As desigualdades com base no sexo não estão a diminuir em Portugal
RESUMO DESTE ESTUDO
Neste estudo abordamos aspectos da situação da mulher em Portugal
que foram omitidos, talvez por serem desagradáveis para o poder
politico, no texto divulgado pelo INE com a designação
"Dia Internacional da Mulher 32 anos (1975-2007- Ano Europeu da
Igualdade de Oportunidades para todos (2007).
Em Portugal, as mulheres são já maioritárias na
população empregada com o ensino secundário e superior, e
também em subgrupos e grupos profissionais de qualificação
elevada e média. No entanto, em áreas importantes, como
são o salário que recebem, a segurança no emprego, o
rendimento de substituição que recebem quando estão
doentes ou perdem o emprego, ou quando se reformam, a situação da
mulher continua a ser ainda pior do que a do homem, revelando a
discriminação a que está sujeita.
Assim, no 4º Trimestre de 2006, as mulheres representavam 50,5% da
população empregada com o ensino secundário, e 57,4% da
população empregada com o nível superior. Em
relação a profissões, as mulheres eram maioritárias
no subgrupo "Especialistas das profissões intelectuais e
cientificas" (56,4%) e em todos os subgrupos da população
empregada com "Qualificação e escolaridade
média" (65,8%). Apesar de serem já maioritárias em
todos estes subgrupos e grupos, o salário médio anual auferido
pelas mulheres continuava a ser inferior ao dos homens e a diferença
está a aumentar desde 2002 (em 2002, a diferença era 3.170 euros
e, em 2006, era já de 3.874 euros); são ainda as mulheres que
têm sido mais atingidas pelo desemprego, nomeadamente durante os dois
anos de governo de Sócrates (entre 2002 e 2004. o desemprego oficial das
mulheres aumentou em 14.300, enquanto, entre 2004 e 2006, cresceu em 47.800,
ou seja, 3,3 vezes mais; no mesmo período o acréscimo no
desemprego dos homens baixou de 43.600 para 21.000, ou seja, registou uma
diminuição de -51,8%). Em 2006, de acordo com a
Estatísticas da Segurança Social, o subsidio de doença
recebido pelas mulheres representou apenas 69,8% do recebido pelos homens
(Mulher: 377,98 euros; Homem: 541,48 euros); o subsidio de desemprego das
mulheres representou apenas 78% do recebido pelos homens (M. 336,6; H:
380,8 ); e a pensão media de velhice das mulheres foi somente
60,9% da pensão média recebida pelos homens (M: 261,4 ; H:
339,4).
Estes dados calculados com base em dados oficiais mostram que a
situação dos trabalhadores e das trabalhadoras em Portugal
é bastante grave, mas a situação das mulheres é
ainda pior, o que é consequência das discriminações
que as mulheres continuam sujeitas, e que urge eliminar.
|
Em Portugal, as mulheres, em particular as mulheres trabalhadoras continuam a
sofrer graves discriminações. Este estudo tem como objectivo
tornar visível algumas dessas desigualdades que o texto divulgado pelo
INE sobre o "Dia Internacional da Mulher" omitiu.
AS MULHERES SÃO JÁ MAIORITÁRIAS NA POPULAÇÃO
EMPREGADA COM
O ENSINO SECUNDÁRIO E SUPERIOR
O nível de escolaridade da população portuguesa que tem
emprego continua a ser muito baixo. No 4º Trimestre de 2006, 70,7% da
população empregada tinha o ensino básico ou menos. Mas se
se fizer uma análise por género conclui-se que em todos os
níveis a situação da mulher é muito mais
favorável do que a do homem. O quadro seguinte, construído com
dados publicados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), mostra a
situação neste campo no 4º Trimestre de 2006.
No 4º Trimestre de 2006, na população empregada apenas com o
ensino básico ou menos, 56,8% eram homens e 43,2% eram mulheres,
portanto com um nível de escolaridade mais baixo os homens eram
maioritários.
Mas à medida que se sobe no nível de escolaridade, a
situação inverte-se e são as mulheres que passam a ser
maioritárias e com peso cada vez maior. Assim, na
população empregada com o ensino secundário 49,5% eram
homens e 50,5% mulheres, e com o ensino superior o peso das mulheres aumenta
para 57,4% de toda a população empregada com este nível
de escolaridade, representando os homens apenas 42,6%.
AS MULHERES SÃO JÁ MAIORITÁRIAS EM GRUPOS PROFISSIONAIS
IMPORTANTES
A análise por profissões revela que as mulheres já
são maioritárias em muitas profissões importantes
pertencentes aos grupos designados por "Qualificação e
escolaridade elevada" e "Qualificação e escolaridade
média". O quadro seguinte, construído também com
dados do INE, confirma precisamente isso.
No 4º Trimestre de 2006, embora 54,9% da população empregada
com profissões pertencentes ao grupo "Qualificação e
escolaridade elevada" fossem homens, no entanto no subgrupo
"Especialistas de profissões intelectuais e cientificas " as
mulheres eram já maioritárias (56,4% deste subgrupo). O mesmo
sucedia no grupo com "Qualificação escolaridade
média" onde as mulheres eram maioritárias em todos os
subgrupos representando 65,8% do total do grupo. No grupo de
"Qualificação de banda estreita e de baixa
escolaridade" as mulheres eram minoritárias pois representavam
apenas 37,4% do total deste grupo, embora fossem maioritárias no
subgrupo "Trabalhadores não qualificados" com 65,4% do total
deste subgrupo.
A DIFERENÇA ENTRE OS SALÁRIOS DOS HOMENS E DAS MULHERES
ESTÁ A AUMENTAR EM PORTUGAL
O quadro seguinte construído para o período 2000-2004 com base em
dados do Eurostat e, a partir de 2004, com base em estimativas calculadas
tendo como base o aumento médio dos salários em 2005 e em 2006,
mostra a evolução verificada nos salários anuais dos
homens e das mulheres em Portugal na industria e nos serviços.
Como mostram os dados do quadro, em Portugal, a diferença em euros
entre os salários médios anuais dos homens e das mulheres
reduziu-se entre 2000 e 2002. No entanto, a partir deste último ano
verifica-se um movimento inverso, sendo a diferença cada vez maior.
Se tomarmos como base de cálculo o valor do subsidio de doença,
que representa em media entre 65% e 70% da chamada remuneração de
referencia declarada para a Segurança Social, conclui-se que, em 2006,
o salário médio da mulher declarado pelas empresas à
Segurança Social correspondia apenas a 70% da do homem, que é
uma percentagem inferior à que se obtém utilizando os dados do
quadro II.
Esta desigualdade de remunerações declarada pelas empresas tem
depois consequência graves para a mulher quando é despedida, ou
está doente, ou então quando se reforma, como se mostrará
mais à frente
O DESEMPREGO DAS MULHERES DISPAROU COM O GOVERNO DE SÓCRATES
Apesar das mulheres serem já maioritárias na
população empregada com o ensino secundário e superior, e
apesar de serem dominantes já em vários grupos profissionais
importantes, as mulheres continuam a ser as mais atingidas pelo desemprego,
nomeadamente durante os dois anos de governo de Sócrates, como mostram
os dados do INE constantes do quadro seguinte.
Assim, entre o 4ºTrimestre de 2002 e o 4º Trimestre de 2004, o
desemprego oficial masculino aumentou em 43.600 e o desemprego oficial feminino
subiu em 14.300, ou seja, um terço do aumento verificado a nível
de homens. No período compreendido entre o 4º Trimestre de 2004 e o
4º Trimestre de 2006, a situação inverteu-se, e o desemprego
oficial masculino aumentou em 21.000, enquanto o feminino cresceu em 47.800,
portanto mais do dobro registado nos homens. Se se comparar os aumentos em
numero verificado no 1º período com o registado no segundo
período, conclui-se que o aumento a nível de desemprego masculino
baixou em -51,8%, pois passou de 43.600 para 21.000, enquanto o das mulheres
cresceu em 234% durante o governo de Sócrates, pois passou de 14.300
para 47.800.
O SUBSIDIO MÉDIO DE DOENÇA MEDIO RECEBIDO PELAS MULHER EM 2006
CORRESPONDEU A MENOS DE 70% DO RECEBIDO PELOS HOMENS
Quando um trabalhador está doente, se satisfizer as
condições estabelecidas na lei , tem direito a receber o subsidio
de doença. Os valores a que tem direito dependem dos valores dos
salários declarados pelas empresas à Segurança Social. O
subsidio de doença varia entre 65% e 75% (depende da
duração da doença) do salário médio auferido
pelo trabalhador/a nos últimos 6 meses anteriores à data da
doença. Portanto, os valores que o trabalhador ou trabalhadora tem
direito a receber dependem do valor dos salários declarados pela
entidade patronal à Segurança Social.
Como mostram os dados da Estatísticas da Segurança Social,
constante do quadro seguinte, em 2006 a situação das mulheres,
quando comparada com a dos homens, era ainda bastante desigual. Os valores
recebidos por homens e mulheres eram baixos, mas os das mulheres eram ainda
mais baixos.
Numa altura, em que o actual governo desencadeou uma campanha de propaganda
visando criar na opinião publica a ideia de que a maioria das baixas
são fraudulentas, procurando assim desviar a atenção das
empresas que não pagam as dividas que têm à
Segurança Social, não só aquelas que declaram mas
também aquelas que não declaram (de acordo com estimativas que
fizemos nos dois anos de governo de Sócrates a Segurança Social
perdeu receitas, devido à fraude, à evasão e a
isenções, no valor de 5.200 milhões de euros, enquanto o
governo diz que recuperou nestes dois anos, com o seu combate à fraude e
à evasão, apenas 545,8 milhões de euros 129
milhões de euros em 2005 e 416,8 milhões de euros em 2006
o que corresponde somente a 10,5% da receita perdida); repetindo, numa altura
em que o governo lançou uma forte campanha de propaganda procurando
desviar a atenção da opinião publica de questões
mais importantes para a Segurança Social, interessa ter presente que, em
2006, o subsidio de doença recebido pelas mulheres foi apenas de 377,9
euros, ou seja, somente 69,8% do recebido pelos homens, e que as mulheres
representam 59% dos beneficiários do subsidio de doença.
O SUBSIDIO DE DESEMPREGO RECEBIDO PELAS MULHERES EM 2006
TAMBÉM FOI INFERIOR AO DOS HOMENS
Situação muito semelhante verifica-se a nível do subsidio
de desemprego, em que o valor médio recebido pela mulheres é
também inferior ao subsidio médio recebido pelo homens, como
mostram os dados das Estatística da Segurança Social constantes
do quadro seguinte.
O subsidio médio de desemprego recebido pelas mulheres em 2006 foi
apenas 78% do subsidio médio dos homens, sendo apenas de 336,6 euros,
portanto menos que o salário mínimo nacional.
AS PENSÕES MÉDIAS DE VELHICE RECEBIDAS PELAS MULHERES EM 2006
FORAM INFERIORES A 61% DO VALOR DA DOS HOMENS
As pensões pagas aos reformado do Regime Geral em 2006 são
bastante baixas, mas as das mulheres são ainda mais baixas como mostram
os dados do quadro seguinte.
A desigualdade a nível das pensões regista-se em todos os tipos
de pensões Invalidez, Velhice e Sobrevivência mas
é em relação à "Velhice", que é o
grupo mais numeroso com 1.729.127 reformados em 2006, que a desigualdade de
género é maior, pois a pensão média das mulheres
(261,43 euros) representava apenas 60,9% da pensão media dos homens
(429,29 euros).
07/Março/2007
[*]
Economista,
edr@mail.telepac.pt
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.
|