O povo que pode, o povo que constrói, tem a palavra!
Castiguemos com o repúdio colectivo os governantes vassalos
por FARC-EP
Estamos em marcha pela dignidade da pátria. A batalha pela
independência não terminou, entrou na sua fase decisiva.
Não podemos proclamar-nos livres quando a política de
dominação de um império nos subjuga e nos submete com a
cumplicidade apátrida das oligarquias, e nos aprisiona na desumanidade
das cadeias da escravidão neoliberal.
Um país ocupado militarmente não é independente.
Não podemos declarar-nos soberanos quando a força militar de uma
potência estrangeira empesta com bases o território pátrio,
pisoteia a dignidade e a bandeira dos Estados Unidos tremula sobre a nossa
América.
Mas podemos sim proclamar-nos povo em luta pela liberdade!
Já estamos na batalha. Com a certeza de Bolívar, "todos os
povos do mundo que lidaram pela liberdade exterminaram por fim seus
tiranos". A justa causa dos povos não pode ser derrotada. A espada
de batalha do Libertador, agora nas mãos do povo, nos abrirá os
caminhos da esperança e triunfará na contenda da
emancipação definitiva.
Desfraldemos hoje a auriflama tricolor do bicentenário como
símbolo de luta e homenagem aos libertadores que sonharam a Grande
Nação de Repúblicas, escudo do nosso destino, aos que nos
deram pátria pensando na humanidade e bateram-se nos campos de batalha
para dignificar o homem e a mulher americanos.
Como há duzentos anos "em Bolívar está a
emancipação". Esta certeza espargida sobre o céu da
América pelo prócer Camilo Torres deve ser a divisa da nossa
campanha na alvorada do Socialismo e Pátria Grande que ilumina o
continente e a América insular. A colheita da semeadura amorosa dos
libertadores, concebida para os povos, não pode ser usurpada nem um
minuto mais pelos herdeiros de Santander e sua perfídia; deve passar ao
usufruto dos seus destinatários originais. O sangue dos libertadores
não adubou os campos de batalha para tornar mais ricos os já
ricos nem para facilitar novas cadeias coloniais e sim para redimir o soberano,
que é o povo.
Prestemos tributo nesta efeméride ao inca Tupac Amaru, ao comuneiro
José Antonio Galán, ao negro José Leonardo Chirinos e a
todos os esquartejados pela opressão criminosa da coroa espanhola. Honra
à jovem Policarpa Salavarrieta, arcabuzada pelos terroristas pacificados
encabeçados pelo general espanhol Pablo Morillo. Glória eterna a
Francisco José de Caldas, Camilo Torres Tenorio, a Francisco Carbonel e
a todos aqueles que, supliciados nos patíbulos, nos mostraram com o seu
exemplo o caminho da liberdade. Aos precursores da nossa independência,
Miranda, Nariño e Espejo, nosso reconhecimento eterno. Temos que
desenterrá-los, retirá-los das fossas do esquecimento nas quais
os confinaram a mentirosa historiografia dos que desviaram o rumo da
pátria, para que continuem na batalha.
Ainda ressoava o eco da vitória de Ayacunho quando estalou a
contra-revolução na ambição sem peias da oligarquia
crioula pelo poder político ilimitado. Ela encontrou na Doutrina Monroe
intriga e alento permanente para dividir o território e
despedaçar a obra legislativa bolivariana que pretendia dignificar o
povo fazendo prevalecer o interesse comum sobre o particular.
Tal como o havia prognosticado o Libertador, não tardaram em buscar um
novo amo. Combateram a concepção bolivariana da unidade de povos
numa Grande Nação, apoiados no sofisma da Doutrina Monroe. Ela
foi o seu acicate para assaltar o poder e alcançar o seu
miserável sonho de substituir os vice-reis na opressão. Essa
doutrina era o disfarce da avareza do Destino Manifesto anglo-saxão, que
jamais pensou enfrentar a armada colonial britânica nem a Santa
Aliança que projectava restaurar na América o predomínio
do trono espanhol e sim anexar repúblicas, saquear recursos e submeter
politicamente.
Traíram a grandeza e trocaram a possibilidade do surgimento de um novo
poder continental, que fosse equilíbrio do universo, esperança da
humanidade, pelo ajoelhamento e a submissão a uma potência
estrangeira. Só lhes interessava assaltar o poder político com a
ajuda externa para acrescentar as suas fortunas pessoais e pô-las a salvo
da revolução social. Dóceis ao seu novo amo,
desmobilizaram, por conveniência recíproca, o exército
libertador, único garante da independência e das conquistas
sociais, forças dissuasiva ao mesmo tempo das ambições
neocoloniais do governo de Washington.
Os cobiçosos e agressivos líderes do Norte, inspirados sempre no
cálculo aritmético, possuídos pela ambição
de erigir a sua prosperidade sobre a base do espólio dos povos do Sul,
não podiam tolerar a concretização do plano
estratégico de Bolívar no Congresso do Panamá que
contemplava a formação de uma liga perpétua das
nações antes colónias espanholas, presidida por uma
autoridade política permanente, com um exército unificado
concebido para a defesa e para a campanha de libertação das ilhas
de Cuba e Porto Rico, consideradas por Washington como apêndices do seu
espaço continental. Mortificava-os a ideia do Libertador de tornar
efectiva a cidadania hispano-americana entre povos irmãos, o
estabelecimento de um pode político inimigo da escravidão e,
sobretudo, o propósito de impulsionar um regime de comércio
preferencial que fizesse prevalecer a cláusula de nação
mais favorecida para as repúblicas irmãs coligadas.
Todas estas medidas pensadas pelo Libertador Simón Bolívar para
preservar a independência e a dignidade das nações
hispano-americanas interpunham-se como fortificação
inexpugnável frente às insólitas pretensões do
Destino Manifesto, embuste inventado pelos fundadores do império para
auto-legitimar a espoliação.
Por isso transmitiram aos seus ministros na Colômbia, México e
Peru a instrução perversa de estimular as rivalidades entre
nossas repúblicas, o espírito chauvinista, desencadear a
espionagem, a conspiração e a intriga, minar o prestígio
do Libertador e por isso Bolívar é alvo dos seus ataques
furibundos.
Eliminar a figura política do Libertador, sua poderosa influência
na América Latina, foi a sua obsessão até causar a sua
morte física e o eclipse transitório do seu projecto
político e social.
Todas as desgraças e misérias da Nossa América têm
essa origem. "Os Estados Unidos parecem destinados pela providência
a praguejar a América de misérias em nome da Liberdade",
havia profetizado Simón Bolívar.
A revolução ficou truncada, inconclusa desde 1830 pela
acção predadora da matilha de excludentes crioulos açulada
e comandada pelo governo de Washington.
"Toda revolução dizia o Libertador tem
três etapas: a guerreira, a reformadora e a de organização.
A primeira etapa pertence ao passado; foi obra dos soldados. A segunda
fizemo-la com o Congresso de Cúcuta e o governo de Bogotá. A
terceira, a de organização, vou abordá-la no
Panamá".
Este é exactamente o ponto de partida para retomar a obra da
independência e da revolução. A 200 anos de iniciada a
gesta independentista o projecto de Bolívar continua a estar
assombrosamente válido, como se houvesse sido concebido para os tempos
de hoje. O povo que pode, o povo que constrói, tem a palavra. E agora
Bolívar é o próprio povo a empunhar a sua espada com a
irredutível determinação de lutar pela
concretização do seu grande sonho.
Mas só o grito de independência não é suficiente;
ficou demonstrado na explosão simultânea de gritos que
estremeceram o continente Sul, afogados rapidamente pelas sanguinárias
forças punitivas da coroa. Nenhum povo pode alcançar a sua
liberdade se não tiver uma força própria. Desta vez o novo
grito de independência deve ser o grito de todos, o grito dos
excluídos reforçado com a mobilização resoluta, com
a luta multiforme, com as armas da unidade, da inteligência e da
força. É a hora dos povos. Foram eles que combateram e combatem,
os que contribuíram e contribuirão com milhares de heróis
estelares e anónimos. Foi o povo a força viva do exército
bolivariano que derrotou o regime colonial na América do Sul e
será protagonista do triunfo inevitável da
revolução política e social.
Há uma espiral que ascende rumo à liberdade. A luta dos patriotas
do século XIX tem um fio condutor, uma articulação, com a
dos patriotas do século XXI. Aqueles desenvolveram a sua luta num
agitado contexto de crise do mundo colonial. Consolidava-se, sim, o sistema
capitalista com o saqueio e a escravidão de povos, mas ao mesmo tempo a
invasão napoleónica da Espanha estimulava na América
hispânica a ruptura radical com o regime colonial. A luta dos patriotas
do século XXI pela independência definitiva não só
está ligada à derrota do sistema capitalista e da
dominação imperial como exige a superação desse
sistema decadente e a inauguração de uma nova era justiceira: a
do socialismo e da Pátria Grande. A actual crise estrutural do
capitalismo é o toque de clarim que anuncia ao povo que chegou o momento
de lançar-se à batalha definitiva pela emancipação.
A preocupação de Washington é Simón Bolívar
ainda vivo e palpitante na ânsia justiceira dos povos, a vigência
do seu pensamento, do seu projecto político e social, o reencontro dos
excluídos com a história verdadeira que lhe diz que foram eles,
sua dignidade, o objecto principal do projecto originário de
nação.
Como vislumbram na consciência dos povos um obstáculo à
espoliação, recorrem à força e à
instalação do poderio da sua tecnologia militar para negar pela
violência ou a dissuasão o que exigem o sentido comum e a
justiça. Não nascemos para sermos vassalos de ninguém, nem
pátio traseiro de nenhuma potência. A América do Sul
pertence-nos porque nascemos nela. Temos direito à dignidade humana e a
construir o modelo de sociedade que faça a nossa felicidade.
Que importa que os Estados Unidos instalem estrategicamente suas bases
militares no Caribe e no continente se estamos resolvidos a ser livres? Como
diria Bolívar na efervescência independentista da Sociedade
Patriótica: "ponhamos sem temor a pedra fundamental da liberdade
sul-americana; vacilar é sucumbir".
Oponhamos um escudo de dignidade latino-americana e caribenha às
incessantes agressões e desrespeitos do monstro do Norte, forjado este
escudo no mais duro e resistente aço da unidade. "Porque a
divisão é o que nos está matando", devemos
destruí-la. A dispersão e a ausência de unidade foram o que
interpôs o tremendo abismo que nos separa do nosso destino de Grande
Nação, de potência de humanidade e liberdade. Rompamos as
cadeias mentais e culturais que agrilhoam a consciência colectiva. Nosso
dever é não ouvir o escravizante canto de sereia do
império e escutar a palavra amorosa do pai e Libertador, que nos diz:
"unidos seremos fortes e mereceremos respeito; divididos e isolados,
pereceremos". A unidade é a nossa força e a nossa
esperança.
Recusemos com decoro pátrio as bases e instalações
operativas da avançada do exército dos Estados Unidos na
Colômbia. Castiguemos com o repúdio colectivo os governantes
vassalos, de colónia, que permitiram o ultraje e que cederam o
território como base de agressão ianque contra os povos do
continente; os apátridas que ajoelharam durante 200 anos a nossa
dignidade perante a águia imperial e que cravaram a adaga da
política neoliberal e do Fundo Monetário Internacional no
coração da Colômbia hemisférica; os desavergonhados
peões do império que prestam seu sentimento escravo para atalhar
em nome de Washington a incontível onda bolivariana que percorre o
continente.
A marcha patriótica bicentenária está em movimento. Como
dizia Bolívar: "o impulso da revolução está
dado, já nada o pode conter (...) O exemplo da liberdade é
sedutor, e o da liberdade interna é imperioso e arrebatador (...)
Devemos triunfar pelo caminho da revolução e não por outro
(...) A lei da repartição de bens é para toda
Colômbia".
A mobilização de povo começou. Já estamos na
batalha. Com a espada do Grande Herói triunfará a
independência definitiva, a Pátria Grande e o Socialismo.
Secretariado do Estado-Maior Central das FARC-EP
Montanhas da Colômbia, 15 de Julho de 2010
Ano bicentenário do grito de independência
O original encontra-se em
www.resumenlatinoamericano.org
, Nº 2236
Este comunicado encontra-se em
http://resistir.info/
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