A ciência do clima: Observações versus modelos

por Richard K. Moore

 
Se a um homem for apresentado um fato que vai contra seus instintos, ele o examinará atentamente e, a menos que a evidência seja avassaladora, ele se recusará a acreditar nele. Mas se, por outro lado, lhe for apresentado alguma razão para atuar de acordo com seus instintos, ele o aceitará mesmo com evidências mínimas.
– Bertrand Russell, Caminhos para a Liberdade, 1918.

Ciência e Modelos

A verdadeira ciência começa com observações e medições. Isso leva a teorias e modelos, que por sua vez levam a predições. As predições podem então ser testadas por medições e observações adicionais, que podem validar ou invalidar as teorias e modelos, ou serem usadas para refiná-los.

Esse é o paradigma aceito por todos os cientistas. Mas, sendo cientistas pessoas, tipicamente numa comunidade acadêmica de pesquisa, dentro de uma sociedade política, muita coisa pode acontecer entre o copo e a boca na prática da ciência. Há os problemas da obtenção de fundos, da pressão dos pares e das considerações sobre a carreira, dos dogmas políticos dominantes, etc.

No caso dos modelos, há uma questão especial que é habitualmente levantada. É a questão de que pesquisadores tendem a ficar ligados aos seus modelos, tanto psicológica quanto profissionalmente. Quando novas observações contradizem o modelo, os pesquisadores tendem a distorcer seus modelos para se ajustar aos novos dados, ao invés de abandonar seu modelo e procurar um novo. Ou podem até ignorar as novas observações, e simplesmente declarar que seu modelo é correto e as observações devem estar erradas.

Um clássico exemplo desse problema pode ser visto nos modelos do universo. O modelo ptolomaico supunha que a Terra era o centro do universo, e que o universo girava em torno desse centro. Intuitivamente, esse modelo faz muito sentido. Na Terra, parece que estamos estacionários. E vemos o Sol e as estrelas se movendo no céu. "Obviamente", o universo gira em torno da Terra.

Todavia, para que esse modelo funcionasse no caso na Lua e dos planetas, era necessário introduzir o mecanismo arbitrário dos epiciclos. Se o universo realmente gira em torno da Terra, os epiciclos devem existir, mas não há nenhuma outra razão para se acreditar em epiciclos. Quando surgiram Galileu e Copérnico, apresentaram um modelo muito mais simples, explicando todos os movimentos sem necessidade de epiciclos. Mas a Terra deixaria de ser o centro.
Neste caso, não eram tanto os cientistas que se apegassem ao velho modelo, mas a Igreja, que gostava do modelo porque ele se ajustava à sua interpretação das Escrituras. Todos nós ouvimos a história do bispo que recusou olhar pelo telescópio, para que pudesse ignorar as novas observações e permanecer fiel ao novo modelo. Galileu foi forçado a se retratar, e Copérnico, que não se retrataria, foi condenado à morte [1] . Assim, a interferência política pode atrasar o progresso da ciência e arruinar carreiras.

Os modelos climáticos e a opinião pública

No caso dos modelos climáticos que estão sendo usados pelo IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change), a suposição é de que o CO2 é um controlador fundamental do clima. Há uma base intuitiva para essa suposição, dado que o CO2 é um gás de efeito estufa, e tanto o CO2 como a temperatura tem-se elevado substancialmente no último século. Além disso, observou-se uma forte correlação entre os níveis de CO2 e a temperatura em registros de longo prazo revelados por amostras de gelo. Mais ainda, a queima de combustíveis fósseis continua a poluir a atmosfera (e os oceanos) com níveis cada vez mais altos de CO2. Isso levou à hipótese de que a temperatura pode se elevar abruptamente, colocando em perigo a vida no planeta. Tudo isso foi apresentado de forma bastante dramática por Al Gore em seu famoso documentário.

Todavia, assim como com o modelo ptolomaico, há vários problemas com a suposição de que o CO2 condiciona o clima, e com a predição de aquecimento perigoso. Em primeiro lugar, os registros de longo prazo mostram que primeiro a temperatura sofreu mudanças históricas, seguidas muito depois por alterações nos níveis de CO2. Outra coisa é que tem havido períodos de resfriamento significativo em anos recentes, mesmo enquanto os níveis de CO2 continuaram a se elevar dramaticamente. Além disso, os registros de longo prazo mostram que a temperatura foi no passado muito mais alta que hoje – inclusive há apenas mil anos (o Período de Aquecimento Medieval) – e nenhum desastre bizarro, tal como a extinção de ursos polares ou ciclos de retroalimentação positiva (runaway feedback loops) [2] , ocorreu em conseqüência disso.

Assim como com o modelo ptolomaico, há facções politicamente poderosas que encamparam para seus próprios propósitos a teoria do aquecimento global danoso de origem antropogênica. Mais acerca de seus propósitos mais adiante. Por enquanto, basta dizer que generosos fundos foram fornecidos para os cientistas da CRU (Climatic Research Unit), que ficaram mais que dispostos a "refinar" o modelo para lidar com a "verdade inconveniente" dos problemas do modelo - mesmo que isso requeresse coisas como "esconder o declínio".

E essas facções políticas, que por acaso estavam também envolvidas com as Nações Unidas e o IPCC, e que estavam prontas a ganhar trilhões com o cap-and-trade (comércio de emissões) [3] , e que conquistaram a maioria dos media ocidental, asseguraram que os media martelassem continuamente a mensagem de que o aquecimento global antropogênico é uma ameaça para toda a vida na Terra.

Tudo isso se encaixou nos objetivos do movimento ambiental, que por razões muito boas está preocupado com a poluição de toda tipo, e com a superdependência de combustíveis fósseis não-renováveis da sociedade. Com os estudos produzidos pela "coligação de cientistas engajados", mais a "autoridade" do IPCC, mais as mensagens "objetivas" da mídia, mais o entusiasmo inocente do movimento ambiental, uma 'perfeita tempestade' na opinião pública global transformou a causa da 'cessação das emissões de carbono' no equivalente de uma religião.

Cientistas que persistem em analisar os problemas do modelo são rotulados pelos ativistas ambientais e pela mídia como 'negacionistas'; sua integridade é questionada, e seus estudos encontram dificuldade para ser aceitos por jornais de referência em ciência climática. São tratados como heréticos por essa moderna religião, e não lhes é dada uma oportunidade pública de defesa.

Todavia, problemas no modelo não o invalidam automaticamente, nem o faz toda essa interferência não-científica – mesmo se essas coisas justificam o ceticismo a respeito dos clamores do IPCC, e dos modelos do CRU sobre o qual esses clamores se baseiam. Vamos fazer uma tentativa para investigar a real ciência do assunto por nós mesmos.

Questão nº 1: Existe realmente um problema de aquecimento global alarmante, qualquer que seja a causa?

Gráfico 1. O registro histórico: 2.000 AC – 1900 DC

Verifiquemos as medições reais de temperatura no longo prazo nos últimos 4000 anos – baseados dos dados de amostras de gelo. Descarreguei esses dados do website oficial da NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration - http://www.ncdc.noaa.gov ), e elaborei eu mesmo os gráficos seguintes. Dados de amostras de gelo são universalmente reconhecidos como um indicador de temperatura bastante confiável. De acordo com a NOAA, o erro é da ordem de 1%. Vamos olhar primeiro o Hemisfério Norte, a partir das amostras de gelo da Groenlândia:

Podemos ver que nos últimos 4000 anos houve uma série de picos de temperatura, cada um mais baixo que o precedente. Quase no final do gráfico, quando saímos da Pequena Era Glacial, um novo pico começa, chegando até 1900. Esse novo pico começa muito antes do CO2 antropogênico se tornar significativo, e é consistente com o padrão de picos decrescentes. Em 1900, a temperatura foi muito baixa se comparada às temperaturas desse período, e 3º C abaixo da máxima para o período. No geral, no Hemisfério Norte, as temperaturas apresentaram uma clara tendência descendente desde 1400 DC, quando ocorreu o máximo.

Gráfico 2. Em seguida, vamos verificar as temperaturas no Hemisfério Sul no mesmo período, com base nas amostras de gelo de Vostok:

Para o Hemisfério Sul vemos um padrão bastante diferente. Essa diferença provavelmente reflete o fato de que a maior parte da massa terrestre do planeta está no Hemisfério Norte, enquanto o Hemisfério Sul é dominado pelos oceanos, o que leva a dinâmicas climáticas diferentes. Ao invés de um declínio desde 1400 DC, vemos oscilações mais ou menos equilibradas ao redor de uma linha média básica para todo o período de 4000 anos. Em 1900, estávamos um pouco acima da média para o período.

Apesar dos padrões serem bem diferentes, nenhum deles justifica o alarme até 1900, com base na comparação com as temperaturas ao longo do período em cada hemisfério. 1900 é o ano em que terminam os dados das amostras de gelo, e é o início do século no qual os níveis de CO2 se tornam uma preocupação.

Esses 4000 anos, até 1900, incluem a maior parte da história da civilização. Durante todo esse período, os ursos polares não foram extintos, não houve feedback positivo ou vazamento de metano, as nações insulares não foram submersas, os glaciares da Groenlândia não derreteram, a agricultura não foi destruída, as correntes do golfo não foram interrompidas, etc. Em toda esta era, as temperaturas não cresceram o suficiente para causar o tipo de desastres preditos pelos modelos do IPCC/CRU.

Se esses desastres ocorrerão, e se o aquecimento será sua causa, então as temperaturas precisarão estar mais altas do que estiveram em qualquer momento desta era. No hemisfério norte, isso requereria uma elevação de pelo menos 3º C acima do nível de 1900. Vamos voltar nossa atenção agora para os registros de temperatura desde 1900, e focar o hemisfério norte.

1909-2010

Infelizmente, é difícil encontrar para o ultimo século registros de temperatura tão confiáveis como os dados das amostras de gelo. Muitas das estações de medição com base em termômetros estão em áreas que foram urbanizadas durante este período, o que levou a leituras de temperatura que são anormalmente altas. Não apenas isso, mas os meteorologistas tanto na Rússia como na Austrália têm denunciado que os climatologistas do CRU estão usando medidas muito seletivas de suas regiões, incluindo demasiadas destas estações urbanas.

Este é o tipo de 'ajuste' a que a frase 'esconda o declínio' se refere, nos infames e-mails vazados da CRU. Esses emails podem não ter revelado nenhuma evidência definitiva que possa derrubar os modelos, mas claramente indicam uma forte motivação para comprovar o argumento do perigoso aquecimento global antropogênico. Isso, mais a 'tempestade perfeita' de apoio generalizado para a teoria – tanto entre a comunidade científica em geral como entre o público em geral – torna difícil acreditar que os sumários publicados de temperaturas não são, até certo ponto, exagerados – particularmente no período mais recente, desde 1980, onde o dramático 'bastão de hockey' [4] desempenha um importante papel.

Felizmente, a partir de 1980 há dados confiáveis de satélite para temperaturas globais. O que vou fazer agora é usar esses sumários de temperatura de superfície para 1900-1980, e referenciar as informações por satélite para 1980-2010. Podemos juntar essas tendências aos dados da Groenlândia, para fazer alguma idéia de com quê se parece o aquecimento recente no contexto de longo prazo.

Gráfico 3. Para os registros de temperatura da superfície, vamos para o Goddard Institute for Space Studies da NASA, onde encontramos este gráfico ( http://data.giss.nasa.gov/gistemp/graphs/ ):

Usei o gráfico mais ao alto, o que mostra os maiores aumentos, e notei o aumento para cada década desde 1900 até 1980. Anexei esses valores aos dados da Groenlândia.

Então, uma coisa engraçada aconteceu na procura dos dados de satélites. Acabei encontrando o Marshall Space Flight Center da NASA, onde os estes dados deveriam estar disponíveis:

http://science.nasa.gov/newhome/headlines/essd06oct97_1.htm

Há um link lá, e mostro a URL referenciada abaixo dele aqui:

Get the latest on the Earth's Temperature from Space by clicking on the diagram!!

http://www.ghcc.msfc.nasa.gov/MSU/msusci.html

Você deve tentar acessar aquela URL. Quando cliquei nela, apareceu por um segundo um gráfico, rapidamente substituído por uma página em branco com a mensagem Not Found. Pode-se no máximo especular sobre o porquê dos dados não mais estarem disponíveis nesse site conhecido. Dadas as repercussões públicas negativas dos emails recentemente vazados, e a urgente necessidade de controlar os danos – como evidenciado pela remoção do chefe da CRU Philip Jones, e as rápidas desculpas de Monbiot [5] – é bem possível que se tenha ordenado a destruição dos dados por serem embaraçosos demais para a CRU. Por falar nisso, aqui está a última desculpa de Monbiot pelo modelo:

A onda de frio britânica não prova que a ciência climática está errada.

http://groups.yahoo.com/group/newslog/message/2664

E aqui está o que o Marshall Center diz na página onde o link para os gráficos de satélite não funcionam mais:

http://science.nasa.gov/newhome/headlines/essd06oct97_1.htm

"Diferentemente das temperaturas de superfície, as medições de temperatura global da atmosfera terrestre inferior obtida por satélites não revelam qualquer tendência definitiva de aquecimento nas últimas duas décadas. A ligeira tendência que está nos dados realmente parece ser de declínio. As maiores flutuações nos dados de temperatura por satélite não decorrem de qualquer atividade humana, mas de fenômenos naturais como as grandes erupções vulcânicas do Monte Pinatubo, e do El Nino. De modo que os programas que modelam o aquecimento global em computador dizem que a temperatura da atmosfera terrestre inferior deveria estar subindo acentuadamente, mas medições reais da temperatura da baixa atmosfera não revelam qualquer atividade pronunciada.

Em teoria, pode-se argumentar que os modelos de computador são precisos, e que as medições reais têm algum problema. Mas não é este o caso. Uma incrível quantidade de trabalho tem sido feita para assegurar que os dados de satélite são da melhor qualidade possível. Alegações recentes em contrário, por Hurrell e Trenberth, mostraram-se falsas por diversas razões, e foram descartadas na edição de 25 de setembro da Nature (página 342). As medições de temperatura a partir do espaço são verificadas por dois métodos diretos e independentes. O primeiro envolve medições reais locais da baixa atmosfera feitas por observações de balões meteorológicos ao redor do mundo. A segunda usa intercalibração e comparação entre experimentos idênticos em diferentes plataformas orbitais. O resultado é que as medidas de temperatura por satélite têm precisão de 0,03º C, quando comparadas a balões lançados de terra fazendo medições na mesma região da atmosfera ao mesmo tempo."

Claramente, com base na declaração acima, pode-se entender a razão pela qual o sumiço dos gráficos de satélite estariam na categoria de 'controle de danos', de modo a ajudar a proteger o modelo, o medo que inspira e os lucros de 3000 mil milhões de dólares que estão sendo antecipados no cap-and-trade. Em qualquer caso, não pude obter os dados, mas a declaração acima nos dá informação suficiente para completar nosso registro composto de temperaturas. Eu simplesmente acrescentarei um ligeiro declínio para o período 1980-2010, por exemplo 0,05º C.

Gráfico 4. Este é o quadro que obtemos colocando tudo isso junto:

Não estou de modo nenhum propondo isto como uma composição definitiva das temperaturas do Hemisfério Norte. Todavia, isto está baseado em medições reais, sem qualquer suposição sobre o que poderia ou não estar causando esses níveis de temperatura, e sem fazer qualquer ajuste aos dados. Apresento isso como "Um registro sensato das temperaturas do norte, versão 1.0".

A queda de 0,05º C que inseri nos dados de satélite mal é visível – é aquele pequenino risquinho bem no final, do tamanho e forma de uma apóstrofe invertida. E compreendo que esse sinalzinho de reversão de tendência pode muito bem ser só um acidente.

Não obstante, é intrigante notar que se este último pico está realmente tendendo para baixo agora, como os dados de satélite sugerem, isso se ajustaria perfeitamente ao padrão de longo prazo de picos declinantes. A partir desse padrão, esperaríamos uma reversão para já. Se você segurar uma régua na frente da tela, verá que quatro dos picos estão numa linha reta, e a distância entre cada um deles está muito próxima de exatos 1000 anos. Enquanto isso, a nevasca recorde e as baixas temperaturas que estão sendo experimentadas no Hemisfério Norte no momento parecem quase estar dizendo, "Acredite, pessoal, a reversão é real."

Na verdade, as pessoas que apóiam os modelos da CRU, como podemos ver no artigo de Monbiot referido acima, estão elas mesmas levando a sério a possibilidade de reversão, e estão alegando que se uma reversão estiver ocorrendo seria somente mais uma evidência dos perigos do aquecimento causado pelo CO2! Seu argumento do CO2 como causa, todavia, depende da suposição de que as temperaturas efetivamente se tenham elevado a um nível perigosamente alto. Se nosso registro sensato de temperaturas está pelo menos próximo da imagem real, a suposição está redondamente errada. Parecemos estar a temperaturas bastante baixas pelos padrões históricos, pelo menos no Hemisfério Norte.

A 'hipótese sensata' que tiro disso é que o clima continua com suas tendências de longo prazo, causadas sabe-se lá pelo quê, e os efeitos das nossas atividades humanas, por menos sábias que sejam, estão sendo sobrepujadas por forças naturais muito maiores. Isso não significa que seja uma boa idéia sair e comprar uma SUV, mas significa que podemos 'reduzir o carbono' com elegância e sensatez, reagindo aos problemas reais da poluição e do pico do petróleo ao invés de correr por aí como galinhas sem cabeça, tentando apressar uma resposta radical para uma emergência não existente e mal diagnosticada.

Questão 2: Já que o CO2 é conhecido como sendo um gás de efeito estufa, e seus níveis estão significativamente acima do que deveriam numa perspectiva histórica, por que o CO2 não está influenciando significativamente as tendências de temperatura?

De fato, uma resposta bastante plausível para esta pergunta foi apresentada por Roy Spencer, Ph.D., com base em algumas pesquisas bem recentes com o uso de satélites. Aqui estão suas reveladoras qualificações:

http://en.wikipedia.org/wiki/Roy_Spencer_(scientist)

Roy W. Spencer é um dos mais importantes cientistas pesquisadores na Universidade do Alabama em Huntsville, líder da equipe científica americana para o Advanced Microwave Scanning Radiometer (AMSR-E) (sobre o satélite Aqua da NASA). Ele foi cientista-senior de estudos climáticos no Marshall Space Flight Center da NASA em Huntsville, Alabama.

Ele descreve sua pesquisa numa apresentação disponível no Youtube:

http://www.youtube.com/watch?v=xos49g1sdzo&feature=channel

Na conversa, ele dá vários detalhes, que são bastante interessantes, mas é necessário se concentrar e ouvir cuidadosamente para acompanhar o ritmo e a profundidade da apresentação. Ele certamente parece saber sobre o que está falando. Permitam-me resumir os principais pontos da sua pesquisa:

Quando gases de efeito estufa causam aquecimento da superfície, ocorre uma resposta, uma resposta retroalimentadora, na forma de mudanças nos padrões de nuvens e precipitações. Os modelos do CRU relacionados com o clima assumem todos que a resposta retroalimentadora é positiva: qualquer incremento no aquecimento pelo efeito estufa será amplificado pelos efeitos do rebatimento no sistema climático. Esta suposição então leva a predições de "aquecimento global descontrolado".

Spencer se põe a analisar o que é realmente a resposta retroalimentadora, observando o que acontece no sistema nuvens-precipitação quando está ocorrendo aquecimento da superfície. O que ele descobre, direcionando apropriadamente os sensores do satélite, é que a resposta retroalimentadora é negativa e não positiva. Em particular, descobre que a formação de nuvens tipo cirro, relacionadas a tempestades, está inibida quando as temperaturas da superfície são altas. Os cirros são eles próprios um poderoso gás de efeito estufa, e esta redução na formação de cirros compensa o aumento no aquecimento causado por CO2.

Spencer explica o projeto de seu experimento e isso fez sentido para mim. Dada a importância do que suas descobertas sugerem, poderia fazer muito sentido que outros cientistas refizessem sua pesquisa, se não por outro motivo pelo menos para provar que as conclusões dele são incorretas. Porque se aquelas conclusões estiverem certas o argumento do aquecimento global descontrolado pode ser jogado fora.

Em sua fala no YouTube, ele menciona uma refutação ao seu trabalho que foi publicada, e diz que essa refutação foi detonada num recente artigo da Nature. Não descarreguei o artigo porque a Nature queria que me registrasse e pagasse por uma cópia. Odeio encorajar esse tipo de coisa, colocando uma barreira de dinheiro entre pessoas e informação que é importante para elas, e isso vindo de uma pesquisa que teve subvenção pública.

Enquanto isso, no popular website Sourcewatch, não encontramos nenhuma nota sobre refutações à sua pesquisa, mas nos disseram que Spencer escreve colunas para um website de livre mercado fundado pela Exxon. Também mencionam que ele fala em conferências organizadas pelo Instituto Heartland, que promove muitos princípios reacionários de livre mercado. Estão tentando desacreditar o trabalho de Spencer sobre bases irrelevantes, o que os gregos chamavam de argumento ad hominem. Do tipo "Se ele espanca sua mulher, sua ciência deve ser falha."

E é verdade sobre "bater na sua mulher" – Spencer parece ter uma filosofia pró-indústria com a qual eu absolutamente não concordo. Isso pode até ter sido parte da motivação para o empreendimento da sua última pesquisa, esperando dar munição para lobistas pró-indústria. Mas isso não comprova que sua pesquisa é falha ou que suas conclusões são inválidas. Seu trabalho deveria ser desafiado cientificamente, realizando-se estudos independentes do processo de feedback. Se os desafios estão restritos a ataques irrelevantes, isso se torna quase uma admissão de que seus resultados, que são ameaçadores para a 'comunidade climática', não pode ser refutado. Ele não esconde seus dados ou seu código.

Qual é a verdadeira agenda das facções politicamente poderosas que estão promovendo o alarmismo do aquecimento global?

Uma coisa que precisamos ter sempre em mente é que as pessoas no topo da pirâmide de poder em nossa sociedade têm acesso às melhores informações científicas. Elas controlam dúzias, possivelmente centenas, de equipes de alto nível, são capazes de contratar as melhores cabeças, e realizar todo tipo de pesquisas das quais nem ouvimos falar. Têm acesso a todos os segredos militares e pesquisas da CIA, e grande influência sobre que pesquisas estão sendo feitas pelas equipes científicas, os militares e as universidades.

Só porque promovem esta falsa ciência pelo seu valor propagandístico, isso não significa que eles próprios acreditem nela. Estou seguro de que sabem qual é a verdadeira história do aquecimento global, e sugiro que seu entendimento é similar aos registros sensatos que apresentei. As ações que eles estão promovendo se alinham totalmente a essa sugestão.

O cap-and-trade, por exemplo, não reduzirá as emissões de carbono. É na realidade um mecanismo que permite que as emissões continuem, enquanto se finge que estão caindo – por meio de um falso modelo de mercado. Você sabe o que é um falso modelo de mercado. É como Reagan e Thatcher nos dizendo que taxas de juros menores levam uma maior arrecadação do governo devido ao aumento da atividade comercial. É como a globalização, dizendo-nos que abrir os mercados "desencalhará as canoas" e nos tornará prósperos a todos. É como a Wall Street, dizendo-nos que derivativos hipotecários são um bom negócio, e devemos comprá-los. É como a Wall Street nos dizendo que os socorros financeiros irão restabelecer a economia, e que a recessão terminou.

O cap-and-trade é uma solução muito boa para um problema, mas é um problema diferente, de maneira alguma o problema climático. O cap-and-trade resolve o seguinte problema para nossas facções politicamente poderosas: Como podemos gerir o abastecimento de petróleo remanescente frente ao pico petrolífero, e como podemos maximizar nossos lucros com as reservas remanescentes?

Pense sobre isso. Eles decidem quem recebe os créditos iniciais do livre cap-and-trade. Eles gerenciam o próprio mercado de trocas, e podem manipular o mercado, criar produtos derivativos, vender futuros, etc, etc. Eles podem causar deflação ou inflação de créditos de carbono da mesma maneira que podem causar deflação ou inflação monetária. Eles decidem quais corporações recebem dicas antecipadas para que possam maximizar suas emissões ao mesmo tempo que minimizam seus custos de compensação. Eles decidem quem recebe empréstimos para pagar as compensações, e a qual taxa de juros. Eles decidem qual fração do petróleo vai para o norte global e para o sul global. Eles têm 'seu homem' nas agências reguladoras para certificar a validade dos projetos de compensação. E eles ganham dinheiro de todo jeito microgerenciando a distribuição das reservas remanescentes.

E ainda há as taxas de carbono. Assim como as taxas de juro, você e eu pagaremos integralmente a nossa parte do deslocamento diário e do aquecimento de nossas casas, enquanto os grandes emissores corporativos de CO2 terão todo tipo de brechas, e portos no exterior, prontos para eles. Assim como a teoria do Federal Reserve não nos deu uma próspera Main Street [6] apesar de suas promessas, a teoria do comércio de carbono não nos dará uma transição feliz para um mundo pós-carbono.

Ao invés de construir os sistemas de transporte energeticamente eficientes de que precisamos, por exemplo, eles nos venderão biocombustíveis e carros elétricos, enquanto a maioria da energia na sociedade em geral continuará a vir de combustíveis fósseis. Nossa experiência do pico do petróleo será um colapso da infraestrutura, ao invés de uma sensata transição pós-carbono. Assim como nossa experiência recente no pico do crescimento econômico foi um colapso financeiro, ao invés de uma transição sensata para um paradigma de sustentabilidade econômica.

Mesmo que o colapso, sofrimento e encolhimento das populações marginais sejam desagradáveis para nós, isso dará às nossas 'facções poderosas' uma tela branca para que construam a nova ordem mundial, qualquer que ela seja. E nós desesperadamente concordaremos com qualquer esquema que pareça poder colocar comida de volta em nossas mesas.

08/Janeiro/2010

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N.T.
[1] Na realidade, Copernico, cujo trabalho precedeu o de Galileu em quase um século, foi pouco criticado pela Igreja, que apenas mais tarde encarou o heliocentrismo como ameaça política.
[2] Runaway feedback loops: ciclos de retroalimentação positiva ocorrem quando a informação de saída que novamente alimenta o processo tende a acelerá-lo até que o ciclo saia de controle.
[3] O Comércio Internacional de Emissões (CIE) ou Comércio de Emissões é um mecanismo de flexibilização previsto no artigo 17 do Protocolo de Quioto pelo qual os países compromissados com a redução de emissões de gases do efeito estufa podem negociar o excedente das metas de emissões entre si, também conhecido como cap-and-trade.
[4] A expressão hockey stick (bastão de hóquei) é usada para descrever o padrão do gráfico de temperaturas, relativamente plano até 1900 e formando a partir daí a forma ascendente do bastão de hóquei seguida por uma elevação abrupta, correspondente à lâmina final.
[5] George Monbiot, escritor inglês, conhecido por seu ativismo ambiental e político.
[6] Significando a economia popular, em oposição à Wall Street.


O original encontra-se em http://globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=16865 . Tradução de RMP.

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
22/Jan/10