A histeria do aquecimento global
Ar quente & dinheiro frio os comerciantes do medo
por Alexander Cockburn
[*]
Nenhuma resposta é mais previsível do que aquelas esganiçadas
pelos que vendem o medo do efeito de estufa: dizem eles que qualquer um que
questione as suas afirmações está na folha de pagamento
das companhias de energia. Uma segunda réplica, igualmente
previsível, contrasta o número sempre diminuto de
agnósticos com as crescentes legiões de cientistas agora
renascidos para a "verdade" de que o CO
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antropogénico
é responsável pela tendência para o aquecimento da Terra, a
fusão das calotas polares, o alteamento dos mares, o aumento dos
furacões, o declínio da fertilidade do pinguim e outros horrores
demasiado numerosos para serem mencionados.
Realmente, as companhias de energia adaptaram-se há muito às
fantasias em voga, recitando devidamente todo o catecismo acerca da
neutralidade do carbono, descontraidamente e sem rir referem-se ao encantador
endosso de Tom Friedman ao "carvão limpo", reposicionando-se a
si próprias como pioneiras interessadíssimas na
investigação de virtuosos combustíveis alternativos, a
estabelecerem-se confortavelmente em novos lares, tais como o "Energy
Biosciences Institute" da British Petroleum no Campus de Berkeley da
Universidade da Califórnia, primeiro fruto de um acordo de US$ 500
milhões entre aquela companhia petrolífera e um campus cuja
família fundadora, os Hearsts, afinal de contas fez a
acumulação da sua fortuna no negócio mineiro.
De facto, quando se chega ao patrocínio corporativo de teorias insanas
acerca da razão porque o mundo está a ficar mais quente, a
conspiração de interesses mais bem documentada é entre os
comerciantes do medo do aquecimento global e a indústria nuclear, agora
largamente possuída por companhias de petróleo, cujas
perspectivas vinte anos atrás pareciam negras, no meio de manchetes
acerca das precipitações de Chernobyl, centrais a envelhecerem e
depósitos de resíduos nucleares com fugas até à
eternidade. Os que administram a fabricação do medo do efeito de
estufa estão bem conscientes de que a única saída para a
crise imaginária que têm estado a patrocinar é
através de uma porta com a inscrição "energia
nuclear", com uma porta de serviço lateral com a etiqueta
"carvão limpo". James Lovelock, o Rasputin do Gaia, disse que
"A energia nuclear tem uma importante contribuição a
dar". (Àqueles que se sobressaltaram com as palavras "crise
imaginária", remeto ao meu último artigo acerca deste
tópico, onde enfatizo que ainda há zero evidência
empírica de que a produção de CO
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antropogénico
esteja a dar qualquer contribuição mensurável à
actual tendência para o aquecimento do mundo. Os comerciantes do medo do
efeito de estufa confiam inteiramente em modelos computacionais não
verificados, brutalmente super-simplificados, para apontar o dedo à
contribuição pecaminosa da espécie humana).
O histérico mais bem conhecido do mundo, auto-promotor do tópico
da responsabilidade física e moral do homem pelo aquecimento global,
é Al Gore, um sócio da indústria nuclear e dos
barões do carvão desde o primeiro dia em que entrou no Congresso
encarregado do sagrado dever de proteger os interesses orçamentais e
regulamentares do Tennessee Valley Authority e do Oakridge National Lab. As
"task forces" da Casa Branca sobre alterações
climáticas nos anos Clinton-Gore foram sempre bem despachadas por Gore e
o seu conselheiro John Holdren com gente da indústria nuclear como John
Papay da Bechtel.
Como cidadão de Washington desde os seus verdes anos, Gore sempre
entendeu que a ameaça da inflação é a ferramenta
mais segura para engordar orçamentos e incitar multidões de
eleitores. Em meados da década de noventa ele posicionou-se como chefe
da aliança estratégica e táctica formada em torno do
"desafio das alterações climáticas", que agora
avançava para ocupar o lugar do comunismo no teatro essencial a toda a
vida política. Na verdade, foi no
New Republic,
um incansável agente publicitário da ameaça
soviética em fins da década de 70, que Gore anunciou em 1989 que
a guerra ao aquecimento global não poderia ser ganha sem uma
renovação dos valores espirituais.
A infantaria nesta aliança tem sido os privilegiados modeladores
climáticos e a sua Internacional, o Intergovernmental Panel on Climate
Change (IPCC) da ONU, cuja perícia científica colectiva é
reverentemente invocada por todos os devotos do catecismo dos fabricantes do
medo do Efeito de Estufa. Fora o facto de que o cemitério de erros
intelectuais está recheado com uma miríade de lápides de
"esmagador consenso científico", o IPCC tem o exército
habitual de funcionários e colectores de privilégios, e uns
pequenos salpicos de cientistas reais com a qualificação
primária de climatologistas ou físicos da atmosfera.
Identificar tanto os modeladores do clima financiados por governos como as suas
tropas de choque, os membros do IPCC, com rigor e objectividade
científica é tão irrealista quanto detectar tais atributos
num craniologista financiado por Lombroso que estuda a cabeça de um
assassino numa prisão do século XIX para criminosos insanos. Os
dedos e compassos dos craniologistas foram programados pelos habituais
incentivos de estipêndios, privilégios e ego profissional a fim de
descobrir sulcos, protuberâncias e depressões na caveira daquele
assassino, cada uma delas meticulosamente equacionada com uma
ingovernável paixão, um défice étnico ou um
desarranjo mental. A cabeça do indivíduo assassino tornou-se um
modelo universal, o particular promovido a uma teoria inatacável.
Lombroso e os seus seguidores pelo menos mediam cabeças. Mas tudo o que
Al Gore alguma vez precisou para promover a sua inatacável teoria do
aquecimento global feito pelo homem foi de um dia quente ou alguma chuva forte.
Viesse um Verão chuvoso (1995), um El Niño perfeitamente
rotineiro (1997) ou um incêndio florestal na Florida (1998) e lá
estava Gore para a foto oportunidade, com o dedo levantado a advertir da pioria
do aquecimento por vir. O ano de 1997 também encontrou Gore no Parque
Nacional de Glaciares, a apontar para o glaciar Grinnell e a dizer com
gravidade à imprensa que ele estava a fundir, o que na verdade tem
estado a acontecer desde o fim da Pequena Idade do Gelo, de 1450-1850 . Os
glaciares das latitudes médias expandem-se, assim como se
contraíram no Período do Aquecimento Medieval, mais quente do que
hoje e portanto tão vexatório para alarmistas do clima como
Michael Mann (agora um burocrata reinante do clima no IPCC) que eles o
extirparam dos seus gráficos de temperaturas históricas, tal como
um editor no tempo de Stalin recortou uma foto da equipa de antigos
bolcheviques para livrar-se de indesejáveis que haviam sido
anatematizados.
A teoria de um aquecimento global produzido pelo homem é alimentada por
previsões pseudo quantitativas de carreiristas do clima a
extraírem [dados] primariamente do grande mega-computador Modelos de
Circulação Geral (MCG), os quais incluem o National Center for
Atmospheric Research (NCAR), o Goddard Institute for Space Studies da NASA, o
Geophysical Fluid Dynamics Lab do Departamento do Comércio, um MCG
privado que costumava estar no estado de Oregon antes de a Universidade de
Illinois atrair a equipe para outro lugar. Há um outro em Livermore e
um na Inglaterra, em Hadley.
Estas burocracias da programação do modelo computacional manobram
muitos milhares de milhões de dólares e pretendem a sua
auto-preservação e reforços orçamentais tal como as
burocracias nucleares cognatas de Oakridge e Los Álamos.
É tão improvável que desenvolvam modelos refutando a
hipótese do aquecimento global induzido por humanos quanto o IPCC de
dizer que o tempo possivelmente está a ficar um pouco mais quente mas
que não há grande motivo para alarme e na verdade até
alguma razão para regozijo, uma vez que este aquecimento (cujas causas
naturais discuti naquele artigo recente) dão-nos uma
estação de plantio mais longa e CO2 acrescido, um poderoso
fertilizante de plantas. Bem vindo ao amadurecimento global.
Remontando ao princípio da década de 1970, em agências tais
como a Conferência sobre Comércio e Desenvolvimento
(Conference on
Trade and Development, UNCTAD)
a ONU alimentou alguns planos bastante radicais
para uma nova ordem económica internacional, os quais estabeleciam
termos de comércio mais favoráveis para os países mais
pobres. No fim da década dos 70 tais esperanças estavam a
esvanecer-se sob a maré neoliberal e a era Reagan-Clinton pôs-lhe
fim. No fim da década de 1980 os altos escalões da ONU
perceberam claramente que o "desafio" das alterações
climáticas poderia ser o cavalo de batalha para reconstruir a cada vez
mais esfarrapada autoridade moral da organização, e para reclamar
um papel além daquele de ser um óbvio garoto de recados
americano. Em 1988, o Programa das Nações Unidas para o
Ambiente, criado originalmente em 1972, foi unido num não sagrado
matrimónio burocrático à Organização
Metereológica Mundial da ONU, dando-nos o IPCC.
O ciclo de previsões alarmistas agora está bem estabelecido.
Não muito antes de algum novo debate da ONU sobre "O que fazer
acerca do clima", algum conhecido vendedor de medo como James Hansen ou
Michael Mann fará uma trémula declaração acerca da
aceleração do tempo e das dimensões da crise do
aquecimento.
A choradeira é então retomada pelo IPCC (e na década de
1990 pelo par Clinton/Gore - Casa Branca), com os comunicados de imprensa
postos em manchete pelo
New York Times,
exactamente com a mesma falta intencional de avaliação
crítica com que aquele jornal reciclou as mentiras do governo acerca das
armas de destruição maciça de Saddam. Meses e anos mais
tarde virão as qualificações e retractações,
muito depois de novos contratos e privilégios terem sido concedidos, e
novas legiões contratadas para os impérios sempre em
expansão dos fabricantes do medo. (O Pentágono pelo menos
entendeu a situação, e instruído por um brilhante
almirante que conduz o estudo do Center for Naval Analysis, está a
construir o fundamento intelectual para enormes novos aumentos
orçamentais com base em hipotéticas conexões entre
aquecimento global e terrorismo explosivo devido à fome).
Quando a realidade medida não coopera com as apavorantes
previsões do modelo, são cozinhados novos "factores"
compensadores, tais como os populares por breve tempo dos
aerossóis da década de 1990, recrutados para arrefecer o calor
obviamente excessivo previsto pelos modelos. Ou os existentes dados
inconvenientes são despachados como aconteceu com as amostras dos
cilindros de gelo que deixaram de confirmar as necessidades dos modeladores de
temperaturas recorde hoje a serem opostas às de meio milhão de
anos atrás. Como observou Richard Kerr, o homem do aquecimento global
na revista
Science,
"Os modeladores climáticos têm estado a trapacear por tanto
tempo que isto se torna quase respeitável".
A consequência? Tal como a espiral de gastos com armas fomentadas pelos
mercadores do medo da Guerra Fria, vastas quantias de dinheiro serão
gastas inutilmente em programas que não funcionam contra um inimigo que
não existe. Enquanto isso, perigos reais e ambientais sanáveis
são tratados superficialmente ou ignorados. A histeria governa estes
dias, afogando necessidades urgentes de limpeza no nosso quintal enquanto
aplaina o caminho para a indústria nuclear colher as suas recompensas
globais.
12-13/Maio/2007
Do mesmo autor:
Is Global Warming a Sin?
[*]
Co-editor de
CounterPunch
e co-autor de
Dime's Worth Of Difference: Beyond The Lesser Of Two Evils
O original encontra-se em
http://www.counterpunch.org/cockburn05122007.html
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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