Destruição liquida de emprego em dois trimestres consecutivos
por Eugénio Rosa
[*]
Um dos argumentos mais utilizados por Sócrates durante a campanha
eleitoral é, que se fosse governo, criaria milhares de novos postos de
trabalho. Prometeu mesmo a criação 150.000 novos postos de
trabalho líquidos, o que levou muitos portugueses a votarem no PS.
Durante todo o ano de 2006, o ministro Vieira Silva afirmava, nomeadamente na
Assembleia da República aquando do debate do OE2007, afirmou que o
emprego líquido estava a crescer em Portugal tendo sido já
criados mais de 50.000 novos postos de trabalho. Os dados do INE mostram que
isso não está a acontecer, estando-se a verificar precisamente o
contrário. O quadro seguinte, construído com últimos dados
divulgados pelo INE, revela que o que está a suceder é mesmo a
destruição líquida emprego, o que determina que o
número de postos de trabalho existentes no País esteja a diminuir.
Assim, entre o 3º Trimestre de 2006 e o 1º Trimestre de 2007,
portanto em dois trimestres consecutivos, verificou-se uma
destruição liquida de emprego no nosso País que determinou
o desaparecimento de 50.800 postos de trabalho, o que corresponde a cerca de
1% do emprego existente, já que o emprego total baixou de 5.186.700
para 5.135.900. Os grupos profissionais mais atingidos foram os "Quadros
superiores" ( - 20.700 postos de trabalho) e os
"Operários" (-34.300 postos de trabalho). Portanto,
contrariamente ao prometido por Sócrates durante a campanha eleitoral e
ao afirmado por Vieira da Silva durante o debate do OE2007 na Assembleia da
República, não só não se está a verificar o
aumento liquido de emprego, mas o que está a suceder é
precisamente o contrário, ou seja, uma destruição liquida
do emprego existente que já era insuficiente para evitar o aumento do
desemprego no País, o que está a contribuir para um maior
agravamento do problema do desemprego em Portugal, com graves
consequências sociais.
O desemprego oficial não traduz com rigor o verdadeiro desemprego por
várias razões. Em primeiro, porque, como consta da nota
explicativa do próprio INE incluída na publicação
"Estatísticas de Emprego", para ser considerado como empregado
basta que um individuo com mais de 15 anos tenha "efectuado um trabalho de
pelo menos uma hora no período de referência" (período
de referencia correspondem a 3 semanas anteriores ao inquérito),
portanto é suficiente trabalhar uma hora para que o INE o considere
empregado, o que determina que um individuo nesta situação,
embora seja realmente um desempregado, seja considerado empregado e esteja
excluído do número oficial de desempregados. Por outro lado, para
não ser incluído no número oficial de desempregados basta
que um individuo, embora desempregado, " não tenha procurado um
trabalho no período de referência", portanto se um
desempregado não procurar emprego não é considerado
oficialmente como desempregado segundo o INE.
Portanto, em Portugal, como mostram os dados do quadro, o emprego dos
trabalhadores por conta outrem está a diminuir a nível de
contratos a tempo completo e também a nível de contratos por
tempo indeterminado, e está a aumentar os contratos a tempo parcial, a
maior parte deles determinado pelo facto do trabalhador não encontrar a
tempo completo, e também está a crescer de uma forma
rápida os contratos a prazo. A precariedade crescente das
relações de trabalho torna-se assim clara.
Para ficar com uma ideia do carácter insólito da
diminuição continua do desemprego registado que todos os meses o
IEFP tem anunciado, basta comparar os dados do numero de desempregados que
todos os meses se inscrevem nos Centros de Emprego linha do quadro com a
designação "Novo desemprego registado no mês"
com os dados das colocações mensais - Linha do quadro com
a designação "colocações no mês".
Como mostram os dados o numero de novos desempregados que se registam em cada
mês é , em média , 10 vezes superior ao das
colocações. Por ex., em 2005, a soma dos novos desempregados que
se inscreveram em cada mês atingiu 561.558 e o tal de
colocações foi apenas de 52.114; em 2006, a soma dos novos
desempregados atingiu 567.392 e o número de colocações
nesse ano somou apenas 53.481; em 2007, até a Abril, o numero de novos
desempregados que se inscreveram nos Centros de Emprego já atinge
177.642 e o numero de colocações também até a Abril
foi apenas de 18.357. Apesar do número de colocações ser
consideravelmente inferior ao numero de desempregados que se registam todos os
meses nos centros de emprego (em média, pouco mais de 1/10), os
responsáveis do IEFP conseguem o inexplicável milagre: de
apresentar reduções em quase todos os meses do numero de
desempregados. Assim, segundo os dados divulgados pelo IEFP, em Janeiro de 2005
existiam 471.639 desempregados registados, em Dezembro desse ano já eram
468.115, em Dezembro de 2006 tinham diminuído para 440.125 e, em Abril
de 2007 já eram apenas 408.401. Confrontado pelos representantes da CGTP
no Conselho de Administração do IEFP com tão estranho e
inexplicável fenómeno do desaparecimento de um numero
extremamente elevado de desempregados que se inscreveram nos centros de emprego
mas que não aparecem no total de desempregados divulgados todos os meses
pelo IEFP, os responsáveis deste instituto publico dependente
directamente do Ministério do Trabalho recusaram-se a esclarecer a
situação, o que só aumentou as suspeitas sobre a falta de
credibilidade dos números sobre o desemprego registado divulgados
mensalmente pelo IEFP pois, como diz o ditado popular, "quem não
deve não teme"
19/Maio/2007
[1]
Utilizaram-se para os cálculos referente ao 1º Trimestre de 2007,
a composição (estrutura) dos "Trabalhadores por conta
própria" referente a 2004 que se encontra na
publicação "Flexibilidade e Segurança no Mercado de
Trabalho 2006 Ministério do Trabalho e da Solidariedade
Social.
[*] Economista , edr@mail.telepac.pt Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ . |