por Ambrose Evans-Pritchard
O banco francês Société Générale tem
aconselhado os clientes a
estarem prontos para um possível "colapso económico
global" nos próximos dois anos, delineando uma estratégia de
investimentos defensivos a fim de evitar destruição de riqueza.
Num relatório intitulado "Worst-case debt scenario", a equipe
de activos do banco disse que os pacotes de resgate estatais do ano passado
meramente transferiram passivos privados para novos ombros sobrecarregados,
criando um novo conjunto de problemas.
Em quase todas as economias ricas a dívida geral ainda é
demasiado alta em relação ao PIB (350% nos EUA), quer seja
pública ou privada. Ela deve ser reduzida pelos duros golpes do
"desalavancamento", durante anos.
"Por agora, ninguém pode dizer com certeza se de facto
escapámos da perspectiva de um colapso económico global",
afirma o relatório de 68 páginas, assinado pelo chefe dos
activos, Daniel Fermon. É uma exploração dos perigos,
não uma previsão.
Sob o cenário da "Baixa"
("Bear Case")
do banco francês (o mais sombrio dos três possíveis
resultados), o dólar deslizaria outra vez e as acções
globais retomariam a baixa de Março último. Os preços da
propriedade afundariam outra vez. O petróleo cairia outra vez para US$50
em 2010.
Os governos já dispararam as suas armas fiscais. Mesmo sem novos gastos,
a dívida pública explodiria dentro de dois anos para 105% do PIB
no Reino Unido, 125% nos EUA e na eurozona 270% no Japão. A
dívida declarada no plano mundial atingiria US$45 milhões de
milhões, uma subida de duas vezes e meia numa década. (Os
números do Reino Unido parecem baixos porque a dívida arrancou a
partir de uma base baixa. O sr. Ferman disse que o Reino Unido convergiria com
a Europa a 130% do PIB no caso de baixa).
A carga de dívida subjacente é maior do que após a Segunda
Guerra Mundial, quando os níveis nominais pareciam semelhantes.
Populações em envelhecimento tornarão mais difícil
reduzir a dívida através do crescimento. "A elevada
dívida pública parece totalmente insustentável no longo
prazo. Quase já atingimos um ponto de não retorno para a
dívida governamental", afirmou Ferman.
Inflacionar para afastar a dívida pode ser considerado por alguns
governos como um mal menor. Nesse caso, o ouro "subiria, subiria e
subiria" como o único refúgio seguro em
relação ao dinheiro fiduciário de papel. A dívida
privada também está incapacitada. Mesmo se a taxa de
poupança nos EUA estabilizar a 7%, e for tudo utilizado para reembolsar
a dívida, ainda levará nove anos para as famílias
reduzirem os rácios dívida / rendimento até os mesmos
níveis da década de 1980.
O banco diz que a crise actual apresenta "semelhanças
irrefutáveis" com o Japão durante a sua Década
Perdida (ou duas), com uma grande diferença: o Japão foi capaz de
permanecer a flutuar pela exportação para uma robusta economia
global e deixando o yen cair. Não é possível para metade
do mundo prosseguir esta estratégia ao mesmo tempo.
A Société Générale aconselha os clientes a vender o
dólar e a vender "short" acções cíclicas
tais como tecnologia, auto e viagens para evitar serem apanhados na
"espiral deflacionária inerente". Os mercados emergentes
não seriam poupados. Paradoxalmente, eles estão mais alavancados
ao crescimento dos EUA do que a própria Wall Street.
Commodities
agrícolas aguentar-se-iam bem, lideradas pelo açúcar.
O sr. Fermon disse que os títulos lixo (junk bonds) perderiam 31% do seu
valor só em 2010. Contudo, os títulos soberanos "gerariam
retornos turbo-carregados" imitando o deslizamento secular de rendimentos
visto no Japão quando a recessão aterrou. Num ponto o rendimento
a 10 anos do Japão caiu para 0,40%. O Fed restringiria rendimentos
através da compra de mais títulos. O Banco Central Europeu faria
isso menos, por razões políticas.
A defesa da Société Générale da compra de
títulos soberanos é controversa. Um certo número de fundos
duvida que o cenário do Japão virá a ser repetido, nem que
seja porque a própria Tóquio pode estar sobre o cume de uma crise
de dívida composta.
O sr. Fermon contou que o seu relatório electrizou clientes em ambos os
lados do Atlântico. "Todos querem saber qual será o impacto.
Um bocado de hedge funds e banqueiros está preocupada", afirmou.
Ver também
http://www.boursorama.com/votreinvite/historique.phtml?page=1&news=7177836
(perguntas e respostas do sr. Ferman num fórum)
O original encontra-se em
Telegraph
e em
http://globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=16171
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.