O "apagão" no desemprego registado no IEFP
a nunca explicada eliminação sistemática de
desempregados nos ficheiros do IEFP
Ontem, 18 de Maio, quase todos os
órgãos de informação
deram grande destaque ao "apagão"
(eliminação) nos ficheiros do
IEFP
de 15 mil desempregados. O
presidente do IEFP, não podendo negar o facto, em conferência de
imprensa veio dizer que isso teve como causa um erro informático (a
informática tem costas largas) e que iria ser rapidamente corrigido,
não afectando os desempregados atingidos. E simultaneamente criticou
aqueles que afirmaram que é uma prática reiterada do IEFP para
manipular os dados do desemprego registado, apresentando assim valores mais
baixos e favoráveis ao governo, ameaçando todos o que afirmaram
isso com processos em tribunal, nomeadamente o Sindicato Nacional dos
Técnicos de Emprego que denunciou a situação.
No entanto, o presidente do IEFP, assim como o ministro do Trabalho e da
Solidariedade Social continuam a recusar esclarecer um "estranho
fenómeno" que todos os meses acontece no IEFP revelado nos dados
divulgados por este Instituto público tutelado pelo ministro do
Trabalho, que temos vindo a denunciar há vários anos a esta parte.
O quadro seguinte, construído com dados também constantes do
Boletim Estatístico de Março de 2009 do Ministério do
Trabalho e da Solidariedade Social, mostra o "estranho
fenómeno" que todos os meses acontece com os ficheiros do IEFP.
QUADRO I Novos desempregados registados, desempregados colocados
e saldo dos não colocados no 1º Trimestre 2009 pelos Centros de Emprego
MÊS
|
Novos desempregados inscritos
durante o mês nos Centros Emprego (1)
|
Colocações pelos
Centros de Emprego (2)
|
Novos desempregados
não colocados SALDO 3 = (2-1)
|
Jan-09
|
70.334
|
4.219
|
66.115
|
Fev-09
|
60.577
|
3.533
|
57.044
|
Mar-09
|
65.743
|
4.824
|
60.919
|
SOMA
|
196.654
|
12.576
|
184.078
|
Fonte: Boletim Estatístico Março de 2009
pág. 10 - Gabinete de Estatística e Planeamento
Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social
Portanto, de acordo com os próprios dados do IEFP divulgados pelo
Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social, durante o 1º
Trimestre de 2009, os novos desempregados que se inscreveram nos Centros de
Emprego somaram 196.654. Deste total, os Centros de Emprego só
conseguiram colocar (arranjar emprego) para 12.576, o que significa que
184.078 não foram colocados pelo IEFP. No entanto, entre 31 de Dezembro
de 2008 e 30 de Março de 2009, o total de desempregados inscritos nos
Centros de Emprego aumentou apenas de 416.005 para 484.131, ou seja, somente
em 68.126 como mostra o quadro seguinte, construído também com
dados do Boletim Estatístico do Ministério do Trabalho e da
Solidariedade Social.
QUADRO II A variação do desemprego registados nos Centros
de Emprego segundo o IEFP
no período compreendido entre 31 de Dezembro
de 2008 e 30 de Março de 2009
MÊS
|
Número total de desempregados
registados nos Centros de Emprego segundo o IEFP
|
31 Dezembro de 2008
|
416.005
|
31 Janeiro de 2009
|
447.966
|
27 Fevereiro de 2009
|
469.299
|
30 Março de 2009
|
484.131
|
AUMENTO entre 31 Dezembro 2008 e 30 Março 2009
|
68.126
|
Fonte: Boletim Estatístico Março de 2009
pág. 11 - Gabinete de Estatística e Planeamento
Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social
Portanto, só no primeiro trimestre de 2009, foram eliminados dos
ficheiros dos Centros de Emprego 115.952 desempregados (184.078
68.126), como revelam os próprios dados do IEFP.
E não se pense que este "estranho fenómeno" apenas se
limitou ao 1º Trimestre de 2009. Ele tem-se verificado de uma forma
sistemática nos últimos anos no IEFP. Basta analisar os dados que
o IEFP divulga todos os meses, compará-los e fazer contas.
O quadro seguinte, igualmente construído com os dados divulgados pelo
Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social, mostra a
dimensão desse "estranho fenómeno" que o governo e o
presidente do IEFP continuam a recusar-se explicar, no ano de 2008.
QUADRO III Número de desempregados que se inscreveram mensalmente
nos Centros de Emprego,
número total dos colocados, e total de desempregado divulgado pelo IEFP
no período Jan/2008 a Dez/2008
Meses/ano
|
Desempregados que se inscreveram mensalmente nos centros de emprego
|
Colocações feitas pelos Centros de Emprego em cada mês
|
TOTAL
Desempregados divulgados
mensalmente pelo IEFP
|
Jan-08
|
55.252
|
4.869
|
399.674
|
Fev-08
|
43.993
|
4.646
|
398.579
|
Mar-08
|
42.993
|
5.151
|
391.026
|
Abr-08
|
46.116
|
5.352
|
386.341
|
Mai-08
|
42.566
|
5.361
|
383.357
|
Jun-08
|
43.474
|
5.047
|
382.496
|
Jul-08
|
50.748
|
6.157
|
381.776
|
Ago-08
|
43.147
|
5.127
|
389.944
|
Set-08
|
65.895
|
6.785
|
395.243
|
Out-08
|
66.002
|
6.716
|
400.814
|
Nov-08
|
59.307
|
5.589
|
408.598
|
Dez-08
|
48.603
|
3.721
|
416.005
|
SOMA
|
608.096
|
64.521
|
|
Desempregados não colocados pelo IEFP
|
543.575
|
Variação do desemprego registado entre Jan-Dez/08
|
16.331
|
Fonte: Boletim Estatístico Março de 2009
pág. 10 - Gabinete de Estatística e Planeamento
Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social
Portanto, durante o ano de 2008 inscreveram-se nos Centros de Emprego 608.090
novos desempregados. Os Centros de Emprego, durante todo o ano de 2008,
(colocaram) arranjaram emprego para apenas 64.521 desempregados. Se deduzirmos
este valor 64.521 ao total de desempregados que se inscreveram
nos Centros durante o ano de 2008 608.096 ainda ficam 543.575 que
o IEFP não conseguiu arranjar emprego. No entanto, entre Janeiro de 2008
e Dezembro de 2008 o numero total de desempregados registados nos Centros de
Emprego passou de 399.674 para 416.005, ou seja, aumentou apenas em 16.331.
A pergunta imediata que se coloca é a seguinte: Como é que
desapareceram 527.244 (543.575 16.331) desempregados dos ficheiros do
IEFP? Quais foram as razões que justificaram a eliminação
de um número tão elevado de desempregados dos ficheiros do IEFP?
Este é um "estranho fenómeno" que sucede todos os meses
no IEFP que o seu presidente, Francisco Madelino, se tem recusado
sistematicamente a explicar. É altura de o fazer perante o
descrédito que poderá atingir o IEFP determinado pelo
"apagão do desemprego".
Durante o debate do Orçamento do Estado para 2009 na Assembleia da
República, em que participámos, colocamos esta questão
directamente ao ministro do Trabalho e Solidariedade Social. Ele apenas
conseguiu dizer que menos de metade era explicado pelo facto dos
próprios desempregados arranjarem emprego, ficando por explicar o que
acontecia ao restante, que é mais de metade.
19/Maio/2009
[*]
Economista,
edr@mail.telepac.pt
,
http://www.eugeniorosa.com
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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