Sistema bancário europeu em grande perturbação
por Mike Whitney
O sistema bancário da UE está em grande
perturbação. Muitos dos maiores bancos da UE estão
assentados sobre
centenas de milhares de milhões de euros de títulos soberanos
duvidosos e sobre empréstimos imobiliários incumpridos. Mas
registarem as suas perdas esgotaria o seu capital e forçá-los-ia
a reestruturar a sua dívida. De modo que os bancos estão a
esconder as suas perdas através de prestidigitações
contabilísticas e pela tomada de dinheiro emprestado do Banco Central
Europeu. Isto tem ajudado a esconder o apodrecimento no coração
do sistema.
Actualmente 170 bancos estão a ter dificuldade de acesso aos mercados
grossistas onde obtêm o seu financiamento. Instituições
financeiras escusam-se a emprestar umas às outras porque não
estão seguras de quem está solvente ou não. É uma
questão de confiança.
O governador do BCE, Jean-Claude Trichet, tenta manter os problemas debaixo do
pano, mas os mercados não são facilmente enganados. Indicadores
de stress, como o euribor, elevaram-se durante os últimos dois meses. Os
investidores sentem que algo cheira mal. Eles sabem que os bancos estão
a brincar o jogo das escondidas com activos degradados e sabem que Trichet
está a ajudá-los.
Na semana passada as acções animaram-se com a notícia de
que bancos da UE reembolsariam a maior parte do empréstimo de
emergência de 442 mil milhões do BCE. A notícia foi
sobretudo um truque publicitário concebido para esconder o que realmente
acontecia. Sim, os bancos os bancos tomaram emprestado significativamente menos
do que analistas haviam previsto (outros 132 mil milhões), mas
apenas dois dias depois 78 bancos tomaram emprestado outros 111 mil
milhões. Os empréstimos adicionais sugerem que Trichet inventou
tudo para induzir investidores.
Os bancos da UE estavam empenhados nas mesmas actividades de alto riscos dos
seus homólogos dos EUA. Comportavam-se imprudentemente em mercados
especulativos que foram impulsionados com a máxima alavancagem.
Banqueiros arrecadaram centenas de milhares de milhões em
salários e bónus antes de a bolha estourar. Agora o valor dos
títulos que compraram afundou, de modo que se voltam para o BCE à
procura de salvamento. Soa familiar?
Trichet é um representante da indústria bancária, tal como
Geithner e Bernanke. A sua tarefa é manter o poder político e
económico dos bancos e transferir as perdas para o público.
Actualmente, o BCE proporciona empréstimos "ilimitados" a
bancos submersos de modo a que possam manter a aparência de
solvência. Trichet reduziu taxas a 1 por cento, proporcionou um abrigo
seguro para depósitos
overnight
e iniciou um programa agressivo de compra de títulos (Facilidade
Quantitativa,
Quantitative Easing,
QE), o qual mantém artificialmente altos preços de
títulos soberanos. As avaliações de activos de bancos
são apoiadas por uma autoridade central e não reflectem o
verdadeiro preço de mercado.
O mercado do financiamento por grosso
(repo)
não encerrou. Os bancos ainda podem permutar os seus títulos
soberanos e títulos imobiliários por empréstimos a curto
prazo. Ele exige meramente que façam um pequeno corte
(haircut)
no valor do seu colateral, o qual seria então registado como uma perda
deixando-lhe capital enfraquecido
(impaired).
É assim que os mercados funcionam, mas aos bancos não é
exigido que joguem de acordo com as regras.
Da Bloomberg News: "Prestamistas europeus têm US$2,29 milhões
de milhões
(trillions)
na Grécia, Itália, Portugal e Espanha no fim de 2009, incluindo
empréstimos a governos, segundo o Bank for International Settlements...
Reduções do valor contabilístico de bancos alemães
sobre empréstimos e títulos provavelmente
alcançarão US4314 mil milhões no fim de 2010, com bancos
prestamistas estatais e bancos de poupança a enfrentarem o grosso das
perdas, disse o Fundo Monetário Internacional num relatório de
Abril".
Vêem? O BCE não está a comprar títulos gregos por
causa de uma "crise da dívidas soberana". Está a
comprá-los a fim de que os bancos não percam dinheiro. A
própria "crise de dívida soberana" é exagero de
relações públicas. Se se tornar demasiado dispendioso
financiar operações do governo, a Grécia pode deixar a UE
e retornar à dracma a qual dar-lhe-ia maior flexibilidade para
regularizar as suas dívidas. Isso aumentaria a procura por
exportações gregas e melhoraria o turismo. Esta é a melhor
solução para a Grécia. Então, onde está a
crise?
ABANDONO DA UE = PREJUIZO PARA BANCOS ALEMÃES E FRANCESES
Se a Grécia, Portugal e Espanha deixarem a UE e reestruturarem a sua
dívida, bancos na Alemanha e França ficarão e
incumprimento e possuidores de títulos perderão as suas camisas.
Por outras palavras, os investidores, que assumiram um risco, perderão
dinheiro o que é o modo como o sistema supostamente funciona.
Bloomberg outra vez: "Os bancos da região reduziram o valor de uma
percentagem proporcionalmente mais baixa dos seus activos do que os seus
homólogos dos EUA. Os bancos dos EUA terão reduzido 7 por cento
dos seus activos no fim de 2010 e bancos da euro-área 3 por cento
segundo o FMI. Bancos europeus ainda não mostraram aos analistas terem
completado as suas reduções". (Bloomberg)
Assim, os bancos estão submersos, mas nada tem sido feito para consertar
o problema. Onde estão os reguladores?
Na quinta-feira, o euribor atingiu uma altura de 10 meses. A pressão
está a aumentar apesar dos programas de emergência de Trichet. Os
empréstimos bancários do BCE são de aproximadamente
800 mil milhões ao passo que os depósitos
overnight
são grosso modo de 240 mil milhões. Trichet está
desejoso de arrastar a UE para 10 ou 15 anos de crescimento medíocre e
alto desemprego (como o Japão) a fim de impedir que um punhado de
banqueiros e portadores de títulos aceitem as suas perdas. Se as coisas
ficarem bastante más, Trichet pode recorrer à
"opção nuclear", isto é, permitir que um grande
banco impluda "estilo Lehman" de modo a que ele possa extorquir
centenas de milhares de milhões de euros dos estados membros da UE. Isto
já foi feito antes; basta perguntar a Bernanke ou Paulson.
A FRAUDE DO "TESTE DE STRESS"
Os testes de stress dos bancos nos EUA foram organizados pelo Tesouro como
medida de "construção de confiança". Eles
permitiram que os bancos utilizassem os seus próprios modelos internos
para determinar o valor de títulos complexos. A mesma regra será
aplicada aos bancos da UE. O
Daily Telegraph
informa que alguns dos bancos realmente testar-se-ão a si
próprios. Pelos menos isso afasta qualquer dúvida acerca dos
resultados.
Da Bloomberg News "Testes europeus de stress a 91 dos maiores
bancos da região provocam a crítica de analistas que dizem
estarem os reguladores a subestimar prováveis perdas em títulos
governamentais gregos e espanhóis. Os testes são concebidos para
avaliar como bancos serão capazes de absorver perdas em
empréstimos e títulos do governo, disse ontem o Comité de
Supervisores da Banca Europeia. Reguladores disseram aos prestamistas que os
testes podem assumir uma perda em torno de 17 por cento da dívida do
governo grego, 3 por cento em títulos espanhóis e nenhum na
dívida alemã, disseram duas pessoas que resumiram as
conversações, as quais não quiseram identificar-se porque
os pormenores são de ordem privada.
Os mercados de crédito estão a considerar perdas da ordem dos 60
por cento nos títulos gregos se o governo entrar em incumprimento, mais
de três vezes o nível que se diz ter sido assumido pelo CEBS.
Derivativos conhecidos como
recovery swaps
são comerciados a taxas que implicam que os investidores obteriam cerca
de 40 por cento num incumprimento ou reestruturação da
Grécia". (Bloomberg)
Os testes são uma piada. Os bancos continuarão a utilizar
mudanças de regras contabilísticas e outros truques para que as
suas perdas não se vejam. Trichet utilizará os testes para
intensificar o seu programa de compra de títulos (QE) o qual
transferirá as perdas dos bancos para dentro dos estados membros. Muitos
dos bancos estão insolventes e precisam reestruturação.
Mas eles não estão em perigo real, porque ainda têm
domínio sobre o processo.
O original encontra-se em
http://www.informationclearinghouse.info/article25910.htm
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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