No que se tornaram os economistas e a economia americana
por Paul Craig Roberts
Segundo o conto de fadas oficial, a economia dos EUA tem estado em
recuperação desde Junho de 2009.
Este conto de fadas destina-se a dar a imagem da América como
paraíso seguro, uma imagem que mantém o dólar alto, o
mercado de acções em alta e taxas de juro baixas. É uma
imagem que leva o número maciço de desempregados americanos a
culparem-se a si próprios e não a economia falhada.
O referido conto de fadas sobrevive apesar do facto de não haver
qualquer informação económica que a confirme.
O rendimento familiar mediano real não cresce há anos e
está abaixo dos níveis do princípio da década de
1970.
Não há crescimento real nas vendas a retalho desde há seis
anos.
Como é que uma economia dependente da procura do consumidor pode crescer
quando os rendimentos reais dos consumidores e as vendas reais a retalho
não crescem?
Não com o investimento em negócios. Por que investir quando
não há crescimento das vendas? A produção
industrial, devidamente deflacionada, permanece bem abaixo do nível
anterior à recessão.
Não com a construção. O valor real da
construção total efectuada declinou drasticamente desde 2006
até 2011 e tem oscilado em torno do mínimo de 2011 durante os
últimos três anos.
Como é que uma economia pode crescer quando a força de trabalho
está em contracção? A taxa de participação
da força de trabalho tem declinado desde 2007, tal como o rácio
do emprego civil na população.
Como pode haver uma recuperação quando nada se recuperou?
Será que os economistas acreditam que todo o corpo da teoria
macroeconómica ensinada desde a década de 1940 é
simplesmente incorrecto? Caso contrário, como é que economistas
podem apoiar o conto de fadas da recuperação?
Vemos a mesma ausência de teoria económica na resposta
política à crise de dívida soberana na Europa. Antes de
mais nada, a única razão para haver uma crise é porque ao
invés de cancelar aquela parte da dívida que não pode ser
paga, como no passado, de modo a que o resto da dívida pudesse ser paga,
os credores tem exigido o impossível que toda a dívida
seja paga.
[NR]
Numa tentativa de alcançar o impossível, países fortemente
endividados, tais como a Grécia, foram forçados a reduzir
pensões de reforma, despedir funcionários do governo, reduzir
serviços sociais tais como cuidados de saúde e
educação, reduzir salários e liquidar propriedade
públicas tais como portos, companhias de água municipais e a
lotaria estatal. Estes pacotes de austeridade privam o governo de receitas e a
população de poder de compra. Consequentemente, o consumo, o
investimento e os gastos do governo caem em conjunto e a economia afunda-se
ainda mais. Quando a economia afunda, as dívidas existentes tornam-se
ainda maiores em percentagem do PIB e o pagamento do serviço da
dívida ainda mais insustentável.
Os economistas sempre souberam isto desde que John Maynard Keynes os ensinou na
década de 1930. Mas ainda assim não há sinal desta teoria
económica fundamental na abordagem política à crise de
dívida soberana.
Os economistas parecem ter simplesmente desaparecido da terra. Ou, se alguns
ainda estiverem presentes, perderam suas vozes e não falam.
Considere o "globalismo". Todo país foi convencido de que o
globalismo é imperativo e que não fazer parte da "economia
global" significa a morte económica. De facto, fazer parte da
economia global significa morte.
Entenda a destruição económica que o globalismo provocou
nos Estados Unidos. Milhões de empregos fabris da classe média e
empregos qualificados tais como engenharia de software e Tecnologia de
Informação foram afastados da classe média americana e
dados a povos na Ásia. No curto prazo isto reduz os custos do trabalho e
beneficia os lucros das corporações estado-unidenses que exportam
seus empregos, mas a consequência é destruir o mercado interno de
consumo pois empregos que permitem a formação de famílias
são substituídos por empregos em tempo parcial mal pagos.
Se famílias não se podem constituir, a procura por
habitação, electrodomésticos e mobiliário declina.
Licenciados em faculdades voltam a viver com os seus pais.
Empregos em tempo parcial prejudicam a capacidade para poupar. As pessoas
só conseguem comprar carros porque elas podem obter 100 por cento de
financiamento e mais a fim de liquidar um empréstimo do carro existente
que excede o valor comercial do veículo, num empréstimo de seis
anos. Estes empréstimos são possíveis, porque aqueles que
os fazem vendem-nos. Os empréstimos são então
titularizados
(securitized)
e vendidos como investimentos àqueles desesperados por rendimento
(yield)
num mundo com taxa de juro zero. Os derivativos são separados
(spun off)
destes "investimentos" e uma nova bolha é posta em
acção.
Quando empregos manufactureiros são exportados, as fábricas
estado-unidenses são encerradas e a base fiscal do estado e dos governos
locais declina. Quando os governos têm perturbações para
servir a sua dívida acumulada, a tendência é não
cumprirem suas obrigações quanto a pensões. Isto reduz
rendimentos dos reformados, rendimentos já reduzidos por taxas de juro
zero ou negativas.
Este desfazer da procura do consumidor, a base da nossa economia, era
inteiramente óbvio desde o princípio. Mas economistas lixo ou
porta-vozes contratados por corporações prometiam aos americanos
uma "Nova Economia" que lhes proporcionaria empregos melhores, mais
bem pagos e mais limpos em substituição dos empregos removidos
para o exterior. Como tenho apontado desde há mais de uma década,
não há sinal destes empregos em qualquer parte da economia.
Por que economistas não protestaram quando a economia dos EUA era
despachada para o exterior e lançada borda fora internamente?
O globalismo também devasta as "economias emergentes".
Comunidades agrícolas auto-suficientes são destruídas pela
introdução da agricultura de monocultura em grande escala. As
pessoas desenraizadas são relocalizadas em cidades onde se tornam um
peso para os serviços sociais e uma fonte de instabilidade
política.
O globalismo, tal como a teoria económica neoliberal, é um
instrumento do imperialismo económico. O trabalho é explorado,
enquanto povos, culturas e ambientes são destruídos. Mas a
propaganda é tão poderosa que o povo participa da sua
própria destruição.
[NR]
O sublinhado a vermelho é de resistir.info. A propósito de dívidas que não podem ser pagas ver a resenha do livro de Cédric Durand: Le capital fictif: Comment la finance s'approprie notre avenir
O original encontra-se em
www.strategic-culture.org/...
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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