por Felicity Arbuthnot
Se alguém ainda se pergunta porque a Coreia do Norte está a ser
"provocadora" com testes de mísseis e por declarar
reiteradamente ter um arsenal aparentemente gigantesco (embora ainda não
haja prova concreta e irrefutável da sua capacidade em armas nucleares
de longo alcance) aqui está uma pequena amostra do que o seu vizinho do
sul, em conluio com o Padrinho Americano, tem planeado
[1]
:
"Decapitação"
"Matem o rei e o regime entrará em colapso. Esta é a
lógica apresentada pelos planeadores militares sul coreanos para uma
"unidade de decapitação" que estão a constituir
com o único objectivo de assassinar o líder supremo da Coreia do
Norte, Kim Jong-un. Eles estão convencidos de que, no caos que se
seguiria, a liderança da Coreia do Norte seria desintegrada e
abandonaria o programa nuclear sobre o qual assenta seu prestígio.
"Decapitação significa que temos apenas um alvo", disse
Choi Jin-wook, um antigo analista da Coreia do Norte que trabalha no Korea
Institute for National Unification, uma instituição
governamental. "É muito mais simples eliminar o líder do que
atacar bases militares".
Planeadores da defesa sul coreanos ordenaram "ataques de
decapitação" em exercícios aéreos, navais e
terrestres nos quais os alvos são simulados para que se pareçam
com um dos muitos esconderijos ou residências de Kim. Tais
exercícios são o prelúdio para a posterior
constituição formal da unidade Spartan 3000, ainda este ano.
O ministro da Defesa da Coreia do Sul, Song Young-moo, ordenou [a
constituição] de forças especiais de uma "brigada da
morte" de comandos para encabeçar o grupo. Aviões de combate
e destroyers com mísseis guiados providenciariam todo o apoio de que
precisasse.
O Ministério citou o teste com êxito do disparo de um
míssil Taurus, fabricado na Alemanha, a um alvo ao largo da costa
sudoeste como exemplo do armamento que pode ser utilizado numa tentativa de
matar o líder norte coreano.
"O míssil, com um alcance de 310 milhas [499 km], voou cerca de 150
milhas [241 km], atingindo o seu alvo no Mar Amarelo".
A Coreia do Sul, naturalmente, não está a ser ameaçada de
ser varrida da face da terra pelo teste do disparo de um míssil para o
mar, como o seu vizinho do norte.
Pense acerca das palavras "unidade de decapitação"
a horrenda imagem que transmite mesmo a qualquer mente semi-normal. Esta
espécie de maquinação até reduz os horrores de
criminosos dementes que literalmente decapitam no Médio Oriente. Mas os
protectores deles também são apoiados pelos EUA.
Talvez a palavra "decapitação" agora já seja
utilizada de modo displicente nos círculos políticos e militares
dominados pelos EUA.
Os arrepiantes princípios do secretário da Defesa Mattis
Também não deveria ser esquecidos que na Trumpesfera, em que o
general Jame Mattis é agora secretário da Defesa, ele tem alguns
princípios interessantes. A vida é evidentemente muito barata e a
morte é o mais displicente dos empreendimentos: Algumas das suas
visões
[2]
incluem:
"A primeira vez que você esbofeteia alguém isso não
é um evento insignificante. Dito isso, há alguns imbecis no mundo
que só precisam ser alvejados".
"Ser polido, ser profissional, mas ter um plano para matar todos que
você encontra".
"Encontre os inimigos que querem acabar com este experimento (de
democracia americana) e mate cada um deles até estarem tão
afundados com a matança que deixarão e as nossas liberdades
[ficarão] intactas".
Precisamente o "experimento em democracia americana" infligido mais
recentemente ao Afeganistão, Iraque, Líbia e Síria, com a
Coreia do Norte e o Irão na sua mira.
Com agradecimentos a William Blum, a lista das carnificinas em massa dos
projectos de "democracia" dos EUA, desde 1949, está aqui:
[3]
.
Por falar em Afeganistão, aqui estão pensamentos do general
Mattis sobre a propagação da democracia naquela parte do mundo:
"Você entra no Afeganistão e encontra sujeitos que
esbofetearam mulheres durante cerca cinco anos por não usarem um
véu. Você sabe, sujeitos como aqueles não têm nenhuma
réstia de hombridade. Assim, é muitíssimo divertido atirar
neles. Realmente é bastante divertido combatê-los, você
sabe. Aquilo tem uma enorme piada. É divertido atirar sobre algumas
pessoas. Estarei ali consigo. Eu gosto de brigar".
No mundo real o possuidor de tais visões pode certamente encontrar lugar
numa unidade psiquiátrica, senão numa prisão de
segurança máxima.
Aberturas diplomáticas ignoradas
Contraste isto com uma abordagem ignorada
[4]
vinda da Coreia.
Em 28 de Setembro
"A Embaixada da República Democrática e Popular da Coreia
(RDPC) na República da Indonésia apresenta os seus cumprimentos
ao Parlamento da Comunidade da Austrália e tem a honra de informar que o
Comité de Assuntos Externos da Assembleia Popular da RDPC enviou uma
carta aberta aos Parlamentos de diferentes países.
".. a Embaixada da RDPC tem a honra de anexar pela presente a carta acima
mencionada".
O preâmbulo termina com cortesias diplomáticas e "a mais alta
consideração".
A carta (na íntegra em 4) é escrita na terceira pessoa e diz o
que se segue:
"Carta aberta aos Parlamentos de diferentes países.
"A carta observa que Trump, presidente dos EUA, que se intitula "a
super-potência", negou a existência da RDPC, um estado
soberano digno (e ameaçou-a) na ONU de "destruição
total"...
"O Comité de Assuntos Externos da RDPC ... cuja missão
é promover relações amistosas e cooperativas com o
parlamentos e povos amantes da paz dos países de todo o mundo ... com
base nas ideias de independência, paz e amizade, condena amargamente as
observações impulsivas
(reckless)
de Trump como um insulto intolerável ao povo coreano, uma
declaração de guerra contra a RDPC e uma grave ameaça
à paz global...
(Desde o seu primeiro dia no gabinete, do Presidente) "empenhou-se numa
prática arrogante e arbitrária, desembaraçando-se de leis
e acordos internacionais (colocando a América em primeiro lugar) a
expensas do mundo todo".
As ameaças de aniquilação e sanções negaram
ao povo da RDPC "desenvolvimento económico normal, em ruptura da
Carta das Nações Unidas..."
Trump, declara a carta:
"ameaçou destruir totalmente a RDPC, um Estado digno, independente
e soberano e uma potência nuclear. É um acto extremo que
ameaça destruir o mundo inteiro".
A correspondência conclui com as seguintes palavras:
"... crentes de que os parlamentos de diferentes países, que amam a
independência, paz e justiça cumprirão plenamente sua
devida missão e dever em realizar o desejo da espécie humana pela
justiça e paz internacional (e com vigilância) contra os
impulsivos movimentos da Administração Trump que tentam conduzir
o mundo para um horrível desastre nuclear".
Com Trump a ameaçar que o seu dedo está a pairar sobre o
botão nuclear, certamente poucos poderiam discordar com os sentimentos
da RDPC.
Donald Trumpo jactou-se ameaçadoramente de "destruir
totalmente" a Coreia do Norte no seu discurso à Assembleia Geral da
ONU em 19 de Setembro. As sábias palavras fundadoras da Carte da ONU
são evidentemente desconhecidas para ele.
Tem havido um silêncio ensurdecedor dos governos do mundo a respeito da
carta acima. A ministra australiana dos Negócios Estrangeiros, Julie
Bishop, a qual visitou a Coreia do Sul em Agosto, ao invés de reagir com
uma mão estendida comentou:
"Li isto como uma mostra de que a estratégia colectiva de aliados e
parceiros para impor a máxima pressão e sanções
diplomáticas e económicas sobre a Coreia do Norte está a
funcionar... Assim, penso que isto mostra que estão a sentir-se
desesperados, a sentir-se isolados, tentando demonizar os EUA, tentando dividir
a comunidade internacional".
Entretanto, o director de segurança internacional do Lowy Institute for
International Policy, Euan Graham, foi mais positivo ao comentar:
"Isto é efectivamente um convite para ter um acesso de alto
nível, para enviar uma delegação (australiana) a partir de
Seul".
"Agora seria uma boa ocasião de a Austrália exercer as suas
ainda existentes, mesmo se intermitentes, relações
diplomáticas com o Norte". (
Sydney Morning Herald,
20/Outubro/2017.)
A Coreia do Norte é o agressor?
Para alguém que leia a maioria dos media ocidentais onde a RDPC é
a mais recente nação a ser demonizada, o melhor e mais sucinto
sumário da infindável traição dos EUA desde o
armistício de Julho de 1953 está em
[5]
. Aqui está um excerto a partir do princípio de 1990:
Recorde-se também que os EUA tem armas nucleares na Coreia do Sul desde
o fim dos anos 50 até 1991.
"Em Janeiro de 1993 o presidente Bill Clinto anunciou os maiores jogos de
guerra de sempre (com toda espécie de armamento nuclear).
"Estes tiveram lugar em Março, dentro e em torno da costas da
Coreia. A RDPC reagiu a um ambiente mais beligerante informando da
intenção de retirar-se do Tratado de Não
Proliferação nuclear, ao qual havia aderido em 1985. O Norte
também demonstrou a viabilidade do míssil de médio alcance
Nodong 1, em Maio de 1993". Se alguma vez a causa e o efeito foram
rigorosamente demonstrados, aqui está um primeiro exemplo.
"Kim Il Sung morreu em Julho de 1994 e o seu filho, Kim Jong II,
substituiu-o como líder.
"No início do Verão daquele ano o governo dos EUA concluiu
que um ataque militar a Yongbyon sob séria
consideração iniciaria uma guerra com o Norte.
"Mas ao invés de guerra, sob a influência de uma paragem
voluntária pelo Norte do reactor de Yongbyon, conversações
levaram ao Acordo Quadro de Outubro de 1994.
"Sob este acordo, o Norte concordou em continuar a paragem do reactor em
troca de reactores de água leve e um novo relacionamento com os EUA.
"Empréstimos e créditos foram facilitados para o acordo e os
EUA comprometeram-se a fornecer óleo de aquecimento para suprir
problemas de calefacção do Norte no curto prazo.
"O acordo requeria relações diplomáticas plenas e um
compromisso dos EUA de não ameaçarem ou alvejarem o Norte com
armas nucleares.
"Eloquentemente, nenhum teste de mísseis do Norte foi efectuado
entre Maio de 1993 e Agosto de 1998.
"Em Junho de 1998 o Pentágono encenou exercícios simulados
de ataques nucleares de longo alcance contra a Coreia do Norte e em Outubro
daquele ano um vice-general dos EUA falou publicamente acerca de planos para
substituir o regime norte coreano e mesmo de iniciar o projecto preventivamente
se houvesse bases sólidas para esperar um ataque.
"Estes desenvolvimentos dificilmente confirmavam o compromisso dos EUA de
desenvolver um relacionamento mais cooperativo com o Norte.
"A ascensão de George W. Bush à presidência em 2001
produziu uma declaração dos seus conselheiros de que o acordo de
1994 estava caduco
(dead in the water).
(Portanto) em Dezembro de 2002 a RDPC expulsou os inspectores da AIEDA,
reiniciou o reactor de Yongbyon e retirou-se do Tratado de Não
Proliferação.
"Bush nesse ínterim declarou sua intenção de tratar
da Coreia do Norte após o Iraque.
"Na Primavera de 2003 o Norte fez uma outra oferta aos EUA: descartaria
seu desenvolvimento nuclear se os EUA normalizassem relações e
providenciassem garantias básicas de segurança.
"Seis anos depois, em 2009, em conversações sólidas
envolvendo a Rússia e a China assim como o Japão, os EUA e ambas
as Coreias tinham objectivos que incluíam a normalização
de relações diplomáticas, um fim a sanções
comerciais e o reconhecimento do direito de Norte a utilizar energia nuclear.
"Mas estas conversações entraram em colapso depois de tanto
os EUA como a República da Coreia rejeitarem o desmantelamento gradual
do Norte das suas armas nucleares.
"Em 2011 Kim Jong II morreu e o seu segundo filho, Kim Jong-un, tornou-se
o novo líder do Norte.
O sumário conclui:
"Durante estes últimos três meses o risco de guerra, na
verdade de guerra nuclear não necessariamente restrito à
península coreana aumentou dramaticamente".
O general Mattis, no momento em que se escreve, está na Coreia do Sul
onde apresentou uma cópia quase idêntica do que antecedeu a
invasão ilegal do Iraque. A lenga-lenga de Washington era que o Iraque
"ameaçava seus vizinhos" embora mesmo vizinhos hostis
respondessem que não o fizera. O Iraque naturalmente podia destruir
parte do Ocidente "em 45 minutos". Era um pacote de mentiras.
Palavras de Mattis:
"A Coreia do Norte agravou a ameaça que apresenta aos seus
vizinhos e ao mundo através dos seus ilegais e desnecessários
programas de mísseis e armas nucleares..." A situação
ganhou uma "nova urgência".
No próximo mês Trump deve visitar a Coreia do Sul, o homem que
ameaçou desencadear sobre a pequena nação "fogo e
fúria como o mundo nunca viu".
Este é homem de quem vinte e sete eminentes psiquiatras e
psicoterapeutas escreveram num livro recém publicado,
The Dangerous Case of Donald Trump
:
"Advertimos colectivamente que a alguém tão mentalmente
instável como este homem simplesmente não deveriam ser confiados
os poderes de vida e morte da Presidência".
É tempo de os diplomatas do mundo responderem à carta da Coreia
do Norte e enfrentarem a urgência deste momento, antes de ser demasiado
tarde para a região e possivelmente para o planeta.
29/Outubro/2017
1.
inews.co.uk/...
2.
freebeacon.com/national-security/the-best-from-mad-dog-mattis/
3.
williamblum.org/...
4.
www.documentcloud.org/documents/4113487-North-Korea-Letter.html
5.
morningstaronline.co.uk/...
Ver também:
Sign the People's Peace Treaty with North Korea
"Trump Not Welcome!": S Korean Peace Movement to Protest Trump's Visit to S Korea
O original encontra-se em
www.globalresearch.ca/north-korea-a-threat-or-a-victim-some-facts/5615502
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.