Um por cento dos adultos possui 51% da riqueza mundial; 10% possuem 89% e os
50% de baixo possuem apenas 1%
por Michael Roberts
Um por cento dos adultos do mundo possui 51% de toda a riqueza mundial, ao
passo que a metade dos adultos da base possui apenas 1%. Na verdade, os 10% dos
adultos do topo possuem 89% de toda a riqueza mundial! Este é o novo
número obtido para 2016 pelo
relatório anual sobre a riqueza global do Credit Suisse
. A cada ano o Credit Suisse apresenta este relatório, assinado pelo
Professor Tony Shorrocks, James Davies e Rodrigo Lluberas, os quais costumavam
fazê-lo para a ONU. Informo sobre os resultados todos os anos e
habitualmente este é um dos artigos mais populares que escrevo.
Da última vez que discuti os resultados do Credit Suisse, os 1% do topo tinham 48% da riqueza mundial
. Assim, no último ano e meio, a desigualdade mundial aumentou outra
vez. As fatias dos 1% e 10% do topo quanto à riqueza mundial
caíram entre 2000 e 2007. Exemplo: a fatia do percentil do topo declinou
de 50% para 46%. Contudo, esta tendência foi revertida após a
crise financeira e as fatias do topo retornaram aos níveis observados no
princípio do século.
Os investigadores do Credit Suisse consideram que estas mudanças
reflectem principalmente a importância relativa dos activos financeiros
na carteira familiar, os quais subiram de valor desde 2008 e elevaram a riqueza de
muitos dos países mais ricos, e das pessoas mais ricas, por todo o
mundo. Embora a fatia dos activos financeiros caísse este ano, as
fatias dos grupos de riqueza do topo continuaram a subir. No
outro extremo da pirâmide global da riqueza, a metade debaixo dos adultos
possuía colectivamente menos de 1% da riqueza total.
A razão principal para esta enorme desigualdade é que há
muita gente pobre (em riqueza) no mundo. Percebe-se: não é
preciso muito para ficar entre os 1% de topo dos possuidores de riqueza. Uma
vez subtraídas as dívidas, uma pessoa precisa apenas de US$3.650
para ficar na metade mais rica dos cidadãos do mundo. Contudo,
são precisos cerca de US$77.000 para ser membro dos 10% do topo da
riqueza global e US$798.000 para pertencer aos 1% do topo. Assim, se possui uma
casa em qualquer grande cidade no Norte rico e sem hipoteca, já faz
parte dos 1% do topo. Sente-se rico assim? Isto apenas mostra quão pobre
é a vasta maioria das pessoas do mundo: sem propriedade, sem dinheiro e
certamente sem acções e títulos!
A investigação mostra que 3,5 mil milhões de
indivíduos 73% de todos os adultos do mundo têm uma
riqueza inferior a US$10.000 em 2016. Além disso, 900 milhões de
adultos (19% da população global) está no intervalo dos
US$10.000 US$100.000. Os pobres em riqueza estão concentrados na
Índia, na África e nos países asiáticos mais
pobres, com 73% destes na base dos possuidores de riqueza. Mas também
há número significativo de pessoas que são ricas pobres
pelos padrões globais na América do Norte e na Europa, com 9% de
norte-americanos, a maior parte com valor líquido negativo, no quintil
de base global e 34% de europeus na metade de base global. Estas pessoas
não só não têm riqueza como estão em
dívida.
E quem se safa melhor? Bem, não são os indianos. A Índia
tem apenas 3,1% das pessoas da "classe média" global (riqueza
de US$10k-US$100k) e esta fatia pouco mudou. Em contraste, a China representa
um enorme 33% das pessoas de riqueza média, dez vezes o da Índia
e esta proporção duplicou desde 2000. Isto mostra que a
expansão económica sem precedentes da China retirou centenas de
milhões à pobreza, ainda que a desigualdade de riqueza tenha
ascendido.
Na verdade, o número de milionários, o qual caíra em 2008,
manifestou uma rápida recuperação após a crise
financeira e é agora mais do que o dobro do seu número de 2000.
Há agora 32,9 milhões de milionários globalmente, isto é, adultos com
mais de US$1 milhão em propriedade ou poupanças líquidas
de dívida. Na verdade, há apenas 140.000 pessoas no mundo todo
que têm mais do que US$50 milhões em riqueza. E há agora
mais de 2000 bilionários estas são as pessoas que
realmente possuem o mundo.
Assumindo que não haja mudança na desigualdade de riqueza global,
espera-se que surjam outros 945 bilionários nos próximos cinco
anos, elevando o número total dos que possuem mais de mil milhões
para aproximadamente
3.000. Mais de 300 dos novos bilionários serão da América
do Norte. Prevê-se que a China acrescente mais bilionários do que
toda a Europa em conjunto, elevando o total da China acima dos 420.
O Credit Suisse estima que a riqueza total global seja agora de US$334
milhões de milhões
(trillion),
ou cerca de quatro vezes o PIB anual do mundo. Após a viragem do
século, houve a princípio uma ascensão rápida na
riqueza global, com o crescimento mais rápido na China, Índia e
outras economias emergentes, a qual representou 25% do aumento em riqueza,
embora eles possuíssem apenas 12% da riqueza mundial no ano 2000. A
riqueza mundial declinou em 2008, tem tendido vagarosamente a subir desde
então, a uma taxa significativamente mais baixa do que antes da crise
financeira. De facto, desde 2010 a riqueza caiu em termos de dólar em
todas as regiões além da América do Norte,
Ásia-Pacífico e China. Numa base por adulto, a riqueza quase
não cresceu de todo e a riqueza mediana caiu a cada ano desde 2010. O
adulto médio está a ficar mais pobre.
Nos últimos 12 meses, a riqueza mundial subiu 1,4% e mal acompanhou o
ritmo do crescimento populacional. Em consequência, em 201, a riqueza
média por adulto ficou inalterada pela primeira vez desde 2008, em
aproximadamente 52.800 dólares. Assim, a população mundial
como um todo não ficou mais rica no último ano e meio, ao passo
que a desigualdade cresceu.
Mais sobre desigualdade de riqueza e rendimento e o seu significado no meu
Essays on Inequality.
.
24/Novembro/2016
O original encontra-se em
thenextrecession.wordpress.com/...
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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