Estalaram tumultos alimentares por todo o globo, desestabilizando grandes
partes do mundo em desenvolvimento. A China está a experimentar uma
inflação de dois dígitos. A Indonésia, o Vietname
e a Índia impuseram controles sobre as exportações de
arroz. O trigo, o milho e a soja estão em alturas récorde e
ameaçam subir ainda mais. Sobem todas as categorias de
commodities.
O Programa Alimentar Mundial adverte que haverá fome generalizada se o
Ocidente não proporcionar ajuda humanitária de emergência.
A situação é horrenda. O presidente venezuelano Hugo
Chávez resumiu isto assim: "É um massacre dos pobres do
mundo. O problema não é a produção de alimentos.
É o modelo económico, social e político do mundo. O
modelo capitalista está em crise".
Certo, Hugo. Não há escassez de alimentos; são apenas os
preços que estão a tornar a comida inacessível. A
política de "dólar fraco" de Bernanke ateou uma onda de
especulação em
commodities
que está a empurrar os preços para a estratosfera. A ONU
denominou a crise alimentar global de "tsunami silencioso", mas
é mais como uma inundação; o mundo está a nadar em
dólares cada vez menos valiosos que estão a tornar os alimentos e
as matérias-primas mais caras. Bancos centrais estrangeiros e
investidores possuem actualmente US$6 milhões de milhões
(trillions)
em dólares activos denominados em dólares, de modo que quando o
dólar começa a deslizar o sofrimento irradia-se através de
economias inteiras. Isto é especialmente verdadeiro em países
onde a divisa está ligada ao dólar. Eis porque a maior parte dos
Estados do Golfo estão a experimentar inflação galopante.
Os EUA estão a exportar a sua inflação através do
aviltamento da sua divisa. Agora um trabalhador do campo no Haiti que ganha
US$2 por dia, e gasta tudo isso para alimentar a sua família, tem de
ganhar o dobro daquela quantia ou comer a metade. Não é uma
opção que um pai queira tomar. Não é de admirar
que seis pessoas tenham sido mortas em Port au Prince nos recentes tumultos
alimentares. As pessoas enlouquecem quando não podem alimentar seus
filhos.
Os preços dos alimentos e da energia estão a sugar a vida da
economia global. Bancos e fundos de pensão estrangeiros estão a
tentar proteger seus investimentos desviando dólares para coisas que
reterão o seu valor. Eis porque o petróleo está a
aproximar-se dos US$120 por barril quando deveria estar entre os US$70 e US$80.
Segundo Tim Evans, analista de energia no Citigroup em Nova York,
"Não défice de oferta-procura". Nenhum. De facto, os
fornecedores estão a esperar um excedente de petróleo no fim
deste ano.
"O caso para a redução dos preços do petróleo
é directo: A perspectiva de uma profunda recessão nos EUA ou
mesmo um período marcado pelo crescimento económico lento entre
os principais consumidores de energia no mundo causa uma depressão no
consumo de energia. Até hoje neste ano, a procura de petróleo
nos EUA está 1,9% mais baixa em comparação com o mesmo
período em 2007, e preços mais elevados e uma economia fraca este
ano deveriam abater em 90 mil barris por dia o consumo de petróleo
estado-unidense, segundo o organismo federal Energy Information
Administration" ("Bears Baffled by Oil Highs" Gregory Meyer,
Wall Street Journal
)
Não há escassez de petróleo; isso é outra
falcatrua. Os especuladores estão simplesmente a conduzir para cima o
preço do petróleo para limitar (hedge) suas apostas no
dólar em queda. O que mais podem eles fazer; colocá-los no
mercado congelado de títulos, ou no mercado de acções que
se afunda, ou no mercado habitacional em colapso?
Do
Washington Times:
"Agricultores e executivos alimentares ontem apelaram sem êxito a
responsáveis federais por medidas regulamentares para limitar a compra
especulativa que está a ajudar a conduzir os preços alimentares
para a alta. Enquanto isso, alguns americanos estão a acumular
géneros como arroz, farinha e petróleo na
antecipação de preços altos e escassez a propagar-se de
além mar. A Costco e outras mercearias na Califórnia relataram
uma corrida ao arroz, a qual foi forçou-os a estabelecer limites sobre
quantos sacos de arroz cada cliente pode comprar. Os filipinos no
Canadá estão a reter todo o arroz que conseguem descobrir e a
despachá-lo para parentes nas Filipinas, os quais estão a sofrer
uma escassez severa que deixa muitas gente famélica".
(Patrice Hill,
Washington Times
)
A administração Bush sabe que há briga e intrigas em
andamento, mas eles simplesmente olham para outro lado. É o processo
recorrente da Enron, em que Ken Lay Inc. tosou o público com absoluta
impunidade enquanto os reguladores sentavam-se à parte a aplaudir.
Grande. Agora é vez da Commodity Futures Trading Commission (CFTC),
eles estão a adoptar a abordagem "não tocar" de modo a
que os vivaços da Wall Street ganhem uma fortuna fazendo subir o
preço de tudo, desde as bolachas crackers até as sanitas.
"Uma audição terça-feira em Washington, perante a
Commodity Futures Trading Commission, iniciou uma nova ronda de exames quanto
à popularidade dos futuros agrícolas, outrora uma arena tranquila
que durante anos foi dominada em ampla medida por grandes produtores e
consumidores de colheitas e seus bancos que tentavam administrar riscos de
preço. A postura oficial da comissão e de muitos dos
correctores, entretanto, provavelmente irá desapontar muitos grupos de
consumidores. O economista da CFTC planeia declarar na audição
que a agência não acredita que investidores financeiros estejam a
conduzir os preços dos cereais para a alta. Alguns compradores de
cereais dizem que grandes apostas de especuladores em transacções
relativamente pequenas de cereais, em especial recentemente, estão a
pressionar preços para os consumidores comuns". ("Call Goes
Out to Rein In Grain Speculators", Ann Davis)
E a agência não acredita que investidores financeiros estejam a
provocar altas nos preços do cereais!
[*]
fergiewhitney@msn.com
O original encontra-se em
http://www.counterpunch.org/whitney04262008.html
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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