O Congresso deveria salvar-nos do salvamento
Resgate para poucos, escravidão pela dívida para muitos
Estamos agora a entrar nos Dias Finais em termos financeiros. O "Plano
A" do salvamento (compra das hipotecas lixo) fracassou, o "Plano
B" (compra de acções substitutivas dos bancos a fim de
recapitalizá-los sem eliminar os maus administradores) está a
falhar, e as dívidas ainda não podem ser pagas. Esta é a
realidade com que a Wall Street evita confrontar-se. "Primeiro eles o
ignoram, a seguir eles o denunciam, e finalmente dizem que sempre souberam o
que estava a dizer", dizia Gandhi. O mesmo se pode dizer do
inchaço de dividas de hoje, que ultrapassa a capacidade da economia para
pagar. Primeiro os decisores políticos pretenderam que as mesmas podiam
ser pagas, a seguir denunciaram os pessimistas como propagadores do
pânico, e finalmente disseram ser evidente, como os estudiosos sabem
desde há quatro mil anos, que a "mágica do juro
composto" mantém dívidas a duplicarem e reduplicarem mais
depressa do que a economia pode ser espremida a fim de extrair um excedente
económico para pagá-las.
O que acabou agora é a ideia de que "a magia do juro composto"
pode tornar ricas as economias sem ter de trabalhar e sem indústria.
Espero bem que tenhamos visto o fim de fórmulas derivativas a tentarem
fazer dinheiro através de jogos de soma zero. Uma dívida inchada
acaba sempre ou em arresto da propriedade do devedor ou numa
anulação da dívida a fim de preservar a liberdade e a
equidade geral da economia.
Isto significa que a economia pós-moderna tal como a conhecemos deve
acabar em uma de duas alternativas ou em polarização
financeira e escravidão pela dívida
(debt peonage)
junto a uma nova elite oligárquica, ou num cancelamento da
dívida, num Ano Jubileu a fim de resgatar a sociedade. Mas quando o
governo diz que está a rever "todas" as opções,
estas alternativas não estão entre elas. A primeira
opção do secretário do Tesouro Henry Paulson foi comprar
pacote de hipotecas lixo
(collateralized debt obligations, CDOs)
para impedir os investidores institucionais mais ricos de terem de assumir
perdas sobre as suas más apostas. Quando se verificou que isso
não era suficiente, ele saiu-se com o "Plano B", de dar
dinheiro aos bancos. Mas apesar de a Grã-Bretanha e países
europeus falarem em nacionalização de bancos ou pelo menos em
tomar uma participação de controle, o sr. Paulson cedeu aos seus
compadres da Wall Street e prometeu que as compras de acções pelo
governo não seriam reais. Não haveria qualquer
diluição dos accionistas existentes, e o investimento do governo
seria sem direito a voto. Para coroar a dádiva feita aos seus
compadres, o sr. Paulson concordou mesmo em não pedir aos executivos que
abandonassem seus paraquedas dourados, nem os seus bónus anuais ou os
seus salários exorbitantes.
O Plano A (os US$700 mil milhões para comprar lixo apoiado por hipotecas
que o sector privado jamais compraria) fracassou parcialmente porque deixava as
instituições financeiras fugirem ao estabelecimento de um valor
justo nos pacotes de dívida que estavam a vender. Ao invés de
contar a verdade acerca da sua posição financeira (pela
marcação dos activos aos preços de mercado), elas podem
"marcar para modelar", estilo Enron. Já vimos o resultado
disso: uma semana de mergulho maciço nos preços das
acções. Os media públicos chamam isto de pânico,
mas não há nada de irracional a respeito. Quem em sã
consciência compraria títulos ou compraria
participação num banco sem saber o que valem eles? A fé
em modelos matemáticos lixo acabou.
Assim, ainda aguardamos uma resposta pública para o problema do
cancelamento de dívidas. Qual será o interesse económico
que predominará: o dos devedores, como tem sido o caso progressivamente
ao longo dos últimos oito séculos, ou o dos credores, os quais
lutaram contra isso a fim de criar uma economia neoliberal controlada pelo
sector FIRE?
Não é demasiado tarde para decidir qual estrada tomar, mas
banqueiros da Wall Street e credores tomaram a dianteira no posicionamento. Ao
verem a direcção em que sopravam os ventos políticos,
movimentaram-se a fim de esvaziar o Tesouro antes das eleições de
3 de Novembro, à semelhança do modo como populações
medievais fugiam diante de uma horda de atacantes mongóis sob Genghis
Khan. "Estamos a mudar. Limpem os armários", tal como a
Lehman Brothers esvaziou as suas contas bancárias externas, na
Grã Bretanha e alhures, pouco antes de declarar bancarrota, sacando o
que podiam e destinando-a aos seus melhores amigos.
A pretensão era ser necessário um salvamento a fim de restaurar a
confiança. Mas a semana que se seguiu mostrou que tal
afirmação era falsa. Não inverteu a tendência no
mercado de acções como fora prometido. O índice Dow Jones
Industrial Average caiu 2.200 pontos desde quarta-feira, 1 de Outubro
até a sexta-feira seguinte, 10 de Outubro oito dias de
pregão directo, sem mesmo uma pausa para os zig-zags habituais. O
mergulho de sexta-feira foi de 100 pontos por minuto durante os primeiro sete
minutos uma queda de 690 ponto, para menos de 8000. Cada 100 pontos era
mais do que uma queda de 1 por cento, a qual reflectia-se no NASDAQ.
Não havia nada que pudesse aguentar a pressão de tantos
americanos a converterem em dinheiro da noite para o dia os seus fundos
mútuos e de tantos estrangeiros em fusos horários antecipados a
colocarem ordens de venda ao preço do mercado.
Os vendedores a descoberto
(short sellers)
fizeram uma das maiores e mais rápidas fortunas de todos os tempos, e a
seguir cobriram suas posições comprando de volta as
acções que haviam vendido anteriormente. Isto levou os
preços a ascenderem mesmo a território positivo pouco antes das
10h30 quando George Bush começou a falar. Metade das
acções financeiras mostravam ganhos um sinal de que a
Plunge Protection Team havia saltado. Mas o sr. Bush nada disse de útil
e as acções tornaram a cair em queda livre, acabando por baixar
outros 128 pontos apesar da anunciada reunião do G7 no fim de semana.
Não houve de todo qualquer referência à
redução dos níveis de dívida só se
falou em dar mais dinheiro a bancos, companhias de seguros e outros
administradores de dinheiro, como se isso de alguma forma os levasse a conceder
ainda mais empréstimos a uma economia já cavalgada pela
dívida.
Se o Congresso realmente quisesse restaurar a confiança, eis o que
poderia ter feito: Primeiro, marcar [a dívida] ao valor do mercado,
não do modelo. Os investidores já não acreditam na
contabilidade americana estilo Enron, nas agências de
classificação de dívida ou em seguradoras de risco
monoline.
Eles não acreditam que os bancos dos EUA estejam a ser honestos
acerca das suas posições financeiras. Preocupam-se acerca de
acusações de fraude apresentadas por procuradores da
justiça de onze estados contra prestamistas predatórios tais como
o Countrywide e o Wachovia que o Citibank, o JPMorgan Chase e o Bank of America
estavam ansiosos por comprar.
Será demasiado tarde para o Congresso mudar de ideia e recusar a
dádiva? Se os US$700 mil milhões da esmola não
estabilizaram o que não tem salvação para pequenos
investidores, fundos de pensão e mesmo o próprio sector
financeiro, o que é que ela fez?
O que é que o Fed tem estado a fazer enquanto os media não
estão a olhar?
Vamos colocar a dádiva em perspectiva. Enquanto senadores e deputados
sujeitos à escolha dos eleitores estavam a debater os US$700 mil
milhões para os grandes contribuintes da Wall Street a ambos os partidos
(reconhecidamente só para começar, explicou o sr. Paulson), o
Federal Reserve já havia dado ainda mais, sem qualquer discussão
pública e sem que os media principais noticiassem. Desde que o Bear
Stearns fracassou em Março último, o Federal Reserve tem
utilizado as letras pequenas do seu estatuto para ir além dos seus
clientes normais (os quais são supostos serem bancos comerciais), para
dar a bancos de investimento, casas correctoras e agora grandes
corporações, quase indiscriminadamente, uns US$875 mil
milhões em permutas de "cash por lixo". (As
estatísticas são divulgadas a cada semana no relatório H41
do Fed). Tal como Aladino a oferecer novas lâmpadas em troca de velhas,
o Fed trocou títulos do Tesouro por hipotecas lixo e outros
títulos que casas correctoras e bancos de investimento não haviam
tido tempo de colocar junto à OPEP, a fundos de riqueza soberanos
asiáticos ou outros investidores.
A imprensa louva o sr. Bernanke como "um estudioso da Grande
Depressão". Se ele o fosse, deveria saber que o que levou ao
colapso de 1929 foram duras políticas de credor do governo dos EUA em
relação aos governos aliados da Primeira Guerra Mundial. Isto
criou uma situação em que o Federal Reserve tinha de proporcionar
crédito fácil para manter taxas de juro artificialmente baixas de
modo a encorajar investidores estado-unidenses a emprestarem à
Grã-Bretanha e Alemanha, as quais utilizariam estes influxos de
dólares para pagar a sua armas inter-aliadas e as suas
reparações de guerra. O antecessor do sr. Bernanke, Alan
Greenspan, promoveu o crédito fácil simplesmente por
razões ideológicas, para enriquecer a Wall Street permitindo-lhe
vender mais dívida.
Um estudante da Grande Depressão entenderia os conflitos de interesse
entre banca comercial a retalho e banca de investimento grossista e
administradores de dinheiro que em 1933 levaram o Congresso a aprovar o
Glass-Steagall Act conflitos desencadeados novamente quando o presidente
Clinton apoiou o então presidente do Fed Alan Greenspan, e o
líder republicano (e herói de McCain) senador Phil Gramm, levando
à revogação desta lei, abrindo as comportas para a
inundação de fraudes financeiras que tanto tem custado à
economia americana.
Se o sr. Bernanke não conhece esta história, o seu comportamento
é simplesmente o de um estudante oportunista da arte da
auto-promoção política, de servilismo à Wall Street
ao fazer campanha para uma última grande fraude antes de a
administração Bush cair fora. O Fed deu à Wall Street
títulos do Tesouro recém impressos, acrescentados à
dívida nacional a partir do nada. Ele fez isto sem sentir qualquer
necessidade de dar explicações ao traçar quadros absurdos
de relações públicas acerca de como o governo pode
"proporcionar um lucro para os contribuintes".
O presidente do Fed não é eleito democraticamente. Ele
tradicionalmente é designado pelo sector financeiro da Wall Street que o
Fed é suposto regular, actuando como lobbyista para os interesses dos
credores os 10 por cento da população no topo
contra aqueles dos endividados "90 por cento da base". Esta
"independência do banco central" é trombeteada como uma
marca distintiva da democracia. Mas ela é não democrática
precisamente por estar isolada do controle público.
A era da oligarquia
O secretário do Tesouro Paulson não desfruta deste luxo. O
Tesouro é suposto representar o interesse nacional, não aquele
dos banqueiros embora a sua chefia nestes dias seja retirada da Wall
Street e ele actue como o seu lobbyista. O sr. Paulson apresentou a sua
dádiva de forma quase totalitária, dirigindo-se rispidamente ao
Congresso, numa base de pegar-ou-largar, anunciando que se o Congresso
não salvasse a Wall Street e esta tivesse de assumir perdas sobre a sua
montanha de maus empréstimos, os bancos estavam desejosos de levar a
economia ao crash por puro despeito. "Por favor, não nos
façam arruinar a economia", disse ele efectivamente. Tal como
Margaret Thatcher costumava dizer enquanto vendia as jóias da coroa do
governo britânico na década de 1980, TINA: Não há
alternativa
(There is no alternative).
Ao fazer esta ameaça pesada o sr. Paulson comportou-se tão
arrogantemente quanto o fez o presidente do Lehman, Richard Fuld, quando tentou
lograr a Coreia e outros investidores em perspectiva [convencendo-os] a pagar o
pleno valor fictício inscrito na contabilidade da sua companhia. (O seu
logro fracassou e o Lehman entrou em bancarrota, liquidando seus accionistas,
incluindo os empregados e administradores que possuíam 30 por cento das
suas acções.) Isto aconteceu reiteradamente. Reagindo à
mais estrondosa condenação pública de que há
memória, o Congresso aprovou o logro do sr. Paulson.
O que tornou o seu Programa de alívio para activos perturbados
(Troubled Asset Relief Program, TARP)
de US$ 700 mil milhões muito mais visível para os media do que
as acções do Fed foi o envolvimento do Congresso, e isto num ano
de eleições. O nível de engano e de falsa
argumentação é portanto enorme juntamente com umas
poucas compensações e cortes fiscais para distrair as
atenções. O senador Jeff Sessions, antigo opositor republicano
do Alabama, estava certo quando disse "Esta lei foi empacotada com um
bocado de coisas muito populares a fim de lhe dar mais força", de
modo que (como explicou
The New York Times
), "ao invés de tomar partido por um salvamento de US$700 mil
milhões, agora os legisladores podiam dizer que votaram pelo
protecção acrescida aos depósitos no banco da
vizinhança, pelo alívio do imposto sobre rendimento para
contribuintes da classe média e por ajuda a escolas em áreas
rurais onde o governo federal possui grande parte da terra".
Enquanto os crentes da Wall Street nas virtudes dos mercados livres
abraçavam o paraíso do "socialismo para os ricos", eram
abandonados os devedores hipotecários, os devedores dos
empréstimos para estudantes, a Pension Benefit Guarantee Corporation
(PBGC, descoberta nuns US$25 mil milhões), a Federal Deposit Insurance
Corporation (FDIC, descoberta em cerca de US$40 mil milhões), bem como a
Segurança Social a qual, advertiram-nos, pode incorrer num défice
de um milhão de milhões
(trillion)
de dólares dentro de 30 ou 40 anos. Apenas os mais ricos foram
beneficiados, não os eleitores, proprietários de casas e outros
devedores.
Ainda assim, o Congresso, pressionado pelo terror, foi levado a actuar na
sexta-feira, 3 de Outubro, porque uma semana antes, 26 de Setembro, as
acções haviam caído 777 pontos depois de congressistas
corresponderem a um volume sem precedentes de protestos de eleitores contra o
salvamento. "Esta asneira poderia prejudicar", advertiu o presidente
Bush quando lobbystas da Wall Street atribuíram a culpa pelo retrocesso
no mercado ao fracasso do Congresso em preservar o "sistema
monetário", e especificamente os bancos e companhias de seguros que
já haviam perdido o seu valor líquido e estavam a mergulhar mais
profundamente no território da Situação Líquida
Negativa. Os líderes democratas Barney Frank e a porta-voz da
Câmara Nancy Pelosi disseram, com efeito, "Olhem o que fizeram!
Vocês políticos irresponsáveis estão a exibir
princípios e a liquidar poupanças de pessoas aplicadas em
acções e a ameaçar seus fundos de pensão. Se
não derem às firmas da Wall Street bastante dinheiro para
cobrirem suas perdas de modo a que todos ganhem, eles matarão a economia
até conseguirem seus intentos". Bem, eles não disseram
estas palavras exactamente assim, mas esta foi basicamente a sua mensagem. Era
certamente a mensagem da Wall Street: "Seu dinheiro ou sua vida".
De modo que o Congresso acabou por dá-lo. Os democratas correram como
ratos para "salvar a economia". Mas o mercado de
acções caiu umas poucas centenas de pontos, e continuou a
mergulhar ao longo de toda a semana, muito pior e mais rapidamente do que havia
ocorrido logo depois de o Congresso ter inicialmente derrotado a proposta de
lei.
O "problema da realidade"
O que foi que a teoria do "mercado livre" subjacente à
dádiva deixou fora da equação? Para começar,
"o sistema monetário" revela-se ser um eufemismo para as
fortunas de jogadores financeiros que utilizam matemática lixo (a
fórmula dos derivativos de
Merton-Scholes
) baseada em teoria económica lixo (abençoada com Prémios
Nobel) para comprar, especular e mesmo fazer seguros de hipotecas lixo,
títulos lixo e papel comercial lixo, bem como os derivativos baseados
sobre os seus preços relativos. Assim, o que é deixado de fora
em primeiro lugar é o pleno conhecimento do valor do que está a
ser comprado e vendido. Os modelos
mark-to-market
deixam o preço superior aos banqueiros de investimento. Se existisse
confiança e houvesse realmente honra entre estes ladrões,
não seria necessário um salvamento do governo porque "o
mercado" poderia limpar tudo.
A ideologia do "mercado livre" assume que cada parte actuará
no seu próprio interesse. Se isto é assim, por que deveriam
governos estrangeiros acumular mais direitos em dólar sobre o Tesouro
dos EUA, dos quais seus bancos centrais já possuem US$4 milhões
de milhões? Quando dificilmente havia suficientes títulos do
Tesouro para movimentar no momento em que os Estados Unidos incorriam em
défices sem precedentes do orçamento federal, responsáveis
estado-unidenses pressionavam estes bancos e fundos de riqueza soberanos a
comprarem pacotes hipotecários que proporcionavam uma taxa de retorno
mais alta. E pelo menos ao comprarem estes títulos, os governos
estrangeiros não seriam acusados de financiar a guerra dos EUA no Iraque
a que a maior parte dos seus eleitores se opunha. Mas os investidores
cometeram um erro fatal ao acreditar nas encenações
estado-unidenses do valor dos seus pacotes de hipotecas lixo. Esta
confiança agora foi perdida, assim como tudo o mais desde a
permissão deste salvamento para manter a "sinalização
para o mercado"
("marking to market").
O Congresso pensou que os seus US$700 mil milhões distrairiam as
atenções pelo menos até as eleições de 4 de
Novembro. Mas em vão. Os mercados caíram 157 pontos na
Sexta-feira da Dádiva, e continuaram a cair mais 800 pontos na
segunda-feira, 6 de Outubro (para cerca de 9500) antes de oscilar 500 pontos
rumo ao chão, só para cair ainda mais durante a sexta-feira. De
modo que a dádiva fracassou na sua finalidade declarada de resgatar os
investidores no mercado de acções (o "capitalismo
popular") ou os seus fundos de pensão. Mas esta não era a
finalidade real do salvamento. O tempo simplesmente veio esclarecer as coisas.
Lançar bancos e seguradoras no jogo de soma zero dos derivativos, de
modo a que os vencedores pudessem arrecadar as suas apostas e os perdedores
pudessem vender seus maus investimentos para o Tesouro, é suposto
re-inflacionar a pirâmide do crédito. A ideia é resolver o
problema da dívida com ainda
mais
dívida para impelir os preços da habitação mais
uma vez para níveis incomportáveis! Isto não é uma
solução a longo prazo, mas daria aos iniciados tempo suficiente
para arranjar um conserto e cair fora do jogo mais rapidamente, vender suas
hipotecas lixos e títulos lixo ao proverbial "louco maior"
neste caso, o "maior louco de último recurso", o
Tesouro dos EUA, enquanto ele puder ser dirigido pelo sr. Paulson ou, sob o sr.
Obama, talvez o antigo responsável da Goldman-Sachs Robert Rubin.
Os bancos querem "ganhar" a saída da sua posição
de situação líquida negativa vendendo mais do seu produto
crédito para aumentar os níveis de endividamento da
economia e portanto receber mais pagamentos de juros. O problema é que
a maior parte das famílias já está sobrecarregada de
empréstimos. Elas já não têm rendimento
discricionário a comprometer a fim de arcar com mais dívida. Sem
o cancelamento das suas dívidas, não haverá novas
concessões de empréstimos, e portanto nenhuma fonte de
crédito e poder de compra para novos automóveis,
electro-domésticos, bens e serviços em geral. A
deflação da dívida está a ser imposta à
economia "real". Só credores e especuladores devem ser
mantidos intactos.
Se antes desta dádiva já não havia rendimento
disponível para a Segurança Social futura, para cuidados de
saúde pública e para reparar a desgastada infraestrutura do
país, pense quão vazio estará o armário agora que o
governo comprometeu os recentes milhões de milhões em nova
dívida sem ter cancelado um único centavo das dívidas
hipotecárias podres que estavam a ser culpabilizadas como a causa da
derrocada.
Podemos ver para onde isto conduz. Os 1 por cento mais ricos da
população ficarão na posse de ainda mais retornos da
riqueza do que os actuais 57 por cento de que agora se apropriam. Em contraste
com a inscrição na Estátua da Liberdade, "dê-me
seus pobres ... anseiam respirar liberdade", o Fed e agora o
Tesouro, com a bênção do Congresso está a
tomar fundos públicos e a dá-los aos mais ricos investidores e
iniciados da América. Este programa "Robin dos Bosques ao
Inverso" está a ser efectuado sem condições, sem
pedir aos bancos que cessem de pagar dividendos, salários exorbitantes e
paraquedas dourados para os seus executivos, e sem a tomada de bancos com valor
líquido negativo como acontece agora com muitos proprietários de
casas.
Ninguém está a falar num cancelamento de dívida ou numa
moratória. O problema da hipoteca subprime poderia ter sido resolvido
pelo cancelamento de apenas US$1 ou US$2 milhões de milhões do
valor facial e das taxas de juros de empréstimos predatórios. Ao
invés disso, os mais de US$10 milhões de milhões de
prejuízos no sector financeiro das últimas semanas reflecte o
fraudulento empacotamento e venda de hipotecas lixo da Wall Street a
preços irrealistamente altos, utilizando matemática lixo para
calcular derivativos lixo e vendê-los a investidores crédulos que
acreditam que estas pretensas matemática, classificações
de crédito e rendimento projectado tem alguma base na realidade.
A característica admirável do crash de hoje é quantas
firmas da Wall Street realmente acreditaram que a dança das cadeiras
financeiras podia continuar antes de terem de parar de dançar e, na
verdade, fugir da sala. Recordo-me de um dia na década de 1970 quando
adverti Frank Zarb, do Lazard Freres, acerca da probabilidade de incumprimentos
de dívidas do Terceiro Mundo, e sugeri que a firma deveria fazer uma
análise das capacidades de pagamento. "Nós não temos
de fazer nada disso", respondeu ele. "Já temos a lista do que
eles devem aqui neste relatório do FMI". Era um grosso impresso do
serviço da dívida escalonado de um país africano que logo
se tornaria insolvente. Mas a mentalidade da Wall Street era aquela de Herbert
Hoover na véspera da Grande Depressão. Uma dívida
é uma dívida, e isso é tudo. A resposta é culpar a
vítima, como se a irresponsabilidade residisse nos devedores e
não nos credores.
Não é oferecida qualquer reversão dos cortes fiscais de
Bush a fim de reinflacionar a economia, nem qualquer movimento rumo a uma
tributação mais progressiva dos especuladores da Wall Street que
pagam apenas uma taxa de imposto de 15 por cento sobre "ganhos de
capital" ao invés da taxa sobre o rendimento muito mais elevada e
das taxas de retenção que pagam os assalariados. (a Wall Street
tem o seu próprio programa de paraquedas dourado, então porque
deveriam eles pagar Segurança Social para o resto da sociedade?)
Não vai haver redução nos benefícios fiscais
especiais para o imobiliário, cujo favoritismo fiscal conduziu à
crise ao "congelar" mais rendimento do fisco para ser comprometido
junto aos banqueiros hipotecários como juro. A Bolha da Economia
é para ser re-inflacionada pela Fannie Mae, pelo Freddie Mac e pelos
empréstimos do FHA a fim de ajudar compradores a cobrirem novamente os
preços da habitação e dos escritórios comerciais a
uma taxa que promete impor aos proprietários das casas a
escravidão pela dívida.
O défice orçamental elevar-se-á, sem qualquer
coibição das fraudes de evasão fiscal por parte do UBS ou
do KPMG. Ao invés de um cometa fiscal ou regulamentar que levasse estes
dinossauros à extinção, o clima tornou-se mais
favorável à proliferação dos mesmos. Nossa Era do
Engano está a ser atada ainda mais duramente. A suspensão das
regras
mark-to-market
com este salvamento do Congresso, a fim de confiar na
"auto-regulação" da Wall Street, deveria ganhar o
prémio do Oxímoro 2008 pois os investidores não têm
qualquer indicação de quanto valem os activos financeiros.
Não é de admirar que a concessão de empréstimos
tenha secado, especialmente para os próprios bancos.
Assim como as vítimas financeiras deixam de votar e de defender o seu
próprio interesse, os predadores também acabam por perseguir
estratégias de "mercado livre" auto-derrotantes. O
curto-prazismo do sector financeiro é o maior inimigo da sua
sobrevivência. Ele traduziu a sua riqueza num controle político
fatal do seu clima legal, bloqueando [com o apoio explícito de Barack
Obama, editores de Counter-Punch] esforços do Congresso para reescrever
as opressivas leis das bancarrota cuja aprovação foi pressionada
arduamente por bancos com cartões de crédito, [com a ajuda
crucial de Joe Biden, o senador sénior da companhia de cartões de
crédito HQ, do estado de Delaware, editores de Counter-Punch]. O
resultado é a situação líquida negativa de hoje,
colocando simplesmente a questão de quem vai arcar com o custo de fazer
com que as dívidas fiquem novamente em conformidade com a capacidade da
economia para pagar. Serão as instituições financeiras
que patrocinaram a inflação de preços de activos e fizeram
lobby pela desregulamentação dos prestamistas? Ou serão
os devedores que pensavam estar a cavalgar a onda a fim de ganhar um
almoço gratuito inflacionário?
Ao invés de exigir aos credores que absorvam perdas sobre os excessos de
dívidas além daquilo que pode ser pago, as dívidas
estão a ser mantidas e não desescaladas para aquilo que a
economia possa pagar. O governo está a manter intactos os credores e os
especuladores com derivativos computorizados e actuará como
agente arrecadador da sobreacumulação de dívidas podres em
que a economia incorreu.
Hoje podemos ver a bolha alimentada pela divida da inflação dos
preços dos activos que Alan Greenspan trombeteou ser
criação de riqueza real como aquilo que ela realmente
é: criação de crédito para cobrir preços de
imóveis, acções e dívida empacotada. A
formação de capital tangível foi deixada fora dos
cálculos, como se as economias pós-industriais já
não precisassem disso.
Será que os eleitores verão a assimetria no fracasso do Congresso
em oferecer alívio da dívida aos proprietários de casas
quando os preços imobiliários mergulham bem abaixo do valor das
hipotecas que possuem? Será que os seus membros serão
culpabilizados por não reescreverem as leis da bancarrota do país
a fim de libertar as famílias da escravidão pela dívida
e libertar os mercados habitacionais dos declínios de
preços que resultam da actual proliferação de vendas de
casas arrestadas? Quanto a isto, será que não haverá
alívio para corporações que cortaram nos seus
investimentos a fim de aplicar em títulos lixo e outras dívidas
com que os especuladores da Wall Street e "accionistas activistas" as
carregaram?
Evidentemente não.
13/Outubro/2008
O original encontra-se em
http://www.counterpunch.org/hudson10132008.html
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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