Crise sistémica global 2013
Após recordes nas bolsas, o mergulho iminente na recessão
económica
Apesar de uma sensação de calma relativa transmitida em
simultâneo pelos media e pelos mercados financeiros americanos e
japoneses a baterem recordes sucessivos, a economia mundial arrefece gravemente
e uma recessão generalizada perfila-se no horizonte. Os diferentes
actores têm plena consciência e, face aos desafios de um colapso
iminente, países e regiões põem em acção
diversas estratégias a fim de tentar minimizar as consequências.
Se bem que algumas pareçam ditadas pelo desespero ou
soluções de último recurso, outras pelo contrário
testemunham uma adaptação real às actuais
transformações do mundo. E, sem qualquer surpresa, na primeira
categoria encontramos as "potências do mundo de antes" que
já não têm opções reais.
Plano do artigo completo:
1. Recessão mundial à vista
2. O comércio duvidoso dos bancos
3. Paraísos ou infernos fiscais
4. Neoproteccionismo entre blocos regionais
5. A estratégia em ouro dos emergentes
6. Últimos cartuchos do Fed
7. Eurolândia: Governos de união nacional e o BCE para o resgate
8. Estratégias de altos riscos
Neste comunicado público apresentamos os capítulos 1, 2 e 5.
Recessão mundial à vista
Sinais diversos mostram de facto que está iminente uma reversão
da conjuntura. Na verdade, a palavra "reversão" não
muito correcta uma vez que a economia real na verdade jamais se recuperou do
choque de 2008: portanto é antes um agravamento o que vamos assistir.
Os indícios disso não faltam. A Europa já está em
recessão. As exportações da China, muitas vezes
considerada como "a fábrica do mundo", estão em baixa
acentuada (ver figura abaixo) e seus indicadores contraem-se ou enfraquecem
perigosamente
[1]
, além disso com uma importante bolha do crédito
[2]
.
A Austrália, bom indicador da saúde da economia mundial devido
à sua exposição às matérias-primas, ofega
[3]
. Os seus consumidores também marcam passo. As vendas grossistas
[4]
ou a retalho nos Estados Unidos estão em baixa.
A maior parte dos indicadores americanos passam ao vermelho, como por exemplo o
índice Chicago PMI
[5]
, assim como o indicador mundial da Goldman Sachs (figura abaixo).
Em poucas palavras: está à vista uma recessão mundial (6).
Para se protegerem do seu impacto, os diferentes actores, a começar
pelos bancos, utilizam diferentes estratégias que vamos analisar.
O duvidoso comércio dos bancos
Não é preciso dizer que o sector financeiro não é
um modelo de transparência. Mas entre o JPMorgan ou o Bank of America que
conseguiram "miraculosamente" não ter nem um único dia
de perda na sua actividade de trading no primeiro trimestre
[7]
, ou ainda as reservas de ouro do JPMorgan que se esvaziaram misteriosamente
[8]
quando por uma estranha coincidência assistiu-se a um krach na
cotação do ouro em meados de Abril, sem contar as diversas
manipulações a que se entregam os bancos principais, com o
JPMorgan em primeiro lugar
[9]
além de muitos outros
[10]
, estas operações sombrias passam cada vez menos desapercebidas.
Contudo, todos os bancos sabem que uma nova tempestade perfila-se no horizaonte
e utilizam meios à sua disposição (mais ou menos legais)
para se abrigarem. E todos os golpes são permitidos, inclusive dos
estabelecimentos bancários entre si próprios. É a esta luz
que é preciso ler os balanços miríficos dos diferentes
bancos no primeiro trimestre que permitem atrair os investidores ou pelo menos
adiar a derrocada, ou o mini-krach da cotação do ouro de meados
de Abril, provocado claramente por um ou vários destes estabelecimentos
financeiros
[NR]
.
Estas batalhas ferozes em plena tormenta económica deixarão
marcas e os bancos mais fracos ou mais afectados não sairão
ilesos da tempestade. Tanto mais que os centros financeiros agora enfrentam um
novo adversário, os Estados.
A estratégia em ouro dos emergentes
Quando certos países devem proteger sua economia para sobreviver, ir
buscar receitas fiscais nos paraísos fiscais e, ao mesmo tempo, deixar
paradoxalmente os seus bancos utilizarem métodos pouco ortodoxos para
evitarem a falência, outros optaram por apostar no ouro. Enquanto o
ouro-papel experimentou um krach assustador em meados de Abril, a procura pelo
ouro físico nunca foi tão grande, o que confirma o desligamento
completo entre o mercado do ouro papel e o do ouro físico. O que
acontece quando toda a gente perceber que os papéis de posse de ouro
não têm qualquer contrapartida física? Quando o contrato de
propriedade de um lingote não pode ser honrado? O papel em causa
não terá mais valor. É preciso portanto esperar por outros
movimentos violentos na cotação do ouro papel. Eis porque alguns
correctores já não autorizam mais qualquer alavancagem para as
posições sobre o ouro-papel
[11]
. Este desligamento mostra igualmente que há grandes problemas pela
frente pois a confiança agora está abalada.
Contudo, o ouro físico continua a ter belos dias diante de si. A China
bem o entendeu e compra ouro maciçamente
[12]
.
Esta forte procura não é inócua: ela revela por um lado a
estratégia de saída do dólar por parte da China, pelo
outro a vontade do país de se proteger de um choque que está para
vir e finalmente a antecipação de que a posse de ouro deve
acompanhar a internacionalização do yuan. Com efeito, a posse de
ouro permite credibilizar o yuan no plano internacional, sem falar da
hipótese em que o ouro faria parte integrante de um novo sistema
monetário internacional.
Portanto esta é a estratégia dos BRICS: construir pouco a pouco
um sistema mundial em que estariam mais representados, nomeadamente
dispensando-se do dólar e utilizando as suas próprias moedas para
o comércio. E por etapas, este movimento que pode parecer lento mas que
na realidade é extremamente rápido em relação
à escala das mudanças a realizar, permite deslocar o centro de
gravidade mundial e os emergentes tornam-se cada vez mais
incontornáveis na marcha do mundo. Esta é a própria
essência da "crise sistémica global", descrita e
antecipada etapa após etapa pelo GEAB desde há sete anos.
Evidentemente, este movimento não é possível senão
com o seu corolário: a perda de influência do ocidente e, em
particular, dos Estados Unidos.
Notas:
(1) "O sector não manufactureiro contrai-se em Abril" (Fonte
PeopleDaily
, 04/05/2013), "baixa do Índice dos Directores de
Compras (IDA) do sector manufactureiroem Abril " (Fonte
PeopleDaily
, 02/05/2013), etc.
(2) Fontes:
Epoch Times
(01/05/2013),
CNBC
(26/04/2013).
(3) Fonte:
Atlantico
, 10/05/2013.
(4) Fonte:
CNBC
, 09/05/2013.
(5) Fonte:
ISM-Chicago
, 30/04/2013.
(6) Para outros sinais que vão neste sentido, ler por exemplo
ZeroHedge
(08/05/2013).
(7) Fonte:
ZeroHedge
, 08/05/2013.
(8) Fonte:
ZeroHedge
, 08/05/2013.
(9) O banco está a ser processado pelo Estado da Califórnia
(Fonte:
New York Times
, 09/05/2013) e dentro em breve pela FERC (Fonte:
Financial Times
, 08/05/2013) que tem na mira o departamento de
matérias-primas dirigido por Blythe Masters. A acreditar na
CNBC
(03/05/2013), este caso assemelha-se a um pequeno acerto de contas entre
amigos...
(10) Por exemplo o Deutsche Bank (Fonte:
Bloomberg
, 28/03/2013), RBS (Fonte:
Telegraph
, 03/04/2013), etc.
(11) Fonte:
ZeroHedge
, 02/05/2013.
(12) Fonte:
Caixin
(10/05/2013) e
PeopleDaily
(03/05/2013).
[NR] Ver
A manipulação do mercado do ouro pelo Fed
, Paul Craig Roberts, 08/Abril/13
15/Maio/2013
[*]
Global Europe Anticipation Bulletin
O original encontra-se em
www.leap2020.eu/...
Este comunicado encontra-se em
http://resistir.info/
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