O aumento das desigualdades e da exploração em Portugal
RESUMO DESTE ESTUDO
As desigualdades e a exploração aumentaram muito em Portugal nos
últimos anos. Mostrar isso, utilizando apenas dados oficiais, é o
objectivo deste estudo. Desta forma procura-se contribuir para chamar a
atenção para uma realidade preocupante que não
poderá ser nem ignorada nem esquecida pelo governo "Sócrates
2".
De acordo com dados do Banco de Portugal, do INE e do Eurostat a percentagem
que as remunerações, quer incluindo as
contribuições sociais quer sem contribuições
sociais, representam da riqueza criada, ou seja, do PIB diminuiu muito
após o 25 de Abril. Assim, em 1975, ano em que a situação
foi mais favorável para os trabalhadores, as remunerações
"liquidas", ou seja, sem contribuições sociais mas
antes do pagamento do IRS, representaram 59% do PIB, enquanto este ano (2009)
prevê-se que representem apenas 34,1% do PIB, ou seja, menos 42,2% do que
a percentagem de 1975 (em pontos percentuais, menos 24,9 pontos). Se os
trabalhadores recebessem em 2009 um valor correspondente à mesma
percentagem do PIB que receberam em 1975, receberiam em 2009 mais 40.860
milhões de euros de salários (Quadro I). Este valor dá uma
ideia clara das consequências para os trabalhadores do agravamento da
desigualdade na repartição da riqueza criada anualmente que se
verificou depois de 1975.
Numa sociedade capitalista como é a nossa, o grau de
exploração dos trabalhadores é medido pela taxa de mais
valia ou taxa de exploração.
As estatísticas em Portugal assim como as União Europeia
não são elaboradas de molde a se poder calcular com
precisão a taxa de mais valia, pois isso poria em causa o próprio
sistema capitalista. No entanto mesmo com as limitações
existentes pode-se utilizar os dados oficiais para calcular uma taxa que
dá uma ideia clara do aumento da exploração em Portugal
nos últimos anos. E o valor que se obtém para essa taxa é
de 46,3% em 1975 e de 100,6% em 2009. Portanto, a dimensão da
exploração dos trabalhadores em Portugal mais que duplicou entre
1975 e 2009.
De acordo com um estudo recente divulgado pela OCDE, Portugal é um dos
países onde é maior a desigualdade na distribuição
do rendimento. É precisamente no nosso País onde o coeficiente de
Gini, que mede a desigualdade, é mais elevado (0,385). A média
nos países da OCDE é de 0,311 (Gráfico I). Depois de
Portugal, na OCDE apenas existem dois países: Turquia e México.
A pobreza está também a atingir milhares de trabalhadores com
emprego devido aos baixos salários que auferem. No fim de 2008, 139,5
mil trabalhadores por conta de outrem recebiam um salário liquido
médio mensal inferior a 310 euros por mês, e os que recebiam
salários até 600 euros correspondiam a 40,9% do total de
trabalhadores por conta de outrem (Quadro II).
Uma camada numerosa da população muito afectada pela desigualdade
na repartição do rendimento são os reformados. Em Julho de
2009, a pensão média de velhice de 1.843.375 reformados era
apenas de 384,72 euros por mês, e 981.181 mulheres recebiam da
Segurança Social uma pensão média de velhice ainda mais
baixa (292,10 euros), portanto um valor muito inferior ao limiar pobreza
(354,28/mês-14 meses). Em relação aos reformados por
invalidez a situação é ainda mais grave. A pensão
media dos 300.173 pensionistas por invalidez paga pela Segurança Social
era, em Julho de 2009, de apenas 321,25 euros. E o valor das pensões
auferidas pelas mulheres (em média 281,10 por mês)
correspondia apenas a 77,8% das do homem. Mas existem distritos em que as
percentagens são ainda inferiores, como sucede com Lisboa (69,4%) e
Setúbal (64,4%) (Quadros III e IV). Se a análise for feita
por escalões de pensões conclui-se que 79% dos pensionistas de
velhice e de invalidez recebem uma pensão inferior a 407 euros (Quadro V)
Alterar a profunda desigualdade que existe na distribuição do
rendimento e da riqueza em Portugal é uma obrigação do
próximo governo. E isto até porque a desigualdade existente
é uma das causas da fragilidade actual do tecido social e
económico do país, e do atraso de Portugal. E como refere a
própria OCDE, "a única forma sustentável de reduzir
a desigualdade é travar o desfasamento de salários e rendimentos
de capital que lhe está subjacente" (Crescimento Desigual?
Distribuição do Rendimento e Pobreza nos Países da OCDE,
pág.3, 2009). Para além de uma politica salarial justa que o
governo de "Sócrates I" sempre recusou é
necessário também alterar um conjunto de leis que estão
também a contribuir para agravar as desigualdades: leis fiscais que
protegem os rendimentos do capital mas penalizam os rendimentos do trabalho;
lei do subsidio de desemprego que exclui centenas de milhares de desempregados
do acesso ao subsidio de desemprego; leis da segurança social que
reduzem o valor das pensões dos trabalhadores que se reformam e que
também impedem a melhoria mesmo das pensões mais baixas dos que
já estão reformados; Código do Trabalho, Regime do
Contrato de Trabalho em Funções Públicas, Lei 12-A/2008,
que estão a determinar a desregulamentação das
relações de trabalho, dando todo o poder às entidades
empregadoras e reduzindo drasticamente os direitos de quem trabalha; etc.
|
As desigualdades e a exploração têm aumentado em Portugal
nos últimos anos. Os próprios dados oficiais sobre a
repartição da riqueza criada no País e sobre a
situação dos reformados confirmam esse facto. Mostrar isso
é o objectivo deste estudo, procurando desta forma contribuir para
chamar a atenção do "novo" governo para uma realidade
preocupante que não poderá ser nem ignorada nem esquecida como
aconteceu no passado recente.
O AGRAVAMENTO DA REPARTIÇÃO DA RIQUEZA CRIADA EM PORTUGAL
Portugal é um dos países da União Europeia onde o
nível de desenvolvimento económico é dos mais baixos mas
onde a desigualdade na repartição da riqueza criada e do
rendimento é mais elevada, situação que se agravou nos
últimos anos, o que constitui um dos factores mais importantes para as
dificuldades que os portugueses estão a enfrentar e para o atraso do
País.
O quadro seguinte, construído com dados oficiais do Banco de Portugal,
do INE e do Eurostat, dá uma ideia clara como a repartição
da riqueza criada anualmente em Portugal, medida pelo PIB, se agravou muito
depois do 25 de Abril.
QUADRO I A repartição da riqueza criada em Portugal (PIB)
no período 1973-2009
ANOS
|
PIB
Milhões escudos
|
Remunerações com Contribuições (*)
Milhões escudos
|
Contribuições Sociais
Milhões escudos
|
Remunerações sem contribuições sociais
Milhões escudos
|
% Remunerações com Contrib./PIB
|
% Remunerações sem Contrib./PIB
|
1973
|
342.817
|
188.153
|
25.784
|
162.368
|
54,9%
|
47,4%
|
1974
|
405.744
|
247.302
|
34.165
|
213.138
|
61,0%
|
52,5%
|
1975
|
469.776
|
321.150
|
44.169
|
276.981
|
68,4%
|
59,0%
|
1976
|
561.947
|
373.076
|
51.772
|
321.305
|
66,4%
|
57,2%
|
1980
|
1.476.316
|
772.260
|
137.536
|
634.724
|
52,3%
|
43,0%
|
1985
|
4.131.014
|
1.894.891
|
422.554
|
1.472.337
|
45,9%
|
35,6%
|
1990
|
10.072.063
|
4.505.870
|
972.792
|
3.533.078
|
44,7%
|
35,1%
|
1995
|
15.912.873
|
7.535.440
|
1.968.248
|
5.567.193
|
47,4%
|
35,0%
|
ANOS
|
PIB
Milhões euros
|
Remunerações com Contribuições (*)
Milhões euros
|
Contribuições Sociais
Milhões euros
|
Remunerações sem contribuições sociais
Milhões euros
|
% Rem. c/ Contr./PIB
|
% Rem. s/ Contr./PIB
|
1998
|
106.498
|
52.457
|
14.902
|
37.555
|
49,3%
|
35,3%
|
1999
|
114.192
|
56.269
|
15.781
|
40.488
|
49,3%
|
35,5%
|
2000
|
122.270
|
61.083
|
17.470
|
43.613
|
50,0%
|
35,7%
|
2001
|
129.308
|
64.349
|
18.513
|
45.836
|
49,8%
|
35,4%
|
2002
|
135.434
|
67.622
|
19.545
|
48.077
|
49,9%
|
35,5%
|
2003
|
138.582
|
69.431
|
20.635
|
48.796
|
50,1%
|
35,2%
|
2004
|
144.128
|
71.693
|
21.227
|
50.466
|
49,7%
|
35,0%
|
2005
|
149.123
|
75.197
|
23.056
|
52.141
|
50,4%
|
35,0%
|
2006
|
155.125
|
77.630
|
23.883
|
53.747
|
50,0%
|
34,6%
|
2007
|
162.811
|
80.147
|
25.405
|
54.742
|
49,2%
|
33,6%
|
2008
|
166.226
|
83.344
|
26.319
|
57.024
|
50,1%
|
34,3%
|
2009 ( E )
|
163.785
|
81.638
|
25.864
|
55.773
|
49,8%
|
34,1%
|
(*) As "Remunerações" incluem
contribuições patronais para a Segurança Social e a
transferência do Orçamento do Estado para a
CGA
Fonte: 1972-1995: Séries Longas Banco Portugal; 1998-2007 :
Relatório de 2007 do Banco de Portugal; 2008: Boletim Económico
Verão 2009 Banco de
Portugal
2009 ( E) : O valor do PIB e das Remunerações são
previsões do Eurostat e o das Contribuições Sociais
é uma estimativa nossa.
Os dados do Banco de Portugal, do INE e do Eurostat revelam uma
redução muito significativa do peso das
remunerações quer com contribuições sociais quer
sem contribuições sociais em percentagem da riqueza criada, ou
seja, do PIB. E se a comparação for feita tomando como base os
anos de 1974, 1975 e 1976, anos em que a repartição da riqueza
criada foi mais favorável para os trabalhadores, os valores actuais
revelam um agravamento muito grande na forma como a riqueza criada é
distribuída em Portugal.
Assim, em 1975, as remunerações "liquidas", ou seja,
sem contribuições sociais mas antes do pagamento do IRS,
representaram 59% do PIB desse ano, enquanto este ano (2009), de acordo com os
dados do Eurostat, prevê-se que representem apenas 34,1% do PIB, ou seja,
menos 42,2% do que a percentagem de 1975 (menos 24,9 pontos percentuais). Se os
trabalhadores recebessem em 2009 a mesma percentagem do PIB que receberam em
1975, receberiam mais 40.860 milhões de euros salários. Este
valor é suficiente para dar uma ideia clara das consequências para
os trabalhadores do agravamento da desigualdade na repartição da
riqueza criada em Portugal que se verificou nos últimos anos. Interessa
ainda referir que, de acordo com os dados oficiais constantes do quadro I,
prevê-se que o valor das remunerações em 2009 seja
inferior ao valor de 2008 em 1.251 milhões de euros.
ENTRE 1975 E 2009 A TAXA DE EXPLORAÇÃO MAIS QUE DUPLICA EM
PORTUGAL
Numa sociedade capitalista como é a nossa, o grau de
exploração dos trabalhadores é medido pela taxa de mais
valia ou taxa de exploração. E a taxa de mais-valia (
m´
) é dada pela relação mais-valia (
m
) e capital variável (
v),
ou seja (
m´= m/v
).
As estatísticas em Portugal assim como as da União Europeia, que
são estatísticas burguesas, não são elaboradas de
molde a se poder calcular com precisão a taxa de
exploração, pois isso poria em causa o próprio sistema
capitalista.
No entanto, vamos procurar, a partir das estatísticas oficiais, calcular
uma taxa que permita avaliar a evolução da dimensão da
exploração em Portugal entre 1975 e 2009. Para isso calculamos a
taxa que se obtém dividindo o "PIB menos as
remunerações com contribuições sociais", ou
seja, aquilo que teoricamente fica nas empresas, pelo valor de
"Remunerações com contribuições sociais",
ou seja, tudo aquilo que teoricamente reverte para os trabalhadores de uma
forma directa e indirecta, e de uma forma imediata ou diferida. Utilizando os
dados do quadro I, o valor que se obtém é de 46,3% para 1975 e de
100,6% para 2009. Portanto, esta taxa mais que duplica entre 1975 e 2009. Este
crescimento tão significativo revela, sem qualquer dúvida, o
aumento da exploração dos trabalhadores em Portugal. Interessa
referir que uma parcela importante da mais valia assim apropriada é
feita pelos grupos financeiros, não só através das taxas
de juros e de elevadas comissões que cobra, mas também
através dos mercados financeiros, em que impera a
especulação, o que tem permitido transferir riqueza dos pequenos
accionistas para os grandes accionistas.
OCDE REVELA QUE PORTUGAL É UM DOS PAÍSES ONDE É MAIOR A
DESIGUALDADE NA DISTRIBUIÇÃO DOS RENDIMENTOS
Uma medida muito utilizada para medir a desigualdade na
distribuição do rendimento num país é o Coeficiente
de Gini. Este coeficiente varia entre 0 (zero) e 1 (um). Quanto maior for o seu
valor maior é a desigualdade na distribuição do
rendimento. A OCDE calculou recentemente os valores deste coeficiente para um
conjunto de países que se encontram disponíveis no seu
"site". São precisamente os valores obtidos pela OCDE que se
apresentam seguidamente sob a forma de gráfico.
GRÁFICO I
Como mostra o gráfico I, Portugal é um dos países que
apresenta maior desigualdade (Coeficiente de Gini igual a 0,385) quando a
média dos países da OCDE é mais baixa (0,311). Depois de
Portugal, na OCDE apenas existem dois países onde a desigualdade na
distribuição do rendimento é maior: Turquia (0,430) e
México (0,474). O mesmo estudo da OCDE revela o agravamento da
desigualdade na distribuição do rendimento em Portugal. De acordo
com dados divulgados também nesse estudo da OCDE, o valor do Coeficiente
de Gini para Portugal teve a seguinte variação por
décadas: Média da década de 80: 0,329; Media de 90: 0,359;
Media de 2000: 0,385.
TRABALHADORES COM EMPREGO A RECEBEREM SALÁRIOS ABAIXO DO LIMIAR DA
POBREZA
A pobreza está a atingir mesmos os trabalhadores com emprego devido aos
baixíssimos salários que auferem, como mostra o quadro seguinte
construído com dados do INE relativos a 2008.
QUADRO II Trabalhadores por conta de outrem por escalão de
rendimento salarial mensal liquido 4º Trimestre de 2008
ESCALÃO DE RENDIMENTO SALARIAL
|
PORTUGAL
Nº Trabalhadores
Mil
|
% do TOTAL
|
Trabalhadores por conta de outrem
|
3 953,1
|
100,0%
|
Menos de 310 euros
|
139,5
|
3,5%
|
De 310 a menos de 600 euros
|
1 479,5
|
37,4%
|
De 600 a menos de 900 euros
|
1 035,2
|
26,2%
|
De 900 a menos de 1 200 euros
|
416,2
|
10,5%
|
De 1 200 a menos de 1 800 euros
|
327,7
|
8,3%
|
De 1 800 a menos de 2 500 euros
|
108,3
|
2,7%
|
De 2 500 a menos de 3 000 euros
|
25,0
|
0,6%
|
3 000 euros e mais euros
|
25,3
|
0,6%
|
NS/NR
|
396,6
|
10,0%
|
Fonte: Estatísticas do Emprego 4º Trimestre de 2008
INE
Em 2008, 139,5 mil trabalhadores por conta de outrem recebiam um salário
liquido médio mensal inferior a 310 euros por mês, e os que
recebiam salários até 600 euros correspondiam a 40,9% do total de
trabalhadores por conta de outrem. É evidente que com salários
desta natureza centenas de milhares de trabalhadores com emprego vivem na
pobreza ou muito próxima dela.
A PENSÃO MEDIA DOS REFORMADOS POR VELHICE É APENAS DE 384,72
EUROS EM 2009
Um dos grupos mais numerosos da população portuguesa atingidos
por baixíssimos rendimentos e pela profunda desigualdade que se verifica
a nível da repartição da riqueza criada anualmente
são os reformados
A situação dos trabalhadores abrangidos pelo Regime Geral quando
se reformam agravou-se significativamente com a alteração das
leis da Segurança Social pelo governo "Sócrates I",
nomeadamente através da alteração da formula de
cálculo da pensão (três formulas, depois passou a uma, e
face ao protesto dos reformados passou a duas) e com a introdução
do chamado factor de sustentabilidade, que é um factor de
redução da pensão.
Uma análise por género, feita com base em dados recentes (Julho
de 2009) divulgados pelo Ministério do Trabalho e da Solidariedade
Social, revela valores médios de pensões muitos baixos,
inaceitáveis sob o ponto de vista social, e profundas desigualdades
entre homem e mulher. O quadro, construído com dados oficiais, mostra
com clareza a situação actual.
QUADRO III Pensionistas e pensão média de velhice em Julho
de 2009 Segurança Social
DISTRITO
|
PENSIONISTAS
|
PENSÃO MÉDIA VELHICE - Euros
|
Pensão da Mulher
em % da do Homem
|
Mulheres
|
Homens
|
TOTAL
|
Mulheres
|
Homens
|
TOTAL
|
Aveiro
|
63.187
|
58.361
|
121.548
|
280,17
|
461,91
|
367,43
|
60,7%
|
Beja
|
20.134
|
16.589
|
36.723
|
274,11
|
357,80
|
311,92
|
76,6%
|
Braga
|
69.590
|
52.244
|
121.834
|
289,86
|
417,78
|
344,72
|
69,4%
|
Bragança
|
18.028
|
13.846
|
31.874
|
258,03
|
290,33
|
272,06
|
88,9%
|
C. Branco
|
27.489
|
20.861
|
48.350
|
266,07
|
358,92
|
306,13
|
74,1%
|
Coimbra
|
45.591
|
36.413
|
82.004
|
269,97
|
432,99
|
342,36
|
62,4%
|
Évora
|
21.121
|
17.261
|
38.382
|
285,91
|
414,97
|
343,95
|
68,9%
|
Faro
|
34.932
|
33.250
|
68.182
|
279,79
|
407,81
|
342,22
|
68,6%
|
Guarda
|
22.409
|
16.281
|
38.690
|
262,21
|
323,56
|
288,03
|
81,0%
|
Leiria
|
45.706
|
40.163
|
85.869
|
278,15
|
422,05
|
345,45
|
65,9%
|
Lisboa
|
198.190
|
175.759
|
373.949
|
333,63
|
694,03
|
503,02
|
48,1%
|
Portalegre
|
17.296
|
13.378
|
30.674
|
271,22
|
387,10
|
321,76
|
70,1%
|
Porto
|
139.431
|
123.920
|
263.351
|
306,01
|
550,54
|
421,07
|
55,6%
|
Santarém
|
49.429
|
41.856
|
91.285
|
277,61
|
440,66
|
352,37
|
63,0%
|
Setúbal
|
69.616
|
67.702
|
137.318
|
298,06
|
617,94
|
455,77
|
48,2%
|
V. Castelo
|
27.421
|
18.057
|
45.478
|
266,84
|
341,58
|
296,52
|
78,1%
|
Vila Real
|
23.017
|
18.171
|
41.188
|
259,08
|
316,04
|
284,21
|
82,0%
|
Viseu
|
40.044
|
33.602
|
73.646
|
261,39
|
336,80
|
295,80
|
77,6%
|
RA Açores
|
11.595
|
12.959
|
24.554
|
270,55
|
389,17
|
333,15
|
69,5%
|
RA Madeira
|
23.350
|
13.999
|
37.349
|
297,44
|
435,52
|
349,19
|
68,3%
|
Outros
|
13.605
|
37.522
|
51.127
|
202,37
|
202,79
|
202,68
|
99,8%
|
TOTAL
|
981.181
|
862.194
|
1.843.375
|
292,10
|
490,12
|
384,72
|
59,6%
|
Fonte: Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social
De acordo com dados do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social,
em Julho de 2009, a pensão media de velhice era apenas de 384, 72 euros,
e a pensão média de velhice das 981.181 mulheres abrangidas pela
Segurança Social atingia somente 292,10 euros por mês, portanto um
valor inferior ao limiar pobreza (354,28/mês) o que mostra bem a
situação de miséria em que vivem actualmente a esmagadora
maioria dos reformados em Portugal, e nomeadamente as mulheres que auferem
pensões ainda mais baixas do que as dos homens, embora as destes
já sejam muito baixas. Se a análise for feita por distrito, a
gravidade da situação ainda se torna mais clara pois em 18 das 21
regiões consideradas no quadro anterior a pensão media da mulher
é ainda inferior ao valor da pensão média no País
referido anteriormente (292,10/mês).
A pensão media de velhice da mulher corresponde em média a
nível do país apenas a 59,6% da pensão média do
homem . E existem distritos (ex. Porto, Lisboa e Setúbal) onde essa
percentagem é ainda mais baixa. E tudo isto em Julho de 2009.
A PENSÃO MEDIA POR INVALIDEZ É APENAS 321,21 EUROS POR MÊS
EM 2009
Outro grupo populacional também numeroso e muito mal tratado pelos
sucessivos governos, também a receber actualmente pensões muito
baixas (inaceitáveis sob o ponto de vista social) são os
reformados por invalidez da Segurança Social como mostra o quadro
seguinte, construído com dados recentes (já de 2009) divulgados
pelo Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social.
QUADRO IV- Pensionistas e pensão média de invalidez da
Segurança Social em Julho/2009
DISTRITOS
|
Pensionistas Invalidez - Jul/2009
|
Pensão média invalidez - Jul/2009
|
Pensão da Mulher
em % da do Homem
|
Mulher
|
Homem
|
TOTAL
|
Mulher
|
Homem
|
TOTAL
|
Aveiro
|
9.771
|
9.246
|
19.017
|
277,64
|
342,52
|
309,18
|
81,1%
|
Beja
|
2.674
|
2.582
|
5.256
|
265,33
|
323,58
|
293,95
|
82,0%
|
Braga
|
14.226
|
12.307
|
26.533
|
302,81
|
334,56
|
317,54
|
90,5%
|
Bragança
|
2.001
|
2.345
|
4.346
|
250,06
|
261,38
|
256,17
|
95,7%
|
C. Branco
|
2.855
|
3.175
|
6.030
|
266,35
|
308,65
|
288,63
|
86,3%
|
Coimbra
|
7.085
|
7.265
|
14.350
|
275,25
|
377,15
|
326,84
|
73,0%
|
Évora
|
3.713
|
2.547
|
6.260
|
292,84
|
361,46
|
320,76
|
81,0%
|
Faro
|
3.911
|
4.334
|
8.245
|
271,46
|
332,97
|
303,79
|
81,5%
|
Guarda
|
2.700
|
2.724
|
5.424
|
262,76
|
296,97
|
279,94
|
88,5%
|
Leiria
|
7.298
|
7.377
|
14.675
|
291,40
|
403,70
|
347,85
|
72,2%
|
Lisboa
|
25.737
|
26.284
|
52.021
|
279,71
|
403,09
|
342,05
|
69,4%
|
Portalegre
|
2.379
|
1.960
|
4.339
|
274,80
|
331,35
|
300,34
|
82,9%
|
Porto
|
25.108
|
23.945
|
49.053
|
284,00
|
361,29
|
321,73
|
78,6%
|
Santarém
|
7.623
|
7.134
|
14.757
|
280,98
|
367,83
|
322,97
|
76,4%
|
Setúbal
|
11.272
|
10.838
|
22.110
|
299,94
|
465,90
|
381,29
|
64,4%
|
V. Castelo
|
4.255
|
4.170
|
8.425
|
274,12
|
345,26
|
309,33
|
79,4%
|
Vila Real
|
2.931
|
3.779
|
6.710
|
253,82
|
268,37
|
262,01
|
94,6%
|
Viseu
|
3.789
|
4.763
|
8.552
|
246,21
|
276,31
|
262,97
|
89,1%
|
RA Açores
|
4.001
|
4.758
|
8.759
|
280,02
|
380,93
|
334,83
|
73,5%
|
RA Madeira
|
4.466
|
3.734
|
8.200
|
284,69
|
380,64
|
328,38
|
74,8%
|
Outros
|
1.831
|
5.280
|
7.111
|
214,34
|
226,04
|
223,03
|
94,8%
|
TOTAL
|
149.626
|
150.547
|
300.173
|
281,10
|
361,15
|
321,25
|
77,8%
|
Fonte: Mistério do Trabalho e da Solidariedade
Social
A pensão media dos 300.173 pensionistas de invalidez paga pela
Segurança Social era, em Julho de 2009, de apenas 321,25 euros, portanto
um valor abaixo do limiar da pobreza que é 354,21/mês. E se
análise for feita por distritos conclui-se que em 14 das 21
regiões consideradas no quadro a pensão média total por
distrito era ainda inferior à pensão média nacional.
Igualmente verifica-se que as mulheres auferem pensões de invalidez
ainda inferiores às dos homens já que a sua pensão media
corresponde apenas a 77,8% da do homem. Mas existem distritos em que as
percentagens são ainda inferiores, como sucede com Lisboa (69,4%) e
Setúbal (64,4%). Portanto, a desigualdade atinge de uma forma extrema
estes sectores da população que vivem em condições
mais difíceis.
79% DOS PENSIONISTAS DE VELHICE E INVALIDEZ RECEBEM UMA PENSÃO INFERIOR
A 407
Se a análise for feita não com base em pensões
médias, mas sim com base no agrupamento dos pensionistas por
escalões de pensões, a gravidade e a injustiça da
situação ainda se torna mais clara como mostra o quadro seguinte
construído com dados da Conta da Segurança Social de 2008 que
acabou de ser divulgada.
QUADRO V Pensionistas de velhice e invalidez repartidos por
escalões de pensões em 2008
ESCALÕES - Pensões
|
Nº pensionistas
|
% TOTAL
|
% Acumulada
|
Até 101,87
|
19.845
|
1,1%
|
1,1%
|
De 101,88 a 236,46
|
168.647
|
9,8%
|
10,9%
|
De 236,47 a 407,40
|
1.178.747
|
68,2%
|
79,0%
|
De 407,41 a 611,11
|
156.356
|
9,0%
|
88,1%
|
De 611,12 a 2444,45
|
196.733
|
11,4%
|
99,5%
|
De 2444,46 a 5479,27
|
8.783
|
0,5%
|
100,0%
|
Superior a 5.479,28
|
491
|
0,0%
|
100,0%
|
TOTAL
|
1.729.602
|
100,0%
|
|
Fonte: Conta da Segurança Social - 2008
Portanto, 79% dos pensionistas recebiam uma pensões inferior a 407,40
euros, e 88,1% a 611,11 euros. Apenas 0,5% dos pensionistas recebiam uma
pensão superior a 2.444,45 euros.
É URGENTE ALTERAR A REPARTIÇÃO DA RIQUEZA E DO RENDIMENTO
EM PORTUGAL PARA REDUZIR AS DESIGUALDADES E IMPEDIR O AUMENTO DA POBREZA
Os dados oficiais mostram de uma forma clara, por um lado, que se verifica em
Portugal uma forte desigualdade na distribuição da riqueza e do
rendimento em prejuízo grave dos sectores mais desprotegidos da
população e, por outro lado, como consequência disso a
pobreza e mesmo a miséria estão a aumentar em Portugal. É
uma realidade que é cada vez mais visível apesar da propaganda
governamental procurar esconder. É ridículo o esforço
feito pelos propagandistas oficiais para convencer a opinião
pública que uma pessoa deixa de ser pobre pelo simples facto de receber
mais um euro que o limiar da pobreza, que é apenas de 384,72
euros/mês, e que o chamado complemento solidário para idosos, cujo
valor médio é apenas de 80 euros, tirou 200.000 reformados da
situação de pobreza em que se encontravam.
Como consequência da grave desigualdade na repartição do
rendimento, em Portugal, a pobreza atinge não só os reformados e
desempregados mas também e cada vez mais os trabalhadores por conta de
outrem com emprego devido aos baixos salários que uma percentagem
elevada recebe, constituindo esse facto uma das causas importantes da
fragilidade do tecido sócio -económico português, e do
grande atraso do País.
Não é possível alcançar elevadas taxas de
educação e de qualificação, construir um
país moderno, desenvolvido e com elevadas taxas de crescimento
económico sustentado com os níveis de desigualdades e pobreza
existentes. Para concluir isso, basta ter presente que países altamente
desenvolvidos, como são a Suécia e a Dinamarca, apresentam
repartições da riqueza e do rendimento muito mais equilibradas do
que Portugal. Portanto, a resolução do grave atraso do
País também passa por uma melhor distribuição dos
rendimentos. É essa a obrigação e uma tarefa urgente para
o governo "Sócrates 2", que será necessariamente
avaliado pelas medidas que tomar para corrigir rapidamente as graves
injustiças existentes, que foram agravadas pelo governo anterior.
24/Outubro/2009
[*]
Economista,
edr2@netcabo.pt
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