Colômbia: presidência delinquente
por La Jornada
Depois de ter permanecido refugiado durante mais de 12 horas na embaixada da
Costa Rica em Bogotá, à espera de resposta a uma
solicitação de asilo que finalmente foi recusada como
"improcedente", o ex-senador colombiano Mario Uribe Escobar, primo do
presidente do seu país, Álvaro Uribe Vélez, foi preso na
noite de terça-feira pelos seus supostos nexos com a dissolvida
organização paramilitar Autodefesas Unidas da Colômbia
(AUC), num dos mais notáveis escândalos com origem em
investigações judiciais em torno da chamada parapolítica.
Algumas horas mais tarde, o próprio chefe de Estado reconheceu
publicamente que foi denunciado pelo ex-chefe paramilitar Salvatore Mancuso
pela sua possível participação nos preparativos para o
massacre na localidade de El Aro, perpetrado por militares e paramilitares que
torturaram e assassinaram 15 camponeses, queimaram suas
habitações e roubaram seus pertences. Mancuso informou que teve
reuniões, além disso, com o ministro da Defesa, Juan Manuel
Santos, e com seu primo, o vice-presidente Francisco Santos. Ainda que Uribe
negue sua participação na denúncia, sua
declaração parece ser uma clara estratégia de controle de
danos, ou seja, preferiu ser ele próprio a tornar público o dado,
a fim de evitar que a informação fosse dada a conhecer como
revelação da imprensa.
Afinal de contas, ambos os dados contribuem para fortalecer as denúncias
sobre os vínculos familiares e pessoais do mandatário com os
grupos armados ilegais que desde a década dos 70, ao abrigo de uma
pretensa "autodefesa" das acções guerrilheiras,
empreenderam uma sangrenta campanha de perseguição, tortura e
assassinato de integrantes de movimentos opositores. Além dos
paramilitares, os Uribe foram acusados de manter ligações com o
narcotráfico. A respeito, é de destacar o testemunho de Virginia
Vallejo, ex-amante do desaparecido líder do cartel de Medellin, Pablo
Escobar, o qual afirmou que o defunto narcotraficante havia proporcionado seu
helicóptero para transladar o pai do presidente colombiano, que fora
ferido de morte após um ataque atribuído às Forças
Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). É esclarecedor
o relatório de 1991 da Agência de Inteligência da Defesa
(DIA, na sigla em inglês) que descrevia Uribe como um estreito
colaborador do cartel de Medellin e " amigo próximo" do seu
extinto cabecilha Pablo Escobar Gaviria, assim os relatos de imprensa da
década anterior sobre o helicóptero que este capo emprestou ao
hoje presidente quando o pai deste foi assassinado.
Para cumular, Uribe foi denunciado por receber, durante a sua primeira campanha
presidencial, ajuda financeira da empresária Enilse López,
suspeita de relações com o narcotráfico, em particular com
o cartel de Medellin, e enfrenta uma acusação pública por
suposto tráfico de cargos.
Em suma, os elementos de juízo parecem indicar que Álvaro Uribe
é um delinquente e que a sua equipe de colaboradores e seu
círculos político e familiar estão estreitamente
relacionados com as forças paramilitares da ultra-direita e com o
tráfico ilegal de estupefacientes. Este é o homem que Washington
defende como "paladino da democracia" na América do Sul, o
instrumentos da Casa Branca nas campanhas de desestabilização e
fustigamento contra a Venezuela e o Equador: um homem da máfia.
Enquanto não limpar e esclarecer os abundantes e graves indícios
de responsabilidade criminal, dele e de muitos dos seus colaboradores, o
governante colombiano carece da menor margem de autoridade moral e de
credibilidade para formular caracterizações ofensivas dos quatro
jovens mexicanos assassinados pelas forças armadas da Colômbia na
incursão de primeiro de Março contra um acampamento das FARC que
se situava em território equatoriano. E, naturalmente, as
profissões de fé de legalismo e espírito
democrático de Uribe resultam, à luz do seu turvo e escandaloso
historial, plenamente inverosímeis.
O original encontra-se em
http://www.jornada.unam.mx/2008/04/24/index.php?section=opinion&article=002a1edi
Este editorial encontra-se em
http://resistir.info/
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