por Michel Chossudovsky
[*]
"Ir em busca de bin Laden" serviu, ao longo dos últimos cinco
anos, para manter a lenda do "terrorista mais procurado do mundo", o
qual "assombra americanos e milhões de outras pessoas em todo o
mundo".
Donald Rumsfeld afirmou reiteradamente que o paradeiro de Osama bin Laden
permanece desconhecido: "É como procurar uma agulha num
palheiro".
Em Novembro de 2001, bombardeiros US B-52 bombardearam em tapete uma rede de
cavernas nas montanhas Tora Bora do leste do Afeganistão, onde
alegadamente se escondiam Osama bin Laden e os seus seguidores. Estas cavernas
foram descritas como "a última fortaleza de Osama".
Analistas de inteligência da CIA concluíram posteriormente que
Osama havia escapado da sua caverna de Tora Bora na primeira semana de Dezembro
de 2001. E em Janeiro de 2002 o Pentágono lançou uma
investigação mundial por Osama e os seus principais lugares
tenentes, para além das fronteiras do Afeganistão e no
Afeganistão. Esta operação, mencionada pelo
secretário de Estado Colin Powell como uma
"perseguição a quente", foi executada com o apoio da
"comunidade internacional" e de aliados europeus dos EUA. Quanto a
isto, as autoridades de inteligência americanas confirmaram que:
"enquanto a Al Qaeda foi significativamente fragmentada, ... o homem mais
procurado o próprio bin Laden continua um passo à
frente dos Estados Unidos, com o núcleo da sua rede de terror mundial
ainda a funcionar. (Global News Wire - Asia Africa Intelligence Wire,
InfoProd, January 20, 2002)
Durante os últimos cinco anos os militares americanos e o seu aparelho
de inteligência, com consideráveis despesas para os contribuintes
dos EUA, têm estado a "investigar à procura de Osama".
Uma unidade da CIA com um orçamento de milhões de dólares
foi montada, com mandato para descobrir Osama. Esta unidade aparentemente foi
dissolvida em 2005. "Peritos em inteligência concordam" em que
ele está a esconder-se numa área remota do Paquistão, mas
"nós não podemos encontrá-lo".
"A maior parte dos analistas de inteligência está convencida
de que Osama bin Laden está em algum lugar sobre a fronteira
afegano-paquistanesa. Ultimamente tem sido dito que ele está
provavelmente na vizinhança do pico Tirich Mir, com 7700 m, no Hindu
Kush, na área da tribo Chitral no noroeste do Paquistão".
Hobart Mercury (Australia), September 9, 2006)
O presidente Bush prometeu repetidamente "arrancá-lo" da sua
caverna, capturá-lo morto ou vivo, se necessário através
de assaltos no terreno ou ataques de mísseis. Segundo uma
declaração recente do presidente Bush, Osama está a
esconder-se numa área remota do Paquistão a qual "é
extremamente montanhosa e muito inacessível, ... com montanhas cuja
altitude vai de 9000 a 15000 pés [2743 a 4572m]...". Nós
não podemos capturá-lo porque, segundo o presidente, não
há infraestrutura de comunicações, a qual nos permitiria
ir efectivamente atrás dele (citado em
Balochistan Times,
23 April 2006)
A perseguição de Osama tornou-se um processo altamente
ritualizado que alimenta as cadeias de notícias numa base diária.
Não só faz parte da campanha de desinformação dos
media como também proporciona uma justificação para a
prisão arbitrária, a detenção e a tortura de
numerosos "suspeitos", "combatentes inimigos" e
"cúmplices", os quais alegadamente podem conhecer o paradeiro
de Osama. E tal informação, naturalmente, é vital para
"a segurança dos americanos".
A procura de Osama serve tanto objectivos militares como políticos. Os
democratas e republicanos competem na sua resolução por extirpar
o "terrorismo islâmico".
The Path to 9/11,
um assim chamado "documentário" de cinco horas da ABC sobre
"a procura por Osama" o qual é estreado nos dia 10 e 11 de
Setembro para assinalar o quinto aniversário dos ataques, acusa
despreocupadamente Bill Clinton de estar "demasiado ocupado com o
escândalo Monica Lewinsky para combater o terrorismo". A mensagem
do filme é que os democratas descuidaram da "guerra ao
terrorismo".
A verdade é que todas as administrações desde que
Jimmy Carter apoiou e financiou a rede do "terror islâmico"
criada durante a sua administração no princípio da guerra
sovietico-afegã fizeram-no. (Ver Michel Chossudovsky,
Quem é Osama bin Laden
, 12 September 2001)
ONDE ESTAVA OSAMA NO 11 DE SETEMBRO?
Há prova de que os paradeiros de Osama são conhecidos da
administração Bush.
No dia 10 de Setembro de 2001, o "Inimigo número um" estava
num hospital militar paquistanês em Rawalpindi, cortesia do aliado
indefectível dos EUA, o Paquistão, como confirmado por um relato
de Dan Rather, da CBS News
(Ver nosso artigo de Outubro de 2003 sobre esta questão)
.
Ele poderia ter sido preso imediatamente, o que "nos teria poupado um
bocado de perturbação", mas nesse caso não
teríamos tido uma Lenda Osama, a qual alimentou as cadeias de
notícias bem como os discursos de George W. no decurso deste
últimos cinco anos.
De acordo com Dan Rather, da CBS, Bin Laden foi hospitalizado em Rawalpindi um
dia antes dos ataques do 11/Set, em 10 de Setembro de 2001.
"Paquistão. A Inteligência Militar do Paquistão (ISI)
contou à CBS que bin Laden havia recebido tratamento de diálise
em Rawalpindi, na sede do Pak Army.
DAN RATHER, âncora da CBS: Quando os Estados Unidos e os seus aliados na
guerra ao terrorismo intensificam a caçada a Osama bin Laden, a CBS News
esta noite tem informação exclusiva acerca de onde estava bin
Laden e o que estava a fazer nas últimas horas antes de os seus
seguidores atacarem os Estados Unidos no dia 11 de Setembro.
Isto é o resultado de uma intensa reportagem investigação
feita por uma equipe de jornalistas da CBS News, e por um dos melhores
correspondentes estrangeiros no assunto, Barry Petersen, da CBS. Aqui
está o seu relato:
(PRINCÍPIO DO VIDEOTAPE) BARRY PETERSEN, CORRESPONDENTE DA CBS (voz de
um narrador): Toda a gente recorda o que aconteceu no 11 de Setembro. Aqui
está a estória do que pode ter acontecido na noite anterior.
É uma história tão retorcida quanto a caçada a
Osama bin Laden.
A CBS News foi informada de que na noite anterior ao ataque terrorista do 11 de
Setembro Osama bin Laden estava no Paquistão. Ele estava a receber
tratamento médico com o apoio dos próprios militares que dias
depois juraram apoiar a guerra americana ao terror no Afeganistão.
Fontes da inteligência paquistanesa informaram a CBS News que bin Laden
foi removido secretamente para este hospital militar em Rawalpindi para
tratamento de diálise dos rins. Naquela noite, afirma este trabalhador
médico que quis proteger sua identidade, eles retiraram toda a equipe
regular do departamento de urologia e enviaram uma equipe secreta para
substituí-la. Ela afirma que isto era tratamento para uma pessoa muito
especial. A equipe especial obviamente até nem era boa.
"Os militares haviam-no rodeado", afirma este empregado do hospital
que também quis manter sua identidade oculta, "e eu vi o misterioso
paciente sair ajudado de um carro. Desde aquele momento tenho visto muitas
fotos do homem. É o homem que conhecemos como Osama bin Laden.
Também ouvi duas oficiais do exército a conversarem um com o
outro. Eles estavam a dizer que Osama bin Laden tinha de ser observado
cuidadosamente e cuidado". Aqueles que conhecem bin Laden dizem que ele
sofre de numerosos padecimentos, nas costas e problema de estômago.
Ahmed Rashid, que tem escrito extensamente sobre os Taliban, afirma que os
militares estavam muitas vezes ali para assistência antes do 11/Set.
(...)
PETERSEN (frente à câmara): Médicos no hospital informaram
a CBS News que não houve nada de especial naquela noite, mas recusaram
mostrar quaisquer registos como pedimos. Responsáveis do governo
negaram na noite passada que bin Laden tivesse tido qualquer tratamento
médico naquela noite.
(voz do narrador): Mas foi o presidente Musharraf, do Paquistão, que
afirmou em público o que muitos suspeitam, que bin Laden sofre de
doença dos rins, considerando que bin Laden pode estar prestes a morrer.
Sua prova, a observação deste vídeo mais recente a
mostrar um bin Laden pálido e emaciado, com a mão esquerda
imóvel. Responsáveis da administração Bush admitem
não saber se bin Laden está doente ou mesmo morto.
DONALD RUMSFELD, secretário da Defesa: Quanto à questão
da saúde de Osama bin Laden, simplesmente não tenho qualquer
conhecimento.
PETERSEN: Os Estados Unidos não têm maneira de saber quem entre
os militares e a inteligência do Paquistão apoiava os Taliban, ou
seja, Osama bin Laden pode ter ido aquela noite antes do 11/Set pois
arranjaram-lhe a diálise a fim de o manter vivo. Desse modo, os Estados
Unidos podem não saber se aquelas mesmas pessoas o terão ajudado
outra vez a continuar livre.
Barry Petersen, CBS News, Islamabad.
(Fim do videotape)
(CBS News, 28 de Janeiro de 2002, ênfase acrescentada.
O vídeo com a reportagem da CBS encontra-se em
http://www.cbsnews.com/stories/2002/01/28/eveningnews/main325887.shtml
)
Deve-se observar que o hospital está directamente sob a
jurisdição das Forças Armadas Paquistanesas, as quais
têm laços estreitos com o Pentágono. Conselheiros
militares americanos baseados em Rawalpindi trabalham em contacto estreito com
as Forças Armadas Paquistanesas. Mais uma vez, nenhuma tentativa foi
feita para prender o mais conhecido fugitivo dos EUA, mas pode ser que bin
Laden estivesse a servir outro "finalidade mais importante".
Rumsfeld afirmou na altura que não sabia da saúde de Osama (CBS
News, 28 de Janeiro de 2002).
A reportagem da CBS é uma peça crucial de
informação para o nosso entendimento do 11/Set.
Ela refuta a afirmação da administração de que o
paradeiro de bin Laden é desconhecido. Ela aponta para uma
conexão paquistanesa, ela sugere um encobrimento aos mais altos
níveis da administração Bush.
Dan Rather e Barry Petersen deixaram de retirar as implicações da
sua reportagem de Janeiro de 2002. Eles sugerem que os EUA foram
deliberadamente enganados pelos responsáveis da inteligência
paquistanesa. Eles deixaram de fazer a pergunta:
Por que a administração americana diz que não pode apanhar
Osama?
Se eles verificarem sua reportagem, a conclusão é óbvia.
Se a reportagem da CBS é exacta e Osama foi na verdade admitido no
hospital militar paquistanês em 10 de Setembro, por cortesia do aliado
dos EUA, ele tanto ainda podia estar no hospital em Rawalpindi no 11 de
Setembro, quando ocorreram os ataques, como ter sido libertado do hospital nas
últimas horas antes dos ataques.
Por outras palavras, o paradeiro de Osama era conhecido de oficiais americanos
na manhã de 12 de Setembro, quando o secretário de Estado Colin
Powell iniciou negociações com o Paquistão tendo em vista
prender e extraditar bin Laden. Estas negociações, conduzidas
pelo general Mahmoud Ahmad, chefe da inteligência militar do
Paquistão, em nome do governo do presidente Pervez Musharraf, tiveram
lugar em 12 e 13 de Setembro no gabinete do vice-secretário de Estado
Richard Armitage.
A administração está a mentir. O paradeiro de Osama bin
Laden era conhecido.
Ele podia ter sido preso rapidamente a partir de 10 de Setembro de 2001.
Mas nesse caso nós não teríamos sido privilegiados com
cinco anos de estórias dos medias relativas ao Osama. A
administração Bush precisava desesperadamente da
ficção de um "inimigo externo da América".
A al Qaeda de Osama bin Laden, bem conhecida e documentada, é uma
fabricação do aparelho de inteligência dos EUA. Sua
função essencial é dar uma cara à guerra ao
terrorismo. A imagem deve ser vivida.
Segundo a Casa Branca, "A maior ameaça para nós é
esta ideologia de extremismo violento, e o seu maior proponente público
é Osama bin Laden. Bin Laden continua a ser o alvo número um, em
termos dos nossos esforços, mas ele não é o único
objectivo". Declaração recente do assistente da Casa Branca
para Segurança Interna, Frances Townsend, 5 de Setembro de 2006).
A doutrina da segurança nacional repousa sobre a ficção de
terroristas islâmicos, conduzidos pelo Osama, que são retratados
como uma "ameaça para o mundo civilizado". Nas palavras do
presidente Bush, "Bin Laden e os seus aliados terroristas tornaram suas
intenções tão claras quanto Lenin e Hitler o fizeram
antes. A questão é: será que ouviremos? Será que
nunca prestamos atenção ao que dizem estes homens maus? Estamos
na ofensiva. Não descansaremos. Não recuaremos. E não
nos retiraremos do combate até que esta ameaça à
civilização tenha sido removida" (citado pela CNN,
September 5, 2006)
A "perseguição a quente" de Osama nas ásperas
áreas montanhosas do Paquistão deve continuar, porque sem Osama
mencionado
ad nauseam
nos noticiários e nas declarações oficiais a
frágil legitimidade da cruzada da administração Bush
entrará em colapso como um castelo de cartas.
09/Setembro/2006
O vídeo da CBS encontra-se em
http://www.cbsnews.com/stories/2002/01/28/eveningnews/main325887.shtml
[*]
Professor de Ciências Económicas na Universidade Ottawa e director
do Center for Research on Globalization. Autor de "America's War on
Terrorism", 2005.
Para encomendar a edição em inglês,
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O seu livro "A globalização da pobreza e a nova ordem
mundial" foi publicado pela
Editorial Caminho
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O original encontra-se em
www.globalresearch.ca/
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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