Revelações da Comissão da Verdade e
Reconciliação
História da guerra da Coreia
Os EUA e a Coreia do Sul executaram massacres de civis
por Eric Struch
Segundo conta grande parte dos manuais de história, a guerra da Coreia
teria começado com a invasão do Sul, em 25 de junho de 1950, pelo
Norte comunista. Os EUA, amantes da liberdade, teriam então vindo em
auxílio da democrática República da Coreia (RK)
ameaçada. A realidade foi muito diferente.
Não só a RK era um regime ditatorial fascista como um fantoche
dos EUA, Syngman Rhee, fez o primeiro movimento, preparou-o com mais de um ano
de antecedência. Esta preparação incluía usar
organizações paramilitares fascistas e o exército regular
para ataques transfronteiriços contra povoados do Norte a fim de testar
as defesas da República Popular Democrática da Coreia (RPDC).
Internamente, a preparação significou também levar a cabo
execuções em grande escala de supostos comunistas, pessoas de
esquerda e qualquer um que se opusesse ao regime neocolonial dos EUA no Sul. A
maioria destes massacres ocorreu durante o Verão de 1950, mas milhares
de civis foram executados por militares e polícias da RK ao longo da
guerra.
Os militares dos EUA que tinham o comando operacional do exército
da RK não só tinham conhecimento destes massacres, como
assistiram e mesmo dirigiram muitas das execuções. Que estes
massacres ocorreram era do conhecimento comum entre as pessoas, tanto no Norte
como no Sul. Porém, devido à repressão anticomunista e a
" ;lei de segurança nacional" ;, que ameaçava com penas de
décadas na prisão, até recentemente ninguém no Sul
ousava falar.
Meio século de silêncio oficial começou finalmente a
terminar após a árdua luta do movimento pró-democracia na
década de 1980 que criou um espaço político. Mesmo aqueles
que fugiram para os Estados Unidos a fim de escapar à repressão
não podiam falar. Eles dependiam de americanos de origem coreana para
postos de trabalho, habitação e empréstimos e estes
elementos privilegiados muitas vezes tinham ligações com o
partido de direita Grand National Party ou à CIA sul-coreana.
Ao longo de décadas uma voz disse a verdade ao mundo acerca dos
assassinatos em massa. A imprensa da RPDC que constantemente tentou chamar a
atenção do mundo para estes crimes. Dado que a propaganda racista
de Washington anti-RPDC era onipresente a verdade nunca ganhou qualquer
atenção nos meios de comunicação controlados.
Comissão Verdade e Reconciliação
Atualmente
[1]
na RK, a Comissão Verdade e Reconciliação (CVR), fundada
pelo governo, liderada por Ahn Byung-ook está a investigar 1 200
incidentes de execuções em massa além de 215 casos em que
o exército americano esteve diretamente envolvido em
execuções. Das mais de 150 valas desenterradas até agora,
a Comissão tem a evidência física,
documentação e testemunhas para confirmar oficialmente duas
execuções em massa em Ulsan e Cheongwon.
O governo da RK reconhece agora que as suas forças armadas,
polícia nacional e paramilitares fascistas mataram mais de 100 mil civis
naquela época, quando a população da Coreia era de 20
milhões. Kim Dong-choon da CVR qualificou esta estimativa do governo
sobre o custo humano do sangrento paroxismo anticomunista "muito
conservadora".
Os números podem ser tão elevados como 200 mil pessoas, com
algumas fontes a colocá-lo tão alto quanto 300 mil. Estes
números não incluem as execuções extrajudiciais
durante a guerra pelas tropas fantoche da RK.
Ideólogos da direita, tanto em Seul como em Washington, apontam para
supostos massacres realizados pelo Exército Popular da Coreia (EPC),
negando que os atualmente comprovados assassinatos perpetrados pelas
forças do Sul fantoche tenham ocorrido. Na realidade, de acordo com um
estudo da CIA datado de 19 de julho de 1950, citado pelo especialista em
assuntos coreanos Bruce Cumings, durante a ocupação do Sul pelo
EPC "funcionários norte-coreanos dirigiram uma
situação tensa, mas sem muito derramamento de sangue."
Noutro relatório da CIA, a partir de 1950, uma "grande percentagem
de sindicalistas e dirigentes sindicais juntaram-se ao EPC somente 10 dias
durante a guerra. O Presidente da RPDC Kim Il Sung havia enviado uma mensagem
pela rádio a exortar o povo da RK a organizar-se por si próprio.
Assim, foram formados Comités do Povo que procederam à
apreensão de propriedades japonesas e do governo da RK, bem como dos
mais ricos.
As unidades do EPC no sul distribuíram arroz ao povo e esvaziaram as
prisões de presos políticos, que então se viraram contra a
polícia e os grupos fascistas. Tropas do EPC em aliança com o
campesinato pobre, realizaram uma reforma democrática da terra à
medida que avançaram para o Sul. Mesmo no caos da guerra, o EPC manteve
a sua disciplina. Cumings diz que "documentos norte-coreanos capturados
continuaram a mostrar que funcionários de alto nível advertiram
contra a execução de pessoas."
O mesmo não pode ser dito das forças fantoche da RK. Antes mesmo
do início da guerra, o governo da RK criou a National Guidance League,
um corpo de inspiração fascista para a
"reeducação" de pessoas que a ditadura de Rhee afirmava
serem comunistas. Em 1950, mais de 300 mil pessoas foram forçadas a
participar do naquela organização.
Kim Dong-choon diz que a polícia ou o exército executaram muitos
dos admitidos à força na Liga. A Polícia Nacional, sob a
supervisão de um grupo de conselheiros militares dos EUA (Korean
Military Advisory Group, KMAG) executou 7.000 pessoas em Yangwol (perto de
Taejon) entre 2 a 6 de junho de 1950.
Os EUA supervisionaram os extermínios
Alan Winnington do
Daily Worker
britânico num artigo intitulado "U.S. Belsen in Korea"
informou que 20 testemunhas observaram que em 2 de julho (de 1950)
camiões da polícia chegaram e fizeram as pessoas cavarem seis
poços de 200 jardas [183 m] cada. As execuções duraram
três dias, com duas metralhadoras, quando as balas acabaram, procederam
à decapitação pela espada. De acordo com testemunhas
oculares, oficiais dos EUA supervisionaram tudo sentados nos seus jeep. A
embaixada dos EUA em Londres, em seguida, teve o descaramento de chamar
às conclusões de Winnington uma
"invenção".
Militares dos EUA, através de seu comando operacional sobre o
exército da RK, envolveram-se ao mais alto nível em
execuções. Charles Grutzner, correspondente do
New York Times
falou sobre "a matança de centenas de civis sul-coreanos,
mulheres, bem como homens, por algumas tropas dos EUA e polícia da
República".
Keyes Beech, em 23 de julho de 1950, escreveu um artigo no
Newark Star-Ledger:
"Não é hora de ser coreano, porque os yankees estão
atirando em todos."
Donald Nichols, um antigo oficial da segurança da força
aérea, escreveu no seu livro de memórias de 1981 ter
testemunhando um massacre "inesquecível" de
"aproximadamente 1 800 pessoas" em Suwon durante a guerra.
Além disso, uma investigação feita em 1960 pelo legislador
da RK Park Chan-hyun durante o interlúdio (relativamente)
democrático da Segunda República de Chang Myon revelou que cerca
de 10 mil pessoas haviam sido executadas em Busan.
A ditadura na RK era instável
O que estas atrocidades horríveis e desumanas revelam é que a
ditadura fantoche da RK sabia que o seu poder assentava em bases profundamente
instáveis. Tal como outro relatório bastante franco da CIA,
citado por Cumings, dizia que a liderança do governo de direita da RK
era " ;formada por essa classe numericamente pequena que praticamente
monopoliza a riqueza e a educação no país... Dado que essa
classe não poderia ter adquirido e mantido a sua posição
favorecida sob domínio japonês sem um mínimo de
" ;colaboração" ;, tem tido dificuldade em encontrar
candidatos aceitáveis para cargos políticos e foi forçado
a apoiar políticos expatriados importados como Syngman Rhee e Kim Koo.
Estes, embora não tenham nenhuma mácula pró-japonesa,
são essencialmente demagogos determinados a um regime
autocrático."
A clique corrupta de Rhee sabia que o seu plano para Norte dependia do
afogamento em sangue dos elementos patrióticos e comunistas no Sul.
Bolsas da guerrilha comunista, que tinham lutado durante a
ocupação japonesa ainda estavam ativas no Sul em 1950.
De acordo com o general W.L. Roberts, comandante do KMAG, o exército
fantoche da RK matou 6 000 guerrilheiros comunistas de novembro de 1949 a
março de 1950. Acerca dos ataques contra povoados na fronteira Norte
realizados pelo exército e paramilitares das juventudes fascistas que
tiveram lugar em 1949, disse o general Roberts que "cada um foi na nossa
opinião, provocado pela presença de uma pequena saliência
sul coreana a Norte do paralelo 38... Os sul-coreanos desejavam invadir o
norte".
Apesar da escalada de assassinatos em massa realizados pelo regime fantoche de
Rhee, o sentimento patriótico ainda corria tão profundamente
entre o povo coreano que mesmo na Assembleia Nacional da RK, 48 membros
declararam lealdade à Coreia do Norte no final de julho de 1950.
A questão da execução em massa de civis ainda divide
aqueles que são subservientes ao neocolonialismo dos EUA e aqueles que
querem uma Coreia independente. O ex-presidente Roh Moo-hyun da RK desculpou-se
em missão oficial pelos 870 assassinatos confirmados no Ulsan,
chamando-os de "atos ilegais". Em contraste, o presidente Lee
Myung-bak,
(presidente entre 2008 e 2013)
já profundamente impopular, ameaçou cortar o financiamento
à CVR.
Sete anos atrás, o governo dos EUA finalmente admitiu parte de sua
própria culpa: que em 1950 soldados seus haviam matado centenas de civis
inocentes no município sul-coreano de Nogun-ri logo após o
início da guerra da Coreia. O presidente Bill Clinton expressou
"profundo pesar" numa declaração pública em 11
de janeiro de 2001.
[1] Este artigo foi publicado inicialmente pelo
International Action Center
em 29 de junho de 2008.
Ver também:
www.globalresearch.ca/...
Report of the International Scientific Commission for the Investigation of the Facts Concerning Bacterial Warfare in Korea and China
Sinchon Museum of American War Atrocities
O original encontra-se em
www.informationclearinghouse.info/47061.htm
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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