Saudação de fim de ano
Ao finalizar este ano de 2009, queremos estender nossa saudação
entusiasmada, patriótica e plena de optimismo nas possibilidades e no
futuro libertário da nossa pátria, a todas as estruturas de
guerrilheiros integrantes das FARC-EP, Milicianos Bolivarianos, militantes do
Partido Comunista Clandestino, integrantes do Movimento Bolivariano, Redes
Urbanas, aos prisioneiros de guerra que no país e no exterior enfrentam
com dignidade a repressão do Estado, aos simpatizantes das FARC-EP na
Colômbia e no mundo e, antes de tudo, ao nosso povo, a todo o povo
colombiano que, com o seu apoio, colaboração e
participação de diferentes formas, nos tornaram possível
sustentar no alto as bandeiras da luta pela dignidade nacional, a pátria
e a esperança de uma Colômbia em paz e melhor para todos os
colombianos.
Ao mesmo tempo, queremos fazê-los participantes das seguintes
reflexões:
Compatriotas: A actual situação política do país
apresenta uma complexidade que não tem precedentes nas últimas
décadas.
O facto de termos a pender sobre nós como uma espada de Dâmocles
já não a ameaça e a realidade de uma invasão
militar por parte do exército que representa o império mais
predatório e poderoso da terra, por beneplácito de um governo
apátrida e cipaio, que entregou a soberania da pátria para
ameaçar e passar o actuar como peão aventureiro nos
desígnios e planos imperialistas de reverter os ventos de
mudança, que com milhares de sacrifícios e em benefício
dos deserdados e da gente pobre sopram na América Latina, junto ao facto
de ter no governo uma gang encabeçada por um mandatário que,
violando todos os limites e normas estabelecidas, pretende obcecadamente
perpetuar-se no poder para instaurar uma ditadura, uma autocracia
ultra-direitista, com políticas neoliberais nos social e uma
concepção ultra montana no ideológico, é sem
dúvida uma aberração.
Ao longo da nossa acidentada história republicana não há
precedentes de semelhante abuso.
Mas um presidente que durante o seu primeiro mandato faz reformar a
Constituição para assegurar a sua reeleição nos
quatro anos seguintes e que agora pretende outra reforma para candidatar-se a
uma segunda reeleição, com a incerteza de se lhe dar a
arrogância para continuar no cargo em perpetuidade (o seu plano
estratégico é até 2019), essa sim é uma
situação que ainda não havia enfrentado a hipócrita
e mal chamada "democracia" colombiana, que alguns já chamam
"mafiocracia". A isso chegámos porque a presidência de
Uribe tem muito de atípica e conta com o apoio pleno e continuado das
classes dominantes.
Dir-se-á com muita razão que, longe de ser um caso único,
foi a constante. Mas não, este foi um governo muito mais anti-popular e
reaccionário que os anteriores.
Os presidentes que o antecederam não haviam tido um apoio total e
incondicional de todos os sectores capitalistas, imperialistas, mafiosos e
latifundistas, como o que gozou este governo durante oito anos para
enganhar, manipular a interpretação da realidade nacional,
acelerar a corrupção elevada a níveis nunca vistos (AIS,
RUNT, IPS-EPS, recompensas, financiamento e assinaturas do referendo,
contratação pública, Opain, luxos, terceiro canal, zonas
francas, etc), a infame "para política", os crimes atrozes
contra o povo mal chamados "falsos positivos", tudo isso somando
à crise económica, à venda injustificada de todas as
empresas e instituições estratégicas que eram propriedade
do Estado, energia, saúde, educação, transporte,
telecomunicações e até a Ecopetrol em troca de toda classe
de subornos e exploração livre dos trabalhadores que os meios de
comunicação chamam "segurança do investidor".
O que se passa agora é que, em maior grau que antes, entre os de cima,
banqueiros, latifundiários, mafiosos, politiqueiros e o presidente,
criou-se e fortaleceu-se uma relação simbiótica.
A política de Uribe influencia e dá impulso a essa viragem
direitizante que se observa na classe económica dominante (um só
banqueiro, Sarmiento Angulo, controla 42% do crédito nacional e acaba de
declarar lucros no último bimestre de 1,25 mil milhões de
dólares).
Mas, por sua vez, esta viragem dos sectores dominantes contribui para
"direitizar" e apoiar mais a política uribista, no nacional e
internacional, porque os beneficia.
O que fica a perder em tudo isto é o povo, que só vê
aumentar os níveis de miséria, de fome e de um desemprego
galopante, que já atinge cifras de uns 14% (quase três
milhões de desocupados), com incrementos no último ano de 517 mil
novos desempregados, carentes de qualquer rendimento e sem recursos à
vista, o que já não é um simples algarismo
económico e sim todo um drama humano que deixa milhões de
colombianos sem possibilidade de atender às suas próprias e mais
elementares necessidades e as de suas famílias.
Em consequência desta política que só governa para uma
minoria de privilegiados, hoje somos uma sociedade na qual 22 milhões de
pobres estão fora das relações de produção
capitalistas. Não são proletários, nem trabalhadores, em
sim párias, privados da segurança social, de todos os direitos e
de todas as possibilidades.
E o pior é que esse abominável mundo de miséria sem fundo
é o resultado não da "crise mundial", como querem
apresentá-la, e sim do modelo neoliberal que nos impuseram de cima.
É o modelo uribista que alguns denominaram um modelo "Pró
Ricos", sustentado na chamada "confiança investidora", na
repressão e no engano mediático, que só produz e reproduz
lucros para os ricos, militarização da sociedade, miséria
generalizada e marginalidade para o nosso povo.
O carácter de classe deste governo está retratado nas actuais
negociações para o salário mínimo.
Enquanto o governo se prepara para aprovar um projecto de lei que eleva as
pensões vitalícias do Congresso mais corrupto da história
da Colômbia, de 11 para 16 milhões de pesos [3792 a
5516], e para conceder soldos milionários aos vereadores
(concejales),
aos trabalhadores só oferece um aumento no seu salário
mínimo de 3% abaixo da inflação, ou seja, menos de 15 mil
pesos [5] mensais, ou seja, 500 pesos [0,17] por dia (menos do que
vale uma bebida gasosa)!
Mediante artimanhas mediáticas e recorrendo a técnicas de
propaganda aprendidas nos manuais nazis, que ensinavam a repetir uma mentira um
milhão de vezes e torná-la a repetir depois, até
fazê-la ser acreditada como verdade, chegaram a converter quase que num
artigo de fé para os colombianos que é a insurgência e
"o terrorismo" a causa de todos os nossos males nacionais e só
a Seguridad "Democrática" nos trará a paz e a
prosperidade.
Mas já vamos completar quase 60 anos desta guerra declarada contra o
povo, decretada a partir do assassinato de Jorge Eliécer Gaitán e
sustentada durante todos estes anos, para impedir a sangue e fogo qualquer
assomo de mudança democrática que beneficie o povo humilde e
trabalhador.
Vamos completar também oito anos desde que nos anunciaram a derrota da
insurgência revolucionária e chegada iminente do "fim do
fim", enquanto o país sangra e a economia interna se arruína.
Cada vez vai ficando mais claro perante a opinião pública
nacional que o Plano Patriota foi uma grande fraude para fortalecer a ditadura
personalista de Uribe e um grande fracasso militar, como o evidenciam os
números da agudização da confrontação com as
guerrilhas a nível nacional e a expansão da violência
paramilitar a outras zonas do país em aliança com a força
pública (o seu nome indica que não eram totalmente assassinos
privados e sim que "trabalham" "em aliança com a
força pública", algo assim como uma versão
actualizada do binómio forças armadas-bandidos).
Enquanto isso, cresce a deslocação de camponeses e a
miséria urbana, feitos estes referendados por recentes estudos da
academia que, sem serem a última palavra em verdades reveladas,
contêm pontos de vista interessantes, apoiados nos números e na
investigação.
A todo este ambiente de engano, crime, mentiras, corrupção e
entrega da nossa soberania é que se pretende agora dar continuidade com
a reeleição de um presidente mafioso rodeado de uma oligarquia
apátrida e uma verdadeira camarilha de políticos sem
escrúpulos que não governam para a Colômbia e sim para os
seus próprios interesses. Como descreveu certa vez, lapidarmente, o
filósofo Fernando González: "não têm nem
pratica nenhuma política social, mas ao direito chamam esmola; à
esmola chamam caridade e a essa hipócrita caridade chamam justiça
social. E dizem: Sim, é verdade que é preciso ajudar o povo,
é preciso dar-lhe algo do que nos sobra, mas ao povo, há
mantê-lo sob mão de ferro".
Mas não há mal que dure cem anos! Em diversos sectores já
se vê um despertar da consciência popular, assumindo como algo
próprio a defesa dos seus próprios interesses e da sua soberania
como construtor do seu próprio destino.
Cresce a recusa e o repúdio à corrupção das altas
esferas e cada vez se revelam mais e mais escândalos que envolvem
representantes do governo, pondo em destaque a insânia e o apodrecimento
deste regime de terrorismo de Estado.
Cresce também a recusa à reeleição do
déspota por parte de amplos sectores de opinião e sectores
democráticos que vêem no referendo espúrio para reeleger o
mafioso uma violação à carta magna, da qual já
vão assomando as orelhas da ditadura.
Já o havíamos advertido. No fascismo, todo aquele que faça
oposição ao governo é em acto ou em potência
um "terrorista". E isso de "fazer
oposição" ao governo é um conceito de uma amplitude
sem limites (como o de "terrorismo"), que não se reduz a
pronunciar arengas políticas contra o regime.
Não!
Também são opositores, e portanto "terroristas" segundo
a lógica do reinserido José Obdulio, os Magistrados do Tribunal
Supremo de Justiça que enviam ao cárcere os congressistas
uribistas que chegaram aos seus assentos parlamentares em aliança com os
paramilitares e que resistem em escolher "um entre três" um
fiscal de bolso de Uribe para que os absolva e os deixe livres.
Naturalmente, a ofensiva anti-terrorista não se detém nos
pedestais e estrados dos Tribunais. Também se viu e se verá mais
adiante estender a acusação de "terroristas" a muitos
políticos liberais, independentes, ou da chamada
"oposição democrática".
Já é quase unânime também o repúdio
continental por ver a Colômbia convertida em plataforma militar do
Império e cabeça-de-ponte para agredir os demais povos da
América e reverter a tendência libertadora que percorre o
continente.
Como deixou bem claro um senador em recente debate parlamentar: "Isso das
bases constitui uma violação flagrante da soberania nacional. Uma
base estrangeira, ou uma instalação, ou o nome que queiram dar
(porque não se trata de um debate semântico), o que implica
é uma actividade militar a favor de interesses estrangeiros, distintos
dos nossos e no território nacional. Pois o soldado de qualquer
país do mundo defende os interesses do país a cuja bandeira jurou
lealdade".
A ainda se chega ao descaramento de querer apresentar a questão das
bases como "um gesto amistoso com os vizinhos". "Será
verdade que está uma mensagem de cordialidade para o continente?"
Saudamos a criação do Movimento Continental Bolivariano como
expressão de recusa à dominação imperialista da
nossa América e nova força política com visão
integradora e ampla de todas as tendências patrióticas que lutam
por uma América soberana e livre como a que pregou o Libertador e todos
aqueles que lutaram pela nossa primeira independência.
Mas não há mal que dure cem anos! Já em diversos sectores
se vê um despertar da consciência popular, assumindo como algo
próprio a defesa dos seus interesses e da sua soberania como construtor
do seu destino.
Já resistimos muitos anos e continuaremos a lutar até o
último alento, porque estamos convencidos de que por fim a
Colômbia e os colombianos saberão encontrar o caminho para superar
esta longa noite de repressão e de violência que as oligarquias
nos impuseram, até alcançar por fim a Nova Colômbia.
Ao finalizar este ano, queremos apelar a todos os sectores
revolucionários, organizações guerrilheiras irmãs,
patriota verdadeiros e democratas deste país a que somem esforços
e vontades para conformar a mais ampla unidade, lutar com todas as nossa
forças para impedir a reeleição de um mafioso como ditador
perpétuo e opor-nos a que a Colômbia seja uma base militar de
trampolim para agredir povos irmãos; a continuar a lutar pela
restituição das terras arrebatadas pelo paramilitarismo aos
nossos camponeses, a concretizar por fim a troca de prisioneiros e a construir
entre todos uma alternativa política que privilegie não o
militarismo e sim a solução política do conflito e a paz
nacional, que abra as comportas ao início de um processo que ponha fim
à guerra que vivemos e assente as bases para a construção
de uma Nova Colômbia que torne os pobres incluídos no progresso e
defenda a suspensão imediata da presença de tropas
estado-unidenses no nosso território.
Impeçamos todos que a Colômbia seja convertida em base militar o
império, que o povo perca todas as conquistas obtidas através de
lutas justas e que a guerra seja o modus vivendi da nossa sociedade, só
pela obsessão oligárquica de impedir a todo custo que na
Colômbia ocorram mudanças estruturais que beneficiem as maiorias
nacionais e a sua decisão militarista de perpetuar a todo custo um
regime político que injusto, imoral, criminoso e anti-democrático.
Pela Nova Colômbia, a Pátria Grande e o Socialismo.
Honra e glória à memória de Manuel, Jacobo, Raúl,
Iván, Nariño e todos os heróis caídos na
confrontação.
A pátria respeita-se, fora ianques da Colômbia!
Secretariado do Estado-Maior Central
FARC - EP
Dezembro de 2009.
O original encontra-se em
www.resumenlatinoamericano.org
, 03/Jan/10, Nº 2135
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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