O governo nacionalizou o BPN porque ele está falido
Na Comissão de Orçamento e Finanças da Assembleia da
República, o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, depois
de muito pressionado, acabou por dizer que os prejuízos acumulados no
banco BPN atingem 700 milhões de euros.
De acordo com o Relatório e Contas de 2007 deste banco, que se encontra
disponível no seu
sítio web
, o Capital Próprio do BPN
era, em 31/12/2007, de apenas 369,2 milhões de euros. Isto significa que
os prejuízos acumulados já são superiores em 330,8
milhões de euros (700-369,2) a tudo aquilo que os seus accionistas
possuem em acções e outros meios acumulados neste banco. Por
outras palavras, o valor do Passivo (as dividas) do BPN é já
superior ao valor do seu Activo (aquilo que o banco possui e tem a receber) em
330,8 milhões de euros. Isto significa que o BPN está
tecnicamente falido.
É este banco falido que o governo de Sócrates nacionalizou. Esta
decisão vai custar muitos milhões de euros à CGD e aos
contribuintes portugueses.
Para tornar o quadro ainda mais completo interessa recordar que mesmo depois de
ter sido detectada a situação de gestão danosa e de
falência, que o governador do Banco de Portugal diz ter acontecido apenas
em Junho de 2008 embora fosse de conhecimento publico muito antes, a CGD e o
Banco de Portugal canalizaram para este banco 450 milhões de euros e
que, de acordo com os órgãos de comunicação
social, a Segurança Social depositou 500 milhões de euros. Embora
o 1º ministro tenha negado este ultimo facto o certo é que se
recusou a fornecer à Assembleia da República provas disso. Para
além disso, se Miguel Cadilhe obteve deste banco, como noticiaram os
jornais de 05/11/2008, um PPR de 10 milhões de euros, que contribuiu
também para aqueles prejuízos pois foi pago pelo BPN, agora esse
PPR terá de ser pago com dinheiros públicos se não for
anulado.
Embora a segurança dos depositantes seja uma questão fundamental
é preciso recordar que mesmo sem nacionalização os
depósitos até 100.000 euros em qualquer banco estão
garantidos mesmo que se verifiquem problemas financeiros como tem repetidamente
afirmado o governo.
O GOVERNO TERÁ DE INVESTIR 836 MILHÕES DE EUROS SÓ PARA
ANULAR OS PREJUIZOS E RACAPITALIZAR O BANCO BPN
O ministro das Finanças afirmou na Assembleia da República que o
governo vai obrigar a banca a cumprir um rácio de solvência de 8%,
para assim garantir a solidez das instituições financeiras e
defendê-la de qualquer ataque predador de grandes bancos estrangeiros.
Isto significa que os Capitais Próprios de cada banco, ou seja, aquilo
que pertence efectivamente aos seus accionistas, têm de corresponder a 8%
do seu Passivo. É evidente que esta norma também terá de
ser respeitada pelo BPN que agora foi nacionalizado.
Em 31/12/2007, o Passivo do Banco BPN era de 6.315,3 milhões de euros,
portanto 8% corresponde a 505,2 milhões de euros. Assim, o Estado para
anular os prejuízos do BPN que não são cobertos pelo
Capital Próprio dos seus accionistas (330,8 milhões de contos) e
para garantir uma taxa de solvabilidade de 8% (505,2 milhões de euros)
terá de capitalizar (entrar com dinheiro fresco) o banco BPN, pelo
menos, em 836 milhões de euros (330,8+505,2). E dizemos pelo menos, pois
pode acontecer que o valor a que estão contabilizados muitos dos activos
do BPN no seu Balanço não sejam reais, podem estar
sobreavaliados. A reforçar esta conclusão é o facto de que
na própria proposta de lei apresentada pelo governo constar textualmente
o seguinte: " No âmbito da acção inspectiva do Banco
de Portugal foram detectadas uma série de imparidades que deram origem a
averiguações e à instauração de
vários processos de contra-ordenação e denúncia
junto da Procuradoria-Geral da República". Isto significa que
existem muitos activos cujo valor se delapidou e que não foram
constituídas as necessárias provisões. Para além
disso, o ministro das Finanças, numa reunião da Comissão
de Orçamento e Finanças, acrescentou que a situação
de liquidez do BPN, em Outubro de 2008, era negativa e atingia -800
milhões de euros. Isto significa que a CGD ou o governo, ou ambos
terão de entrar para o BNP agora nacionalizado com muitos mais meios
financeiros públicos do que o referido anteriormente.
TUDO ISTO TERÁ DE SER SUPORTADO PELA CGD, PELO OE2009 E PELOS
CONTRIBUINTES
Só existem duas formas de resolver o "buraco financeiro"
criado com a nacionalização do BPN: ou ser absorvido pela CGD ou
não transferindo dividendos para o Orçamento do Estado ou
então através da entrada de dinheiro do Estado, aumentando a
dívida pública. Em 2009, está previsto que a CGD e o Banco
de Portugal transfiram, para o OE2009, 411 milhões de euros, sendo a
maioria da CGD. Se esta transferência não tiver lugar, o OE
não receberá este montante, e terá de obter essa receita
de outra forma. E essa outra forma só poderá ser através
de impostos pagos pelos contribuintes.
MAIS 4000 MILHÕES DE EUROS DO ESTADO PARA REFORÇAR CAPITAIS DA
BANCA
Como já não fossem suficientes os 20.000 milhões de euros
aprovados para dar avales à banca, o governo apresentou na Assembleia da
República uma outra proposta a
Proposta de Lei 229/X
que
visa dar mais um outro gigantesco apoio à banca, agora no montante de
4.000 milhões de euros.
De acordo com o nº2 do artº 4º daquela proposta de lei, os
4.000 milhões de euros deverão ser utilizados, pelo governo, para
adquirir acções, para fazer aumentos de capital, e para adquirir
outros valores representativos de capital e contratos de
associação em participação com a banca. E segundo o
nº3 do mesmo artigo as acções a adquirir pelo Estado podem
ser: (a)
Acções preferenciais sem voto
e acções que conferem direitos especiais; (b)
Acções ordinárias.
É esclarecedor dos interesses que se pretende defender o facto de o
governo apresentar uma proposta de lei em que se prevê que, em troca de
meios financeiros públicos, receberá acções sem
direito a voto, portanto acções sem poder para defender o
interesse público. E mesmo o nº 4 deste artigo que dispõe
"o direito ao dividendo prioritário" não representa
grande compensação pois se não existir lucros não
há distribuição de dividendos mesmo que eles sejam
prioritários.
NÃO HÁ DINHEIRO PARA INVESTIR NEM PARA CRIAR EMPREGO, NEM PARA
DEVOLVER AOS REFORMADOS OS 28 MILHÕES DE EUROS QUE OS GOVERNO RETIROU
INJUSTAMENTE DAS SUAS PENSÕES MAS JÁ HÁ 24.000
MILHÕES DE EUROS PARA APOIAR A BANCA
O investimento público previsto no PIDDAC passou, entre 2005 e 2009, de
6.724 milhões de euros para 4.641 milhões de euros, ou seja,
diminuiu em 31% em valor nominal, porque em termos reais a baixa é muito
maior. Para além disso, do total previsto para 2009, apenas 1.671
milhões é financiado pelo Orçamento do Estado. Enquanto se
verifica isto a nível de investimento público, tão
necessário neste momento de grave crise para dinamizar a economia, criar
emprego e reduzir os efeitos negativos da crise no campo social, em
relação à banca os apoios financeiros do Estado não
têm limites, pondo em perigo a própria estabilidade financeira do
Estado.
O comportamento deste governo em relação a 40.000 reformados a
receberem, na sua maioria, pensões inferiores ao salário
mínimo nacional, a quem foram retirados injustamente em média 55
euros por mês, e que só agora o governo pretende corrigir com um
atraso de quase dois anos sem, no entanto, devolver o que lhes retirou,
representa um contraste chocante com o comportamento deste governo em
relação à banca.
Também é esclarecedor que na chamada lei quadro das
nacionalizações que este governo apresentou na Assembleia da
República
Proposta de Lei 230/X
de uma forma
insólita, em anexo à lei que nacionaliza o BPN, no seu nº4
do artº 5º disponha que aqueles que tenham tido "práticas
lesivas dos interesses patrimoniais" em empresas que foram objecto de
nacionalização, práticas essas confirmadas por
decisão judicial continuem a ter direito à
indemnização se a situação patrimonial liquida da
empresa ainda for positiva.
05/Novembro/2008
[*]
Economista,
edr@mail.telepac.pt
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.
|