Taxa de desemprego corrigida atingiu os 10,9% no 4º trimestre de 2006
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Um dos argumentos que este governo mais tem utilizado na sua campanha de propaganda para convencer os portugueses de que se estaria a verificar a retoma económica é precisamente que o desemprego estaria a diminuir de forma continuada. Mas o INE acabou de publicar os dados do desemprego referentes ao 4º Trimestre de 2006. Eles mostram que aquela afirmação do governo não tem qualquer sustentação real. A politica económica centrada na obsessão do défice está a determinar não só o aumento do desemprego como também a destruição liquida de emprego. Assim, de acordo com o INE, no final de 2006 o número oficial de desempregados atingiu 458.600 portugueses. Isto corresponde a uma taxa oficial de desemprego de 8,2% (quando o governo Sócrates tomou posse o número oficial de desempregados era de 389.700 e a taxa oficial era de 7,1%). No entanto, se somarmos ao número oficial de desempregados todos aqueles que estão no desemprego mas que não são incluídos no mesmo, que constam também das estatísticas divulgadas pelo INE (os chamados "Inactivos Disponíveis" e o "Subemprego Visivel), ou seja, aquilo a que chamamos desemprego corrigido, o número total já atingia 612.300 portugueses, o que correspondia a uma taxa de desemprego corrigida de 10,9%. Por outro lado, verificou-se no 4º Trimestre de 2006 uma destruição liquida de emprego, pois o numero de empregos (postos de trabalhadores) no nosso País diminuiu, entre o 3º Trimestre/ 2006 e o 4º Trimestre de 2006, de 5.187.300 para 5.142.800, ou seja, menos 44.500 postos de trabalho. Outro aspecto importante é a variação do emprego por qualificações. Entre o 4º Trimestre de 2004 e o 4º Trimestre de 2006, o numero de trabalhadores empregados com "qualificação e escolaridade elevada" diminuiu em 18.600, sendo a redução muito significativa no grupo de "quadros superiores da Administração Publica e empresas", cuja diminuição atingiu 62.000 postos de trabalho. Enquanto se verificou esta redução neste grupo, o emprego no grupo "qualificação e escolaridade média " aumentou em 20.400, e o emprego no grupo "qualificação de banda estreita e de baixa escolaridade" cresceu em 14.500. A variação do emprego por qualificações revela que o modelo de crescimento baseado em baixas qualificações e baixa escolaridade está-se a perpetuar no nosso País. Finalmente, o desemprego de longa duração (12 meses e mais), que está associado a uma exclusão social crescente, continuou a aumentar no nosso 4º Trimestre de 2006, atingindo já 235.200 portugueses, o que correspondia a 51,6% do desemprego oficial total. |
Um dos argumentos mais utilizados pelo governo para convencer os portugueses de
que se estaria a verificar uma recuperação sustentada da
economia, era que o desemprego estaria a diminuir também de uma forma
sustentada. E para tornar tal argumento mais convincente alterou a metodologia
de cálculo do desemprego registado nos Centros de Emprego do IEFP
conseguindo, desta forma artificial, apresentar nos últimos meses
reduções no desemprego registado a que os órgãos de
informação afectos ao governo deram sempre grande destaque. Mas
os dados que o Instituto Nacional de Estatística (INE) acabou de publicar, que
estão mais próximos da realidade do que os do IEFP, revelam, por
um lado, que o desemprego tem aumentado em Portugal desde que o governo de
Sócrates tomou posse e, por outro lado, ele nunca foi tão elevado
como actualmente. Os dados do INE constantes do quadro seguinte mostram isso.
Para se poder compreender os dados do quadro anterior, interessa ter presente
que, de acordo com o INE, os
"Inactivos Disponíveis",
são pessoas desempregadas, que desejam trabalhar e que
estão disponíveis para isso, mas que pelo facto de não
terem feito diligências para arranjar emprego nas últimas
três semanas anteriores ao inquérito do INE, não são
consideradas nem no número de desempregados nem no cálculo da
taxa oficial de desemprego, embora estejam desempregados. E entre o 4º
Trimestre de 2004 e o 4ºº Trimestre de 2006 o seu número
cresceu de 72.400 para 85.200, ou seja, aumentou em 12.800 segundo o INE.
Para além dos desempregados de facto anteriores, existe também o
"Subemprego visível",
que também não é considerado nem no número
nem na taxa oficial de desemprego. O "Subemprego visível"
inclui todos aqueles que trabalham menos de 15 horas por semana
("biscates" para sobreviver), apenas pelo facto de não
encontrarem um emprego com horário completo e apesar de terem declarado
que desejam trabalhar mais horas. Efectivamente, estão numa
situação de desemprego de facto, e o seu número
também aumentou, entre o 4º Trimestre de 2004 e o 4ºº
Trimestre de 2006, em 5.300 pois passou de 63.200 para 68.500 segundo o INE.
Se somarmos ao número oficial de desempregados, os "Inactivos
Disponíveis " e o "Subemprego visível" obtemos
aquilo a que chamamos
desemprego corrigido,
que é um número que está muito mais próximo do
desemprego real do que o desemprego oficial divulgado pelos
órgãos de comunicação social.
Fazendo os cálculos necessários obtém-se os resultados
constantes do quadro anterior que mostram o seguinte: Entre o 4º Trimestre
de 2004 e o 4ºº Trimestre de 2006, o desemprego oficial aumentou de
389.700 para 458.600 , ou seja, cresceu em 68.900, mas o desemprego
corrigido, que inclui os "inactivos disponíveis" e o
"subemprego visível", aumentou, no mesmo período,
segundo o próprio INE, de 525.300 para 612.300, ou seja, cresceu em
87.000.
Por outro lado, a taxa de desemprego oficial aumentou, entre o 4º
Trimestre de 2004 e o 4º Trimestre de 2006, de 7,1% para 8,2%, mas a taxa
de desemprego corrigido subiu muito mais pois passou, entre o 4º Trimestre
de 2004 e o 4º Trimestre de 2006, de 9,5% para 10,9%.
DESTRUIÇÃO LÍQUIDA DE EMPREGO NO 4º TRIMESTRE DE 2006
Contrariamente ao que se verificara nos trimestres anteriores, no 4º
de 2006 ocorreu uma destruição liquida de emprego, ou
seja, o número de postos de trabalho no fim do 4º Trimestre de 2006
era inferior ao número de postos de trabalho (empregos) existentes no
fim do 3º Trimestre de 2006, como revelam os dados
publicados pelo INE constantes deste quadro:
O desemprego podia ter aumentado apesar de o emprego ter crescido. Para isso
acontecer bastaria que a criação de empregos fosse suficiente
para absorver uma parte, mas não a totalidade, daqueles que perderam o
emprego mais aqueles que entraram pela primeira vez no mercado de trabalho. Mas
isso não sucedeu, o que é ainda mais grave, pois o que se
verificou foi uma destruição liquida de emprego entre o 3º
Trimestre de 2006 e o 4º Trimestre de 2006, pois o numero total de postos
de trabalho diminuiu de 5.180.800 para 5.142.800, ou seja, verificou-se uma
redução de 44.500 postos de trabalho no nosso País apenas
num trimestre. A politica económica centrada na obsessão do
défice está a destruir mais postos de trabalho do que aqueles que
cria.
E a situação a nível de desemprego não é
ainda mais grave porque a população activa portuguesa diminuiu
entre o 3º Trimestre de 2006 e o 4º Trimestre de 2006, pois passou de
5.604.700 para 5.601.400.
O EMPREGO MAIS QUALIFICADO TEM DIMINUIDO EM PORTUGAL
Uma análise mais fina da evolução do emprego em Portugal
durante o governo de Sócrates revela que é precisamente o emprego
mais qualificado que se tem reduzido mais Portugal. Isto
também contraria as afirmações do governo e do pensamento
económico de cariz neoliberal dominante nos media (veja-se artigo de
Nicolau Santos no
Expresso
de 13/01/2007) de que se verificou-se "uma
mudança na estrutura produtiva" (perfil produtivo) em Portugal na
direcção de produções de mais elevada tecnologia e
conhecimento.
O quadro seguinte, construído com dados publicados pelo INE, revela
precisamente o contrário.
Assim, segundo o INE, entre o 4º Trimestre de 2004 e o 4º Trimestre
de 2006, o numero de trabalhadores empregados com qualificação e
escolaridade elevada diminuiu em 18.600, sendo a redução muito
significativa no grupo de "quadros superiores da
Administração Publica e empresas, cuja diminuição
atingiu 62.000 postos de trabalho. Enquanto se verificou esta
redução neste grupo, o emprego no grupo
"qualificação e escolaridade média " aumentou em
20.400 , e o emprego no grupo "qualificação de banda
estreita e de baixa escolaridade" cresceu em 14.500. A
variação do emprego por qualificações parece
revelar que o modelo de crescimento baseado em baixas
qualificações e e em baixa escolaridade está-se a
perpetuar em Portugal.
A EXCLUSÃO SOCIAL CONTINUA A AUMENTAR EM PORTUGAL
Como revelam os dados do INE sobre a duração do desemprego em
Portugal, constantes do quadro seguinte, o desemprego de longa
duração (12 meses e mais), que está associado a uma
crescente exclusão social, continua a aumentar em Portugal.
Entre o 4º Trimestre de 2004 e o 4º Trimestre de 2006, o desemprego
oficial total aumentou 17,3%, mas o desemprego de longa duração
(aquele com a duração de 12 ou mais meses) cresceu 28,9%. E esse
aumento tem sido contínuo como mostram os dados do quadro. Em
consequência, no 4º Trimestre de 2004, o desemprego de longa
duração representava 46,9% do desemprego total e, no 4º
Trimestre de 2006, já correspondia a 51,6% do desemprego oficial total.