Crise sistémica global: Novo ponto de inflexão em Março de
2009
'quando o mundo tomar consciência de que esta crise é pior
que a dos anos 1930'
O LEAP/E2020 prevê que em Março de 2009 a crise sistémica
global venha a experimentar um novo ponto de inflexão de uma
importância análoga ao de Setembro de 2008. Nossa equipe
considera com efeito que este período do ano de 2009 será
caracterizado por uma tomada de consciência geral da existência de
três importantes processos desestabilizadores da economia mundial, a
saber:
1. A tomada de consciência da longa duração da crise
2. A explosão do desemprego no mundo inteiro
3. O risco do colapso brutal do conjunto dos sistema de pensão por
capitalização.
Este ponto de inflexão será assim caracterizado por um conjunto
de factores psicológicos, a saber: a percepção geral
pelas opiniões públicas na Europa, na América e na
Ásia de que a crise em curso escapou ao controle de qualquer autoridade
pública, nacional ou internacional, que ela afecta severamente todas as
regiões do mundo ainda que algumas sejam mais afectadas do que outras
(ver GEAB Nº 28), que ela atinge directamente centenas de milhões
de pessoas no mundo 'desenvolvido' e que ela não faz senão pior
à medida em que as consequências se fazem sentir na economia real.
Os governos nacionais e as instituições internacionais têm
apenas um trimestre para se prepararem para este situação que
potencialmente é portadora de um risco importante de caos social. Os
países menos bens equipados para gerir socialmente a ascensão
rápida do desemprego e o risco crescente sobre as reformas serão
os mais desestabilizados por este tomada de consciência das
opiniões públicas.
Neste GEAB Nº 30, a equipe do LEAP/E2020 pormenoriza estes três
processos desestabilizadores (dois dos quais são apresentados neste
comunicado público) e apresenta as suas recomendações para
enfrentar este aumento dos riscos. Além disso, este número faz
também, como todos os anos, uma avaliação objectiva da
fiabilidade das antecipações do LEAP/E2020, que permite precisar
igualmente certos aspectos metodológicos do processo de análise
que executamos. Em 2008, a taxa de êxito do LEAP/E2020 é de 80%,
com uma ponta de 86% para as antecipações estritamente
sócio-económicas. Para um ano de grandes
perturbações, é um resultado de que estamos orgulhosos.
Como pormenorizámos no
GEAB Nº 28
, a crise afectará de
maneira diversificada as diferentes regiões do mundo. Contudo, e o
LEAP/E2020 deseja ser muito claro acerca deste ponto, ao contrário dos
discursos actuais dos mesmos peritos que negavam a existência de uma
crise em gestação há três anos, que negavam que ela
fosse global há dois anos e que negavam há apenas seis meses que
ela seja sistémica, nos antecipámos uma duração
mínima de três anos para esta fase de decantação da
crise
[1]
. Ela não estará terminada nem na Primavera de 2009, nem no
Verão de 2009, nem no princípio de 2010. É só nos
fins de 2010 que a situação começará a se
estabilizar e a melhorar um pouco em certas regiões do mundo, a saber na
Ásia e na zona Euro, assim como para os países produtores de
matérias-primas energéticas minerais ou alimentares
[2]
. Alhures, ela continuará. Em particular nos Estados Unidos e no Reino
Unido e nos países mais ligados a estas economias, em que ela se
inscreve numa lógica decenal. É apenas por volta de 2018 que
estes países podem encarar um retorno ao crescimento real.
Além disso, não se pode imaginar que a melhoria do fim de 2010
assinalará o retorno a um crescimento forte. A convalescença
será longa. As bolsas, por exemplo, precisarão igualmente de uma
década para retornar aos níveis do ano de 2007, se elas ali
chegarem um dia. É preciso recordar que a Wall Street precisou de 20
anos para retornar aos seus níveis do fim dos anos 1920. Ora, segundo o
LEAP/E2020 esta crise é mais profunda e durável que aquela dos
anos 1930. Esta tomada de consciência da longa duração da
crise vai progressivamente tornar-se clara junto às opiniões
públicas no decorrer do próximo trimestre. E ela
desencadeará imediatamente dois fenómenos portadores de
instabilidade sócio-económica: o medo pânico do amanha e a
crítica reforçada dos dirigentes do país.
O risco de colapso brutal do conjunto dos sistemas de pensão por
capitalização
Finalmente, no quadro das consequências da crise que afectarão
directamente dezenas de milhões de pessoas nos Estados Unidos, no
Canadá, no Reino Unido, no Japão, na Holanda e na Dinamarca em
particular
[3]
, é preciso integrar o facto de que a partir deste fim de ano de 2008
vão multiplicar-se noticias referentes a perdas maciças dos
organismos que gerem activos destinados a financiar estas reformas. A OCDE
estima e US$4 milhões de milhões as perdas dos fundos de
pensão apenas para o ano de 2008
[4]
. Na Holand
[5]
assim como no Reino Unido
[6]
, os organismos de vigilância dos fundos de pensão acabam de
lançar gritos de alarme exigindo com urgência um acréscimo
das quotizações obrigatórios e uma
intervenção do Estado. Nos Estados Unidos, são
anúncios múltiplos de aumento das contribuições e
de diminuição dos pagamentos que são emitido a um ritmo
crescente
[7]
. E é só nas próximas semanas que numerosos fundos
vão poder fazer realmente o cálculo do que perderam
[8]
. Muitos iludem-se ainda sobre a sua capacidade de reconstituir o seu capital
no momento de uma próxima saída da crise. Em Março de
2009, quando gestores de fundos de pensão, reformados e governos
vão simultaneamente tomar consciência de que a crise vai durar,
que ela vai coincidir com a chegada maciça dos "babyboomers"
à aposentadoria e que as bolsas tem pouco probabilidade de recuperar
antes de longos anos os seus níveis de 2007
[9]
, o caos vai instalar-se neste sector e os governos vão se aproximar
cada vez mais da obrigação de intervir para nacionalizar todos
estes fundos. A Argentina, que tomou esta decisão há alguns
meses, surgirá então como um precursor.
Todas estas tendências já estão em curso. A sua
conjunção e a tomada de consciência pelas opiniões
públicas das consequências que elas implicam constituirá o
grande choque psicológico mundial da Primavera de 2009, a saber, que
estamos todos mergulhados numa crise pior que aquela de 1929; e que não
há saída possível da crise a curto prazo. Esta
evolução terá um impacto decisivo sobre a mentalidade
colectiva mundial dos povos e dos decisores e modificará pois
consideravelmente o processo do desenrolar d crise no período que se
seguirá. Com mais de ilusões e menos de certezas, a
instabilidade sócio-política global vai aumentar
consideravelmente.
Finalmente, este GEAB Nº 30 apresenta igualmente uma série de 13
perguntas/respostas a fim de ajudar de maneira quase interactiva os
poupadores/investidores/decisores a melhor compreender e antecipar os
desenvolvimentos a acontecer da crise sistémica global:
1- Esta crise será diferente das crise que anteriormente afectaram o
capitalismo?
2- Esta crise será diferente da crise dos anos 1930?
3- A crise será tão grave na Europa e na Ásia quanto nos
Estados Unidos?
4- As medidas empreendidas actualmente pelos Estados do mundo inteiro
serão suficiente para jugular a crise?
5- Quais os principais riscos que pesam sobre o sistema financeiro
internacional? E todas as poupanças são iguais face à
crise?
6- A zona Euro constituirá uma verdadeira protecção contra
os piores aspecto da crise? E o que poderia ela fazer para melhorar este
estatuto?
7- O sistema de Bretton Woods (sob a sua última versão dos anos
1970) está em vias de afundar? O euro deve substituir o dólar?
8- O que se pode esperar do próximo G20 em Londres?
9- Pensa que a deflação seja actualmente a maior ameaça
que paira sobre as economias mundiais?
10- Pensa que o governo Obama estará em condições de
impedir os Estados Unidos de soçobrar na "Muito grande
depressão americana"?
11- Em termos de moedas, para além da vossa antecipação
referente à retomada da queda do dólar dos EUA ao longo de todos
os próximos meses, pensa que a libra esterlina e o franco
suíço sejam sempre moedas de estatuto internacional?
12- Pensa que o mercado dos CDS esteja a ponto de implodir? E quais seriam as
consequências de um tal fenómeno?
13- A "bolha dos Títulos do Tesouro dos EUA" estará a
ponto de explodir?
16/Dezembro/2008
Notas:
(1) Acerca desta crise é útil ler uma contribuição
muito interessante de Robert Guttmann publicada no 2º semestre de 2008 no
sítio web
Revues.org
, apoiado pela Maison des Sciences de l'Homme
Paris-Nord..
(2) São as matérias-primas que começam a relançar o
mercado do transporte marítimo internacional. Fonte:
Financial Times,
14/12/2008
(3) Um vez que são os países que mais desenvolveram os sistemas
de reforma por capitalização. Ver
GEAB Nº 23
. Mas
também é o caso da Irlanda. Fonte:
Independent,
30/11/2008
(4) Fonte:
OCDE
, 12/11/2008
(5) Fonte:
NU.NL
, 15/12/2008
(6) Fonte:
BBC
, 09/12/2008
(7) Fontes:
WallStreetJournal,
17/11/2008 ;
Phillyburbs
, 25/11/2008 ;
RockyMountainNews
, 19/11/2008
(8) Fonte:
CNBC
, 05/12/2008
(9) E não mencionamos sequer a influência da explosão da
bolha dos Títulos do Tesouro dos EUA que também afectará
brutalmente os fundos de pensão. Ver Q&A, GEAB N°30.
[*]
Global Europe Anticipation Bulletin.
O original encontra-se em
www.leap2020.eu
Este comunicado encontra-se em
http://resistir.info/
.
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