por Michel Chossudovsky
[*]
Citando fontes oficiais, os meios de comunicação ocidentais
confirmam agora, um tanto atrasados, que os planos de guerra da
administração Bush virados para o Irão são
"para valer" e devem ser levados a sério.
Podem vir a ser desencadeados "bombardeamentos punitivos" contra
Teerão nos próximos meses.
A postura diplomática acabou. Diz-se que o Pentágono
"está a dar passos para concretizar um confronto militar com o
Irão" dado que alegadamente as iniciativas diplomáticas
não conseguiram chegar a uma solução.
Estas declarações diabólicas aparecem poucas semanas
depois da publicação do relatório da Agência
Internacional da Energia Atómica (AIEA). Este relatório confirma
inequivocamente que o programa nuclear do Irão é de natureza
civil e que o Irão não tem intenções nem
condições de fabricar armas nucleares:
Artigo IV (1): Estas modalidades abrangem todas as questões restantes e
a Agência [ou seja a IAEA] confirmou que
não há mais questões nem ambiguidades no que se refere ao
programa e actividades nucleares anteriores do Irão.
Artigo IV (3): A delegação da Agência é de
opinião que o acordo sobre as questões acima referidas irá
reforçar ainda mais a eficácia da implementação de
salvaguardas no Irão e a sua possibilidade para concluir a exclusiva
natureza pacífica das actividades nucleares do Irão.
Artigo IV (4): A Agência pôde verificar a
não-diversão dos materiais nucleares declarados nas
instalações de enriquecimento no Irão
e
chegou assim à conclusão de que os mesmos se mantêm para
usos pacíficos.
(Relatório da AIEA, sublinhados acrescentados)
Duma penada, o relatório da AIEA é uma bofetada na cara de
Washington. Confirma a falta de legitimidade e a natureza criminosa da
política externa dos EUA assim como a decisão de Washington de
violar as leis internacionais:
"O distanciamento grosseiro da administração Bush em
relação ao relatório da AIEA de quinta-feira passada
é mais um sinal de que Washington não está interessado
numa solução diplomática para o seu confronto com
Teerão. Depois das belicosas acusações de Bush contra o
Irão feitas na passada semana, os EUA reafirmaram esta semana a sua
intenção de pressionar sanções mais pesadas das NU
contra Teerão." (
Peter Symond, Global Research, Setembro/2007
)
Ausência de protesto público
Apesar da natureza abertamente agressiva das declarações
americanas, estes planos de guerra dirigidos contra o Irão, que
ameaçam de forma real o futuro da humanidade, não são
objecto de preocupação ou debate públicos. Uma guerra
preventiva, patrocinada pelos EUA, utilizando armas termonucleares que, segundo
opinião científica "de confiança" (contratada
pelo Pentágono), não apresentam "riscos para a
população civil vizinha", não aparece de todo nas
notícias de primeira página ao lado de quaisquer outros
tópicos triviais.
Os perigos de uma guerra mais alargada no Médio Oriente são
minimizados ou ignorados pelas principais coligações anti-guerra.
A sugerida utilização de armas nucleares num teatro de guerra
convencional não constitui matéria para debate.
Mais ainda, os planeados ataques ao Irão e as suas consequências
devastadoras não estão a ser abordadas pelas
organizações "progressistas" da sociedade civil
incluindo a "Esquerda", que considera tacitamente a República
Islâmica como uma ameaça real aos direitos humanos. Segundo Jean
Bricmont:
"Estão colocadas todas as placas de sinalização para
o ataque ao Iraque. Este país foi cuidadosamente diabolizado porque
não é simpático para com as mulheres, os homossexuais e os
judeus. Isso, por si só, não basta para neutralizar uma grande
parte da "esquerda" americana. Mas a questão, claro,
não é se o Irão é simpático ou não
segundo a nossa perspectiva mas se existe alguma razão legal para
o atacar, o que não acontece; mas a ideologia dominante dos direitos
humanos legitimou, principalmente na esquerda, o direito de
intervenção com base em razões humanitárias, em
qualquer lado, em qualquer momento, e essa ideologia conseguiu fazer desviar as
atenções da questão menor que é a lei
internacional". (
Jean Bricmont, Global Research, September 2007
)
Antecedentes do planeamento da guerra
Nos últimos três anos, em diversos artigos cuidadosamente
documentados, a Global Research tem vindo a noticiar com pormenor os planos de
guerra patrocinados pelos EUA, virados para o Irão. Estes planos de
guerra incluem a utilização preventiva de armas termonucleares
contra o Irão como retaliação pela alegada não
obediência de Teerão às exigências da
"comunidade internacional".
Os planos de guerra relativos ao Irão têm estado numa fase
avançada de prontidão desde meados de 2005. Israel, a
Grã-Bretanha e a NATO fazem parte da coligação liderada
pelos EUA e candidatam-se a desempenhar um papel activo nas
operações militares.
A primeira fase destes planos de guerra foi formulada inicialmente em meados de
2003, ao abrigo de um cenário do Pentágono intitulado TIRANNT
(Theater Iran Near Term). A montagem militar decorreu durante um período
de mais de três anos.
No verão de 2006 e no início deste ano, foram realizados
alargados exercícios de guerra no Golfo Pérsico e no
Mediterrâneo oriental.
O bombardeamento de Israel no Líbano em Julho de 2006 foi parte
integrante duma agenda militar mais alargada. Numa progressão recente,
Israel efectuou bombardeamentos no interior do território da
Síria visivelmente num acto de provocação.
Recentes declarações oficiais de Washington confirmam a natureza
alargada destes planos de guerra:
"Funcionários superiores americanos da defesa e das
informações acham que o presidente George W. Bush e o seu
círculo estão a dar passos para colocar a América na via
da guerra com o Irão,
Os estrategas do Pentágono elaboraram uma lista de mais de 2 000 alvos
para bombardeamento no Irão,
Funcionários do Pentágono e da CIA dizem que acham que a Casa
Branca desencadeou um programa de escalada cuidadosamente calibrado que
poderá conduzir a um confronto militar com o Irão.
Num cenário assustador do modo como poderá chegar-se à
guerra, um funcionário superior de informações alertou
para que a denúncia pública da intromissão iraniana no
Iraque através do armamento e treino de militantes
dará lugar a ataques no interior das fronteiras em campos de treino
iranianos e a bombardeamentos de fábricas.
Um primeiro alvo será a base Fair dirigida pela Força Quds da
Guarda Revolucionária Iraniana no sul do Irão, onde as
organizações de informações ocidentais dizem que
são fabricados os projécteis que perfuram blindados, usados
contra as tropas britânicas e americanas.
O funcionário de informações disse que os militares
americanos têm "dois grandes planos de contingência" para
ataques aéreos ao Irão.
"Um deles é bombardear apenas as instalações
nucleares. A segunda opção é para um bombardeamento muito
mais amplo que atingirá também durante dois ou três
dias todos os locais militares significativos. Este plano engloba mais
de 2000 alvos". (citado no
Sunday Telegraph,
16/ Setembro/2007)
Os posicionamentos estratégicos navais dos EUA-NATO estão a ser
feitos em dois palcos distintos: o Golfo Pérsico e o Mediterrâneo
oriental.
Sobre os últimos acontecimentos, noticia-se que estão a caminho
do Golfo Pérsico dois grupos de ataque de porta-aviões (USS
Nimitz e USS Truman) para se juntarem ao USS Enterprise, o que significa que,
nos finais de Setembro, passará a haver três grupos de ataque de
porta-aviões no Golfo Pérsico.
Segundo fontes militares, o grupo de ataque USS Kearsarge Expeditionary tomou
posição em frente da costa libanesa no passado mês de
Agosto.
Os ataques ao Irão são agora oficialmente apoiados pelos aliados
europeus da América, incluindo a França e a Alemanha. O ministro
dos estrangeiros francês, Bernard Kouchner, apelou para que a
França apoie a guerra dos EUA contra o Irão:
"Temos que nos preparar para o pior, e o pior é a guerra",
disse Kouchner numa entrevista à TV e à rádio francesas.
Kouchner disse que as negociações com o Irão deviam
continuar 'até ao fim', mas que uma arma nuclear iraniana representava
'um verdadeiro perigo para todo o mundo'". (citado pela BBC, em 16 de
Setembro de 2007)
A Grã-Bretanha está profundamente envolvida, apesar dos
desmentidos a nível diplomático. A Turquia ocupa um papel central
na operação Irão. Tem um abrangente acordo de
cooperação militar com Israel. A NATO está envolvida
formalmente em ligação com Israel, com quem assinou um acordo
genérico militar em Novembro de 2004.
Embora os EUA, Israel e a Turquia (que tem fronteiras com o Irão e a
Síria) sejam os principais actores militares, a estes juntou-se uma
série de outros países da região, aliados dos EUA, que
incluem a Geórgia e o Azerbeijão.
Há indicações provenientes de diversas fontes de
comunicação que Israel também está numa fase
avançada de preparação militar e poderá ser
envolvido na execução de parte dos bombardeamentos aéreos.
Também seriam alvos a Síria e provavelmente o Líbano.
Já em 2005 a Força Aérea de Israel se encontrava em
avançado estado de preparação. Verificou-se que nos
ataques aéreos de Israel às
instalações nucleares do Irão em Bushehr
foram utilizadas bombas arrebenta bunkers fabricadas
tanto nos EUA como em Israel. O ataque foi planeado para ser efectuado em
três vagas independentes "sendo de conta do AWACS da Força
Aérea americana e de outra aviação americana na
área a protecção contra s no radar e
comunicações".
(Ver W. Madsen,
http://www.globalresearch.ca/articles/MAD410A.html
)
Cenários da escalada
Se vier a ser desencadeada esta operação militar, toda a
região do Médio Oriente da Ásia Central arderá em
chamas.
A guerra estender-se-á por uma área desde o Mediterrâneo
oriental até à fronteira da China.
Quanto a este aspecto, os estrategas militares americanos analisaram diversos
"cenários de escalada".
Na verdade, estão à espera duma escalada da guerra. Por outras
palavras, a escalada, nomeadamente a retaliação feita pelo
Irão, é um objectivo desejado. Faz parte da agenda militar.
"A um ataque seguir-se-á provavelmente uma escalada gradual. Logo
nas semanas e meses seguintes os EUA montarão tensões e provas
sobre as actividades iranianas no Iraque
A teoria - que cada vez ganha maior crédito nos círculos de
segurança de Washington é que a acção dos EU
provocará uma importante reacção iraniana, talvez sob a
forma de movimentos para cortar os abastecimentos de petróleo do Golfo,
fornecendo o pretexto para ataques aéreos contra as
instalações nucleares do Irão e talvez mesmo contra as
suas forças armadas.
(Sunday Telegraph, op cit.)
O Irão retalia
É preciso ter em conta a natureza da retaliação do
Irão. O general David Petraeus, responsável pela gestão do
teatro de guerra do Iraque, manifestou a sua oposição a um ataque
contra o Irão.
"Na semana passada no Iraque o general David Petraeus, supremo comandante
de Bush no Iraque, denunciou a "guerra de substituição"
iraniana, embora tenha apoiado Washington quanto ao reforço militar
americano em Bagdad". (
Sunday Telegraph,
op cit)
O general Petraeus está bem consciente das implicações
subjacentes para o teatro de guerra no Iraque. Uma guerra no Irão
reflectir-se-á imediatamente no Iraque:
O Irão é o terceiro maior importador de sistemas de armas russos,
a seguir à Índia e à China. No decurso dos últimos
cinco anos, a Rússia tem prestado apoio à tecnologia de
mísseis balísticos do Irão, em negociações
concretizadas inicialmente em 2001 sob a presidência de Mohammed Khatami.
O Irão testou três novos tipos de mísseis terra-mar e
mar-mar no contexto das manobras militares "Grande Profeta II" em
Novembro passado. Estes testes ficaram marcados por um planeamento rigoroso
numa operação cuidadosamente encenada. Segundo um perito
americano em mísseis, "os iranianos demonstraram uma actualizada
tecnologia de lançamento de mísseis que o ocidente desconhecia
que possuíssem".
Teerão está em condições de retaliar e desencadear
ataques de mísseis balísticos contra as instalações
dos EUA e da coligação no Iraque, no Afeganistão e nos
estados do Golfo. Israel também poderá ser um alvo a atingir, se
Israel desempenhar um papel activo na campanha de bombardeamento.
As tropas terrestres iranianas podem atravessar a fronteira para o Iraque e
para o Afeganistão.
As forças do Irão totalizam cerca de 350 mil efectivos militares
activos e 350 mil reservistas (Jane's Iran Profile). O exército iraniano
dispõe de uns 2 200 tanques. Com estas condições, em
termos de efectivos militares e equipamento, o Irão poderá
infligir baixas significativas às tropas americanas e da
coligação no Iraque e no Afeganistão.
Nomeações militares de Bush-Cheney
Nos últimos meses têm sido feitas várias
nomeações que pretendem reforçar o controlo de Bush-Cheney
sobre as forças armadas. Especificamente, estas nomeações
dizem respeito aos cargos de presidente e vice-presidente do Estado-Maior
Conjunto, e dos comandantes respectivamente do USCENTCOM, do USSTRATCOM e do
Comando dos EUA no Pacífico. Todos estes três comandantes
resignaram recentemente aos seus cargos.
Estas novas nomeações são cruciais porque o USSTRATCOM, o
USCENTCOM e o Comando dos EUA no Pacífico virão a desempenhar
papeis chave na coordenação e implementação da
operação militar do Irão, em ligação com
Israel e a NATO.
1. Comando do Estado-Maior
Em Maio, foi despedido ("sem renovação") o presidente
do Estado-Maior Conjunto, general Peter Pace. O general Pace, nos
últimos meses, deu mostras do seu desacordo com a
administração em relação ao Iraque e aos previstos
ataques ao Irão. O general Pace declarou (em Fevereiro de 2007) que
não encontrava provas sólidas de que Teerão estivesse a
fornecer armas às milícias xiitas no interior do Iraque, o que
estava a ser apregoado pela administração Bush como
justificação para desencadear a guerra contra o Irão:
"Talvez seja por isso que ele está de saída. Talvez seja por
isso que não o reconduzem. Porque
Ele não encontrou provas
de que o Irão está a fomentar a efervescência no Iraque que
está a custar vidas aos americanos
" (Fox News' Alan Colmes,
ox News, 13.Junho. 2007)
O mandato do general Peter Pace como presidente do Estado-Maior Conjunto expira
no fim de Dezembro. O almirante Michael Mullen, antigo chefe de
Operações Navais dos EUA, é o sucessor escolhido por Gates,
secretário da Defesa, designado para substituir o general Peter Pace
como presidente do Estado-Maior Conjunto.
O discurso de Mullen contrasta fortemente com o do general Peter Pace. Mullen,
que foi responsável pela coordenação das manobras navais
de 2006-2007 ao largo da costa iraniana, exprimiu um empenho inabalável
em "travar" e "ganhar guerras assimétricas",
simultaneamente "protegendo os Estados Unidos":
"temos que garantir que dispomos da Força de Batalha, do povo e da
disponibilidade para o combate necessário para ganhar as guerras do
nosso país
A nossa Marinha está a travar a Guerra Global contra o Terrorismo
enquanto simultaneamente fornece uma Reserva Estratégica a nível
mundial para o Presidente e para os nossos Comandantes Unidos e
Combatentes
Já não é possível aceitar uma
acção de pura reacção à mudança, se
se quiser que a nossa Marinha tenha sucesso nas guerras assimétricas que
trava e em simultâneo detenha ameaças regionais e transnacionais.
(Declaração, Comissão das Forças Armadas do Senado,
7 de Maio de 2007)
A posição do almirante Mullen está em linha com a dos
principais ideólogos neo-conservadores da administração
Bush. No que se refere ao Irão, fazendo eco quase literalmente da
posição da Casa Branca, o almirante Mullen considera que é
"inaceitável que o Irão esteja a fornecer aos inimigos dos
EUA no Iraque e no Afeganistão condições para ferir e matar
tropas americanas". (Inside the Pentagon, 21/Junho/2007). Mas quanto
à questão do Irão, os Democratas estão no mesmo
barco. Há um consenso bipartidário, expresso pelo senador Jo
Lieberman:
"Quero que fique claro que não estou a falar de uma invasão
terrestre maciça do Irão
[mas de um] ataque pela fronteira
do Irão, onde temos boas provas de que há uma base em que andam a
treinar pessoas que depois regressam ao Iraque para matar os nossos
soldados". (AP, 11 de Junho de 2007)
Em Junho, o secretário da Defesa Gates nomeia o comandante do
USSTRATCOM, general Cartwright, para o cargo de vice-presidente do Estado-Maior
Conjunto. Juntamente com a nomeação do almirante Mullen, que
deverá assumir o seu cargo de presidente em Outubro, estas duas novas
nomeações implicam uma remodelação significativa na
estrutura de poder do Estado-Maior Conjunto.
No entretanto, o USSTRATCOM está a ser chefiado, temporariamente,
enquanto se aguarda a confirmação do Senado para um novo
comandante, pelo tenente general C. Robert Kehler da Força Aérea.
2. CENTCOM
Em Março o secretário da Defesa, Robert M. Gates, nomeou o
almirante William J. Fallon como chefe do Comando Central dos EUA (CENTCOM)
O almirante Fallon está inteiramente de acordo com os planos de guerra
da administração Bush no que se refere ao Irão. Substitui
o general John P. Abizaid, que foi empurrado para a reforma, na sequência
de aparentes divergências com o sucessor de Rumsfeld, o secretário
da Defesa Robert M. Gates. Enquanto que Abizaid reconheceu os fracassos e as
fraquezas das forças militares americanas no Iraque, o almirante Fallon
alinha de perto com o vice-presidente Dick Cheney. Também está
profundamente empenhado na "Guerra Global contra o Terrorismo". O
CENTCOM será responsável pela coordenação de um
ataque ao Irão a partir do teatro de guerra do Médio Oriente.
Além disso, a nomeação de um almirante é indicadora
de uma viragem na ênfase das funções do USCENTCOM no teatro
de guerra. A ênfase do "próximo período" é
no Irão em vez de no Iraque, exigindo a coordenação de
operações navais e aéreas no Golfo Pérsico.
3. Comando do Pacífico
Foi implementada outra importante nomeação militar, que tem uma
influência directa nos preparativos da guerra relativa ao Irão. Em
Março foi nomeado o almirante Timothy J. Keating, comandante do NORTHCOM
dos EUA, para chefiar o Comando dos EUA do Pacífico, o que inclui a
Quinta e a Sétima Esquadras. O comando da Sétima Esquadra do
Pacífico é o maior comando combatente dos EUA. Keating, que
substitui o almirante Fallon, é também um firme apoiante da
"guerra contra o terrorismo". O Comando no Pacífico
desempenhará um papel chave no contexto de uma operação
militar dirigida contra o Irão. (
http://www.pacom.mil/about/pacom.shtml
)
Significativamente, o almirante Keating também esteve envolvido no
ataque ao Iraque em 2003, como chefe do Comando Central das Forças
Navais dos EUA e da Quinta Esquadra.
É preciso compreender que estas novas nomeações militares
pretendem consolidar o poder de Bush-Cheney nas forças militares,
eliminando possíveis dissidências ou oposição
à agenda de guerra do Irão no seio dos escalões mais altos
das forças armadas americanas.
No entanto, não é provável que seja desencadeada uma
grande operação militar logo a seguir à tomada de posse de
Mullen como presidente do Estado-Maior Conjunto e antes da
confirmação do Senado americano de um novo comandante do
USSTRATCOM.
Papel central do USSTRATCOM na coordenação dos ataques
O USSTRATCOM terá a responsabilidade de supervisionar e coordenar este
posicionamento estratégico militar e também a de desencadear a
operação militar dirigida contra o Irão. (Para mais
pormenores, ver
'Nuclear War against Iran' de Michel Chossudovsky, Jan/2006
)
Em Janeiro de 2005 foi implementada uma reviravolta significativa no mandato do
USSTRATCOM. O USSTRACTCOM foi identificado como "o principal Comando
Combatente para a integração e sincronização dos
esforços a nível do Departamento da Defesa para combate às
armas de destruição maciça". Para implementar este
mandato, foi criada uma unidade de comando, novinha em folha, intitulada
Joint Functional Component Command Space and Global Strike
, ou JFCCSGS.
Com a supervisão do USSTRATCOM, o JFCCSGS será responsável
pelo desencadeamento das operações militares "utilizando
armas nucleares ou convencionais" em conformidade com a nova doutrina
nuclear da administração Bush. Estas duas categorias de armas
serão integradas numa "operação conjunta de
ataque" sob Comando e Controlo unificado.
Segundo Robert S. Norris, Hans M. Kristensen Robert S. Norris e Hans M.
Kristensen, que escreveram no
Bulletin of Atomic Scientists:
"O Departamento de Defesa está a actualizar os seus planos de
ataque nuclear de modo a reflectirem a nova orientação
presidencial e uma transição no planeamento de guerra passando do
Plano Operacional Único Integrado da Guerra Fria para uma família
de planos de ataque mais pequenos e mais flexíveis destinados a derrotar
os adversários actuais. O novo plano estratégico de guerra
é conhecido por OPLAN (Operations Plan) 8044
Este plano detalhado
e revisto fornece opções mais flexíveis para tranquilizar
os aliados e para dissuadir, deter e, se necessário, derrotar os
adversários numa gama de contingências mais vasta
Um dos membros da nova família é o CONPLAN 8922, um plano
conceptual para a utilização rápida de armamento nuclear,
convencional ou informático para destruir preventivamente, se
necessário "alvos urgentes" em qualquer parte do mundo.
No início de 2004 o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, emitiu
uma Ordem de Alerta que instruía os militares para pôr em
acção o CONPLAN 8022. Em consequência disso, a
política preventiva da administração Bush está
actualmente operacional nos bombardeiros de longo alcance, nos submarinos
estratégicos em patrulhas dissuasoras e, presumivelmente, nos
mísseis balísticos intercontinentais".
A implementação operacional do Ataque Global será feita
segundo o PLANO CONCEPTUAL (CONPLAN) 8022, que consiste hoje num "plano
actual que a Marinha e a Força Aérea traduzem num pacote de
ataque para os seus submarinos e bombardeiros".
(Japanese Economic Newswire,
30/Dezembro/2005. Para mais pormenores, ver 'Nuclear War against Iran' de
Michel Chossudovsky)
O CONPLAN 8022 é "o plano geral que cobre todos os cenários
estratégicos pré-planeados que envolvem armas nucleares".
'Tem em conta especificamente estes novos tipos de ameaças
Irão, Coreia do Norte e também a proliferação
e terroristas potenciais", disse. 'Não há nada que diga que
não se pode usar o CONPLAM 8022 em cenários limitados contra
alvos russos e chineses'. (Segundo Hans Kristensen, do Projecto de
Informações Nucleares, citado em
Japanese Economic News Wire,
op. cit.)
O USSTRACTOM desempenhará um papel central na tomada de decisões
e na coordenação na eventualidade de uma guerra contra o
Irão. A administração encarregou o USSTRACTOM de elaborar
planos de guerra centralizados dirigidos contra o Irão. O CENTCOM
ficará amplamente envolvido na execução desses planos de
guerra no teatro de guerra do Médio Oriente.
O USSTRATCOM é descrito como "um integrador global encarregado das
missões de ataque global de espectro total".
O USSTRACTOM é responsável pela coordenação das
estruturas de comando sob o C4ISR global (Command, Control, Communications,
Computers, Intelligence, Surveillance, and Reconnaissance). "O planeamento
dia a dia e a sua execução [pelo STRATCOM] para as áreas
de missões primordiais são feitos por cinco Comandos de
Componentes Funcionais ou JFCC's e mais três componentes funcionais".
Se o Irão retaliar, os EUA poderão usar armas nucleares
Os estrategas militares dos EUA, da NATO e de Israel estão perfeitamente
conscientes de que os "bombardeamentos punitivos" aéreos podem
conduzir as forças coligadas a um cenário de guerra terrestre em
que terão de se confrontar com forças iranianas e sírias
no campo de batalha.
Teerão confirmou que irá retaliar se for atacado, sob a forma de
ataques de mísseis balísticos dirigidos contra Israel e contra
instalações militares americanas no Iraque, no Afeganistão
e no Golfo Pérsico, que conduzirão de imediato a um
cenário de escalada militar e de guerra aberta.
As tropas iranianas podem atravessar a fronteira Irão-Iraque e
confrontar-se com forças da coligação no interior do
Iraque. Tropas e/ou Forças Especiais israelenses podem vir a entrar na
Síria.
Se o Irão vier a retaliar de forma vigorosa, o que está
contemplado pelos estrategas militares americanos, os EUA poderão
então retaliar com armas nucleares tácticas.
Este cenário de utilização de armas nucleares contra o
Irão tem estado em cima da mesa desde 2004. Em 2005, o vice-presidente
Dick Cheney encarregou o USSTRATCOM de estabelecer um "plano de
contingência" que "inclua um ataque aéreo de grande
escala ao Irão utilizando armas convencionais e nucleares
tácticas". (Philip Giraldi,
'Attack on Iran: Pre-emptive Nuclear War'
,
The American Conservative,
02/Agosto/2005).
Em relação aos actuais planos de guerra, Cheney confirmou a sua
intenção de atacar o Irão com armas nucleares.
"Diz-se que o vice-presidente defende o uso de armas nucleares
tácticas, rebenta bunkers, contra as instalações nucleares
do Irão. Os seus aliados desmentem isso, mas é voz corrente que
Cheney anda a fazer pressão para ataques aéreos se vierem a ser
identificados locais onde as unidades da Guarda Revolucionária treinam
milícias xiitas.
Notícias recentes sobre o Irão parece encaixarem-se no
padrão da escalada prevista por funcionários do
Pentágono". (
Sunday Telegraph,
op cit)
Autorização de posicionamento estratégico de armas
nucleares
Em Maio de 2004, foi publicada a Directiva Presidencial de Segurança
Nacional, NSPD 35, intitulada
Autorização de Posicionamento Estratégico de Armas Nucleares (Nuclear Weapons Deployment Authorization)
.
O conteúdo deste documento altamente sensível mantém-se em
segredo de estado muito bem guardado. Os meios de comunicação
não referiram a NSPD 35 que também não foi referida nos
debates do Congresso. Embora o seu conteúdo se mantenha confidencial,
presume-se que a NSPD 35 diz respeito ao posicionamento estratégico de
armas nucleares tácticas no teatro de guerra do Médio Oriente em
conformidade com o CONPLAM 8022.
Também foram posicionadas estrategicamente armas nucleares
tácticas dirigidas contra o Irão em bases militares de
vários estados não nucleares da NATO, incluindo a Alemanha, a
Itália, a Holanda, a Bélgica e a Turquia.
É preciso saber-se que, mesmo sem utilização de armas
nucleares, a intenção dos EUA de efectuar bombardeamentos
aéreos sobre as instalações nucleares do Irão
poderão dar azo a um desastre nuclear do tipo de Chernobyl ou numa
escala significativamente maior.
Cenário de III Guerra Mundial
Embora a guerra contra o Irão seja do conhecimento dos meios de
comunicação ocidentais, não aparece como notícia de
primeira página.
Não se abordam as enormes implicações duma
catástrofe iminente.
A escalada pode levar-nos a um cenário de III Guerra Mundial.
Dada a desinformação dos meios de comunicação,
subestima-se a gravidade de uma guerra dos EUA contra o Irão,
alegadamente em retaliação pela desobediência do
Irão à "comunidade internacional".
A propaganda de guerra consiste em "fabricar um inimigo" ao mesmo
tempo que se transmite a fantasia de que o mundo ocidental está a ser
atacado por terroristas islâmicos, que são directamente apoiados
pelo governo de Teerão.
"Tornar o mundo mais seguro", "evitar a
proliferação dos terríveis engenhos nucleares entre os
terroristas", "implementar acções punitivas contra o
Irão para garantir a paz". "Combater a
proliferação nuclear entre os estados terroristas
"
Com o apoio dos meios de comunicação ocidentais, estabeleceu-se
uma atmosfera generalizada de racismo e de xenofobia dirigida contra os
muçulmanos, especialmente na Europa ocidental, que propicia uma falsa
legitimidade à agenda de guerra dos EUA. Esta é apregoada como
uma "Guerra Justa". A teoria da "guerra justa" serve para
camuflar a natureza dos planos de guerra americanos, ao mesmo tempo que
apresenta os invasores com uma face humana.
O que é que se pode fazer?
O movimento anti-guerra está, em muitos aspectos, dividido e mal
informado sobre a natureza da agenda militar americana. Nos EUA, o United for
Peace and Justice apoia tacitamente a política externa do país.
Não consegue reconhecer a existência de um movimento de
resistência iraquiano. Além disso, estas mesmas
organizações anti-guerra, que estão empenhadas na Paz
Mundial, tendem a subestimar as implicações dos propostos
bombardeamentos dos EUA no Irão. De forma mais genérica, o
movimento anti-guerra não encara a existência de uma agenda
militar mais alargada para o Médio Oriente, uma longa guerra. As suas
acções são aos retalhos, centrando-se no
Afeganistão, no Iraque e na Palestina sem abordarem a
relação entre esses diversos teatros de guerra.
Para inverter a maré é necessário uma maciça
campanha de organização de uma rede de comunicações
para informar as pessoas por todo o lado, nacional e internacionalmente, na
vizinhança, no local de trabalho, na paróquia, na escola, na
universidade, no município, sobre os perigos de uma guerra patrocinada
pelos EUA, que contempla de modo bastante explícito o uso de armas
termonucleares. A mensagem deve ser feita em voz alta e bem sonante. Tal como
ficou confirmado no relatório da AIEA, a ameaça não
é o Irão.
Também tem que haver debates e discussões no seio da comunidade
militar e das informações, em especial no que se refere ao uso de
armas nucleares tácticas, nos corredores do Congresso americano, nos
municípios e em todos os níveis governamentais.
Finalmente, deve ser contestada a legitimidade dos actores políticos e
militares de altos cargos.
Os meios de comunicação também detêm uma pesada
responsabilidade pelo encobrimento dos crimes de guerra patrocinada pelos EUA.
É forçoso contestar a cobertura inquinada que fazem da guerra do
Médio Oriente.
Durante os dois últimos anos, Washington tem vindo a efectuar uma
"pressão diplomática" com o objectivo de alistar
países para o apoio à sua agenda militar. É essencial que
a nível diplomático, os países do Médio Oriente, da
Ásia, da Africa e da América Latina assumam uma
posição firme contra a agenda militar americana.
O que é preciso é quebrar a conspiração de
silêncio, denunciar as mentiras e as distorções dos meios
de comunicação, confrontar a natureza criminosa da
administração americana e dos governos que a apoiam, a sua agenda
de guerra assim como a chamada "agenda de Segurança Nacional"
que já definiu os contornos de um estado polícia.
O Mundo está na encruzilhada da mais grave crise da história
moderna. Os EUA embarcaram numa aventura militar, "uma longa guerra",
que ameaça o futuro da humanidade.
É essencial trazer o projecto de guerra dos EUA para o primeiro plano do
debate político, em especial na América do Norte e na Europa
ocidental. Os dirigentes políticos e militares que se opõem
à guerra devem assumir uma posição firme, a partir das
suas instituições. Os cidadãos também devem assumir
uma posição, individual e colectivamente, contra a guerra.
Este artigo inclui alguns excertos seleccionados de anteriores artigos meus
sobre os planos de guerra dos EUA em relação ao Irão. Para
rever os planos de guerra dos EUA em relação ao Irão, ver
o
dossier do Irão do Global Research
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16/Setembro/2007
O original encontra-se em
http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=6792
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Tradução de Margarida Ferreira.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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