A guerra dos EUA-NATO contra a Síria:
Forças navais do ocidente frente às da Rússia ao largo da
Síria
por Michel Chossudovsky
"Quando voltei ao Pentágono em Novembro de 2001, um dos oficiais
superiores do staff teve tempo para uma conversa. Sim, ainda estamos a caminho
de ir contra o Iraque, disse ele. Mas havia mais. Isto estava a ser discutido
como parte de um plano de campanha de cinco anos, disse ele, e havia um total
de sete países, a começar pelo Iraque, a seguir a Síria,
Líbano, Líbia, Irão, Somália e Sudão".
Wesley Clark, antigo comandante-geral da NATO
"Deixe-me dizer aos soldados e oficiais que ainda apoiam o regime
sírio o povo sírio recordará as escolhas que
fizerem nos próximos dias..."
Secretária de Estado Hillary Clinton, conferência Friends of
Syria, em Paris, 07/Julho/2012
Enquanto a confrontação entre a Rússia e o Ocidente
estava, até recentemente, confinada ao âmbito polido da diplomacia
internacional, dentro do recinto do Conselho de Segurança da ONU, agora
uma situação incerta e perigosa está a desdobrar-se no
Mediterrâneo Oriental.
Forças aliadas incluindo operativos de inteligência e
forças especiais reforçaram a sua presença sobre o terreno
na Síria a seguir ao impasse da ONU. Enquanto isso, coincidindo com o
beco sem saída no Conselho de Segurança da ONU, Moscovo despachou
para o Mediterrâneo uma frota de dez navios de guerra russos e navios de
escolta comandados pelo destróier anti-submarino Almirante Chabanenko. A
frota russa está actualmente estacionada ao largo da costa Sul da
Síria.
Em Agosto do ano passado, o vice-primeiro-ministro da Rússia, Dmitry
Rogozin, advertiu que "a NATO está a planear uma campanha militar
contra a Síria para ajudar a derrubar o regime do presidente Bashar
al-Assad com um objectivo de longo alcance de preparar uma cabeça de
ponte para um ataque ao Irão..." Em relação à
actual deslocação naval, o chefe da Armada da Rússia,
vice-almirante Viktor Chirkov, confirmou, entretanto, que se bem que a frota
[russa] esteja a transportar fuzileiros navais, os navios de guerra
"não seriam envolvidos em Tarefas na Síria". "Os
navios executarão manobras militares planeadas", disse o ministro
russo da Defesa.
A aliança EUA-NATO retaliou à iniciativa naval da Rússia,
com uma deslocação naval muito maior, uma formidável
armada ocidental consistente de navios de guerra britânicos, franceses e
americanos, previstos para serem ali instalados neste Verão no
Mediterrâneo Oriental, levando a uma potencial
"confrontação estilo Guerra Fria" entre a Rússia
e forças navais ocidentais.
Enquanto isso, planeadores militares dos EUA-NATO anunciaram que várias
"opções militares" e "cenários de
intervenção" estão a ser contemplados na
sequência do veto russo-chinês no Conselho de Segurança da
ONU.
O planeado posicionamento naval é coordenado com operações
aliadas no terreno em apoio ao "Exército Sírio Livre"
(ESL) patrocinado pelos EUA-NATO. Quanto a isto, os EUA-NATO aceleraram o
recrutamento de combatentes estrangeiros treinados na Turquia, Iraque,
Arábia Saudita e Qatar.
(Navios de guerra russos entram no Mediterrâneo, rumo à Síria, timesofmalta.com, 24/Julho/2012)
A França e a Grã-Bretanha participarão este Verão
em jogos de guerra com o nome de código Exercise Cougar 12 [2012]. Os
jogos serão efectuados no Mediterrâneo Oriental como parte de um
"Response Force Task Group" franco-britânico envolvendo o HMS
Bulwark britânico e o grupo de batalha do porta-aviões Charles De
Gaulle da França. O centro deste exercício naval serão
operações anfíbias envolvendo a colocação em
terra firme de tropas no "território inimigo" (simulada).
Cortina de fumo: A proposta evacuação de cidadãos
ocidentais "Utilizando uma humanitária frota naval de armas de
destruição em massa"
Pouco mencionado pelos media de referência, os navios de guerra
envolvidos no exercício naval Cougar 12 também
participarão na planeada evacuação de
"cidadãos britânicos do Médio Oriente, caso o conflito
em curso na Síria extravase fronteiras para os vizinhos do Líbano
e da Jordânia".
Os britânicos provavelmente enviariam o HMS Illustrious, um
porta-helicópteros, juntamente com o HMS Bulwark, um navio
anfíbio, bem como um destróier avançado para providenciar
defesa à força-tarefa. Estarão a bordo várias
centenas de comandos da Royal Marine, bem como um complemento de
helicópteros de ataque AH-64 (os mesmos utilizados na Líbia no
ano passado). Espera-se que se lhe junte uma frota de navios franceses,
incluindo o porta-aviões Charles De Gaulle, transportando um complemento
de caças Rafale.
Espera-se que aquelas forças permaneçam ao longo e possam
escoltar navios civis especialmente fretados destinados a recolher
cidadãos estrangeiros a fugirem da Síria e países em
torno. (ibtimes.com, 24/Julho/2012).
Fontes no Ministério da Defesa britânico, se bem que confirmando o
"mandato humanitário" da Royal Navy no planeado programa de
evacuação, negaram categoricamente "qualquer
intenção quanto a um papel de combate para forças
britânicos [contra a Síria]".
O plano de evacuação utilizando o mais avançado material
militar, incluindo o HMS Bulwark e o porta-aviões Charles de Gaulle,
é uma cortina de fumo óbvia. A agenda militar não
tão escondida é ameaça militar e intimidação
contra uma nação soberana localizada no berço
histórico da civilização, a Mesopotâmia":
"Só o Charles De Gaulle é porta-aviões nuclear com
todo um esquadrão de jactos mais avançados do que qualquer coisa
que os sírios tenham é especulação de
incitamento [dizer] que aquelas forças pudessem ficar envolvidas numa
operação da NATO contra forças sírias leais a
Bashar al-Assad...
O HMS Illustrious, que está actualmente ancorado no Tamisa, no centro de
Londres, provavelmente será enviado para a região no fim das
Olimpíadas". (Ibid)
Este deslocamento impressionante de poder naval franco-britânico poderia
também incluir o porta-aviões USS John C.Stennis, o qual
está para ser enviado de volta ao Médio Oriente:
[Em 16/Julho/2012], o Pentágono também confirmou que iria
reposicionar o USS John C. Stennis, um porta-aviões nuclear capaz de
transportar 90 aviões, para o Médio Oriente... O Stennis estaria
a chegar na região com um cruzador avançado de lançamento
de mísseis, ... Já é esperado que o porta-aviões
USS Eisenhower esteja no Médio Oriente naquele momento (dois
porta-aviões actualmente na região estão para ser
aliviados e enviados de volta para os EUA).
Em meio a situações imprevisíveis tanto na Síria
como no Irão, que teriam deixado forças estado-unidenses tensas e
excessivamente sobrecarregadas se fosse necessária uma firme resposta
militar em qualquer circunstância.
(Ibid, ênfase acrescentada)
O grupo de ataque USS Stennis está para ser enviado de volta ao
Médio Oriente "numa data não especificada no fim do
Verão" para ser posicionado na área de responsabilidade do
Comando Central:
"O Departamento da Defesa disse que o deslocamento anterior viera de um
pedido feito pelo general do Marine Corps James N. Mattis, o comandante do
Comando Central (a autoridade militar dos EUA que cobre o Médio
Oriente), parcialmente devido à preocupação de que haveria
um curto período em que apenas um porta-voz estaria localizado na
região". (Strike group headed to Central Command early - Stripes
Central - Stripes, July 16, 2012)
O Gen. Marine James Mattis, comandante do U.S. Central Command, "pediu
para avançar o posicionamento do grupo de combate com base num
"conjunto de factores" e o secretário da Defesa Leon Panetta
aprovou-o"... (ibid)
Um porta-voz do Pentágono declarou que a mudança de
posicionamento do grupo de ataque USS Stennis fazia parte de "um vasto
conjunto de interesses de segurança dos EUA na região".
"Estamos sempre atentos aos desafios colocados pelo Irão. Deixe-me
ser muito claro: Esta não é uma decisão baseada unicamente
nos desafios colocados pelo Irão,
..."Não é acerca de qualquer país particular ou uma
ameaça particular",
dando a entender que a Síria também fazia parte do
posicionamento planeado. (Ibid, ênfase acrescentada)
"Cenários de intervenção"
Este maciço posicionamento de poder naval é um acto de
coerção tendo em vista aterrorizar o povo sírio. A
ameaça de intervenção militar tem em vista desestabilizar
a Síria como estado nação bem como confrontar e
enfraquecer o papel da Rússia na intermediação da crise
síria.
O jogo diplomático da ONU está num impasse. O Conselho de
Segurança da ONU está morto. A transição é
em direcção à "Diplomacia guerreira" do
século XXI.
Se bem que uma operação militar aliada total dirigida contra a
Síria não esteja "oficialmente" contemplada,
planeadores militares estão actualmente envolvidos na
preparação de vários "cenários de
intervenção".
Líderes políticos ocidentais podem não ter apetite por
intervenção mais profunda. Mas como a história tem
mostrado, nós nem sempre escolhemos que guerras combater por
vezes as guerras escolhem-nos.
Planeadores militares tem a responsabilidade de preparar para
opções de intervenção na Síria para os seus
mestres políticos caso este conflito seja escolhido. A
preparação estará a ser efectuada em várias
capitais ocidentais e sobre o terreno na Síria e na Turquia.
Até o ponto do colapso de Assad, é mais provável que
vejamos uma continuação ou intensificação das
opções abaixo do radar de apoio financeiro, armamento e
aconselhamento dos rebeldes, operações clandestinas e talvez
guerra cibernética a partir do Ocidente. Após algum colapso,
entretanto, as opções militares serão vistas a uma luz
diferente. (
Daily Mail,
24/Julho/2012, ênfase acrescentada)
Observações conclusivas
O mundo está numa encruzilhada perigosa.
A configuração deste planeado posicionamento naval no
Mediterrâneo Oriental com navios de guerra dos EUA-NATO contíguo
àqueles da Rússia é sem precedentes na história
recente.
A história conta-nos que guerras são muitas vezes desencadeadas
inesperadamente devido a "erros políticos" e erro humano. Os
segundos são os mais prováveis dentro no âmbito de um
sistema político desagregados e corrupto nos EUA e na Europa Ocidental.
O planeamento militar EUA-NATO é supervisionado por uma hierarquia
militar centralizada. Operações de Comando e Controle são
em teoria "coordenadas" mas na prática muitas vezes elas
são marcadas pelo erro humano. Operativos de inteligência muitas
vezes funcionam independentemente e fora do âmbito da responsabilidade
política.
Planeadores militares são agudamente conscientes dos perigos de
escalada. A Síria tem capacidades de defesa aérea significativas
bem como forças terrestres. A Síria tem estado a instalar seu
sistema de defesa aérea com a recepção dos mísseis
russos
Pantsir S1
.
Qualquer forma de intervenção militar directa dos EUA-NATO contra
a Síria desestabilizaria toda a região, levando potencialmente
à escalada numa vasta área geográfica, que se estende
desde o Mediterrâneo Oriental até a fronteira do
Afeganistão-Paquistão com o Tadjiquistão e China.
O planeamento militar envolve cenários intricados e jogos de guerra por
ambos os lados incluindo opções militares relativas a sistema de
armas avançados. Um cenário Terceira Guerra Mundial tem sido
contemplado pelos planeadores militares EUA-NATO-Israel desde o
princípio de 2000.
A escalada é uma parte integral da agenda militar. Preparativos de
guerra para atacar a Síria e o Irão têm estado num
"estado avançado de prontidão" durante vários
anos.
Estamos a tratar com complexas tomadas de decisão políticas e
estratégicas que envolvem a acção recíproca de
poderosos grupos de interesses económicos, as acções de
operativos de inteligência.
O papel da propaganda de guerra é fundamental não só para
moldar a opinião pública, levando-a a aceitar a agenda de guerra,
como também para estabelecer um consenso dentro dos escalões
superiores do processo de tomada de decisão. Uma forma selectiva de
propaganda de guerra destinada a "Top Officials" (TOPOFF) em
agências do governo, inteligência, militares, aplicadores da lei,
etc destina-se a criar um consenso firme em favor da Guerra e do Estado
Policial.
Para o projecto guerra ir em frente é essencial que tanto os planeadores
políticos como os militares estejam legitimamente comprometidos em
conduzir a guerra "em nome da justiça e da democracia". Para
que isto se verifique, eles devem acreditar firmemente na sua própria
propaganda, nomeadamente em que a guerra é "um instrumento de paz e
democracia".
Eles não têm preocupação para com os impactos
devastadores de sistemas de armas avançados, rotineiramente
classificados como "danos colaterais", muito menos o significado e
significância de guerra antecipativa
(pre-emptive),
utilizando armas nucleares.
As guerras são invariavelmente decididas por líderes civis e
grupos de interesse e não pelos militares. A guerra serve interesses
económicos dominantes os quais operam a partir dos bastidores, por
trás de portas fechadas em salas de reunião corporativas, nos
think tanks de Washington, etc.
As realidades são invertidas. Guerra é paz. A Mentira torna-se a
Verdade.
A propaganda de guerra, nomeadamente as mentiras dos media, constituem o mais
poderoso instrumento guerreiro.
Sem a desinformação dos media, a agenda guerreira conduzida pelos
EUA-NATO entraria em colapso como um castelo de cartas. A legitimidade dos
criminosos de guerra em altos postos seria rompida.
Portanto é essencial desarmar não só os media de
referência como também um segmento dos media alternativos auto
proclamados como "progressistas", os quais têm proporcionado
legitimidade para a obrigação da "Responsabilidade de
proteger"
("Responsibility to protect, R2P)
da NATO, em grande medida tendo em vista desmantelar o movimento anti-guerra.
A estrada para Teerão passa por Damasco. Uma guerra ao Irão
patrocinada pelos EUA-NATO envolveria, como primeiro passo, a
desestabilização da Síria como uma
nação-estado. O planeamento militar relativo à
Síria é uma parte integral da agenda de guerra ao Irão.
Uma guerra contra a Síria poderia evoluir na direcção de
uma campanha militar EUA-NATO contra o Irão, na qual a Turquia e Israel
estariam envolvidas directamente.
É crucial difundir esta notícia e romper os canais de
desinformação dos media.
Um entendimento crítico e não enviesado do que está a
acontecer na Síria é de importância crucial na
reversão da maré de escalada militar rumo a uma guerra regional
mais vasta.
Nosso objectivo em última análise é desmantelar o arsenal
militar EUA-NATO-israelense e restaurar a Paz Mundial.
É essencial que o povo no Reino Unido, na França e nos Estados
Unidos impeça o próximo posicionamento naval de ADM no
Mediterrâneo Oriental.
Ajude a difundir. Reenvie este artigo.
26/Julho/2012
Do mesmo autor:
SYRIA: NATO's Next "Humanitarian" War?
"A opção salvadorenha para a Síria"
Uma "guerra humanitária" à Síria? Escalada militar. Rumo a uma guerra mais vasta no Médio Oriente-Ásia Central?
O original encontra-se em
http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=32079
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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