É uma guerra de classe
O círculo vicioso de dívida e depressão
por Ismael Hossein-Zadeh
[*]
Nunca antes tantas dívidas foram impostas a tantas pessoas por
tão poucos operadores financeiros operadores que agem a partir da
Wall Street, o maior cassino na história, e de um punhado de
contrapartes menores ao redor do mundo, especialmente na Europa.
A dívida externa soberana e os seus incumprimentos ocasionais não
são sem precedentes
[1]
. O que é, ao contrário, único no caso da atual
dívida externa soberana é que ela é composta
majoritariamente de dívidas privadas contabilizadas como dívida
pública; isto é, dívida que foi acumulada por
especuladores financeiros e, então, descarregada sobre os governos para
que fosse paga pelos contribuintes como dívida nacional. Tendo assim
socorrido "banksters" insolventes, muitos governos ficaram eles
mesmos insolventes ou quase, e estão pedindo ao público que
economize pão e manteiga para pagar uma dívida que não
é da sua responsabilidade.
Após transferirem milhões de milhões de dólares de
dívida podre ou ativos tóxicos da contabilidade dos especuladores
financeiros para a dos governos, os magnatas financeiros globais, seus
representantes no aparelho de Estado e a mídia corporativa, agora acusam
o gasto social (na realidade, o povo) de ser o responsável pela
dívida e pelo déficit!
O recente
motto
do presidente Obama de "responsabilidade fiscal" e suas
freqüentes reclamações sobre "gastos governamentais
fora de controle" são reflexos desta estratégia insidiosa de
culpar as vítimas pelos crimes dos algozes. Também refletem o
fato de que os poderosos interesses financeiros que receberam milhões de
milhões de dólares dos contribuintes, que os salvaram da
bancarrota, estão agora ditando estratégias de
arrecadação através das quais os governos podem recuperar
dos contribuintes esses dólares. Na realidade, os governos e
instituições multilaterais como o FMI estão atuando como
oficiais de justiça ou coletores de impostos a favor dos
"banksters" e de outros magos das finanças.
Não somente isto é injusto (é, na verdade, equivalente ao
roubo, e portanto criminoso) mas também provoca recessão, na
medida em que pode aumentar o desemprego e minar o crescimento da economia.
É reminiscência da notória política econômica
do presidente Herbert Hoover de cortar gastos durante uma recessão, uma
política fiscal contraditória condenada a piorar a
recessão. É, na verdade, a receita para um círculo vicioso
de dívida e depressão: à medida em que os gastos
são cortados para pagar as dívidas, a economia e (portanto) a
receita advinda dos impostos encolhe, o que então aumenta a
dívida e o déficit, o que levará a mais cortes!
Gastos em infra-estrutura nacional, tanto física (como estradas e
escolas) e infra-estrutura social (como saúde e educação)
são a chave do desenvolvimento socioeconômico de longo prazo.
Cortar gastos públicos para pagar pelos pecados dos jogadores da Wall
Street é minar a saúde de uma sociedade no longo prazo em termos
de incentivos à produtividade e crescimento sustentado.
Mas os poderosos interesses financeiros e seus cobradores de dívidas
parecem estar mais interessados em cobrar dívidas que investir na
recuperação econômica, criação de empregos ou
desenvolvimento socioeconômico de longo prazo. Como muitas agências
de cobranças de dívidas, o FMI e os estados que servem de agentes
dos "banksters" através de seus programas de austeridade
poderiam chorar algumas lágrimas de crocodilo por simpatia às
vítimas de suas políticas de austeridade; mas, novamente como
quaisquer outros agentes de cobrança de dívidas, eles parecem
estar dizendo: "lamentamos pela perda de seu emprego ou de sua casa, mas
as dívidas devem ser cobradas de qualquer maneira"!
Um aspecto ainda mais ultrajante do ônus da dívida colocado nas
costas dos contribuintes desde 2008 é que a maior parte das
alegações ocultas de dívidas são fictícias e
ilegítimas: devem-se em grande parte a bolhas de preços de ativos
manipuladas, especulações dúbias ou ilegais, e à
escandalosa conversão de perdas financeiras de apostadores em passivos
públicos.
Como foi notado antes, medidas onerosas de austeridade que forcem o
público a pagar uma dívida externa em grande parte fraudulenta
não são novas. Chamando benignamente essas medidas opressivas de
"Programas de Ajuste Estrutural", o Fundo Monetário
Internacional e o Banco Mundial as têm por décadas imposto a
muitos países menos desenvolvidos para cobrar dívidas em nome dos
titãs financeiros internacionais.
Para "ajudar" as nações devedoras a criar arranjos para
o serviço da dívida com credores externos, o FMI impôs
severas condições à maneira como elas geriam suas
economias assim como estão agora sendo impostas (em
colaboração com banqueiros europeus e americanos) estas
políticas de austeridade sobre as nações devedoras na
Europa. O propósito principal dessas condições restritivas
é desviar ou transferir recursos nacionais do uso interno para credores
externos. Isso inclui não somente as medidas de austeridade de cortar
gastos sociais e/ou elevar impostos, mas também a
privatização de empresas públicas, industriais nacionais,
e receitas fiscais futuras.
Chamando essas privatizações a preços de
liquidação de "subornização"
("briberization")
, o ex-economista chefe do Banco Mundial Joseph Stiglitz revelou (numa
entrevista com o renomado repórter investigativo Greg Palast) como os
ministros de Finanças e outras autoridades burocráticas dos
países devedores atendiam as demandas do Banco para vender suas empresas
de eletricidade, água, transporte e comunicação em troca
de algum "adoçante" aparentemente irresistível.
"Podia-se ver seus olhos arregalados" à perspectiva de
comissões de 10% pagas através de contas em bancos
suíços simplesmente por terem cortado alguns milhares de
milhões no preço de venda dos ativos nacionais.
[2]
.
Os "programas de ajuste estrutural" do FMI/Banco Mundial/OIC
também incluem políticas neoliberais de
"liberalização do mercado de capitais". Em teoria,
supõe-se que a desregulamentação do mercado de capitais
conduza à entrada e investimento de capital estrangeiro, trazendo desta
forma industrialização, criação de empregos e
expansão econômica. Na prática, todavia, a
liberalização financeira freqüentemente leva a mais
saída de capital (ou fuga de capitais) do que a entradas. Embora ainda
haja entradas de capital, este é nem tanto capital produtivo ou
industrial mas capital improdutivo ou especulativo (também conhecido
como "hot money"): grandes quantidades de capital que estão
constantemente se movendo pelas fronteiras internacionais atrás de
oportunidades de especulação em imóveis, moedas ou taxas
de juros.
Para atrair capital estrangeiro aos mercados relativamente vulneráveis
ou a nações devedoras, o FMI freqüentemente recomenda
aumentos drásticos nas taxas de juros. Taxas de juros mais altas,
todavia, são tanto anti-desenvolvimentistas quanto prejudiciais ao
objetivo do serviço da dívida. Taxas de juros mais altas tendem a
destruir o valor das propriedades, desviar recursos financeiros do investimento
produtivo e aumentar a carga do serviço da dívida.
Por exemplo, nas Filipinas, que em 1980 adotaram o Programa de Ajuste
Estrutural do FMI, "o pagamento de juros como percentual dos gastos totais
do governo foi de 7% em 1980 a 28% em 1994. Os gastos de capital, por outro
lado, caíram de 26% para 16%". Em contraste, "os vizinhos das
Filipinas no Sudeste da Ásia ignoraram as receitas do FMI. Limitaram o
serviço da dívida enquanto aumentavam os gastos de capital dos
governos para sustentar o crescimento. Não surpreendentemente, eles
cresceram de 6% a 10% de 1985 a 1995,..enquanto as Filipinas mal cresceram e
ganharam a reputação de ser um mercado fraco que repeliu
investidores".
[3]
.
Uma condição fundamental do "programa de
reestruturação do FMI/Banco Mundial/OIC é a
liberalização do comércio. O livre comércio sempre
foi a bíblia dos economicamente fortes, hipocritamente pregando aos
pobres. Ele capacita os fortes a usar seu poder de mercado para ganhos
econômicos, perpetuando assim a divisão internacional do trabalho
na qual os países tecnologicamente avançados se especializam em
produção e exportação de alta tecnologia e produtos
de alto valor agregado, enquanto os países menos desenvolvidos
estão condenados ao fornecimento de produtos pouco ou nada processados.
Não é de surpreender, então, que esta política
unilateral de liberalização comercial seja por vezes chamada de
"imperialismo de livre mercado".
Aproveitando-se da chamada crise da dívida do Terceiro Mundo, o FMI, o
Banco Mundial e a OIC impuseram o livre comércio e outros
"programas de ajuste" sobre 70 países em desenvolvimento
durante os anos 80 e 90. "Devido a esta liberalização
comercial", aponta Walden Bello, membro da Câmara de Deputados das
Filipinas e presidente da Coligação pela Liberação
das Dívidas, "ganhos em crescimento econômico e
redução da pobreza anunciados pelos países em
desenvolvimento nos anos 60 e 70 desapareceram nos anos 80 e 90. Em
praticamente todos os países estruturalmente ajustados, a
liberalização comercial eliminou vastas parcelas da
indústria, e países que apresentavam excedente no comércio
agrícola tornaram-se países deficitários". Bello
aponta ainda, "O número de pobres subiu na América Latina e
no Caribe, na Europa Central e Oriental, nos estados árabes e na
África subsaariana". Em contraste, na China e no Leste da
Ásia, onde o livre comércio neoliberal e outros Programas de
Ajuste Estrutural foram rejeitados, ocorreram desenvolvimento econômico
significativo e considerável redução da pobreza.
[3]
.
A atitude dos parasitas financeiros internacionais e de suas agências
arrecadadoras como o FMI com relação às
conseqüências desastrosas de suas condições de
"reestruturação" é instrutiva.
Um funcionário do FMI foi citado como tendo reconhecido que os pacotes
de austeridade do Fundo freqüentemente levaram à cobrança de
dívidas sem crescimento econômico. Mas ele acrescentou: "o
Fundo é um bombeiro, não um carpinteiro, e não se pode
esperar que o bombeiro reconstrua a casa só porque a salvou do
fogo". Obviamente, o que o "bombeiro" tenta salvar das chamas
são as exigências externas de credores, não as economias ou
a subsistência dos devedores.
Outro componente do "programa de ajuste" do FMI/Banco Mundial para o
serviço da dívida externa é chamado
eliminação das "distorções de
preço", ou o estabelecimento de "preços baseados no
mercado". São termos elaborados e enganadores para elevar os
preços de bens essenciais como comida, água e serviços
públicos. Também incluem a eliminação de
subsídios para a saúde, educação, transporte,
moradia e assemelhados; assim como a redução de salários e
benefícios para a classe trabalhadora. Na essência , são
meios indiretos de tributar os pobres para pagar aos ricos, os credores.
Onde estas medidas de austeridade tornaram as condições de vida
intoleráveis para o povo, provocaram o que veio a ser conhecido como os
"motins anti-FMI". Os motins contra o FMI são
"dolorosamente previsíveis. Quando uma nação
está 'derrotada e empobrecida, [o FMI] tira proveito e espreme dela a
última gota de sangue. Eles aumentam a pressão até que,
finalmente, a caldeira explode', como quando o FMI eliminou os subsídios
à comida e ao combustível para os pobres na Indonésia em
1998. A Indonésia explodiu em distúrbios..."
[2]
. Outros exemplos dos "motins anti-FMI" incluem os protestos
bolivianos sobre a elevação dos preços da água e os
levantes no Equador contra o aumento dos preços do gás de
cozinha. Como os levantamentos contra o FMI e Banco Mundial criam um ambiente
econômico inseguro ou incerto, freqüentemente conduzem a um
círculo vicioso de fuga de capitais: desindustrialização,
desemprego e desintegração sócio-econômica.
Somente quando os distúrbios tenderam a revoluções, os
megabancos parasitas e seus coletores de dívidas, o FMI e/ou o Banco
Mundial, foram forçados a aceitar condições menos onerosas
para o serviço da dívida, ou mesmo o seu repúdio. O povo
argentino merece crédito por ter dado um bom exemplo deste tipo de
reestruturação da dívida.
No final de 2001 e início de 2002, ele tomou as ruas para protestar
contra as crescentes medidas de austeridade impostas por instâncias do
FMI e do Banco Mundial. "Manifestações políticas e
saques de armazéns rapidamente se espalharam pelo país... O
governo declarou estado de sítio, mas a polícia
freqüentemente observava os saques 'com as mãos nas costas'. Havia
pouco que o governo pudesse fazer. Um dia depois de as
demonstrações começarem, o principal ministro
econômico, Domingo Cavallo, renunciou; poucos dias depois, o presidente
Fernando de la Rua caiu... Na esteira das renúncias, um governo interino
apressadamente convocado imediatamente renegou US$ 155 mil milhões da
dívida externa da Argentina, o maior incumprimento de dívidas na
história".
[4]
.
A Argentina também desvinculou sua moeda (peso) do dólar dos EUA
(que fora vinculada ao dólar em 1991). Após deixar de pagar sua
dívida externa e derrubar o vínculo da sua moeda com o
dólar, a Argentina desfrutou do mais robusto crescimento econômico
no mundo. A reestruturação da dívida
a la
Argentina, ou seja, o repúdio da dívida, é o que hoje as
nações presas na armadilha das dívidas na Europa e em
outras partes precisam fazer para se livrarem das cadeias da escravidão
por dívidas.
Tendo submetido muitas nações dos países menos
desenvolvidos do Sul às suas notórias medidas de austeridade, os
cavaleiros das finanças internacionais estão agora se ocupando em
aplicar essas medidas de empobrecimento aos países mais desenvolvidos do
Norte, especialmente na Europa. Por exemplo, o governo grego nos meses recentes
anunciou uma série de cortes em salários e benefícios para
a classe trabalhadora, um congelamento de três anos nas pensões e
um segundo aumento neste ano nos impostos sobre vendas, assim como no
preço do combustível, álcool e tabaco, em troca de um
plano de socorro prometido pelo FMI e pelo Banco Central Europeu.
Os requisitos de austeridade dos cobradores de dívidas em vários
países do Leste Europeu (como Letônia e Lituânia) foram
ainda mais draconianos. Thomas Landon Jr., do
The New York Times,
reportou recentemente que, ameaçada com a quebra, "a Lituânia
cortou os gastos públicos em 30% incluindo a
redução dos salários do setor público entre 20 e
30% e a redução das pensões em 11%... E o governo
não parou por aí. Elevou impostos sobre grande número de
bens, como produtos farmacêuticos e álcool. Os impostos
empresariais se elevaram a 20%, de 15%. O imposto sobre o valor acrescentado
subiu a 21%, de 18%" (1 de abril de 2010).
Além destas medidas opressivas terem levado à transferência
de 9% do produto interno bruto (eufemisticamente chamado "poupança
nacional") das necessidades internas para os cobradores de dívidas,
ainda aprofundaram o agravamento da crise econômica: "O desemprego
saltou de um dígito só para 14%, e uma economia já
vacilante encolheu 15% no último ano". [ibid]
Na Letônia, outra vítima das finanças predatórias
globais, as consequências recessivas das medidas de austeridade impostas
pelos credores foram ainda mais devastadoras: "A Letônia
experimentou o recorde dos dois piores anos de declínio econômico,
perdendo mais de 25% do seu PIB. Projeta-se um encolhimento ainda maior durante
a primeira metade deste ano... Com 22% de desemprego... e cortes nos fundos
para a educação que causaram um dano de longo prazo, os custos
sociais desta trajetórias são igualmente altos"
[5]
.
Enquanto as crises da dívida das economias européias mais fracas
como Grécia, Letônia, Lituânia, Espanha, Portugal e Irlanda
atingem estágios críticos de sustentabilidade, as economias
relativamente mais fortes da Alemanha, França e Reuni Unido estão
também em perigo de crises de endividamento e déficit. Na
verdade, de acordo com uma estimativa recente do FMI, mesmo nas economias mais
avançadas da Europa a relação dívida/PIB logo se
elevará a uma média de 100%
[6]
.
Naturalmente, os Estados Unidos também estão sobrecarregados com
uma montanha de dívidas que rapidamente se aproxima da dimensão
do seu produto interno bruto (de quase US$ 13,5 milhões de
milhões). Uma diferença fundamental entre os Estados Unidos e
outras nações endividadas é que os EUA não
estão tão à mercê de seus credores ou do FMI como
outras nações. Portanto, pode-se razoavelmente argumentar que,
com base no interesse público ou nacional, poderiam embarcar numa
política fiscal expansionista, isto é, um pacote de
estímulos mais agressivo, que aproveitaria o poder do "governo como
empregador de última instância", mais ou menos como Roosevelt
fez, criando desta forma empregos, rendimento e crescimento econômico.
Isso ainda aumentaria a cobrança de impostos do governo e reduziria a
dívida e o déficit.
Julgando-se pelos registros e pelas projeções
orçamentárias, todavia, da administração Obama e do
Congresso infestado de lobbies essa política fiscal expansionista parece
muito improvável. Não somente o grosso da assistência
governamental anti-recessão tem sido dedicada ao resgate dos jogadores
da Wall Street como também os relativamente pequenos gastos de
estímulo têm sido majoritariamente canalizados para os bolsos do
setor privado/financeiro através de programas perdulários
e inefetivos como o CARS (programa de estímulo à troca de
veículos velhos por veículos com maior eficiência
energética), crédito de impostos para novas
aquisições de imóveis, incentivos fiscais aos empregadores
por contratação, e assemelhados. Isso contrasta fortemente com o
que Roosevelt fez nos primeiros anos da Grande Depressão, criando
empregos e rendimento direto e imediatamente pelo próprio governo.
Não somente o débil pacote de estímulos logo
chegará ao fim como também o governo recentemente impôs um
congelamento de três anos em todas as despesas públicas com
exceção dos gastos militares e das chamadas
subvenções. Na medida em que seu rendimento, junto com sua
tradicional parcela de assistência federal, definham, muitos estados
(especialmente Califórnia, Florida, Nova Iorque, Arizona, Nevada e Nova
Jersey) enfrentam sérias dificuldades financeiras. E quando reduzem ou
eliminam serviços essenciais como bibliotecas, museus, parques, escolas,
centros de arte e hospitais, e entregam cartas demissão aos seus
empregados, as condições recessivas só podem se exacerbar.
As crescentes dificuldades econômicas dos países oprimidos pela
dívida não se devem tanto a recursos ausentes ou insuficientes em
resultado da distorcida e cruel distribuição desses recursos.
Está cada vez ficando mais claro que a maioria trabalhadora ao redor do
mundo enfrenta um inimigo comum: uma oligarquia financeira improdutiva que,
como parasitas, sugam o sangue econômico do povo trabalhador,
simplesmente por negociar ou apostar em declarações de
propriedade.
A retificação desta situação desagradável
apresenta alternativas cruas: ou os poderosos interesses financeiros, usando o
poder do estado, são bem sucedidos em cobrar suas dívidas
através do empobrecimento do público; ou o público se
cansará desse círculo vicioso de dívida e
depressão, e se levantará em protesto como nos
"motins anti-FMI" na Argentina para repudiar a dívida
amplamente fictícia e ilegítima. Isto é naturalmente uma
guerra de classes. A questão real é quando o povo trabalhador e
outras vítimas do ônus injusto da dívida entenderão
a gravidade deste desafio, e se levantarão para a tarefa crítica
de se livrarem dos grilhões da dívida e da depressão.
Ainda que o repúdio possa limpar a atual dívida tóxica das
economias das sociedades devedoras, ele não prevenirá seu retorno
no futuro. A defesa contra tais recorrências requer também que se
nacionalizem os bancos e outros intermediários financeiros. Só
faz sentido que a poupança nacional seja guardada por gestores
públicos democraticamente controlados e não por bancos
privados motivados pelo lucro e não-eleitos.
Notas.
[1] Para um relato abrangente da história das crises e incumprimentos de
dívidas soberanas veja, por exemplo, Carmen M. Reinhart and Kenneth S.
Rogoff,
This Time is Different: Eight Centuries of Financial Folly.
Princeton, NJ: Princeton University Press, 2009.
[2] Greg Palast, "
The Globalizer Who Came In From the Cold
,"
gregpalast.com
, October 10, 2001.
[3] Walden Bello, "
The Poverty Trip Is Corruption the Cause
,"
Counter Punch
, April 30 May 2, 2010.
[4] Arthur McEwan, "
Economic Debacle in ArgentinaThe IMF Strikes Again
,"
Dollars & Sense
, March-April 2002.
[5] Mark Weisbrot, "
Baltic Countries Show What Greece May Look Forward to If It Follows EC/IMF
Advice
,"
The Guardian Unlimited
, April 28, 2010.
[6] Nouriel Roubini, "
The Debt Death Trap
,"
Project Syndicate
, April 16, 2010.
[*]
Autor de
The Political Economy of U.S. Militarism
. Leciona economia na Drake University, Des Moines, Iowa.
O original encontra-se em
http://www.counterpunch.org/zadeh05142010.html
. Tradução de RMP.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.
|