A guerra ao Irão
por Michel Chossudovsky
Os EUA completaram as principais manobras militares no Golfo Pérsico a
curta distância das águas territoriais iranianas. Esta
demonstração naval destina-se a "enviar uma
advertência a Teerão" após a adopção da
Resolução 1747 do Conselho de Segurança das Nações Unidas
, a qual impõe grandes sanções
económicas ao Irão em retaliação pelo não
cumprimento das exigências americanas quanto ao seu programa de
enriquecimento de urânio.
Os jogos de guerra americanos junto ao litoral iraniano envolveram
a participação de dois porta-aviões, o USS John Stennis e
o USS Eisenhower com uns 10 mil elementos da marinha e mais de 100 aviões
de guerra. O porta-aviões USS John C. Stennis, que faz parte da 5ª
Frota Americana, entrou no Golfo Pérsico em 27 de Março,
escoltado pelo cruzador com mísseis guiados USS Antietam (CG-54). (ver
http://www.navy.mil/
).
O porta-aviões de grupo de ataque USS John C. Stennis e sua ala aérea,
o Carrier Air Wing (CVW) 9 dizem ter conduzido "um exercício
dual" junto com o USS Dwight D. Eisenhower Carrier Strike Group (IKE CSG):
"Esta é a primeira vez que os grupos de ataque Stennis e
Eisenhower operaram juntos num exercício conjunto enquanto adstritos
à 5ª Frota. Este exercício demonstra a importância e
a capacidade de ambos os grupos de ataque planearem e conduzirem
operações de força tarefa dupla como parte do compromisso
da Marinha para manterem segurança marítima e estabilidade na
região".
Os jogos de guerra foram conduzidos num momento de tensão
diplomática e confrontação após a
detenção pelo Irão de 15 elementos da Royal Navy
britânica, os quais estavam alegadamente a patrulhar dentro das
águas territoriais iranianas.
O governo britânico, apoiado pela desinformação dos media,
tem estado a utilizar este incidente tendo em vista criar uma
situação de confrontação com o Irão.
As manobras emparelhadas com as ameaças britânicas em
relação ao desdobrar da "Crise dos reféns"
constituem um acto de provocação da parte da aliança
militar anglo-americana.
Estes jogos de guerra no Golfo Pérsico e no Mar da Arábia
são a culminação de um processo mais vasto de planeamento
militar, o qual começou em meados de 2003 com o lançamento do
Iran Theater Near Term (TIRANNT). Este contemplava vários
"cenários" de intervenção militar americana
contra o Irão. No princípio de 2004, os cenários sob o
TIRANNT foram incorporados aos planos reais de bombardeamento aéreo do
Irão sob o "Concept Plan" (CONPLAN) 8022.
Em Maio de 2004, foi emitida a Directiva Presidencial de Segurança
Nacional NSPD 35, intitulada Nuclear Weapons Deployment Authorization. Apesar
de o seu conteúdo permanecer classificado, a presunção
é de que a NSPD 35 está ligada à instalação
de armas nucleares tácticas no teatro de guerra do Médio Oriente
em conformidade com o CONPLAN 8022.
Em 2005, os EUA, Turquia e Israel, em ligação com a NATO,
estavam activamente envolvidos no processo de planeamento desta
operação militar, com a acumulação e
instalação de sistemas de armas avançados. Israel estaria
envolvido activamente na operação militar.
Desde Agosto último, os EUA conduziram um certo número de
exercícios militares dentro e em torno do Golfo Pérsico. Desde
Setembro até Dezembro, foi efectuada uma grande simulação
de jogos de guerra intitulada Vigilant Shield O7. Os inimigos declarados
são Irmingham (Irão), Churya (China), Ruebek (Rússia) e
Nemesis (Coreia do Norte).
Para mais pormenores: ver
Iran Theater Near-Term (TIRANNT)
, de Michel Chossudovsky
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De acordo com a US Navy, a última série de manobras militares
americanas efectuada no fim de Março foi feita numa escala
significativamente maior do que nas demonstrações anteriores.
Relatos da imprensa sugerem que estas manobras constituíram a maior
demonstração do poder naval dos EUA desde a invasão do
Iraque em Março de 2003.
Quase em simultâneo, o Irão também esteve a efectuar
exercícios navais em grande escala no Golfo Pérsico, de modo que
tanto os EUA como o Irão estão prontos para a guerra.
Encruzilhada crítica
Um relato recente da imprensa russa, citando fontes da inteligência,
tocou um alarme. Segundo relato da RIA-Novosti, citado pela imprensa europeia
e israelense (Jerusalém Post), os EUA planeiam iniciar ataques
aéreos ao Irão sob a "Operation Bite", principiando na
Sexta-feira Santa, 6 de Abril, alvejando tanto sítios militares como
civis, incluindo o sistema de defesa aérea do Irão.
"Serviços de inteligência militar russos estão a
relatar um torvelinho de actividade das Forças Armadas americanas
próximas às fronteiras do Irão", disse
terça-feira uma fonte de segurança de alta patente.
"Os dados mais recentes da inteligência apontam para elevadas
preparações militares americanas tanto para
operações aéreas como terrestres contra o
Irão", disse o oficial, acrescentando que o Pentágono ainda
não tomara a decisão final sobre quando será
lançado um ataque.
Disse ele que o Pentágono estava a procurar um meio de efectuar um
ataque contra o Irão "que permitisse aos americanos por o
país de joelhos com um custo minimo".
Também disse que a presença naval americana no Golfo
Pérsico havia, pela primeira vez nos últimos quatro anos,
atingido o nível que existira pouco antes da invasão do Iraque em
Março de 2003.
O Col.-Gen. Leonid Ivashov, vice-presidente da Academia de Ciências
Geopolíticas, disse na semana passada que o Pentágono planeia
efectuar um ataque aéreo maciço à infraestrutura militar
do Irão no futuro próximo.
Apesar de a informação russa dever ser reconhecida, não
há, entretanto, qualquer evidência que a corrobore, a qual nos
permitiria apontar
o calendário exacto de um ataque militar ao
Irão.
Além disso, há vários factores importantes que sugerem, do
ponto de vista da organização militar, que, a menos que estejamos
a tratar com um caso de absoluta loucura política, o Pentágono
não está pronto a lançar um ataque ao Irão.
Nomeações militares chave
Várias nomeações militares chave foram efectuada no
decorrer do mês de Março. As mais significativas: o
almirante William J. Fallon
foi nomeado Comandante do U.S. Central Command (CENTCOM) em
16 de Março pelo secretário da Defesa Robert M. Gates. É
improvável que o almirante Fallon activasse uma operação
militar contra o Irão apenas umas poucas semanas a seguir à sua
nomeação como Comandante do CENTCOM.
Enquanto isso, uma outra importante nomeação militar foi
efectuada, a qual tem uma influência directa sobre
preparações de guerra contra o Irão. O almirante Timothy
J. Keating, comandante do US NORTHCOM, foi nomeado em 26 de Março para
dirigir o US Pacific Command, o qual inclui tanto a 5ª como a 7ª
frotas. A 7ª Frota do Pacific Command é o maior comando combatente
americano. Keating, que toma o comando do almirante Fallon, é
também um firme apoiante da "guerra ao terrorismo". O Pacific
Command estaria a desempenhar um papel chave no contexto de uma
operação militar contra o Irão.
http://www.pacom.mil/about/pacom.shtml
Igualmente significativo: em 2003 o almirante Keating também esteve
envolvido no ataque ao Iraque como comandante do US Naval Forces Central
Command e da 5ª Frota.
Enquanto estas nomeações chaves apontam para uma
consolidação da agenda militar neoconservadora no Médio
Oriente, elas sugerem também que os militares americanos não
lançariam uma nova fase da guerra no Médio Oriente antes de
consolidarem estas nomeações de comandos, particularmente aqueles
ao nível do US Central Command (CENTCOM), o qual é o comando
operacional chave encarregado do teatro de guerra do Médio Oriente.
O almirante Fallon é completamente aquiescente aos planos de guerra da
administração Bush em relação ao Irão. Ele
substitui o Gen. John P. Abizaid que foi pressionado à reforma, a seguir
a visíveis desacordos com o sucessor de Rumsfeld, o secretário da
Defesa Robert M. Gates. Enquanto Abizaid reconhecia tanto os fracassos como as
fraquezas dos militares americanos no Iraque, o almirante Fallon está
estreitamente alinhado com o vice-presidente Dick Cheney. Ele também
está firmemente comprometido com a "Global War on Terrorism"
(GWOT). A CENTCOM coordenaria um ataque ao Irão a partir do teatro de
Guerra do Médio Oriente.
Além disso, a nomeação de um almirante é indicativa
de uma mudança de ênfase nas funções do CENTCOM no
teatro de guerra. A ênfase da "guerra próxima" é
mais o Irão do que o Iraque, exigindo a coordenação de
operações de forças navais e aéreas no Golfo
Pérsico.
O poder naval americano na região
Actualmente há dois grupos de ataque em porta-aviões na
região do Golfo Pérsico, incluindo o Eisenhower e o Stennis.
Em comparação, a deslocação de forças navais
antes da blitzkrieg de Marços de 2003 contra o Iraque era numa escala
significativamente maior.
Nos primeiros meses de 2003 havia cinco porta-aviões americanos dentro
da distância de ataque ao Iraque, mais um porta-aviões
britânico. Na campanha de 2003, três grupos de ataque em
porta-aviões estiveram presentes no Golfo Pérsico (Lincoln,
Constellation e Kitty Hawk) e dois outros grupos americanos (Roosevelt e
Truman) estiveram envolvidos na coordenação de saídas de
bombardeamentos a partir do Mediterrâneo.
O USS Nimitz, porta-aviões movido a energia nuclear, e o grupo de
batalha que o acompanha, está actualmente a caminho do Golfo
Pérsico, o que elevaria o número de porta-aviões a
três.
É improvável que a acção militar comece antes de o
terceiro porta-aviões estar posicionado no teatro de guerra.
(Declarações oficiais, no entanto, indicaram que o Nimitz tomaria
o comando do USS Eisenhower e que apenas dois grupos de ataque em
porta-aviões estariam presentes na região do Golfo Pérsico
Mar da Arábia).
Além disso, a fraqueza americana no teatro de guerra do Iraque, as
capacidades do Irão para retaliar e infligir dano significativo
às forças americanas dentro do Iraque, bem como a
oposição crescente à presidência americana,
têm uma influência directa no timing de uma operação
militar dirigida contra o Irão.
O Irão está isolado politicamente
O Irão está politicamente isolado. O unilateralismo prevalece
nos corredores da ONU, bem como no interior do teatro de guerra do Médio
Oriente.
A resolução patrocinada pelos EUA nos Conselho de
Segurança das Nações Unidas recebeu apoio unânime.
As emendas propostas para o rascunho foram rejeitadas, a seguir a
pressões americanas. O texto da resolução foi adoptado
por unanimidade.
Nem a Rússia nem a China, que têm vastos acordos de
cooperação militar com Irão, exerceram o seu direito de
veto, nem tão pouco abstiveram-se.
O "consenso" no Conselho de Segurança da ONU foi
alcançado a seguir à crucial diplomacia nas sombras de Washington
a fim de assegurar o apoio unânime de todo o Conselho incluindo os seus
cinco membros permanentes mais a Alemanha, os quais participaram na
formulação do rascunho da resolução em consultas
separadas.
A resolução da ONU isolou totalmente o Irão: a China e a
Rússia foram arrastadas para uma aliança furtiva com os EUA.
O que é crucial na Resolução do Conselho de
Segurança é que nem a China nem a Rússia intervirão
do lado iraniano, se o Irão for atacado. Além disso, enquanto a
Rússia e a China são parceiros diplomáticos dos EUA nas
sanções económicas ao regime patrocinadas pela ONU, eles
são o objecto de ameaças militares americanas como se confirma
pela Operation Vigilant Shield 07. Esta última são
cenários de jogos de guerra efectuados de Setembro a Dezembro de 2006,
os quais explicitamente alvejam não só Nemesis (Coreia do Norte)
e Irmingham (Irão) como como Ruebek (Rússia) e Churia (China).
Alguém poderia esperar que "tratos" separados foram
alcançados com a China e a Rússia, em que certos compromissos
foram encontrados por Washington em discussões bilaterais. Tanto Pequim
como Moscovo, que são parceiros no Acordo de Cooperação de
Shanghai (SCO) estão numa situação claramente
ambígua de fechar um olho às ameaças militares americanas,
enquanto ao mesmo tempo apoiam os militares iranianos na
construção dos seus sistemas de defesa aéreo e terrestre
na eventualidade de ataques dos EUA-NATO-israelenses ao Irão, o qual tem
o estatuto de observador no Acordo de Cooperação de Shanghai.
O Irão é o terceiro maior importador de sistemas de armas russos,
após a Índia e a China. No decorrer dos últimos cinco
anos, a Rússia apoiou a tecnologia de mísseis balísticos
do Irão, em negociações efectuados em 2001 sob a
presidência de Mohammed Khatami.
Ironicamente, coincidindo com a decisão do Conselho de Segurança
da ONU em Março último, a imprensa russa confirmou que o Acordo
de Cooperação de Shanghai está realmente a considerar uma
ampliação, a qual podia consistir em conceder a plena
condição de membro a países do SCO (como o Irão)
que actualmente tem o estatuto de observadores.
Enquanto isso, o Congresso americano está em guerra com o presidente em
relação à estratégia de guerra no Iraque, mas nem
uma palavra é murmurada quanto a uma iminente guerra contra o
Irão, como se isto fosse totalmente irrelevante.
As ameaças são reais, um incidente poderia disparar uma guerra.
Os criminosos de guerra em altos cargos precisam desesperadamente desta guerra
para permanecerem no poder.
É improvável que o Congresso americano seja capaz de reverter
minimamente a decisão de ir à guerra com o Irão, apesar do
facto de que isto conduziria a uma catástrofe mundial, a uma escalada da
guerra, com uma iminente polícia de estado na América a fim de
apoiar a militarização de instituições civis.
O papel do US Strategic Command (USSTRATCOM)
Os neocons da administração Bush estão no controle de
nomeações militares chaves: especificamente aquelas relativas ao
Central Command (USCENTCOM), US Stratregic Command (USSTRATCOM) e à
Joint Chiefs of Staff.
Novas nomeações militares foram efectuadas recentemente. O
recém nomeado comandante do USCENTCOM, almirante Fallon,
desempenhará um papel chave na supervisão da
operação militar no teatro de guerra do Médio Oriente.
O USSTRATCOM dirigido pelo General James E. Cartwright, com sede na Offutt Air
Force Base, no Nebraska, desempenharia um decisivo papel central de
coordenação na eventualidade de uma guerra ao Irão. A
administração exigu ao USSTRATCOM que elaborasse planos de guerra
centralizados contra o Irão. O CENTCOM seria em grande parte envolvido
na execução destes planos no teatro de guerra do Médio
Oriente.
Convém recordar que em 2004 o vice-presidente Dick Cheney exigiu que o
USSTRATCOM formulou um plano de contingência contra o Irão
"para ser empregado em resposta a um outros ataque terrorista tipo 11 de
Setembro aos Estados Unidos" na presunção de que o governo
de Teerão estaria por trás do plano terrorista. O plano de
contingência incluía um assalto aéreo em grande escala
sobre o Irão empregando tanto armas convencionais como nucleares
tácticas.
O USSTRATCOM é descrito como "um integrador global encarregado da
missões de ataque global de pleno espectro".
O USSTRATCOM está encarregado da coordenação das
estruturas de comando sob o C4ISR global (Command, Control, Communications,
Computers, Intelligence, Surveillance, and Reconnaissance). "O
planeamento diário e a execução [pelo STRATCOM] para as
áreas de missão primária é feito por cinco Joint
Functional Component Commands ou JFCCs".
O Strategic Command (USSTRATCOM) está a passer por várias
mudanças organizacionais importantes, as quais têm uma
influência directa na implementação dos planos de guerra em
relação ao Irão. Segundo o comandante do USSTRATCOM,
General Cartwright, este está a desenvolver
"organizações novas funcionalmente alinhadas destinadas a
melhorar a nossa velocidade operacional e de progresso"
(declaração no subcomité de forças
estratégicas da Comité de Serviços Armados do Congresso).
"Movemo-nos da antiga tríade constituída por bombardeiros,
submarinos e os mísseis balísticos intercontinentais para outra
que é mais integrada e proporciona ao país um leque mais vasto de
actividades que podem dissuadir e garantir nossos aliados".
Segundo a declaração de Cartwright, os componentes funcionais
para inteligência, vigilância e reconhecimento, rede de
comunicações em guerra, rede global de operações,
operações de informação, defesa integrada de
mísseis e combate a armas de destruição em massa
estão a aproximar-se da plena capacidade operacional.
Além disso, o STRATCOM está a construir um sistema organizacional
"que pode ser conjunto desde o princípio, pode mover-se para
configurações combinadas ou de tipo aliado
assim isto
não tem de ser construído em tempos de crise", disse
Cartwright.
"Ter uma infraestrutura de defesa equilibrada apoiada por comando e
controle e a inteligência, vigilância e reconhecimento é
crítico para a estratégia", disse ele (U.S. Strategic
Command Refines, Fields New Capabilities Mar 9, 2007 por John J. Kruzel,
American Forces Press Service)
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01/Abril/2007
O original encontra-se em
globalresearch.ca
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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