Desigualdades regionais, obstáculo ao desenvolvimento
por Eugénio Rosa
[*]
O Instituto Nacional de Estatística acaba de divulgar as Contas
Regionais definitivas relativas aos anos 2000-2005. E de acordo com essas
contas e também segundo dados constantes quer das Estatísticas do
Emprego do INE quer das Estatísticas da Segurança Social, que
utilizamos neste estudo, as assimetrias regionais continuam a ser muito grandes
em Portugal. E isto apesar de constituírem um obstáculo
importante ao desenvolvimento do País.
Entre 2000 e 2005, o PIB a preços correntes, isto é, sem deduzir
o efeito de preços, aumentou, a nível do País 22%,
enquanto na Região Norte cresceu apenas 18,7%; na Região do
Centro 21,8%; na Região de Lisboa, 22,7%; na Região do Alentejo,
21,8%; e nas regiões do Algarve, Açores e Madeira, apesar de
terem registado maiores crescimentos (entre 31,5% e 34,1%), no entanto, em
conjunto verificou-se um aumento do seu PIB de apenas 0,6 pontos percentuais
(passou de 8,4% para 9% do PIB nacional). Como consequência, a riqueza
produzida na Região de Lisboa que, em 2000, já representava 36,8%
do PIB nacional, em 2005 até aumentou para 37%. E isto apesar da
Região de Lisboa criar menos emprego do que a Região do Norte,
como mostra o quadro seguinte
Em 2005, a Região de Lisboa produziu 37% da riqueza nacional mas deu
emprego apenas a 26,9% da população, enquanto a Região
Norte produziu 28% da riqueza nacional e deu 34,4% do emprego. No
período 2000-2005, as regiões que criaram mais emprego foram, por
ordem decrescente, Algarve (+ 15,9%); RA Açores (+6,7%); Alentejo
(+4,8%); RA Madeira (+3,6%); e Lisboa (+2,5); nas regiões Norte (-0,3%)
e Centro (-0,6%) registou-se uma redução do emprego.
Em 2005, a produtividade na Região do Norte correspondia apenas a 59,3%
da produtividade da Região de Lisboa; a do Centro a 57,8%; a do Alentejo
a 78,6%; a do Algarve a 73,8&%; a dos Açores a 71,9%; a da Madeira a
88,4% da produtividade da Região de Lisboa. Em relação
à riqueza produzida por habitante em 2005, a da Região do Norte
correspondia apenas a 56,3% da de Lisboa; a do Centro a 60%; a do Alentejo a
65,8%; a do Algarve a 74,8%; a dos Açores a 62,7%, e a da Madeira a
89,3%. Apesar disso, a despesa de investimento por emprego era em várias
regiões do País superior à da Região de Lisboa,
Assim, em 2005, a despesa de investimento por empregado na Região Norte
correspondia apenas a 72,6% da despesa de investimento por emprego da
Região de Lisboa; a da Região do Centro correspondia a 81,7%; mas
a das outras regiões, apesar de terem produtividade e riqueza criada
por habitante inferiores à da Região de Lisboa, apresentavam
despesa de investimento por emprego superiores à da Região de
Lisboa. Assim, a despesa da região do Alentejo era superior à da
Região de Lisboa em 24,9%; a do Algarve em 11,3%; a dos Açores em
74,2%; e a da Madeira em 70,4%. As regiões do Norte e do Centro
são claramente sacrificadas em termos de investimento quando as
comparamos com a Região de Lisboa, sendo o investimento nas restantes
regiões do País superior ao da região de Lisboa, mas
não tendo o retorno em termos de aumento de produtividade e de
crescimento de riqueza para as respectivas populações que seria
de esperar, o que pode ser uma consequência da deficiente qualidade
desse investimento, o que agrava ainda mais as desigualdades regionais.
Entre 2000 e 2007, o desemprego aumentou 118,4% a nível do País,
mas na Região Norte subiu 144,7%; na do Centro 174,6%; na de Lisboa
77,6% na do Alentejo 73,9%; na do Algarve 123,1%; na dos Açores 75%; e
na da Madeira 200%, o que contribui para o aumento das desigualdades regionais
já que crescimentos muito diferentes determinam agravamento diferente
das respectivas situações sociais.
Em 2007, a pensão média mensal de velhice paga no País era
apenas de 359 euros, e a remuneração média mensal
declarada à Segurança Social de 785 euros. No entanto,
verificam-se grandes desigualdades entre os diferentes distritos. Assim, a
pensão média paga no distrito de Lisboa era de 463 euros,
enquanto a paga no distrito de Vila Real atingia somente 264 euros. Por outro
lado, a remuneração média mensal declarada foi de 1.027
euros no distrito de Lisboa, enquanto a do distrito de Vila Real atingiu apenas
590 euros.
Embora o Plano de Investimento da Administração Central
(PIDDAC) não inclua a totalidade dos investimentos do Estado, no
entanto ele é o Plano mais importante dos investimentos estatais,
sendo um indicador importante das prioridades definidas pelo Governo.
Entre 2002 e 2008, o investimento realizado pelo governo através do
PIDDAC reduz-se em -45,5% a nível do País.
No entanto, a diminuição atinge -77,7% no distrito de Aveiro;
-82,6% no de Braga; -63,9% no de Bragança;
-75,7% no de Santarém; -74,2% no de Setúbal; -76,4% no de Viana
do Castelo; -67,4%no de Viseu. É evidente que redução
tão drástica e tão desigual do investimento público
contribuirá para agravar ainda mais as desigualdades regionais.
22/Fevereiro/2008
[*]
Economista,
edr@mail.telepac,pt
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