Grave problema social que não pode continuar a ser ignorado
Política de austeridade atinge principalmente as famílias com
rendimentos mais baixos e com filhos
RESUMO DESTE ESTUDO
A "terapia de choque" que está a ser aplicada a Portugal pela
"troika estrangeira", com a conivência e
participação activa do governo PSD/CDS, muito semelhante à
que foi aplicada no Chile de Pinochet pelos "
Chicago boys
", e em vários países da América Latina e do Leste
Europeu pelo FMI, que se baseia nos quatro credos ultraliberais
desregulamentar, liberalizar, e privatizar tudo, e cortes brutais nas despesas
sociais e no investimento público está a lançar
Portugal numa recessão profunda. O governo e o Banco de Portugal
têm mudado continuamente, para pior, as suas previsões. O ministro
das Finanças previa, em Set-2011, que a redução do PIB em
2012 seria -1,8%; em Out.2011, já era de -2,8%; e em Dezembro de 2011 a
previsão de quebra na actividade económica em 2012 passou para
-3%, ou seja, menos 5.100 milhões de PIB do que em 2011, quando
neste ano o PIB já tinha diminuído, relativamente a 2010, em mais
de 2.100 milhões . As previsões do Banco de Portugal
também mudam continuamente. No 3º Trimestre de 2011, este banco
previa que a quebra do PIB em Portugal, em 2012, seria de -2,2%; mas no 4º
Trimestre de 2011, essa previsão foi agravada para -3,1%. É
evidente que a recessão económica em 2012 será muito
superior à anunciada pelo governo e pelo Banco de Portugal, sendo
provável uma redução do PIB de -5% em 2012.
A política de austeridade cega e destruidora imposta pelo quinteto
PSD/CDS/FMI/BCE/CE, a continuar, terá consequências
dramáticas para os portugueses. Para concluir isso, interessa recordar
que, segundo o Eurostat, a taxa oficial de desemprego em Portugal, no fim do
ano de 2011, atingiu 13,2%, o que corresponde a 732 mil desempregados oficiais.
O Banco de Portugal, no Boletim Económico de Inverno de 2011
(pág. 13), que acabou de divulgar, prevê que se verifique em 2012
uma redução de emprego de 1,8% (quase o dobro da de 2011), o que
corresponde à destruição de 87 mil postos de trabalho. Se
somarmos a este valor a previsão de novos trabalhadores que entram todos
os anos no mercado de trabalho, rapidamente conclui-se que o desemprego oficial
deverá atingir, em 2012, pelo menos, 860 mil portugueses, o que
corresponde a uma taxa oficial de desemprego de 15,5%. Se juntarmos a este
valor todos aqueles desempregados que não são considerados nas
estatísticas oficiais de desemprego os "inactivos
disponíveis" e o "subemprego visível"
rapidamente conclui-se que o desemprego efectivo em Portugal deverá
atingir, este ano, pelo menos, 1.213.000 portugueses, o que corresponde a uma
taxa efectiva de desemprego de 21,1%. São valores dramáticos que
provam de uma forma clara a falência e a irracionalidade da
política que o governo PSD/CDS e a troika estrangeira teimam em
prosseguir. O ministro das Finanças, com ar de aluno compenetrado e
obediente apenas sabe dizer que "
não existe outra opção que não seja cumprir
" o que a troika estrangeira quer.
E no campo social a situação é ainda muito mais grave. E
isto porque a distribuição dos sacrifícios está-se
a fazer de uma forma muito desigual e injusta, atingindo muito mais as classes
de baixos rendimentos, e poupando os mais ricos. Um estudo recente divulgado
pela Comissão Europeia
The distributional effects of austerity mesures: a comparison a of six EU
countries
" concluiu que a politica de austeridade em Portugal determinou,
até 2011, uma redução do rendimento disponível das
famílias mais pobres (1º decil da escala de
distribuição) em 6%, enquanto o das famílias mais ricas
(10º decil) a redução foi apenas de 3%, ou seja, metade. E
no período 2011-2013 o governo PSD/CDS pretende reduzir o rendimento
disponível das famílias em mais 11%, como prevê o Banco de
Portugal. E à custa das classes de rendimentos mais baixos como se
mostra neste estudo.
Em Nov/2011, segundo o Eurostat, a taxa oficial de desemprego atingiu em
Portugal 13,2%, o que corresponde a 732 mil desempregados. Se somarmos os
desempregados que não são considerados no número oficial
de desemprego já referidos obtém-se 1.085.000 desempregados.
Neste mesmo mês, segundo a Segurança Social, os desempregados a
receber subsídio de desemprego eram apenas de 307.969, o que significa
que só 28 em cada 100 desempregados estão a receber subsidio. E o
governo pretende alterar a lei do subsídio de desemprego para reduzir a
duração do subsídio para menos de metade do período
actual. O governo PSD/CDS aumentou as taxas moderadoras do SNS, em
média, em 100%, e ao mesmo tempo reduziu os portugueses que têm
direito à isenção. Para conseguir isso, no cálculo
do rendimento médio familiar que serve para determinar a
isenção, não são considerados os filhos. Os
pensionistas são um dos grupos mais penalizados pelo governo. Em 2010 e
2011 as pensões foram congeladas e, em 2012, apenas as pensões de
valor inferior a 240 foram aumentadas entre 5,88 e
7,88/mês.
Mais de metade das pensões mínimas do Regime Geral da
Segurança Social não foram aumentadas, o que viola o nº3
artº 80º da Lei do OE-2010 aprovada.
E 2,1 milhões de reformados e aposentados continuarão, pelo
3º ano consecutivo, com as pensões congeladas. Enquanto isto
acontece, Eduardo Catroga, o barão do PSD que elaborou o programa
eleitoral deste governo, foi escolhido para presidente do Conselho Geral e de
Supervisão da EDP com uma remuneração de
639.000/ano, segundo o
Correio da Manhã
de 12/01/2012, que vai ser paga com os preços da electricidade
exorbitantes impostos aos portugueses, para além da "pensão
dourada" que E. Catroga já recebia. E isto quando o principal
accionista da EDP é a empresa estatal chinesa Three Gorges. É a
fusão do poder político e do poder económico em todo o seu
esplendor na EDP.
|
Em Portugal, a percentagem da população no limiar da pobreza
antes de qualquer transferência social é muito elevada e tem
aumentado de uma forma continua nos últimos anos como revela o quadro
seguinte construído com dados divulgados pelo INE.
Quadro 1-Taxa de risco de pobreza em Portugal
Ano de referência dos dados
|
|
2006
|
2007
|
2008
|
2009
(Pr)
|
Taxa de risco de pobreza (60% da mediana)
|
un.
|
|
|
|
|
Antes de qualquer transferência social
|
%
|
40,0
|
41,5
|
41,5
|
43,4
|
Após transferências relativas a
pensões
|
%
|
24,2
|
24,9
|
24,3
|
26,4
|
Após transferências sociais
|
%
|
18,1
|
18,5
|
17,9
|
17,9
|
Fonte: INE, Rendimento e Condições de Vida - Dados
Provisórios; Pr -Provisório
Em 2009, a população em risco de pobreza antes de qualquer
transferência social representava já 43,4% da
população total, o que correspondia a 4.583.000 portugueses. Para
além disso, entre 2006 e 2009, esta percentagem aumentou 8,5%, pois
passou de 40% para 43,4%, e certamente depois deste último ano aumentou
bastante. É evidente, que se forem reduzidas as transferências
sociais, ou seja, os apoios sociais do Estado, a população que
estava, em 2009, no limiar da pobreza depois das transferências sociais
(17,9% da população total como mostra o quadro 1),
aumentará rapidamente para os 43,4% da população total
referidos anteriormente. E é isso o que está a suceder, como
iremos mostrar utilizando dados oficiais divulgados.
A POLITICA DE AUSTERIDADE TEM INCIDIDO PRINCIPALMENTE SOBRE OS MAIS POBRES,
SENDO A REDUÇÃO PERCENTUAL DO SEU RENDIMENTO DISPONIVEL JÁ
O DOBRO DA DOS MAIS RICOS
A Comissão Europeia publicou recentemente um estudo sobre os efeitos da
politica de austeridade em 6 países da União Europeia
Portugal, Irlanda, Grécia, Estónia, Espanha e Inglaterra
com o titulo
"The distributional efects of austerity measures: a comparison of six EU countries"
. É desse estudo (pág. 19) que retiramos o gráfico 1
que é bastante esclarecedor.
Como mostra o gráfico 1, em Portugal, como consequência da
politica de austeridade levada a cabo só até a 2011, a
redução no rendimento disponível das famílias mais
pobres (1º decil da distribuição de rendimento) foi de 6%,
enquanto a redução do rendimento disponível das
famílias mais ricas (10º decil da escala) foi apenas de 3%, ou
seja, metade. É a própria Comissão Europeia que no estudo
que divulgou no fim do ano de 2011, afirma que a austeridade em Portugal
está atingir principalmente os mais pobres, poupando os ricos. As
medidas aprovadas pelo quinteto FMI/BCE/CE/PSD/CDS para 2012 agravam ainda mais
esta situação de injustiça. E no período 2011-2013,
o governo PSD /CDS pretende reduzir o rendimento disponível das
famílias portuguesas ainda mais em 11%, como consta da pág. 14 do
Boletim Económico de Inverno de 2011 do Banco de Portugal que se
transcreve: "
As atuais projecções apontam para uma diminuição do
consumo privado de 6% em 2012 e de 1,8% em 2013, o que corresponde a uma queda
acumulada de 11% no período 2011-2013. Esta redução
é determinada por uma queda da mesma ordem de grandeza do rendimento
disponível real das famílias".
E como é evidente o governo PSD/CDS pretende que sejam fundamentalmente
as classes de rendimentos mais baixos a suportar a maior parte desta
redução como iremos mostrar.
A RECESSÃO EM 2012 VAI AINDA SER MAIOR QUE A PREVISTA PELO GOVERNO, O
DESEMPREGO VAI DISPARAR, E O PSD/CDS PRETENDEM REDUZIR O APOIO AOS DESEMPREGADOS
O quadro seguinte mostra de uma forma clara as consequências das
alterações na lei do subsidio de desemprego que constam do
projecto que o governo PSD/CDS pretende aprovar.
Quadro 2 O que consta da lei do subsídio de desemprego
(Decreto-Lei 220/2006) e o que consta do projecto do governo PSD/CDS que visa
reduzir significativamente o apoio aos desempregados
O QUE ESTÁ EM VIGOR
(Decreto Lei 220/2006 republicado no DL 72/2010)
|
O QUE CONSTA DE PROJECTO DE LEI DO GOVERNO PSD/CDS
|
IDADE DO DESEMPREGADO
|
Carreira Contributiva
Prazo de garantia e meses de desconto a contar desde a última
situação de desemprego subsidiado
|
Duração do subsidio
|
Acréscimo de duração do subsidio de desemprego
|
IDADE DO DESEMPREGADO
|
Carreira Contributiva
Prazo de garantia e meses de desconto a contar desde a última
situação de desemprego subsidiado
|
Duração do subsidio
|
Idade inferior a 30 anos
|
Prazo garantia e ate 24 meses de descontos
|
270
dias
|
|
Idade inferior a 30 anos
|
Prazo garantia e registo remunerações até 15 meses
|
120
dias
|
Prazo de garantia e mais 24 meses de descontos a contar desde a última
situação de desemprego subsidiado
|
360
dias
|
Mais 30 dias por cada 5 anos com registo de remunerações desde a
última situação de desemprego subsidiado
|
Prazo de garantia e mais de 15 e menos de 24 meses de descontos
|
210
dias
|
|
|
|
Prazo de garantia e 24 meses ou mais de descontos
|
330
dias
|
Idade igual ou mais 30 e inferior a 40 anos de idade
|
Prazo e até 48 meses de descontos desde o último desemprego
subsidiado
|
360
dias
|
|
Idade igual ou mais 30 e inferior a 40 anos de idade
|
Prazo de garantia e menos de 15 meses de descontos
|
150
dias
|
Prazo de garantia e mais 48 meses de descontos desde a última
situação de desemprego subsidiado
|
540
dias
|
Mais 30 dias por cada 5 anos com registo de remunerações nos
últimos 20 anos que precedem situação de desemprego
|
Prazo de garantia e mais de 15 e menos de 24 meses de descontos
|
330
dias
|
Prazo de garantia e mais de 24 meses de descontos
|
420
dias
|
Idade igual ou superior a 40 anos e inferior a 45 anos
|
Prazo garantia e até 60 meses de descontos
|
540
dias
|
|
Idade igual ou superior a 40 anos e inferior a 50 anos
|
Prazo de garantia e menos de 15 meses de descontos
|
180
dias
|
Prazo de garantia e mais de 60 meses de descontos
|
720
dias
|
Mais 30 dias por cada 5 anos com registo de remunerações nos
últimos 20 anos desde a última situação de
desemprego subsidiado
|
Prazo de garantia e mais de 15 e menos de 24 meses de descontos
|
360
dias
|
|
|
|
Prazo de garantia e mais de 24 meses de descontos
|
540
dias
|
Idade superior a 45 anos
|
Prazo de garantia e até 72 meses de descontos a contar desde a
última situação de desemprego
|
720
dias
|
|
Idade superior a 50 anos
|
Prazo de garantia e menos de 15 meses de descontos
|
240 dias
|
Prazo de garantia e mais de 72 meses de descontos a contar desde a
última situação de desemprego
|
900
dias
|
Mais 60 dias por cada 5 anos com registo de remunerações nos
últimos 20 anos desde a última situação de
desemprego
|
Prazo de garantia e mais de 15 e menos de 24 meses de descontos
|
480
dias
|
|
Prazo de garantia e mais de 24 meses de descontos
|
540
dias
|
De acordo com o projecto do governo PSD/CDS, os desempregados com menos de 30
idade o máximo de tempo que podem receber subsídio de desemprego
passaria dos 360 dias actuais, que podem ser ainda majorados (aumentados como
revela o quadro), para apenas 330 dias sem quaisquer majorações;
os com idade entre os 30 e 40 anos, o período de duração
do subsídio de desemprego baixaria de 720 dias actuais, que podem ser
ainda majorados, para apenas 540 dias de subsidio; os com idade superior a 50
anos, a duração máxima do subsidio de desemprego baixaria
de 900 dias, a que se podia somar ainda uma majoração de 240
dias, o que dá 1.140 dias, segundo a lei actualmente em vigor, para
apenas 540 dias, ou seja menos de metade, sem direito a quaisquer
majorações. É evidente, que se o projecto do PSD/CDS for
aprovado, num período de grave recessão económica, de
destruição crescente de emprego, e de aumento rápido de
desemprego, a pobreza e mesmo da miséria aumentaria de uma forma muito
significativa em Portugal. Também aqui, e mais uma vez, são as
classes trabalhadoras de rendimentos mais baixos as mais atingidas.
Por outro lado, o projecto do governo PSD/CDS, apesar de reduzir o prazo de
garantia de 450 dias de descontos para a Segurança Social para 12 meses
(365 dias), o que é positivo, no entanto agrava outras
disposições da lei do subsidio de desemprego actual, visando
piorar as condições de vida dos desempregados. Por ex.,
actualmente o montante do subsídio de desemprego não pode ser
superior a 3 IAS (1.258); o projecto do governo PSD/CDS baixa este limite
máximo para 2,5 IAS (1.048)
O AUMENTO DAS TAXAS MODERADORAS NO SNS EM 100%, A "ESPERTEZA" DO
GOVERNO PSD/CDS PARA ENGANAR A OPINIÃO PÚBLICA E
REDUÇÃO DOS PORTUGUESES ISENTOS DE TAXAS
O quadro seguinte mostra com clareza os aumentos das taxas moderadoras no SNS
decidido pelo governo do PSD/CDS (Portarias 1320/2010 e 306-A/2011).
Quadro 3- Aumento das taxas moderadoras em 2012 no Serviço Nacional de
Saúde (SNS)
UNIDADE DE SAÚDE
|
TAXAS MODERADORAS NO SNS
|
2011
|
2012
|
Aumento %
|
Consulta Centro Saúde médico
|
2,25
|
5,00
|
122,2%
|
Consulta domicílio médico
|
4,80
|
10,00
|
108,3%
|
Consulta de enfermagem Centro Saúde
|
|
4,00
|
|
Urgência Hospitalar Serviço Polivalente
|
9,60
|
20,00
|
108,3%
|
Urgência Hospitalar básica
|
8,60
|
15,00
|
74,4%
|
Urgência Hospitalar Médico-cirúrgica
|
8,60
|
17,50
|
103,5%
|
Consulta enfermagem Hospital
|
|
5,00
|
|
Exceptuando a Urgência hospitalar básica, em que a subida é
de 74,4%, em todas as outras consultas o aumento das taxas moderadoras é
superior a 100% em 2012. O mesmo sucede em relação aos meios
complementares de diagnóstico (análises, exames, etc).
Por outro lado, o número de portugueses isentos do pagamento de taxas
moderadoras vai diminuir apesar do governo dizer o contrário. Para
provar isso vamos desmontar a "habilidade" do governo. De acordo com
a Portaria 311-D/2001 publicada por este governo, estão isentos do
pagamento de taxas moderadoras os portugueses com "insuficiência
económica". E como se calcula a insuficiência? De acordo com
o artº 2º desta Portaria estão na situação de
insuficiência económica e, consequentemente, ficam isentos do
pagamento de taxas moderadoras no SNS, " os utentes que integrem o
agregado familiar cujo rendimento médio mensal seja igual ou inferior a
1,5 vezes o valor do Indexante de Apoios Sociais (IAS)", ou seja, inferior
a 629. E como se calcula este rendimento médio mensal? Segundo o
artº 4º da mesma Portaria, dividindo a soma de todos os rendimentos
familiares (todos, e não apenas os rendimentos do trabalho), não
pela totalidade das pessoas que o constituem (pais e filhos, por ex.), mas sim
pelos sujeitos passivos de IRS que, no caso de uma família, são
normalmente dois. Esta formula de cálculo do rendimento familiar, que
é diferente da utilizada em relação às
prestações sociais, onde são considerados todos os membros
do agregado familiar, incluindo filhos embora com pesos diferentes, faz subir
significativamente o rendimento médio familiar porque no divisor, para
obter o rendimento médio, não são considerados, por ex.,
os filhos. Assim, um casal com 2 filhos, em que os pais, cada um ganha
630 por mês, se se dividir por 4 (os pais e os 2 filhos)
obtém-se um rendimento médio familiar de 315, o que
determinaria que esta família ficasse isenta do pagamento de taxas
moderadoras, mas como se tem de dividir apenas por 2, de acordo com a Portaria
aprovada pelo Governo PSD/CDS, o rendimento médio desta família
é já de 630 e tem de pagar taxas moderadoras. E os filhos
só até aos 12 anos é que estão isentos. É um
verdadeiro ataque, a juntar a outros, às famílias com baixos
rendimentos e às famílias com filhos.
APENAS OS REFORMADOS E APOSENTADOS COM PENSÕES INFERIORES A
250/MÊS (254 mil) TIVERAM AUMENTOS ENTRE3 E 7, AS DOS
RESTANTES (2,1 milhões) CONTINUAM CONGELADAS
O quadro seguinte mostra as pensões que foram actualizadas pelo Governo
do PSD/CDS e a dimensão dos aumentos (Portarias 1458/2009 e 320-B/2011).
Quadro 4 Os aumentos das pensões em 2012 decididos pelo governo
PSD/CDS
PENSÕES
SEGURANÇA SOCIAL
|
1.1.2010
|
2012
|
Aumento
|
Aumento %
|
Regime Geral - até 15 anos de descontos
|
246,36
|
254,00
|
7,64
|
3,1%
|
Regime Especial das Actividades Agrícolas
|
227,43
|
234,48
|
7,05
|
3,1%
|
Regimes não contributivos (Pensão social)
|
189,52
|
195,40
|
5,88
|
3,1%
|
Regime Transitório dos Trabalhadores rurais
|
189,50
|
195,40
|
5,90
|
3,1%
|
PENSÕES
CAIXA GERAL DE APOSENTAÇÃO
(Valor mínimo de actualização das pensões de
aposentação, reforma e invalidez)
|
1.1.2010
|
2012
|
Aumento
|
Aumento %
|
De 5 até 12 anos de tempo de serviço
|
230,24
|
237,38
|
7,14
|
3,1%
|
De 12 até 18 anos de tempo de serviço
|
239,99
|
247,43
|
7,44
|
3,1%
|
Em Novembro de 2011, o número total de pensionistas da Segurança
Social atingia 1.944.662. No fim de 2009 (e tenha-se presente que em 2010 e
2011 as pensões da Segurança Social foram congeladas), segundo o
Relatório da Conta da Segurança Social daquele ano, o
número de pensionistas a receber pensões até 246,35
era 198.212. Em relação aos aposentados e reformados da CGA,
apenas os que recebiam pensões até 239,99 é que
tiveram aumentos em 2012 que rondaram os 7/mês. Assim, dos 460.000
aposentados actuais apenas cerca de 56.000 (os que recebiam pensões
inferiores a 250/mês) é que tiveram aumentos de 3,1%. Em
resumo, dos cerca de 2.400.000 reformados e aposentados que existem no
país, apenas cerca de 254.000 é que tiveram aumentos de 3,1%, o
que correspondeu a uma subida nas suas pensões entre
5,90/mês e 7,64/mês.
Mais de metade das pensões mínimas do Regime Geral da
Segurança Social não sofreram qualquer aumento o que viola o
nº3 do art 80º da Lei 64-B/2011
. Cerca de 2.146.000 reformados e aposentados continuam com as suas
pensões congeladas desde 2010. Para este governo um pensionista com uma
pensão superior a 247 é "rico", por isso
não teve aumento. No período 2010-2012, a subida de preços
atinge 8,5%, o que determina uma redução do poder de compra dos
reformados e aposentados em Portugal, mesmo daqueles que recebem pensões
inferiores a 250/mês. Se recordarmos o aumento brutal da carga
fiscal sobre este grupo populacional em 2012 (redução do
rendimento anual isento de IRS de 6000 para 4.190,
redução para um terço a despesa com saúde que podia
ser deduzida no IRS em 2011, etc), apropriação pelo governo
PSD/CDS de uma parte ou da totalidade dos subsídios de férias e
do Natal dos reformados e aposentados com pensões superiores a
600/mês, ficando claro que continuam a ser as classes com
rendimentos mais baixos a suportar a maior parte dos custos da politica de
austeridade do governo.
A FUSÃO DOS INTERESSES DO PODER ECONÓMICO E DO PODER POLITICO NA
EDP EM TODO O SEU ESPLENDOR
Num estudo publicado pelo Banco Mundial com o título "
Banking on Politics
" em Abril de 2009, de Matis Braun e Cláudio Radatz, tendo como
base dados referentes a 150 países, que referimos na tese de
doutoramento sobre "Os Grupos Económicos e o Desenvolvimento em
Portugal" que apresentamos no ISEG, aqueles economistas concluem que os
"
políticos responsáveis pelas áreas económicas e
financeiras e os dos bancos centrais são aqueles que mais provavelmente
ocuparão lugares nas administrações de bancos
" E como refere a publicação "e.economia.info"
."Os resultados são tão fortes que os autores dizem
não ser possível que os políticos sejam escolhidos por
mérito ou conhecimento sobre o sector. A probabilidade dos
políticos é tão elevada como a dos ex-reguladores e
banqueiros centrais. Os autores consideram que se trata de uma captura dos
governos pelos banqueiros, que acenam com lugares bem pagos e influentes para
receberam tratamento favorável."
Vem tudo isto a propósito do que se está a passar na EDP
após a venda, pelo governo PSD/CDS, de uma parte muito importante do seu
capital à empresa estatal chinesa Three Gorges. Como se sabe, os
accionistas que controlam, de facto, uma empresa são os que detêm
as "
participações qualificadas
". E no caso concreto da EDP, esses accionistas, e as respectivas
participações no capital, são actualmente os seguintes:
Three Gorges (Estado, China): 21,35%; PARPÚBLICA (Estado
Português): 4,65%; Iberdrola (Espanha): 6,79%; CajAstur (Espanha): 5,1%;
José Mello: 4,82%; Senfora (Estado, Abu Dhabi): 4,6%; BCP: 3,37%; Norges
Bank (Estado, Noruega): 2,76%; Sonatrach (Estado, Argélia) 2,23%; BES:
2,12%; Qatar Holding (Estado, Qatar): 2,02%; CGD: 0,61%. Portanto, o accionista
com maior peso nas participações qualificadas e,
consequentemente, nas decisões passou a ser a empresa estatal chinesa
Three Gorges. E é precisamente na sua entrada, que são escolhidos
para membros do Conselho Geral e de Supervisão da EDP, que define a
estratégia do grupo e supervisiona a sua gestão, um numeroso
grupo de ex-governantes do PSD e CDS: Eduardo Catroga, Paulo Teixeira Pinto,
Jorge Braga Macedo, Maria Celeste Cardona, e o ex-patrão de Passos
Coelho, Ilídio Leite Pinto. Como é evidente estes cargos
são altamente remunerados (o anterior presidente deste Conselho, cargo
agora ocupado por Eduardo Catroga, ganhava 638.000/ano segundo o
Diário Económico
de 10/01/2012). È a fusão dos interesses do poder politico e do
poder económico em todo o seu esplendor na EDP ou, para empregar um
conceito mais caro a outros, uma espécie de "Capitalismo
monopolista de Estado" que, no caso português, toma a forma estranha
de ser uma aliança entre os barões dos partidos actualmente no
governo (PSD e CDS) e o grande capital internacional, a maioria pertencente a
Estados estrangeiros (56% das participações qualificadas). No
entanto, o governo do PSD/CDS e a "troika" pretendem que o Estado
Português saia da EDP.
13/Janeiro/2012
[*]
Economista,
edr2@netcabo.pt
,
www.eugeniorosa.com
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.
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