Ofensiva do Pentágono sobre a Internet
por Rosa Miriam Elizalde
[*]
1- Dividir a Internet entre ricos e pobres
2- Impor os sistemas com programação de códigos fechados, que permitem maior controle do mercado e dos indivíduos
3- Utilizar a guerra contra o terrorismo para aumentar a vigilância e as medidas coercivas contra aqueles que desafiem a política da administração norte-americana
4- Institucionalizar a observação permanente dos países e organizações que consideram como seus inimigos principais
5- Aumentar o financiamento para o ofensiva desinformativa através da Rede, vinculada à que já opera nos serviços de imprensa tradicionais
É a história de um homem que sonha ter viajado a Marte. No
planeta vermelho, a quase 100 milhões de quilómetros da nossa
órbita, verifica que cada criança marciana tem uma escola
só para si "com dez professores, também marcianos".
Escrito como só José Saramago sabe faze-lo, o conto termina com o
despertar do protagonista neste planeta sombrio onde semelhante ilusão
parece habitar só as fantasias de um sonhador como ele.
Quando o Nobel português esteve em Havana no ano passado contei-lhe que,
sim, havia um lugar nesta galáxia que construiu escolas que abrem para
uma só criança, assistidas por vários professores
terrícolas. Em Cuba há 146 aulas em paragens remotas das
montanhas, às quais assistem os pequenos que ali vivem e que são
atendidas por um professor e vários instrutores. Todas as escolas
primárias e secundárias do país, incluindo estas aulas
solitárias
[1]
, têm laboratórios de computação.
Por que um país bloqueado e pobre investiria milhões de
dólares a instruir, desde muito tenra idade, o conhecimento da
informática? Se o governo está interessado em limitar e censurar
o acesso à Internet, para que treina na utilização dos
computadores mais modernos mais de 2 milhões de crianças e
adolescentes, incluindo aqueles que vivem em paragens perdidas das serranias?
Que sentido teria abrir em todos os municípios da ilha Clubes de
Computação para Jovens centros comunitários
gratuitos para aprender o uso das máquinas computadores, com
acesso à Internet? Por que Cuba pôs em prática um programa
tão ambicioso de capacitação se a sua infraestrutura de
redes ainda é precária? Por que estes dados simples,
verificáveis por qualquer um, jamais aparecem nas resenhas
jornalísticas que martelam insistentemente acerca das supostas
restrições de Cuba ao acesso à Internet?
A resposta é simples: o criminoso, como sempre, quer fazer com que a
vítima passe por assassino. O principal travão para o livre
acesso dos cubanos à Internet não está em Cuba e sim nos
Estados Unidos. Poucos sabem que a conexão tardia da ilha à rede
não se deve a uma disposição do "governo
totalitário" da ilha e sim a uma cláusula do bloqueio
norte-americano, que impedia o acesso de Cuba à rede internacional
controlada pelos EUA. Só a partir de 1966 a ilha pôde contar com
navegação internacional, mas com um condicionamento
político: faz parte do pacote de medidas da Lei Torricelli (1992)
[2]
para "democratizar a sociedade cubana". Esta lei também
decretava e está em vigor até hoje que cada megabit
(amplitude de velocidade de conexão) contratado a empresas
norte-americanas devia ser aprovado pelo Departamento do Tesouro, e estabeleceu
todo tipo de sanções para aqueles que favorecessem, dentro ou
fora dos EUA, o negócio electrónico ou o mais mínimo
benefício económico da ilha através da rede. A isto
acrescenta-se a doentia oposição norte-americana à
extensão de um cabo submarino através das poucas milhas que
separam os dois territórios.
[3]
Toda a conexão da ilha com a Internet realiza-se através de
satélites: muitíssimo mais lenta e quatro vezes mais cara.
Em nenhum lugar do mundo a liberdade da Internet significa apenas a
disposição do indivíduo a navegar pela galáxia web.
Ninguém se conecta por telepatia. Precisam-se de máquinas,
cabos, routers, software, treinamento prévio das pessoas... Com um
mínimo de senso comum pode-se entender porque, dez anos depois da
permissão concedida pelo Departamento do Tesouro norte-americano, a
infraestrutura de redes e a cultura de Internet ainda são escassas num
país bloqueado e fustigado, onde não se podem descarregar
programas fabricados nos EUA, nem utilizar cartões de crédito
emitidos por bancos norte-americanos (e subsidiárias), sem que
apareça um cartaz a advertir que o senhor está a cometer um
delito penalizado duramente pela lei.
[4]
Inclusive poder-se-ia entender porque, do lado da ilha, não faltam
preconceitos e controles, e manifestam-se tendências economicistas frente
a outras majoritárias de expansão social da rede.
Os Estados Unidos estão obcecados com a Internet cubana porque é
um ponto extraordinariamente visível de dissidência do modelo
norte-americano, onde testaram e continuarão a testar o que a seguir
aplicam e continuarão a aplicar contra outros países e
organizações sociais. Actuam como canalizadores eficientes: ali
onde vêm possibilidades de independência política ou
tecnológica, uma saída, articulam agilmente os instrumentos
tecnológicos, económicos e judiciais, mediante métodos de
ensaio e erro, com o objectivo de impedir que a Rede se afaste pelo canal que
eles não construíram.
Não é casual em 2003 o secretário da Defesa
norte-americano Donald Rusmfeld instruísse num documento secreto
divulgado pelo Arquivo de Segurança Nacional da Universidade George
Washington
[5]
, que a "Internet era o novo cenário da guerra contra o
terror".
Há poucos dias anunciaram o nascimento do Comando de
Operações da Força Aérea para o Ciberespaço
[6]
, a frente especializado do Pentágono para esta nova guerra. Para o que
ocorreu a 3 de Novembro, quando o Departamento da Defesa tornou pública
esta instituição, foi um acto puramente formal. Desde há
muitos anos estão a testar seu arsenal na guerra electrónica, e
quem acompanhou com atenção as notícias em 2006
terá percebido que não se fala de um inimigo que mantem um
arsenal de Armas de Destruição em Massa, excessivamente custosas
e incómodas na hora de encontrá-las, e sim de uma "nova
geração de terroristas", muito mais perigosa, que se desloca
facilmente com uma bomba caseira na mão direita e um laptop na esquerda.
Quem este ano acompanhou os noticiários, repito, também
terá visto como, em plena luz do dia, as estratégias para
consolidar esta ofensiva estiveram a ser executadas em cinco
direcções perfeitamente reconhecíveis, e que todas elas
já foram testadas contra Cuba:
1- Dividir a Internet entre ricos e pobres:
Os Estados Unidos controlam não só as vias que utiliza o
tráfego que a ilha pode dispor. Geralmente não se repara num
facto demolidor: 80 por cento do tráfego da Internet em todo o mundo
passa pelos servidores dos EUA. Das decisões adoptadas pela
Câmara de Representantes e pelo Senado dos EUA depende que se encurtem ou
que se ampliem as brechas no acesso e capacidade de difusão na Rede da
maior parte da população mundial, que avança a passos de
sete léguas para um modelo de duplo padrão nos acessos às
tecnologias digitais.
Em Projecto Censurado
[7]
, uma avaliação anual da Universidade Sonoma State da
Califórnia, que resenha os principais temais ocultados à
opinião públicas pelos Estados Unidos, regista entre os assuntos
censurados em 2006 que "companhias de cabo gigantes como AT&T, Comcast e
Verizon estão a apoderar-se da rede mediante leis e
determinações judiciais a fim de que perca o seu carácter
democrático e de oferecer, em alternativa, um duplo serviço, caro
e rápido, de alta tecnologia, à medida dos ricos, e outro de
segunda classe para os pobres, mas com intervenção corporativa
nos conteúdos".
Em Junho de 2006, a lei que invalida a chamada "neutralidade na
Internet" chegou ao Senado, depois de ser aprovada pela Câmara de
Representantes e apoiada com entusiasmo pelo Departamento da Defesa.
[8]
Estamos às portas de que cada empresa, grupo e indivíduo,
além dos países que os Estados Unidos decidam sancionar, tenham
de pagar uma portagem por cada megabit de conexão à rede. Isto
introduz na prática duas novas regras que até agora não
estavam reguladas pela legislação norte-americana:
a) Todo o acesso à Internet ficará regulado, e não
serão os consumidores e sim o governo quem escolherá o que
é melhor para eles na rede.
b) O governo, através de umas poucas companhias de
telecomunicações, regulará ou acrescentará impostos
ao conteúdo da rede ou ao comércio na mesma.
2- Impor os sistemas com programação de códigos fechados,
que permitem maior controle do mercado e dos indivíduos:
Devido ao bloqueio comercial dos EUA, Cuba só pode adquirir estas
tecnologias através de países terceiros e pagar até uns 30
por cento mais do que o preço na América do Norte. Como a
maioria dos habitantes do planeta que não podem migrar da noite para o
dia para o linux sistemas com códigos abertos , a ilha
depende dos monopólios norte-americanos. Os Estados Unidos produzem 60
por cento do software mundial e uma só companhia, a Microsoft, domina
com o Windows o sistema operativo instalado em mais de 90 por cento dos
computadores pessoais de todo o mundo. Como se sabe, os riscos não
são apenas económicos.
Segundo um relatório elaborado pelo Ministério francês da
Defesa
[9]
, existe uma relação entre a Microsoft e os serviços de
informações norte-americanos, e os seus membros da Agência
Nacional de Segurança, alguns dos quais trabalham no desenvolvimento das
tecnologias da empresa de Bill Gates, que reconheceu publicamente haver criado
seu próprio Programa de Segurança Nacional para passar
informação e colaborar com o governo dos Estados Unidos. Se
alguém tivesse alguma dúvida quanto a esta relação,
numa entrevista concedida a
El País,
em 22 de Outubro último, o segundo homem no comando da Microsoft, Steve
Ballmer, admitiu que a companhia subordinará a privacidade dos seus
utilizadores aos interesses da Agência de Segurança Nacional e do
FBI em questões de segurança.
O relatório do ministério francês, absolutamente livre de
toda suspeita de paranóia esquerdistas, adverte também acerca da
presença de programas espias
("back-doors")
nos softwares da Microsoft, e diz que a Intel também fixou, nos
microchips Pentium III e Xeon, um número de identificação
consultável a distância. E a toda esta grande estrutura de
vigilância soma-se a recusa dos funcionários do FBI
[10]
de entregarem informação acerca do programa DCS-3000, variante
do Carnivore, para a espionagem electrónica. A Electronic Frontier
Foundation (EFF), uma ONG integrada por advogados e defensores dos direitos
civis que se dedica a denunciar as acções ilegais de
vigilância digital nos Estados Unidos, reconheceu em 8 de Outubro
último que havia tido de renunciar à denúncia posta
perante o Ministério da Justiça dos EUA, depois de o FBI se ter
negado, em nome da guerra contra o terrorismo, a entregar documentos sobre esta
ferramenta, solicitada através da Lei para Liberdade de
Informação (FOIA). Contudo, na sua recusa não se
pronunciou, nem proibiu o silêncio do FBI, acerca da denúncia de
que o DCS-3000 é uma variante do Carnivore, utilizado ilegalmente
durante anos contra os cidadãos norte-americanos, a um custo
multimilionário. "O Carnivore explicou de modo muito
didáctico o próprio Bureau norte-americano é um
sistema computacional concebido para permitir ao FBI, em
colaboração com um service provider de Internet, que faça
valer uma ordem judicial que exige o coleccionamento de certa
informação em correio electrónico ou outro meio
digital de um utiizador que seja objecto de
investigação".
[11]
Como foi denunciado este ano no
Congresso norte-americano, a ordem judicial não costuma ser
necessária para intervir na correspondência e para instalar
programas de escuta nas costas dos cidadãos desse país.
3- Utilizar a guerra contra o terrorismo para aumentar a vigilância e as
medidas coercivas contra aqueles que desafiem a política da
administração norte-americana:
Nenhum meio internacional reflectiu as sanções contra
cidadãos dos Estados Unidos por comprarem através da Internet
bilhetes de avião para ilha, reservas em hoteis ou produtos cubanos
através dos escassíssimos sítios de comércio
electrónico que mantêm vínculos económicos com Cuba,
incluindo aqueles cujas operações comerciais realizam-se fora do
território norte-americano. Basta rever a página do
Escritório de Controle de Activos Estrangeiros (OFAC, conforme a sigla
em inglês)
[12]
, adstrito ao Departamento do Tesouro. Treze empresas foram incluídas
na lista negra do OFAC e, delas, cinco mantêm sítios na Internet
que imediatamente foram bloqueados nos Estados Unidos:
www.caribesol.ca
,
www.cimexweb.com
,
www.havanatur.cu
,
www.cuba-shop.net
e
www.sercuba.com
.
[13]
Foi muito difícil aos porta-vozes norte-americanos explicar porque,
depois do 11 de Setembro de 2001, este Escritório mantem mais
funcionários permanentes dedicados a vigiar os norte-americanos que
viagem ou enviem dinheiro para Cuba do que funcionários que se dediquem
a perseguir as transacções de suspeitos de financiar o terrorismo
nos EUA. Em Abril de 2004
[14]
, a OFAC informou o Congresso que dos seus 120 empregados quatro foram
designados para seguir a pista das finanças de Osama bin Laden e Sadam
Hussein, ao passo que quase duas dezenas dedicavam-se a reforçar o
bloqueio contra Cuba. Admitiram que utilizavam a Internet como fonte
fundamental para seguir as pistas do dinheiro.
Neste ano de 2006 estamos a viver uma verdadeira agitação mundial
desde que o Comité do Senado aprovou um projecto de lei que permite
realizar investigações electrónicas de norte-americanos
sem controle judicial. Ainda que em 17 de Agosto último uma
juíza federal de Detroit tenha ordenado parar com estas
investigações violatórias da intimidade das pessoas
[15]
, o secretário da Justiça continuou a sua cruzada para conseguir
controlar a informação privada armazenada pelos provedores de
Internet. Em Setembro, Alberto Gonzales
[16]
exigiu ao Senado que aprovasse uma lei "para obrigar os provedores de
Internet a conservar registros das actividades dos seus clientes".
Reconheceu que o director do FBI, Robert Mueller, reuniu-se com vários
provedores de Internet, como a AOL, Time Warner, Comcast, Google, Microsoft,
entre outras, para que guardassem os registros por dois anos.
4- Institucionalizar a observação permanente dos países e
organizações que consideram como seus inimigos principais
Além do Exército do Ciberespaço, os Estados Unidos criaram
este ano novas estruturas para fortalecer os serviços de
Inteligência que se nutrem através da rede. Estes grupos
inter-agências, subordinandos ao Departamento de Estado, têm a
capacidade de convocar tanto peritos do governo como investigadores privado e
ciber-mercenários. (O FBI, por exemplo, conta com a
colaboração de um famoso grupo de piratas informáticos que
se denomina "Cult of the Dead Cow" (Culto da vaca morta), criadores
de uma temida ferramenta de "administração remota",
para controlar a distância os conteúdo de computadores pessoais).
[17]
No mês passado, o director de Inteligência Nacional, John
Negroponte, nomeu Patrick Maher, um veterano funcionário da CIA, como
gerente interino de uma Missão Especial da CIA para Cuba e Venezuela
[18]
, que utilizará a Internet entre as suas fontes de
informação fundamentais. Só o Irão e a Coreia do
Norte considerados ambos pelos EUA como ameaças nucleares
tinham anteriormente gerentes de missão.
Em 13 de Setembro último, o diário
The Miami Herald
[19]
filtrou a notícia com desagrado da Casa Branca da
criação de cinco grupos de trabalho secreto inter-agências
para monitorar Cuba e implementar as políticas dos EUA. Dirigidos pelo
Departamento de Estado, dedicam-se a definir "acções
diplomáticas, comunicações estratégicas e
promoção democrática". São "gabinetes
permanentes de guerra" segundo o
Herald
, que têm outros antecedentes "a maioria não
divulgados", dentre eles o Grupo de Tarefas contra a Internet Global,
criado em 14 de Fevereiro de 2006 para monitorar especificamente as
acções na Internet de Cuba, Irão e China.
5- Aumentar o financiamento para o ofensiva desinformativa através da
Rede, vinculada à que já opera nos serviços de imprensa
tradicionais:
O escândalo dos jornalistas pagos para atacar Cuba pelo governo dos EUA
revelou os desembolsos exorbitantes aos colaboradores da Rádio e TV
Marti, emissoras do governo norte-americano cujos conteúdos são
despejados também na web. O que quase ninguém diz é que
estas obras e outras publicações digitais que se dedicam ao
negócio anti-castrista receberão, para a campanha
"democratizadora" da ilha, mais 24 milhões de orçamento
directo dos contribuintes norte-americanos, graças à generosidade
do Plano Bush contra Cuba
[20]
. Tão pouco recordam que há muitos anos recebem milhões
de dólares através de várias agências
governamentais, algumas com fundos públicos a NED e a USAID, por
exemplo , que podem ser consultados nos seus sítios na Internet.
Por que se haveria de estranhar os pagamentos secretos do exército
norte-americano a jornalistas iraquianos que publicassem artigos redigidos por
soldados ianques? Será estranho que o Pentágono acabe de
conceder à empresa empreiteira Lincoln Group um novo contrato de seis
milhões de dólares com dois anos de duração
[21]
para vigiar os meios de comunicação ingleses e árabes no
Iraque, e para ajudar as Forças Armadas nas relações
públicas?
Num relatório de inteligência emitido por 16 serviços de
espionagem do governo norte-americano e divulgado parcialmente em Setembro com
o título de "Tendências do terrorismo mundial:
implicações para os Estados Unidos", admite-se que "a
suposta manipulação da imprensa pelos meios simpatizantes da
insurgência, que funcionam basicamente pela Internet, é um dos
temas mais inquietantes na luta contra o terrorismo. Um dos efeitos dessa
tendência diz ali é que os estadunidenses
diminuíram o apoio à invasão, e isto repercutirá
nas eleições legislativas do país".
[22]
O facto de o terem admitido agora não significa que estiveram de
braços cruzados.
The New York Times
[23]
informou em Dezembro de 2005 que o Pentágono ainda mantinha uns 1200
mercenários das Unidades de Operações Psicológicas,
que redigem as notícias sobre o terreno e a seguir colocam-nas na
imprensa dos países ocupados e na Net. As agências
norte-americanas AP e UPI deram conta em 30 e 31 de Outubro da existência
de uma companhia mediática subordinada às Forças Armadas
norte-americanas que se dedica, exclusivamente, a contra-atacar o que
qualificou de "propaganda inimiga sobre a guerra do Iraque".
[24]
O Pentágono deu ao batalhão a ordem de contra-atacar qualquer
dado na Net que a Casa Branca considere pouco fiável. "Essa tropa
está operacional 24 horas por dia", disse à AP Dorrance
Smith, assistente do secretário da Defesa para as Relações
Públicas.
Não quero esmagá-los. Ainda que marginalizada pelos grandes
media, há muitíssima informação, basicamente de
fontes norte-americanas, que nos advertem de uma acelerada
institucionalização do controle na Net, convertida num claro
objectivo de guerra. Os Estados Unidos aprenderam com os golpes que as redes
sociais conseguiram encaixar-lhe na espinha, as grandes
mobilizações contra as reuniões da
Organização Mundial do Comércio e contra a guerra em 2003,
as acções coordenadas através do correio
electrónico e dos SMS celulares. Agora começam a alinhar-se para
represar a grande ciber-rodovia num leito único, que lhe permita o
controle da informação e daqueles indivíduos que se
insubordinem. E é indubitável que em busca dessa
estratégia actua com organização e eficiência.
Os grupos sociais que se rebelam contra esta estratégia
hegemónica costumam ter duas atitudes frente à Net: uma
panglossiana, que vê a Internet como um espaço amistoso e
soberano, fonte de todas as bondades para a grande transformação
mundial; e outra paranóica, pouco menos que ludita, que teme tudo o que
transpire cabos e algoritmos.
Nem panglossianos nem luditas, sejamos realistas. Declararam-nos guerra
através do ciberespaço, porque ainda não o controlam,
porque sabem, tal como nós, que por esta estrada a verdade está a
chegar ao coração de Roma, e também porque, na nova era
inaugurada pela tecnologia do acesso, a grande batalha política e
económica será dirimida entre aqueles que vivem dentro das portas
electrónicas do ciberespaço e os que vegetam no exterior.
Há que brigar para estar dentro. Há que organizar. Necessitamos
menos lojecas digitais, que se perdem entre os 100 milhões de
sítios web já existentes, e mais acções legais e
políticas contra aqueles que violam nossa privacidade, contra os
censores e os satanizadores, contra os mentirosos, contra os que sequestram os
servidores dos meios alternativos, contra os que criam vírus e financiam
piratas informáticos, contra os que querem cobrar-nos uma portagem cada
vez que entramos na rede...
Temos que aprender a manejar as ferramentas digitais. Sem elas, aquelas que
devem tomar decisões políticas são analfabetos. Aqueles
que não as conhecerem, em menos de uma década viverão em
Marte ou num conto impossível de Saramago, mas não no
âmbito de influência da sociedade humana.
Esta é a razão pela qual o Pentágono nos declarou a
guerra. Pois bem, há que travar a batalha. E logo mais já
será tarde.
08/Novembro/2006/Havana
Notas
[1] Em Cuba existem 1117 escolas nas quais recebem aulas de uma a cinco
crianças.
[2] Esta Lei foi aprovada dentro de outra mais extensa e de maior alcance: a
Lei de autorização e de defesa nacional para o ano fiscal 1992,
ou como definitivamente foi denominada: Lei de autorização de
defesa nacional para o ano fiscal 1993. Maiss informação e texto
integral da Lei em:
http://www.cubavsbloqueo.cu/Default.aspx?tabid=43
[3] Os Estados Unidos impediram Cuba de conectar-se à malha mundial de
fibra óptica submarina que possui oito pontos em territórios
muito próximo à ilha, no Caribe, e que optimizaria
extraordinariamente a comunicação. O sistema Arcos (Americas
Region Caribbean Optical-ring System) conecta por meio de fibra óptica
os EUA, México, América Central, América do Sul e o
Caribe, e proporciona um serviço de banda larga de altíssima
velocidade. O Arcos é co-propriedade de 28 carriers da região e
é liderado pela New World Network, accionista norte-americano
majoritário que tem uma participação da ordem dos 88,2%,
Para consultar o sítio da NWN na Internet:
http://www.nwncable.com/
[4] Relatório de Cuba na sessão plenária da Cimeira
Mundial sobre a Sociedade da Informação (CMSI). Túnes, 16
de Novembro de 2005. Pode ser consultada on line em:
http://www.rebelion.org/noticia.php?id=22874
[5] Pode-se descarregar o relatório em:
http://www.gwu.edu/~nsarchiv/NSAEBB/NSAEBB177/index.htm
[6] A nota completa do Departamento da Defesa pode ser descarregada na sua
página web:
http://www.defenselink.mil/News/NewsArticle.aspx?id=2014
[7] Ver:
http://www.projectcensored.org/censored_2007/index.htm#1
[8] Arcos, Eduardo. La neutralidad de internet. ALT1040.com, 9 de
Junho de 2006. Em:
http://alt1040.com/archivo/2006/06/09/la-neutralidad-de-internet/
[9] Una libertad bajo vigilancia electrónica.
Librínsula, Biblioteca Nacional de Cuba. 19 de agosto de 2006. Traduzido
de:
http://perso.wanadoo.fr/metasystems/ES/BigBrother.html
[10] EFF Sues for Information on Electronic Surveillance Systems.
EFF.org. October 03, 2006 .
http://www.eff.org/news/archives/2006_10.php#004935
[11] Carnivore FAQ:
http://www.nettime.org/Lists-Archives/nettime-lat-0109/msg00084.html
[12]
http://www.ustreas.gov/offices/enforcement/ofac/
[13]
http://www.cubavsbloqueo.cu/Default.aspx?tabid=1013
[14] Chomsky, Noam.: El terrorista en el espejo. Rebelión,
España. 8 de Fevereiro de 2006. Em:
http://www.rebelion.org/noticia.php?id=26569
[15] Una juez federal declara inconstitucional el programa de espionaje
doméstico de EE UU.
El País,
Espanha, 17 de Agosto de 2006. Em:
www.elpais.es
[16] "Justicia sugiere se requiera a los ISP la preservación de
información de los usuarios de Internet ". Wired News, 19/07/2006 -
http://www.cyberclinic.pr/index.php?option=com_content&task=view&id=60&Itemid=9
[17] Mais informação em:
http://www.cultdeadcow.com
[18] Bachele, Pablo: "Washington crea grupos de trabajo para Cuba".
El Nuevo Herald,
13 de septiembre de 2006. Em:
http://www.miami.com/mld/elnuevo/15503728.htm
[19] Bachele, Pablo. "Washington crea grupos de trabajo para Cuba".
The Miami Herald,
13 de Setembro de 2006.
http://www.miami.com/mld/elnuevo/15503728.htm
[20] Plan de la Comisión para la Ayuda a una Cuba
Libre, apresentado em Washington a 10 Julho 2006. Em:
http://www.cafc.gov/cafc/rpt/2006/68751.htm
[21] "Lincoln Group obtiene nuevo contrato en Irak".
Democracy Now,
26 de Setembro de 2006.
http://www.democracynow.org/article.pl?sid=06/09/27/1823244
[22] Fragmentos do relatório sobre Irak Tendencias en el Terrorismo
Global: Implicaciones para EE. UU. Elaborado por 16 servicios secretos de
EE.UU., parcialmente desclasificado. Los extractos fueron seleccionados por la
oficina del director de Inteligencia de EE.UU., John Negroponte. BBC, 27 de
Setembro de 2006. Em:
http://news.bbc.co.uk/hi/spanish/international/newsid_5384000/5384746.stm
[23] Gerth, Jeff: "Propaganda: Military's Information War Is Vast and
Often Secretive".
The New York Times,
December 11, 2005 . Em:
www.nytimes.com
[24] "Pentagon expanding PR office". UPI. October 31, 2006 . Em:
http://www.upi.com/SecurityTerrorism/view.php?StoryID=20061030-045619-3177r
"Pentagon buttressing its public relations efforts as criticism against
Iraq war grows".
The Associated Press. October 30, 2006 . Em:
www.iht.com
[*]
Investigadora cubana,
rosa@cubadebate.cu
O original encontra-se em
http://www.cubadebate.cu/
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.
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