamentalmente emprego
precário.
As alterações ao Código do Trabalho propostas pelo governo
de Sócrates e aprovadas em Novembro de 2008 pelo PS na Assembleia da
República vão ainda agravar mais esta situação.
Para concluir isso, basta recordar o seguinte. De acordo com essas
alterações, o período experimental é alargado para
6 meses, o que vai levar à substituição de todos os
contratos a prazo até 6 meses pela colocação dos
trabalhadores em "período experimental", o que permite a
entidade patronal despedir o trabalhador quando quiser, sem qualquer
justificação, e sem ter de pagar qualquer
indemnização (actualmente paga o corresponde a 3 dias de
remuneração por cada mês de trabalho); são criados
os chamados "contratos intermitentes" em que a entidade patronal
é obrigada apenas a garantir trabalho ao trabalhador 6 meses por ano;
vão ser legalizados os "falsos recibos verdes" através
do pagamento de 5% para a Segurança Social pelas entidades patronais;
etc.; etc.. E a fiscalização mesmo do Código do Trabalho
desta natureza, que é sistematicamente violado pelas entidades
patronais, não vai melhorar, pois o número de inspectores de
trabalho que existe actualmente é o mesmo que existia quando este
governo entrou em funções em 2005 (260 segundo
declarações do ministro de Trabalho na Assembleia da
República em 17/11/2008), que é metade do que precisa a
Inspecção Geral do Trabalho, agora chamada "Alta Autoridade
para as Condições do Trabalho", para poder fiscalizar o
cumprimento das leis.
06/Dezembro/2008
[*]
Economista,
edr@mail.telepac.pt
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