Patrões planeiam desemprego permanente
A perda de mais 651 mil empregos em Fevereiro e o salto na taxa oficial de
desemprego para 8,1 por cento provocaram importantes reconhecimentos na
imprensa capitalista a que todo trabalhador deveria prestar
atenção.
O
New York Times,
uma das vozes mais importantes do
big business
nos EUA e no mundo, publicou um importante artigo em 7 de Março a
mostrar que pelo menos 650 mil empregos haviam sido perdido em cada um dos
últimos três meses num total de 4,4 milhões de
empregos desde o princípio da baixa económica em Dezembro de
2007. Nos últimos quatro meses, desapareceram 2,6 milhões de
empregos.
Mas o ponto importante do artigo era a citação colocada em
destaque de John E. Silvia, economista chefe do banco Wachovia: "Estes
empregos não estão a voltar", disse Silvia. "Um bocado
de produção ou não está a verificar-se de todo ou
está a verificar-se em algum outro lugar que não os Estados
Unidos. Aqui estamos a ir para menor número de lojas, menor
número de fábricas, menor número de
operações de serviços financeiros".
"A aceleração", concluía o
Times,
"convenceu alguns economistas de que, longe de ser uma baixa
económica ordinária após a qual retornam os empregos, a
contracção em curso reflecte uma reestruturação
fundamental da economia americana". [Nota do Editor: Esta sentença
foi retirada da notícia na última edição do Times.
Contudo, o título ainda continha esta frase: "Peritos vêm a
queda rápida como sinal de reestruturação
permanente".]
A indústria automobilística é citada como exemplo. As
vendas de carros caíram dos 17 milhões por ano de uns poucos anos
atrás para 9 milhões hoje. "Mesmo que as vendas aumentassem
para 10 ou 12 milhões, isto ainda deixa um bocado de fábricas
desnecessárias", disse o
Times.
E Silvia colocou isto directamente: "Há um bocado de
trabalhadores que não voltarão. Há um bocado de
aço, um bocado de borracha, um bocado de fornecedores que não
voltarão".
O que significa superprodução
O mercado para automóveis não está a encolher porque as
pessoas precisam de menos carros. Ao contrário, dezenas de
milhões de trabalhadores sem carros ou com carros que estão
avariados, que vivem em áreas rurais ou em áreas com fraco ou
nenhum transporte de massa, precisam desesperadamente de automóveis.
O capitalismo estado-unidense construiu o seu sistema de transporte com base em
auto-estradas e estradas. O sistema de transporte público foi arruinado
por ordem dos patrões do automóvel e das indústrias de
petróleo e pneus. Consequentemente, na maior parte das áreas dos
EUA é essencial um automóvel para obter e manter um emprego, para
ir às compras, para visitas, etc. Mas dezenas de milhões de
pessoas a ganharem salários baixos ou que estão sem emprego
não podem permitir-se comprar carros a um preço que dê
lucro aos barões do automóvel.
O capitalismo está agora a sofrer de uma crise de
superprodução não superprodução do
que as pessoas precisam mas do que pode ser vendido com um lucro. Isto
não é só com a indústria automóvel mas na
habitação, imobiliário comercial, electrónica,
electrodomésticos e assim por diante.
Apesar de haver pouca conversa acerca do crescimento do exército
permanente de desempregados planeado pela classe capitalista, ela está
implícita nas suas próprias previsões. De facto, como
observado em
Workers World
de 12 de Março, o cenário mais optimista da
administração Obama para uma recuperação da
economia crescimento de 3,4 por cento em 2010 ainda leva a
calcular que haveria 7,9 por cento de desemprego. Por outras palavras, a
recuperação seria uma recuperação para os
capitalistas mas os trabalhadores ainda estarão a enfrentar desemprego em
massa, aproximadamente ao nível em que está hoje.
E isto é o ponto de vista optimista!
Isto é uma admissão virtual, sem assim o dizer, de que o
capitalismo a partir de agora não pode funcionar sem crescente
desemprego em massa de carácter permanente. Acrescente a isto a
projecção de que oito milhões de pessoas estarão a
enfrentar arrestos nestes próximos anos.
Isto torna claro que os patrões, os banqueiros, os correctores de
hipotecas e a Wall Street em geral planeiam aprofundar a guerra à classe
trabalhadora e aos oprimidos. E é igualmente claro que os trabalhadores
devem preparar-se, organizarem-se e planearem uma contra-ofensiva contra esta
campanha brutal de despedimentos, arrestos, despejos e cortes.
Uma tempestade perfeita avassala o globo
A presente crise é global. O capitalismo dos EUA é o centro do
capitalismo do mundo. É financeiramente, industrialmente e militarmente
dominante e todo segmento da economia capitalista mundial está ligado de
alguma forma à Wall Street desde Berlim a Bangkok, desde Mumbai a
Manilha, desde Roma ao Rio. Todos os sintomas agora exibidos nos EUA
estão a ser reproduzidos a nível mundial, muitas vezes numa
escala ainda mais drástica.
A presente crise representa uma tempestade económica perfeita na qual os
factores de crescimento a longo prazo que impulsionaram o capitalismo
estado-unidense para a frente ao longo dos últimos 70 anos entraram em
reversão. Mas ao contrário de uma tempestade perfeita na
natureza, a qual é aleatória, esta tempestade perfeita é
conduzida pelas contradições fundamentais do sistema de
exploração predatório baseado no lucro capitalista.
A propriedade privada chegou a um ponto de extrema contradição
com o vasto aparelho socializado de produção global criado pelo
próprio capital em busca do lucro. O sistema já não pode
mais ser impelido pelo militarismo violento e outros meios artificiais, como
tem sido no passado.
O crescimento do militarismo, da revolução
científica-tecnológica, da globalização da
exploração capitalista e da super-exploração, a
criação de capital fictício e de crédito, a
pauperização implacável da classe trabalhadora
todos estes factores mantiveram artificialmente a acumulação
capitalista e os lucros durante gerações após a Grande
Depressão. Mas agora eles cumpriram o seu ciclo.
As guerras costumavam estimular a economia
Como é que o capitalismo estado-unidense fez para emergir do colapso da
Depressão e aguentar-se durante 70 anos? O ponto de viragem fundamental
foi a a II Guerra Mundial. Após 1929 até 1933 afundou, houve uma
viragem para cima em 1934 a qual perdurou até Outubro de 1937. Mas
então verificou-se um profundo segundo crash que alarmou a
administração Roosevelt e a classe dominante.
A II Guerra Mundial foi o ponto de viragem histórico que abriu uma nova
fase do desenvolvimento capitalista estado-unidense. Ela sufocou um
desenvolvimento pré revolucionário entre a classe trabalhadora
num período de furiosa luta de classe e recomeçou um sistema
moribundo.
Houve uma viragem rumo à preparação da guerra, o
princípio da militarização da economia. Então
chegou a própria guerra. A produção de guerra
maciça tanques, jipes, aviões, navios, uniformes, comida,
etc re-arrancou o capitalismo. Quando o fumo desapareceu, mais de 50
milhões de pessoas estavam mortas. A Europa e grande parte da
Ásia estavam em ruínas. Meios maciços de
produção haviam sido destruídos, bem como edifícios
residenciais, pontes, ferrovias, estradas, barragens, canais, portos e tudo o
mais.
No período posterior à II Guerra Mundial, o capitalismo
estado-unidense recorreu a vários métodos artificiais para
impedir o sistema de entrar em colapso. A guerra e a preparação
para a guerra foram um estimulante básico durante décadas no
período pós-guerra. A Guerra da Coreia, a Guerra do Vietname, a
preparação militar durante a Guerra Fria tudo serviu para
gerar produção capitalista e lucros, pois o sistema não
podia recorrer à economia civil para automaticamente manter-se em
andamento. Mas no fim da década de 1980, mesmo os US$2 milhões de
milhões da escalada militar de Reagan numa "pressão
vigorosa" para minar a União Soviética e o campo socialista
foram insuficientes para sustentar a prosperidade capitalista.
O contínuo desenvolvimento da revolução
científico-tecnológica, a reestruturação da
indústria capitalista, a implacável campanha anti-trabalho de
ataque aos sindicatos, a extracção de concessões,
destruição de benefícios, deitando abaixo salários
na manufactura e expandindo firmemente a economia de serviços com baixos
salários tudo isto aumentou enormemente a desigualdade no
rendimento nacional em favor do capital a expensas dos trabalhadores. Tudo isto
serviu para reforçar a lucratividade para os patrões e os
banqueiros.
O colapso da URSS e da Europa do Leste na década de 1990 e a abertura da
China ao investimento capitalista deram ao imperialismo um breve período
de expansão global sem precedentes. Os monopólios agarraram esta
oportunidade para criar redes globais de exploração e vastos
super-lucros pois eles engendraram uma competição salarial
à escala mundial entre a classe trabalhadora internacional e promoveram
uma corrida viciosa para o fundo.
A estrutura da produção globalizada transformou-se agora numa
epidemia de despedimentos colectivos globalizados e desemprego em massas, desde
a Europa do Leste até os Estados do Báltico, desde o Leste e o
Sul da Ásia até a América Latina.
Para manter o sistema em andamento, o militarismo, o desenvolvimento
tecnológico e os ataques anti-trabalho foram complementados por
concessões de empréstimos, injecções financeiras
para salvar bancos e corporações, especulação,
bolhas de crédito, esquemas hipotecários, instrumentos
financeiros exóticos e toda espécie de esquemas fraudulentos para
fazer lucros com base no comércio de capital fictício.
A crise aprofunda-se apesar do militarismo
Na actual crise, nenhuma destas medidas são viáveis para
re-arrancar o sistema de alguma forma significativa. As duas guerras em curso
estão a drenar os cofres do imperialismo estado-unidense. A
militarização global em grande medida foi consumada.
Novos ciclos de desenvolvimento militar são de tecnologia intensiva,
tais como bombas guiadas por laser, mísseis guiados por satélite,
aviões sem pilotos predadores, navios e caças de combate com
mísseis de alta tecnologia. As actuais guerras imperialistas
estão limitadas e pesadamente dependentes do poder aéreo.
Embora o milhão de milhões de dólares (abertos e ocultos)
gastos anualmente na actividade militar seja essencial para o sistema, a
dimensão da economia capitalista cresceu e qualquer estímulo
significativo através da expansão militar teria de ser em escala
muito maior do que é possível no momento.
Só uma mobilização de guerra maciça numa escala
vasta para uma aventura militar catastrófica poderia manter a
perspectiva de afastar a crise. Este perigo de longo prazo para toda a
humanidade é inerente a esta crise.
O longo período de criação do capitalismo de baixo
salário, com uma classe trabalhadora em dívida e a viver cada vez
mais próxima do nível de pobreza, intensificou-se. Como esta
tendência aprofunda-se ela apenas agrava mais a crise de
super-produção com nova redução do poder de compra
das massas.
E, naturalmente, a opção do crédito chegou ao fim como
mecanismo para reviver a acumulação capitalista numa escala vasta.
O período recente de desenvolvimento tecnológico elevou o custo
de capital e fê-lo tão produtivo que a última
recuperação de 2002 a 2004, a seguir a explosão da
tecnologia dot-com, foi uma "recuperação sem empregos"
durante a qual quase 600 mil empregos foram perdidos! Foi isto que levou os
bancos e o Federal Reserve, com a cumplicidade da Securities and Exchange
Commission e do Departamento do Tesouro, a promover a bolha imobiliária.
O capitalismo atingiu um ponto em que, mesmo se os milhões de
milhões de dólares que a classe dominante está a gastar
numa tentativa de amenizar a crise resultassem num renascimento, ele seria
fraco e de vida curta, deixando muitos milhões desempregados. O
capitalismo está a entrar num período de crise permanente a
aprofundada para as massas.
As opções capitalista terminaram a sua rota
Na presente crise, os métodos históricos de ressuscitar a
lucratividade do capitalismo, de restaurar a acumulação
capitalista e a prosperidade, parece terem finalizado o seu caminho, tal como
fizeram antes abrindo caminho à Grande Depressão. Isto é o
que tem mantido amedrontada a classe dominante.
Líderes da classe trabalhadora, líderes operários,
organizadores de comunidade e activistas em todas as esferas devem arcar com a
perspectiva de que não há saída da crise excepto
através da intervenção de massa e da luta de massa.
A classe trabalhadora multinacional deve interferir nos processos
automáticos da crise capitalista. Os despedimentos colectivos devem ser
travados. Os arrestos e os despejos devem ser travados. Os cortes salariais e o
encurtamento de horários devem ser travados. A comida deve estar
disponível para todos, não importa quem. Os cuidados
médicos devem ser tornados disponíveis para as massas. E isto
só pode ser alcançado pela mobilização unificada
das massas e a sua luta. Não há outro caminho, não
obstante todos os pacotes de estímulos e de salvamentos.
Finalmente, o movimento deve reagrupar-se ideologicamente e reconhecer que foi
o sistema capitalista que levou a classe trabalhadora multinacional e grande
parte da classe média à beira da ruína.
O único caminho para a saída da crise é liquidar o
próprio capitalismo, o que só pode ser feito pelos trabalhadores
e pelos oprimidos tomando nas suas mãos a potência
económica que construíram e colocando-a sobre uma base socialista
isto é, criando um sistema que funcione para a
satisfação das necessidades humanas ao invés de produzir
lucros para uns poucos privilegiados.
[*]
Colaborador regular do semanário estado-unidense
Workers World
e autor de
Capitalismo de baixo salário Colosso com pés de barro,
acerca do significado do novo imperialismo globalizado e de alta tecnologia
para a classe trabalhadora nos EUA. O posfácio do mesmo
encontra-se em
http://resistir.info/eua/goldstein_imperialist_war_p.html
. Para mais informação, ver
www.lowwagecapitalism.com
.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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