Aos militares com honra
Fazemos um fraternal e patriótico apelo aos militares com honra para que,
junto ao nosso povo, formemos um só feixe que convirja numa guerra
pátria para defender nossa soberania e dignidade latino-americana,
enlodada até o tutano da infâmia, do sangue, da
corrupção e do servilismo pelo presidente Álvaro Uribe
Vélez. Este, sem sequer ruborizar-se, porque carece de dignidade,
aceitou a instalação pelo Império de sete bases militares
na Colômbia, as quais serão como uma adaga envenenada enterrada no
corpo da Pátria e sua ponta alcançará o próprio
coração da América Latina. O seu único objectivo
é impedir o processo democrático e integracionista dos nossos
povos que sob a luz da ALBA
[1]
continuaram o inconcluso projecto libertário deixado inacabado pelo
Libertador Simón Bolívar.
Apelamos à sua honra porque sabemos que esta é a primeira virtude
do militar. A honra é o que faz que se sofra com estoicismo espartano e
sem desespero todas as vicissitudes que nos apresenta a guerra. Ela é o
que nos impulsiona a entregar a vida no campo de batalha sem nenhum
cálculo diferente do bem da pátria. Entendendo por pátria
o território da Nação com a sua biodiversidade, riquezas
naturais, população e cultura e não os bens,
interesses e livros de cheques dos Santodomingo, dos Ardilla Lulle, os
Sarmiento Angulo e chega de contar...
Sabemos que na Instituição Militar, para sorte da Colômbia
e orgulho da América Latina, ainda há não poucos homens
que preservam imaculado a sagrada honra militar e por isso podem com altivez
olhar de frente seus concidadãos e estreitar a mão dos mesmos,
porque não a têm manchada de sangue com os crimes de lesa
humanidade dos mal chamados "falsos positivos", que evidenciam uma
profunda decomposição moral tanto dos ordenadores como dos
executores, nem têm a consciência mofada pela degradante
corrupção que a cada dia se propaga mais neste governo de
máfia, paramilitarismo e crime, onde os que se consideram
personificadores da soberania são traidores infames que não
têm sequer o prestígio da legalidade, porque seus actos, inclusive
suas vidas, foram toda uma fraude.
Senhores oficiais e sub-oficiais: Quando o general Joaquín Matallana
quiz entrar no enclave estado-unidense de Loma Linda (Meta), um oficial gringo
de terceira categoria impediu-o com arrogância. Ferido na sua honra o
general colombiano dirigiu-se ao Presidente da República para
manifestar-lhe o seu infinito mal-estar pelo desplante desrespeitoso.
"Não posso fazer nada", respondeu-lhe. Era um presidente
autista, sem noção de pátria, acostumado a ruminar na
cocheira ianque dos lacaios. Matallana, homem de pundonor militar, apresentou
então a sua renúncia irrevogável, afirmando com energia
que na Colômbia não pode haver território algum ocupado por
forças estrangeiras e muito menos vedado a um General da
República. Uns anos depois, reunido em Casa Verde com os comandantes
guerrilheiros Manuel Marulanda Vélez e Jacobo Arenas, o altivo general
prometeu-lhes com ênfase: contem comigo se algum dia o país for
invadido pelos gringos. Que qualidade humana e militar a do nosso digno
adversário na guerra de Marquetalia!
Essa é a honra que deve inflamar o peito de um militar que
verdadeiramente sinta a pátria por dentro.
O longínquo incidente de Loma Linda trouxe à nossa memória
a recente afronta de militares gringos contra a guarda de honra que aguardava o
presidente Bush junto à escada do avião, na sua escala em
Bogotá. Para assombro do país, os gorilas da segurança de
Bush requisitaram os militares colombianos e inspeccionaram as suas armas, sem
que ninguém dissesse nada. Nenhum protesto; só o silêncio
servil dos altos comandos e do presidente. Como foi ultrajado nessa
ocasião o nosso decoro! A decisão de Uribe de permitir a
instalação de sete bases militares dos Estados Unidos em
território colombiano é um acto de alta traição
à pátria latino-americana. Ceder o território como base de
agressão contra países irmãos, contra os próprios
co-nacionais, e como ponto de consolidação de uma
estratégia de predomínio continental, deve encher de vergonha a
alma dos colombianos. Não há argumento mais irrisório e
cínico que o de Uribe ao explicar que, neste caso, não se
configura perda de soberania porque os militares colombianos estariam no
comando de tais bases. O que ocorre na base aérea de Três
Esquinas, ou em Barrancón, é uma mentira de
proporções faraónicas. Ali comandam os gringos. Os
oficiais colombianos, como ocorria em Loma Linda, nem sequer poderão
aproximar-se das barracas e instalações onde se alojam os
militares norte-americanos. A "soberania compartilhada", à
qual de maneira insólita alude Uribe, é um sofisma para tontos,
porque nunca pode ser soberano um país ocupado por tropas estrangeiras.
A humilhação de ver oficiais colombianos subordinados a oficiais
do Comando Sul do exército dos Estados Unidos não deve ser
tolerada onde houver honra.
Quem entende esse engendro presidencial de que os militares gringos
terão imunidade, mas não impunidade? Talvez Uribe creia que os
colombianos são uma manada de ignorantes aturdidos.
Senhores oficiais e sub-oficiais: frente às projecções
neocoloniais do governo de Washington devemos assumir a mesma atitude
insubornável e patriótica do Libertador Simón
Bolívar, que dizia: "Abomino essa canalha de tal modo que
não queria que se dissesse que um colombiano nada fazia como eles... Os
Estados Unidos são os piores e são os mais fortes ao mesmo
tempo... Formado uma vez o pacto com o forte, já é eterna a
obrigação do débil". Ao que devemos dar prioridade
é à busca da unidade de nossos povos. Retomar o projecto de
Grande Nação de Repúblicas que dominava o sonho do
Libertador, como escudo do nosso destino. Na história da Nossa
América, destaca-se o anti-imperialismo de militares patrióticos
como o general Omar Torrijos do Panamá, o coronel Francisco
Caamaño da Rep. Dominicana, o general Velasco Alvarado do Peru, Prestes
no Brasil e Arbens na Guatemala, entre outros, que pela sua atitude ganharam o
afecto dos seus povos.
Aqui devemos forjar a resistência patriótica, coordenando
esforços com as organizações políticas e sociais do
país, para fazer prevalecer a soberania e a dignidade. Exército
patriota, guerrilha bolivariana e povo mobilizado, são os únicos
que podem travar o voo ameaçador da água da doutrina de Monroe
sobre os céus da Nossa América. Façamos realidade o
sentimento puro do general Matallana de fazer respeitar a pátria, unidos
como deve ser. Ontem o honroso adversário nos dizia: contem comigo; hoje
lhes dizemos, contem connosco, não só para defender a soberania
pátria como para construir uma Colômbia Nova, se se atrevem.
Saudação cordial, Compatriotas,
Secretariado do Estado Maior Central das FARC-EP
[1]
Alternativa Bolivariana para as Américas
O original encontra-se em
www.resumenlatinoamericano.org
, nº 2110
Este apelo encontra-se em
http://resistir.info/
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