por Michel Chossudovsky
[*]
Um dos principais objectivos da propaganda de guerra é "fabricar um
inimigo". O "inimigo do exterior" personificado por Osama bin
Laden está a "ameaçar a América".
É necessária uma guerra antecipativa
(pre-emptive)
contra os "terroristas islâmicos" para defender a mãe
pátria. A realidade é virada de pernas para o ar. A
América está a ser atacada.
Na sequência do 11 de Setembro, a criação deste
"inimigo do exterior" tem servido para esconder os verdadeiros
objectivos económicos e estratégicos por detrás da guerra
no Médio Oriente e na Ásia Central. Justificada por razões
de autodefesa, a guerra preventiva é publicitada como uma "guerra
justa" com um imperativo humanitário.
Na altura em que aumenta o sentimento anti-guerra e que a legitimidade
política da administração Bush vacila, é preciso
dissipar as dúvidas quanto à existência deste falso
"inimigo exterior".
O contra-terrorismo e a propaganda de guerra estão interligados. O
aparelho de propaganda alimenta a desinformação nas cadeias
noticiosas. Os alertas terroristas têm que parecer
"genuínos". O objectivo é apresentar os grupos
terroristas como "inimigos da América".
Ironicamente, a Al Qaeda o "inimigo exterior da
América" e alegado arquitecto do 11 de Setembro é uma
criação da CIA.
Desde o início da guerra sovieto-afegã no princípio dos
anos 80, que o aparelho de informações dos EUA apoiou a
formação das "brigadas islâmicas". A propaganda
tem como objectivo apagar a história da Al Qaeda, abafar a verdade e
"matar as testemunhas" sobre o modo como este "inimigo do
exterior" foi fabricado e transformado no "Inimigo Número
Um".
O aparelho de informações dos EUA criou as suas próprias
organizações terroristas. E, simultaneamente, criou os seus
alertas terroristas contra as organizações terroristas que ele
próprio criou. Entretanto, foi implantado um coeso programa de
contra-terrorismo no valor de milhares de milhões de dólares para
"perseguir" essas organizações terroristas.
Retratado de forma estilizada pelos meios de comunicação
ocidentais, Osama bin Laden, apoiado pelos seus diversos homens de
confiança, constitui o papão pós guerra-fria da
América, que "ameaça a democracia ocidental". A alegada
ameaça dos "terroristas islâmicos" infiltra-se em toda a
doutrina de segurança nacional dos EUA. O seu objectivo é
justificar guerras de agressão no Médio Oriente, e ao mesmo tempo
introduzir na América os contornos do Estado de Segurança da
Nação.
Antecedentes Históricos
Quais são as origens históricas da Al Qaeda? Quem é Osama
bin Laden?
O alegado cérebro por detrás dos ataques terroristas do 11 de
Setembro, Osama bin Laden, de origem saudita, foi recrutado durante a guerra
sovieto-afegã, "ironicamente sob os auspícios da CIA, para
combater os invasores soviéticos" (Hugh Davies, "`Informers'
point the finger at bin Laden; Washington on alert for suicide bombers."
['Informadores' apontam o dedo para bin Laden; Washington em alerta contra
bombistas suicidas].
The Daily Telegraph,
Londres, 24/Agosto/1998).
Em 1979 foi desencadeada no Afeganistão a maior operação
secreta na história da CIA.
"Com o encorajamento activo da CIA e do ISI do Paquistão, que
pretendiam transformar o Jihad afegão numa guerra global travada por
todos os estados muçulmanos contra a União Soviética,
juntaram-se à guerra do Afeganistão cerca de 35 000 radicais
muçulmanos de 40 países islâmicos entre 1982 e 1992. Outras
dezenas de milhares foram estudar nas madrassas paquistanesas. No total, houve
mais de 100 000 radicais muçulmanos estrangeiros que foram influenciados
directamente pela Jihad afegã". (Ahmed Rashid, "The Taliban:
Exporting Extremism" [Os Taliban: exportação do extremismo],
Foreign Affairs,
Novembro-Dezembro 1999).
Este plano dos serviços secretos dos EUA foi efectuado com o apoio
activo dos Inter Services Intelligence (ISI), do Paquistão, que foram
encarregados de canalizar ajuda militar secreta e fundos para as brigadas
islâmicas, em ligação com a CIA, as madrassas e campos de
treino mujahideen.
O apoio do governo dos EUA aos mujahideens foi apresentado à
opinião pública mundial como uma "resposta
necessária" à invasão soviética do
Afeganistão em 1979, em apoio ao governo pró-comunista de Babrak
Kamal.
A operação militar secreta da CIA no Afeganistão, que
consistiu na criação das "brigadas islâmicas",
foi desencadeada antes, e não depois, da entrada de tropas
soviéticas no Afeganistão. Na verdade, a intenção
de Washington era desencadear deliberadamente uma guerra civil, que já
dura há mais de 25 anos.
O papel da CIA no estabelecimento da fundação da Al Qaeda
está confirmado numa entrevista de 1998 a Zbigniew Brzezinski que, na
altura, era Conselheiro de Segurança Nacional do presidente Jimmy Carter.
Brzezinski:
Segundo a versão oficial da história, a ajuda da CIA aos
mujahideen começou em 1980, ou seja, depois de o exército
soviético ter invadido o Afeganistão, em 24 de Dezembro de 1979.
Mas, a realidade, guardada em segredo até hoje, é totalmente
diferente. Com efeito, foi em 3 de Julho de 1979 que o presidente Carter
assinou a primeira directiva para o apoio secreto aos opositores do regime
pró-soviético de Cabul.
E nesse mesmo dia, escrevi uma nota ao Presidente em que lhe explicava que, na
minha opinião, este apoio iria provocar uma intervenção
militar soviética.
Pergunta:
Apesar desse risco, o senhor foi defensor dessa acção
operação. Mas, provavelmente, o senhor também desejava
essa entrada soviética na guerra e queria provocá-la?
Brzezinski:
Não é bem assim. Não empurrámos os russos para
intervir, mas obviamente aumentámos a probabilidade de eles o fazerem.
Pergunta:
Quando os soviéticos justificaram a sua intervenção
afirmando que pretendiam lutar contra um envolvimento secreto dos Estados
Unidos no Afeganistão, as pessoas não acreditaram neles. No
entanto, havia nisso uma base de verdade. Hoje não lamenta nada?
Brzezinski:
Lamentar o quê? Essa operação secreta foi uma ideia
excelente. Teve como efeito atrair os russos para a ratoeira afegã e
quer que eu lamente? No dia em que os soviéticos atravessaram
oficialmente a fronteira, escrevi ao presidente Carter:
Temos agora a oportunidade de dar à URSS a sua Guerra do Vietname. Com
efeito, Moscovo teve que travar, durante quase 10 anos, uma guerra
insustentável para o governo, um conflito que provocou a
desmoralização e por fim a dissolução do
império soviético.
Pergunta:
E também não lamenta ter apoiado o fundamentalismo
islâmico, ao fornecer armas e conselho aos futuros terroristas?
Brzezinski:
O que é que é mais importante na história mundial? Os
Taliban ou o colapso do império soviético? Uns quantos
muçulmanos provocadores ou a libertação da Europa central
e o fim da Guerra-Fria?
("The CIA's Intervention in Afghanistan, Interview with Zbigniew
Brzezinski, President Jimmy Carter's National Security Adviser" [A
Intervenção da CIA no Afeganistão, Entrevista com Zbigniew
Brzezinski, Conselheiro de Segurança Nacional do Presidente Jimmy
Carter],
Le Nouvel Observateur,
Paris, 15-21/Janeiro/1998, publicada em inglês, em Centre for Research
on Globalisation,
http://www.globalresearch.ca/articles/BRZ110A.html
, 05/Outubro/2001, itálicos nossos).
Confirmando o relato de Brzezinski, a CIA criou uma "Rede Islâmica
Militante".
O "Jihad Islâmico" (ou guerra santa contra os
soviéticos) passou a fazer parte integrante da estratégia dos
serviços secretos da CIA. Foi apoiado pelos Estados Unidos e pela
Arábia Saudita, e financiado significativamente através do
tráfico de drogas do Crescente Dourado:
"Em Março de 1985, o presidente Reagan assinou a Directiva de
Decisão de Segurança Nacional 166
[que] autorizava o
reforço do apoio militar secreto aos mujahideen, e que tornava claro que
a guerra secreta afegã tinha um novo objectivo: derrotar as tropas
soviéticas no Afeganistão através de acção
secreta e estimular uma retirada soviética. A nova assistência
secreta dos EU começou com um aumento dramático no fornecimento
de armamento um aumento regular até 65 000 toneladas por ano em
1987
assim como uma "torrente infindável" de
especialistas da CIA e do Pentágono que viajaram até ao
quartel-general secreto do ISI do Paquistão na estrada principal perto
de Rawalpindi, no Paquistão. Aí, os especialistas da CIA reuniam
com quadros dos serviços secretos paquistaneses para apoiar planos de
operações para os rebeldes afegãos". (Steve Coll, The
Washington Post, 19 de Julho, 1992).
A CIA, utilizando o ISI do Paquistão como intermediário,
desempenhou um papel essencial no treino dos mujahideen. Por sua vez, os
ensinamentos do Islão foram integrados no treino de guerrilha
patrocinado pela CIA. Foram fundamentalistas Wahabi, financiados pela
Arábia Saudita, que fundaram as madrassas: "Foi o governo dos
Estados Unidos que apoiou o ditador paquistanês, general Zia-ul Haq, na
criação de milhares de escolas religiosas, de onde surgiram os
germes dos Taliban". (Revolutionary Association of the Women of
Afghanistan (RAWA), "RAWA Statement on the Terrorist Attacks in the
U.S.", Centre for Research on Globalisation (CRG),
http://globalresearch.ca/articles/RAW109A.html
, 16 de Setembro 2001)
Os temas predominantes eram que o Islão era uma ideologia
socio-política perfeita, que o sagrado Islão estava a ser
violentado pelas tropas soviéticas ateias, e que o povo islâmico
do Afeganistão devia reafirmar a sua independência derrubando o
regime afegão esquerdista apoiado por Moscovo. (Dilip Hiro, Fallout from
the Afghan Jihad [Dilip Hiro, Disseminação do Jihad
afegão], Inter Press Services, 21 de Novembro, 1995).
O ISI do Paquistão utilizado como "intermediário"
O apoio secreto da CIA ao "Jihad Islâmico", era prestado
indirectamente por intermédio do ISI paquistanês i.e., a
CIA não canalizava o seu apoio directamente para os mujahideen. Para que
estas operações secretas tivessem "êxito",
Washington tinha o cuidado de não revelar o objectivo supremo do
"Jihad", que consistia não apenas em desestabilizar o governo
laico (pró-soviético) do Afeganistão, mas também em
destruir a União Soviética.
Nas palavras de Milton Beardman da CIA, "Nunca treinámos
árabes". Mas, segundo Abdel Monam Saidali, do Centro Al-aram do
Cairo para Estudos Estratégicos, bin Laden e os "árabes
afegãos" receberam "diversos tipos de treino muito
sofisticados que lhes foram concedidos pela CIA". (National Public Radio,
Weekend Sunday (NPR) com Eric Weiner e Ted Clark, 16 de Agosto, 1998).
A este respeito, Beardman, da CIA, confirmou que Osama bin Laden não
tinha conhecimento do papel que estava a desempenhar no interesse de
Washington. Segundo bin Laden (citado por Beardman): "Nem eu, nem os meus
irmãos, vimos indícios de apoio americano". (National Public
Radio, Weekend Sunday (NPR) com Eric Weiner e Ted Clark,
transcrição, 16 de Agosto, 1998).
Motivados pelo nacionalismo e fervor religioso, os guerrilheiros
islâmicos não tinham consciência de que estavam a lutar
contra o exército soviético por conta do Tio Sam. Embora houvesse
contactos a níveis superiores da hierarquia das
informações, os chefes dos rebeldes islâmicos no teatro de
guerra não tinham contacto nem com Washington nem com a CIA.
Com o apoio da CIA e a canalização de quantidades maciças
de apoio militar dos EUA, o ISI paquistanês transformou-se numa
"estrutura paralela ao governo, de enorme poder em todos os aspectos.
(Dipankar Banerjee, "Possible Connection of ISI With Drug Industry"
[Possível Ligação do ISI à Indústria da
Droga],
India Abroad,
2 de Dezembro, 1994) O ISI tinha um corpo de funcionários de
informações e militares, burocratas, agentes secretos e
informadores, calculado em 150 mil pessoas. (ibid)
Entretanto, as operações da CIA também reforçaram o
regime militar paquistanês liderado pelo general Zia Ul Haq:
"As relações entre a CIA e o ISI tornaram-se cada vez mais
calorosas na sequência do golpe do [general] Zia que expulsou Bhutto e da
instituição do regime militar
Durante a maior parte da
guerra afegã, o Paquistão foi mais agressivamente
anti-soviético do que os próprios Estados Unidos. Logo depois de
as tropas soviéticas terem invadido o Afeganistão em 1980, Zia
[ul Haq] enviou o chefe do ISI para desestabilizar os estados soviéticos
da Ásia central. A CIA só concordou com este plano em Outubro de
1984.
A CIA era mais cautelosa do que os paquistaneses. Tanto o Paquistão como
os Estados Unidos assumiram uma atitude de mistificação no
Afeganistão com uma postura pública de negociarem um acordo,
enquanto secretamente acordavam que a escalada militar era o melhor
percurso". (Diego Cordovez e Selig Harrison, "Out of Afghanistan: The
Inside Story of the Soviet Withdrawal" [Saída do
Afeganistão: a História da Retirada Soviética], Oxford
University Press, New York, 1995. Ver também a análise de
Cordovez e Harrison em International Press Services, 22 de Agosto, 1995).
A CIA patrocinou o tráfico de narcóticos
A história do tráfico de drogas na Ásia Central
está intimamente ligada às operações secretas da
CIA. Antes da guerra sovieto-afegã, a produção do
ópio no Afeganistão e no Paquistão ia directamente para os
pequenos mercados regionais. Não havia produção local de
heroína. (Alfred McCoy, "Drug Fallout: the CIA's Forty Year
Complicity in the Narcotics Trade" [Disseminação da Droga:
Quarenta Anos de Cumplicidade da CIA], The Progressive, 1 de Agosto, 1997)
O estudo do investigador Alfred McCoy confirma que, dois anos depois do assalto
da operação CIA no Afeganistão, "as áreas
fronteiriças entre o Paquistão e o Afeganistão tinham-se
tornado no maior produtor mundial de heroína, fornecendo 60 por cento da
procura dos EUA". (ibidem)
"Eram de novo homens de mão da CIA quem controlava este
comércio de heroína. Quando os guerrilheiros mujahideen
conquistavam território no interior do Afeganistão, ordenavam aos
camponeses que plantassem ópio como tarefa revolucionária. Do
outro lado da fronteira no Paquistão, líderes afegãos e
organizações locais, sob a protecção dos
serviços secretos paquistaneses, dirigiam centenas de
laboratórios de heroína. Durante esta década de
tráfico de droga totalmente aberto, a Agência de Combate à
Droga dos EUA em Islamabad não se preocupou em fazer apreensões
de vulto ou detenções
(ibidem)
O Afeganistão é um eixo estratégico na Ásia
Central, junto à fronteira ocidental da China e à antiga
União Soviética. Formando uma ponte terrestre, entre os
corredores das condutas de petróleo e de gás, que liga a bacia do
Mar Cáspio ao Mar Arábico, é também
estratégico pela sua produção de ópio que
actualmente, segundo fontes da ONU, fornece mais de 90% do mercado mundial de
heroína, representando receitas de muitos milhares de milhões de
dólares para as organizações envolvidas no negócio,
instituições financeiras, agências de
informações e crime organizado. (Ver "America's War on
Terrorism" [Guerra da América contra o Terrorismo], de Michel
Chossudovsky, Global Research, 2005, Capítulo XVI).
Com a protecção da CIA, deu-se uma nova explosão na
produção de ópio na era pós guerra-fria. Desde a
invasão do Afeganistão pelos EUA em Outubro de 2001, a
produção de ópio aumentou 33 vezes mais desde a
invasão liderada pelos EUA. A estimativa dos lucros anuais provenientes
do tráfico de droga do Crescente Dourado aponta para 120 a 194 mil
milhões de dólares (2006), representando mais de um terço
do movimento de vendas anual mundial do tráfico de narcóticos.
(Michel Chossudovsky, "Heroin is good for Your Health, Occupation Forces
Support Afghan Drug Trade" [A Heroína é boa para a
saúde, forças de ocupação apoiam o tráfico
de droga afegão], Global Research, Abril de 2007. Ver também
Douglas Keh, "Drug Money in a Changing World" [Dinheiro da droga num
mundo em mudança], Technical document No. 4, 1998).
Da guerra sovieto-afegã à "guerra contra o terrorismo"
Apesar do desmantelamento da União Soviética, o extenso aparelho
militar e de inteligência do Paquistão (o ISI) não foi
desmantelado. Na sequência da Guerra-Fria, a CIA continuou a apoiar as
brigadas islâmicas a partir do Paquistão. Foram desencadeadas
novas iniciativas secretas no Médio Oriente, na Ásia Central, nos
Balcãs e no sul da Ásia Oriental. No seguimento imediato da
Guerra-Fria, o ISI do Paquistão "serviu como catalisador para a
desintegração da União Soviética e o nascimento de
seis novas repúblicas muçulmanas na Ásia central".
(International Press Services, 22/Agosto/1995).
Entretanto, missionários islâmicos da seita Wahabi da
Arábia Saudita, instalaram-se nas repúblicas muçulmanas,
assim como no interior da federação russa, invadindo as
instituições estatais laicas. Apesar da sua ideologia
anti-americana, o fundamentalismo islâmico estava a servir, e bem, os
interesses estratégicos de Washington na antiga União
Soviética, nos Balcãs e no Médio Oriente.
Depois da retirada das tropas soviéticas em 1989, a guerra civil no
Afeganistão continuou sem tréguas. Os Taliban estavam a ser
apoiados pelos Deobandis paquistaneses e pelo seu partido político, o
Jamiat-ul-Ulema-e-Islam (JUI). Em 1993, o JUI entrou na coligação
governamental do Paquistão do primeiro-ministro Benazzir Bhutto.
Estabeleceram-se laços entre o JUI, o exército e o ISI. Em 1996,
com a queda do governo de Hezb-I-Islami Hektmatyar em Cabul, os Taliban
não só instauraram um governo islâmico ditatorial, como
"entregaram o controlo dos campos de treino no Afeganistão
às facções JUI
". (Ahmed Rashid, "The
Taliban: Exporting Extremism" "Os Taliban: exportação
do extremismo],
Foreign Affairs,
Novembro - Dezembro, 1999, p. 22.)
O JUI, com o apoio do movimento saudita Wahabi, desempenhou um papel essencial
no recrutamento de voluntários para lutar nos Balcãs e na antiga
União Soviética. (ibidem)
Jane Defence Weekly confirma que "metade dos homens e equipamentos dos
Taliban eram de origem paquistanesa proveniente do ISI". De facto, viria a
saber-se que, depois da retirada dos soviéticos, ambos os lados da
guerra civil afegã continuaram a receber apoio secreto dos EUA
através do ISI paquistanês. (Tim McGirk, "Kabul Learns to
Live with its Bearded Conquerors" [Cabul aprende a conviver com os seus
conquistadores barbudos],
The Independent,
London, 06/Novembro/1996.)
Com o apoio dos serviços secretos militares do Paquistão, que por
sua vez eram controladas pela CIA, o estado islâmico Taliban servia
enormemente os interesses geopolíticos dos EUA. Sem dúvida
é isto que explica porque é que Washington fechou os olhos ao
reino de terror imposto pelos Taliban em 1996, incluindo a escandalosa
abolição dos direitos da mulher, o encerramento das escolas para
raparigas, a despedida de mulheres empregadas em lugares governamentais e a
aplicação coerciva das "leis de punição
Sharia". (K. Subrahmanyam, "Pakistan is Pursuing Asian Goals" [O
Paquistão e os seus objectivos asiáticos],
India Abroad,
03/Novembro/1995.)
O tráfico de drogas do Crescente Dourado continuou também a ser
utilizado para financiar e equipar o Exército Muçulmano
Bósnio (a começar no início dos anos 90) e o
Exército de Libertação do Kosovo (ELK). De facto, na
altura dos ataques de 11 de Setembro, havia mercenários mujahideen
patrocinados pela CIA a lutar nas fileiras dos terroristas ELK-ELN nas suas
incursões na Macedónia.
A guerra na Tchetchénia
Na Tchetchénia, a renegada região autónoma da
Federação Russa, os principais rebeldes russos, Shamil Basayev e
Al Khattab, foram treinados e endoutrinados em campos patrocinados pela CIA no
Afeganistão e Paquistão. Segundo Yossef Bodansky, director da
Task Force do Congresso Americano, para a Guerra Não Convencional e
Contra o Terrorismo, a guerra na Tchetchénia foi planeada durante uma
cimeira secreta da HizbAllah International realizada em 1996 em Mogadishu, na
Somália. (Levon Sevunts, "Who's Calling The Shots? Chechen conflict
finds Islamic roots in Afghanistan and Pakistan" [Quem são os
responsáveis? O conflito tchetcheno tem raízes islâmicas no
Afeganistão e no Paquistão],
The Gazette,
Montreal, 26/Outubro/1999.)
Na cimeira esteve presente nada menos que Osama bin Laden, assim como
funcionários de alta patente das informações iranianas e
paquistanesas. É óbvio que o envolvimento do ISI do
Paquistão na Tchetchénia "vai muito além de fornecer
os tchetchenos com armas e conselho especializado. O ISI e os seus
mandatários radicais islâmicos são quem manda nesta
guerra". (ibidem)
A principal rota de oleodutos da Rússia atravessa a Tchetchénia e
o Daguestão. Apesar de Washington condenar o "terrorismo
islâmico", os beneficiários indirectos das guerras na
Tchetchénia são os conglomerados petrolíferos
anglo-americanos que rivalizam pelo controlo total dos recursos
petrolíferos e dos corredores de oleodutos a partir da bacia do Mar
Cáspio.
Os dois principais exércitos rebeldes tchetchenos (que na altura eram
liderados pelo (falecido) comandante Shamil Basayev e por Emir Khattab),
calculados em 35 mil efectivos poderosos, eram apoiados pelo ISI do
Paquistão, que também desempenhou um papel chave na
organização e treino do exército rebelde.
"[Em 1994] o ISI paquistanês providenciou para que Basayev e os seus
lugar-tenentes de confiança se submetessem a uma intensa
endoutrinação islâmica e treino de guerra de guerrilha na
província Khost do Afeganistão no campo de Amir Muawia, fundado
no início dos anos 80 pela CIA e pelo ISI e dirigido pelo famoso
comandante afegão Gulbuddin Hekmatyar. Em Julho de 1994, depois de se
graduar em Amir Muawia, Basayev foi transferido para o campo Markaz-i-Dawar no
Paquistão para se submeter ao treino em tácticas avançadas
de guerrilha. No Paquistão, Basayev conheceu os funcionários de
informações e militares de patente mais alta do Paquistão:
o ministro da Defesa, general Aftab Shahban Mirani, o ministro do Interior,
general Naserullah Babar, e o chefe do ramo do ISI responsável pelo
apoio às causas islâmicas, general Javed Ashraf (todos eles
reformados actualmente). Estes conhecimentos a alto nível cedo provaram
ser muito úteis para Basayev". (ibidem)
Depois do treino e da breve endoutrinação, Basayev foi
encarregado de chefiar o assalto às tropas federais russas na primeira
guerra tchetchena em 1995. A sua organização também tinha
estabelecido fortes ligações com as organizações
criminosas em Moscovo assim como laços com o crime organizado
albanês e o ELK. Em 1997-1998, segundo o Serviço de
Segurança Federal da Rússia (SSF), "os guerrilheiros
tchetchenos começaram a comprar propriedades no Kosovo
embora
várias empresas imobiliárias estivessem registadas na
Jugoslávia, como disfarce". (Vitaly Romanov e Viktor Yadukha,
"Chechen Front Moves To Kosovo" [Frente tchetchena avança no
Kosovo], Segodnia, Moscow, 23/Fevereiro/2000)
O desmantelamento de instituições laicas na antiga União
Soviética
A imposição da lei islâmica nas sociedades
muçulmanas, fortemente laicas, da antiga União Soviética
serviu os interesses estratégicos da América na região.
Antes disso, em todas as repúblicas da Ásia Central e do
Cáucaso, incluindo a Tchetchénia e o Daguestão (que fazem
parte da Federação Russa) dominava uma longa
tradição laica baseada na rejeição da lei
islâmica.
A guerra da Tchetchénia de 1994-1996, instigada pelos principais
movimentos rebeldes contra Moscovo, serviu para sabotar as
instituições estatais laicas. Em muitas localidades da
Tchetchénia foi implantado um sistema paralelo de governo local,
controlado pelas milícias islâmicas. Nalgumas das pequenas aldeias
e cidades, foram instaurados tribunais Sharia num ambiente de terrorismo
político.
A ajuda financeira da Arábia Saudita e dos estados do Golfo aos
exércitos rebeldes foi condicionada à instalação
dos tribunais Sharia, apesar da forte oposição da
população civil. O Juiz Principal e emir dos tribunais Sharia na
Tchetchénia foi o xeque Abu Umar, que "chegou à
Tchetchénia em 1995, na altura sob a chefia de Ibn-ul-Khattab
Dedicou-se a ensinar o Aqeedah [Credo] correcto do Islão aos mujahideen
tchetchenos, muitos dos quais tinham crenças incorrectas e distorcidas
sobre o Islão".
(Global Muslim News,
http://www.islam.org.au/articles/21/news.htm
, Dezembro/1997).
Entretanto, as instituições estatais da Federação
Russa na Tchetchénia desmoronavam-se sob o peso das medidas de
austeridade patrocinadas pelo FMI, impostas durante a presidência de
Boris Yeltsin. Em contrapartida, os tribunais Sharia, financiados e equipados
pela Arábia Saudita, foram gradualmente substituindo as existentes
instituições estatais da Federação Russa e da
região autónoma tchetchena.
O movimento Wahabi da Arábia Saudita não só estava a
tentar invadir as instituições civis estatais no Daguestão
e na Tchetchénia, como estava também a tentar expulsar os
tradicionais lideres muçulmanos Sufi. De facto, a resistência aos
rebeldes islâmicos no Daguestão teve como base a aliança
dos governos locais (laicos) com os xeques Sufi:
"Estes grupos [Wahabi] são formados por uma minoria muito pequena,
mas bem financiada e bem armada. Pretendem com estes ataques criar o terror no
coração das massas
Criando a anarquia e a falta de respeito
pela lei, estes grupos podem impor a sua marca cruel e intolerante do
Islão
Estes grupos não representam a opinião
corrente do Islão, aceite pela grande maioria de muçulmanos e
intelectuais islâmicos, para quem o Islão exemplifica o paradigma
perfeito da civilização e da moral. Representam o que não
passa de um movimento para a anarquia sob um rótulo islâmico
A intenção deles não é criar um estado
islâmico, mas criar um estado de confusão em que possam
prosperar". (Mateen Siddiqui, "Differentiating Islam from Militant
'Islamists'" [Separar o Islão dos militantes
"islamistas"]
San Francisco Chronicle
, 21/Setembro/1999
O estímulo aos movimentos separatistas na Índia
Paralelamente às operações secretas nos Balcãs e na
antiga União Soviética, o ISI do Paquistão tem dado apoio,
desde os anos 80, a diversas rebeliões separatistas islâmicas em
Caxemira, na Índia.
Embora oficialmente condenadas por Washington, estas operações
secretas do ISI foram levadas a efeito com a aprovação
tácita do governo dos EUA. Coincidindo com o Acordo de Paz de Genebra de
1989 e com a retirada soviética do Afeganistão, o ISI foi
essencial na criação do movimento militante Jammu e Kashmir
Hizbul Mujahideen (JKHM). (Ver K. Subrahmanyam, "Pakistan is Pursuing
Asian Goals" [O Paquistão e os seus objectivos asiáticos],
India Abroad,
03/Novembro/1995).
Logo a seguir ao 11 de Setembro, os ataques terroristas de Dezembro de 2001 ao
Parlamento Indiano que contribuíram para pôr a Índia
e o Paquistão em pé de guerra foram liderados por dois
grupos rebeldes com base no Paquistão, Lashkar-e-Taiba, (Exército
dos Puros) e Jaish-e-Muhammad (Exército de Maomé), ambos
secretamente apoiados pelo ISI do Paquistão. (Conselho de
Relações Estrangeiras, "Terrorism: Questions and Answers,
Harakat ul-Mujahideen, Lashkar-e-Taiba, Jaish-e-Muhammad" [Terrorismo:
perguntas e respostas,, Harakat ul-Mujahideen, Lashkar-e-Taiba,
Jaish-e-Muhammad]
http://www.terrorismanswers.com/groups/harakat2.html
, Washington 2002. Nota: Este relatório deixou de estar
disponível no sítio web do CFR)
O oportuno ataque ao Parlamento Indiano, seguido de motins étnicos no
Gujarat no início de 2002, foram o culminar de um processo iniciado nos
anos 80, financiado por dinheiro da droga e com a cumplicidade das
informações militares do Paquistão.
Não é necessário dizer, mas estes ataques terroristas
apoiados pelo ISI serviram os interesses geopolíticos dos EUA. O
poderoso Council on Foreign Relations (CFR) que desempenha um papel de
bastidores na formulação da política externa dos EUA,
confirma que os grupos rebeldes Lashkar e Jaish são apoiados pelo ISI:
Através do ISI, o Paquistão forneceu fundos, armas,
instalações de treino, e ajuda para atravessar as fronteiras para
Lashkar e Jaish. Este apoio uma tentativa para repetir em Caxemira a
"guerra santa" das brigadas islâmicas internacionais contra a
União Soviética no Afeganistão ajudou a introduzir
o Islão radical no já longo conflito sobre o destino de
Caxemira
Esses grupos recebiam fundos de outras origens para além do governo do
Paquistão?
Sim. Membros das comunidades paquistanesas e de Caxemira em Inglaterra enviaram
milhões de dólares por ano, e os simpatizantes Wahabi do Golfo
Pérsico também prestaram ajuda.
Os terroristas islâmicos em Caxemira têm ligações
à Al Qaeda?
Sim. Em 1998, o líder de Harakat, Farooq Kashmiri Khalil, assinou a
declaração de Osama bin Laden apelando a ataques contra
americanos, incluindo civis, e seus aliados. Também se suspeita que bin
Laden tenha financiado Jaish, segundo funcionários americanos e
indianos. E Maulana Massoud Azhar, que fundou o Jaish, foi ao
Afeganistão várias vezes, para se encontrar com bin Laden.
Onde foram treinados esses militantes islâmicos?
Muitos deles receberam treino ideológico nas mesmas madrassas, ou
seminários muçulmanos, que ensinaram os Taliban e os combatentes
estrangeiros no Afeganistão. Receberam treino militar em campos no
Afeganistão ou em aldeias na parte de Caxemira controlada pelo
Paquistão. Grupos extremistas abriram recentemente várias
madrassas novas em Azad Caxemira.
(Council on Foreign Relations, "Terrorism: Questions and Answers, Harakat
ul-Mujahideen, Lashkar-e-Taiba, Jaish-e-Muhammad",
http://www.terrorismanswers.com/groups/harakat2.html
Washington, 2002. Este texto foi retirado do sítio web do CFR em 2006)
O que o Council on Foreign Relations se esquece de reconhecer são as
ligações entre o ISI e a CIA e o facto de que as "brigadas
islâmicas internacionais" foram uma criação da CIA.
Insurreições na China patrocinadas pelos EUA
Significativo para a compreensão da "Guerra contra o
Terrorismo" da América é a existência de
insurreições islâmicas, apoiadas pelo ISI, na fronteira
ocidental da China com o Afeganistão e o Paquistão, De facto,
vários dos movimentos islâmicos nas repúblicas
muçulmanas da antiga União Soviética estão
integrados nos movimentos do Turquestão e de Uigur na região
autónoma da China Xinjiang-Uigur.
Estes grupos separatistas que incluem a Força Terrorista do
Turquestão Oriental, o Partido Islâmico Reformista, a
Aliança de Unidade Nacional do Turquestão Oriental, a
Organização de Libertação Uigur e o Partido Jihad
Uigur da Ásia Central receberam, todos eles, apoio e treino da Al
Qaeda de Osama bin Laden. (Segundo fontes oficiais chinesas citadas pela UPI,
20/Novembro/2001). O objectivo declarado destas insurreições
islâmicas com base na China é o "estabelecimento dum califado
islâmico na região". (Defence and Security, 30/Maio/2001).
O califado deverá integrar o Uzbequistão, o Tajiquistão, o
Quirguistão (Turquestão ocidental) e a região
autónoma de Uigur, da China (Turquestão ocidental) numa
única entidade política.
O "projecto do califado" colide com a soberania territorial da China.
Apoiado pelas diversas "fundações" Wahabi dos estados
do Golfo, o separatismo na fronteira ocidental da China é, mais uma vez,
consistente com os interesses estratégicos dos EUA na Ásia
Central. Entretanto, um poderoso grupo de pressão localizado nos EUA
está a canalizar apoios às forças separatistas do Tibete.
Promovendo tacitamente a secessão da região de Xinjiang-Uigur
(usando o ISI do Paquistão como "intermediário"),
Washington está a tentar desencadear um processo mais alargado de
desestabilização política e de fractura da
República Popular da China. Para além destas diversas
operações secretas, os EUA instalaram bases militares no
Afeganistão e em várias das antigas repúblicas
soviéticas, directamente na fronteira ocidental da China.
A militarização do sul do Mar da China e do Estreito de Taiwan
faz também parte integrante desta estratégia.
Jugoslávia
Durante os anos 90, o ISI do Paquistão foi utilizado pela CIA como seu
intermediário para canalizar armas e mercenários
mujahideen para o Exército Muçulmano Bósnio na guerra
civil na Jugoslávia. Segundo um relatório da International Media
Corporation, com sede em Londres:
"Fontes fidedignas relatam que os Estados Unidos estão [em 1994] a
participar activamente no armamento e no treino das forças
muçulmanas da Bósnia-Herzegovina, em directa
contravenção com os acordos das Nações Unidas.
Agências americanas têm vindo a fornecer armas feitas na
China (RPC), Coreia do Norte e Irão. As fontes indicam que
o
Irão, com o conhecimento e acordo do governo dos EUA, forneceu às
forças bósnias um grande número de lançadores de
foguetes múltiplos e uma grande quantidade de munições.
Estas incluíam foguetes de 107 mm e de 122 mm da RPC, e
lançadores de foguetes múltiplos VBR-230
feitos no
Irão
Também relatam que chegaram à Bósnia 400
membros da Guarda Revolucionária Iraniana (Pasdaran) com grande
quantidade de armas e munições. Foi alegado que a CIA tinha
perfeito conhecimento da operação e que achava que alguns desses
400 tinham sido destacados para futuras operações terroristas na
Europa ocidental.
A administração americana não limitou o seu envolvimento
à transgressão clandestina do embargo de armas da ONU na
região
Também envolveu três delegações
de altas patentes nos últimos dois anos [antes de 1994] em tentativas
frustradas para conseguir alinhar o governo da Jugoslávia com a
política dos EUA. A Jugoslávia é o único estado da
região que não aceitou a pressão dos EUA".
(International Media Corporation, "Defence and Strategy Policy, U.S.
Commits Forces, Weapons to Bosnia" [Política de defesa e
estratégia, os EUA enviam forças e armas para a Bósnia],
Londres, 31/Outubro/1994).
"Gato Escondido
"
Ironicamente, as operações militares secretas da
administração dos EUA na Bósnia, que consistiram em
promover a formação de "brigadas islâmicas",
foram amplamente documentadas pelo Partido Republicano. Um extenso
relatório ao Congresso feito pela Comissão do Partido Republicano
(RPC) do Senado, publicado em 1997, confirma totalmente o relatório da
International Media Corporation acima citado. O relatório da RPC ao
Congresso acusa a administração Clinton de ter "transformado
a Bósnia numa base islâmica militante" provocando o
recrutamento de milhares de mujahideen do mundo muçulmano através
da chamada "Rede Islâmica Militante":
"Talvez que a maior ameaça para a missão SFOR [força
de estabilização da NATO] e, mais importante ainda, para a
segurança do pessoal americano que presta serviço na
Bósnia seja
a falta de vontade da administração de Clinton em reconhecer
perante o Congresso e o povo americano a sua cumplicidade na entrega de armas
do Irão ao governo muçulmano em Serajevo.
Essa política, pessoalmente aprovada por Bill Clinton em Abril de 1994
por insistência do director designado da CIA (e na altura chefe do CSN),
Anthony Lake e do embaixador americano na Croácia, Peter Galbraith, tem,
segundo o
Los Angeles Times
(citando fontes confidenciais da comunidade de informações)
'desempenhado um papel central no aumento dramático da influência
iraniana na Bósnia'.
(
)
Juntamente com as armas, entraram na Bósnia em grande número
Guardas Revolucionários Iranianos e operacionais de
informações do VEVAK, juntamente com milhares de mujahideen
("guerrilheiros sagrados") vindos de todo o mundo muçulmano.
Envolvidos no mesmo esforço, houve outros países
muçulmanos (incluindo o Brunei, a Malásia, o Paquistão, a
Arábia Saudita, o Sudão e a Turquia) e uma série de
organizações muçulmanas radicais.
Por exemplo, está bem documentado o papel de uma
"organização humanitária" com base no
Sudão, chamada Agência de Assistência ao Terceiro Mundo. O
envolvimento activo da administração Clinton
na canalização de armas da rede islâmica incluiu
inspecções de mísseis saídos do Irão por
funcionários do governo
a Agência de Assistência ao
Terceiro Mundo (TWRA), uma falsa organização humanitária
com sede no Sudão
tem sido um elo importante na
canalização de armas para a Bosnia
Crê-se que a TWRA
está relacionada com figuras da rede de terroristas islâmicos como
o Xeque Omar Abdel Rahman (o cérebro que foi condenado por ter estado
por detrás das explosões bombistas no World Trade Center em 1993)
e Osama bin Laden, um rico saudita emigrado que se pensa financiar numerosos
grupos militantes.
[
Washington Post,
22/Setembro/1996]
(Comunicado do Congresso à Imprensa, da Comissão do Partido
Republicano (RPC), Congresso dos EU, "Clinton-Approved Iranian Arms
Transfers Help Turn Bosnia into Militant Islamic Base"
[Transferência de armas iranianas, aprovada por Clinton, transformam a
Bósnia numa base islâmica militante], Washington DC,
16/Janeiro/1997, disponível no sítio web do Centre of Research on
Globalisation (CRG) em
http://globalresearch.ca/articles/DCH109A.html
. O documento original encontra-se no sítio web da Comissão do
Partido Republicano, do Senado americano (Senator Larry Craig), em
http://www.senate.gov/~rpc/releases/1997/iran.htm
; ver também
Washington Post,
22/Setembro/1999, Itálicos nossos)
Cumplicidade da administração Clinton
Por outras palavras, o relatório da Comissão do Partido
Republicano confirma inequivocamente a cumplicidade da
administração Clinton com diversas organizações
islâmicas fundamentalistas incluindo a Al Qaeda.
Os Republicanos queriam na altura minar a administração Clinton.
No entanto, numa altura em que todo o país tinha os olhos pregados no
escândalo de Mónica Lewinsky, os Republicanos preferiram sem
dúvida não provocar uma inoportuna questão
"iraniano-bosniagate" que sem dúvida desviaria
desnecessariamente a atenção pública do escândalo
Lewinsky. Os Republicanos preferiram acusar Bill Clinton "de ter mentido
ao Povo Americano" no que se referia à questão com
Mónica Lewinsky, funcionária da Casa Branca. Quanto às
"mentiras da política externa" mais substantivas, relativas ao
percurso da droga e às operações secretas nos
Balcãs, os Democratas e os Republicanos concordaram em uníssono,
sem dúvida pressionados pelo Pentágono e pela CIA, a não
"deitar lenha na fogueira".
Da Bósnia ao Kosovo
O "modelo bosniano" descrito no relatório da RPC do Congresso
em 1997 foi repetido em Kosovo. Com a cumplicidade da NATO e do Departamento de
Estado americano, foram recrutados mercenários mujahideen do
Médio Oriente e da Ásia Central para combaterem nas fileiras do
Exército de Libertação do Kosovo (ELK) em 1998-1999,
apoiando fortemente o esforço de guerra da NATO.
Confirmada por fontes militares britânicas, a tarefa de armar e treinar o
ELK foi confiada em 1998 à Agência de Informações de
Defesa (DIA) americana e aos Serviços Secretos M16 da
Grã-Bretanha, juntamente com "antigos membros e membros no activo
do 22º SAS [22º Regimento Aéreo de Serviços Especiais
da Grã-Bretanha], assim como a três companhias de segurança
privadas britânicas e americanas".
(The Scotsman,
Edinburgh, 29/Agosto/1999).
A DIA americana contactou o M16 para organizar um programa de treino para o
ELK, disse uma alta fonte militar britânica. "Depois o M16
subcontratou os serviços de duas empresas de segurança
britânicas que, por sua vez, contactaram uma série de antigos
membros do regimento (22 SAS). Depois foram feitas listas das armas e
equipamento de que o ELK precisava". Enquanto decorriam estas
operações secretas, foram posicionados no Kosovo membros no
activo do Regimento 22º SAS, na sua maioria das unidades do
Esquadrão D, antes do início da campanha de bombardeamento em
Março.
(Truth in Media,
"Kosovo in Crisis" [A Crise do
Kosovo], Phoenix, Arizona,
http://www.truthinmedia.org/
, 02/Abril/1999).
Enquanto as Forças Especiais SAS britânicas treinavam o ELK em
bases no norte da Albânia, instrutores militares da Turquia e do
Afeganistão, financiados pelo "jihad islâmico"
colaboravam no treino do ELK em tácticas de guerrilha e de
diversão. (
The Sunday Times,
Londres, 29/Novembro/1998).
"Bin Laden visitou pessoalmente a Albânia. Foi um dos diversos
grupos fundamentalistas que enviou unidades para lutar no Kosovo,
crê-se que bin Laden desencadeou uma operação na
Albânia em 1994
Fontes albanesas referem que Sali Berisha, que na
altura era o presidente, tinha ligações a uns grupos que
posteriormente se provou serem fundamentalistas extremistas". (ibid).
Depoimentos no Congresso sobre ligações ELK-Al Qaeda
Nos meados dos anos 90, a CIA e os Serviços Secretos da Alemanha, o BND,
deram as mãos para apoiar secretamente o Exército de
Libertação do Kosovo (ELK). Por sua vez, este recebia apoio da Al
Qaeda.
Segundo Frank Ciluffo do Programa de Crime Global Organizado, num depoimento em
Dezembro de 2000 na Comissão Judicial da Casa de Representantes:
"O que foi largamente escondido do público foi o facto de que o ELK
recebia parte dos seus fundos da venda de narcóticos. A Albânia e
o Kosovo estão no centro da "Rota dos Balcãs" que liga
o "Crescente Dourado" do Afeganistão e do Paquistão aos
mercados de droga da Europa. Esta rota vale cerca de 400 mil milhões de
dólares por ano e o tráfico 80 por cento da heroína
destinada à Europa". (Congresso dos EU, Depoimento de Frank J.
Ciluffo, Vice-Director do Programa de Crime Global Organizado, perante a
Comissão Judicial da Casa de Representantes, Washington DC,
13/Dezembro/2000).
Segundo Ralf Mutschke da divisão de Informações Criminais
da Interpol, também num depoimento à Comissão Judicial da
Casa de Representantes:
"O Departamento de Estado americano listou o ELK como uma
organização terrorista, indicando que esta financiava as suas
operações com dinheiro do tráfico internacional de
heroína e com empréstimos concedidos por países e
indivíduos islâmicos, entre os quais alegadamente Usama bin Laden.
Outro elo com bin Laden é o facto de que o irmão dum líder
numa organização Jihad egípcia e também comandante
militar de Usama bin Laden, esteve a chefiar uma unidade de elite do ELK
durante o conflito do Kosovo". (Congresso dos EU, Depoimento de Ralf
Mutschke, da divisão de Informações Criminais da Interpol,
perante a Comissão Judicial da Casa de Representantes, Washington DC,
13/Dezembro/2000).
Madeleine Albright cobiça o ELK
Estas ligações do ELK ao terrorismo internacional e ao crime
organizado documentadas pelo Congresso dos EUA foram totalmente ignoradas pela
administração Clinton. Na verdade, nos meses anteriores ao
bombardeamento da Jugoslávia, a secretária de Estado Madeleine
Albright andava atarefada a montar uma "legitimidade política"
para o ELK. O exército paramilitar tinha sido elevado de um dia
para o outro à posição de força
"democrática" bona fide no Kosovo. Por seu turno, Madeleine
Albright forçou o ritmo da diplomacia internacional: o ELK foi o ponta
de lança no desempenho de um papel central nas falhadas
"negociações de paz" em Rambouillet no início de
1999.
O Senado e a Casa de Representantes sancionam tacitamente o Terrorismo de Estado
Embora os diversos relatórios do Congresso americano confirmassem que o
governo dos EUA tinha andado a trabalhar de braço dado com a Al Qaeda de
Osama bin Laden, isso não impediu a administração Clinton,
e a seguir a administração Bush, de armar e equipar o ELK. Os
documentos do Congresso também confirmam que membros do Senado e da
Câmara tinham conhecimento das relações da
administração com o terrorismo internacional. Citando a
declaração do Rep. John Kasich da Comissão dos
Serviços Armados da Câmara: "Entrámos em
ligação [em 1998-1999] com o ELK, que era o ponto de apoio de bin
Laden
" (Congresso dos EUA, Transcrição da
Comissão dos Serviços Armados da Câmara, Washington DC,
05/Outubro/1999).
No seguimento dos trágicos acontecimentos de 11 de Setembro,
Republicanos e Democratas em uníssono deram todo o seu apoio ao
Presidente para "declarar guerra a Osama".
Em 1999, o senador Jo Lieberman afirmava autoritariamente que "Lutar pelo
ELK é lutar pelos direitos humanos e pelos valores americanos". Nas
horas que se seguiram aos ataques de mísseis ao Afeganistão, em 7
de Outubro, o mesmo Jo Lieberman exigiu ataques aéreos punitivos contra
o Iraque: "Estamos perante uma guerra contra o terrorismo
Não
podemos fazer parar bin Laden e os Taliban". No entanto, o senador Jo
Lieberman, enquanto membro da Comissão dos Serviços Armados do
Senado tinha acesso a todos os documentos do Congresso relativos às
ligações "ELK-Osama". Quando fez esta
afirmação, sabia muito bem que aquelas organizações
do governo americano assim como a NATO, estavam a apoiar o terrorismo
internacional.
A "Rede Islâmica Militante" e a NATO dão as mãos
na Macedónia
Na sequência da guerra na Jugoslávia em 1999, as actividades
terroristas do ELK alargaram-se ao sul da Sérvia e à
Macedónia. Entretanto, o ELK com o novo nome de Corpo de
Protecção do Kosovo (CPK) foi elevado ao estatuto das
Nações Unidas, o que lhe garantiu fontes
"legítimas" de financiamento através das
Nações Unidas assim como através de canais bilaterais,
incluindo ajuda militar directa dos EUA.
E menos de dois meses depois da inauguração oficial do CPK sob os
auspícios da ONU (Setembro de 1999), os comandantes do CPK-ELK
utilizando recursos e equipamento da ONU já estavam a preparar os
assaltos à Macedónia, como corolário lógico das
suas actividades terroristas no Kosovo. Segundo o Skopje daily Dnevnik, o CPK
instituiu uma "sexta zona de operações" no sul da
Sérvia e Macedónia:
"Fontes, que insistem no anonimato, afirmam que os
quartéis-generais das brigadas de protecção do Kosovo
[i.e. ligadas ao CPK patrocinado pelas NU] já [Março de 200] se
encontram formados em Tetovo, Gostivar e Skopje. Em Debar e Struga [na
fronteira com a Albânia] também já estão a ser
preparados, e os seus membros já definiram os códigos". (
Macedonian Information Centre Newsletter,
Skopje, 21/Março/2000, publicado pelo BBC Summary of World
Broadcast, 24/Março/2000).
Segundo a BBC, "Forças especiais ocidentais continuavam a treinar
os guerrilheiros", o que queria dizer que estavam a ajudar o ELK a
inaugurar "uma sexta zona de operações" no sul da
Sérvia e Macedónia. (BBC, 29 de Janeiro, 2001.)
Entre os mercenários estrangeiros a combater na Macedónia em 2001
nas fileiras do auto-proclamado Exército de Libertação
Nacional (ELN), havia mujahideen do Médio Oriente e das
repúblicas da Ásia Central da antiga União
Soviética. Também no seio da força fantoche do ELK na
Macedónia havia conselheiros militares veteranos americanos dum grupo
privado mercenário contratado pelo Pentágono, assim como
mercenários da Grã-Bretanha, da Holanda e da Alemanha. Alguns
destes mercenários europeus tinham combatido anteriormente ao lado do
ELK e do Exército Muçulmano Bósnio. (
Scotland on Sunday,
15/Junho/2001. Ver também UPI, 09/Julho/2001. Para mais
pormenores ver America's "War on Terrorism", de Michel Chossudovsky,
Global Research, 2005, Capítulo III ).
Conforme extensamente documentado pela imprensa macedónia e por
declarações das autoridades macedónicas, o governo dos EUA
e a "Rede Islâmica Militante" trabalharam de mãos dadas
no apoio e no financiamento do auto-proclamado Exército de
Libertação Nacional (ELN), envolvido nos ataques terroristas na
Macedónia. O ELN é um mandarete do Exército de
Libertação do Kosovo (ELK). Por sua vez o ELK e o Corpo de
Protecção do Kosovo (CPK), patrocinado pela ONU, são
instituições idênticas com os mesmos comandantes e pessoal
militar. Os comandantes do CPK, com salários pagos pela ONU, combatem no
ELN ao lado dos mujahideen.
Numa reviravolta amarga, ao mesmo tempo que era apoiado e financiado pela Al
Qaeda de Osama bin Laden, o ELK-CPK também era apoiado pela NATO e pela
missão das Nações Unidas no Kosovo (MNUK). Na verdade, a
"Rede Islâmica Militante" ainda faz parte integrante das
operações secretas militares e de informações de
Washington na Macedónia e sul da Sérvia.
Os terroristas do ELK-CPK foram financiados por intermédio do apoio
militar dos EUA, e do orçamento para manutenção da paz da
ONU, assim como por diversas organizações islâmicas
incluindo a Al Qaeda. O dinheiro da droga também serviu para financiar
os terroristas com a cumplicidade do governo dos EUA. O recrutamento de
mujahideen para combaterem nas fileiras do ELN na Macedónia foi
implementado através de diversos grupos islâmicos.
Conselheiros militares americanos misturam-se com os mujahideen dentro da mesma
força paramilitar, mercenários ocidentais de países da
NATO combatem ao lado de mujahideen recrutados no Médio Oriente e na
Ásia Central. E os meios de comunicação americanos chamam
a isto um "efeito de ricochete" em que os chamados "trunfos das
informações" se viraram contra os seus patronos!
Mas isto não aconteceu durante a guerra-fria! Aconteceu na
Macedónia em 2000-2001. De acordo com as inúmeras notícias
jornalísticas, os relatos de testemunhas, as provas fotográficas
assim como as declarações oficiais feitas pelo primeiro-ministro
da Macedónia, que acusou a aliança militar ocidental de auxiliar
os terroristas, os EUA estavam a apoiar as brigadas islâmicas poucos
meses antes dos ataques de 11 de Setembro.
A agenda secreta de Washington
A política externa dos EUA não está interessada em deter a
maré dos fundamentalistas islâmicos. De facto, passa-se
exactamente o contrário. O significativo desenvolvimento do
"Islão radical", a seguir à guerra-fria, na antiga
União Soviética e no Médio Oriente está de acordo
com a agenda secreta de Washington. Esta consiste mais em suster do que em
combater os terroristas internacionais, com o objectivo de desestabilizar
sociedades nacionais e de impedir a articulação de movimentos
sociais laicos genuínos dirigidos contra o Império Americano.
Washington continua a apoiar através das operações
secretas da CIA o desenvolvimento do fundamentalismo islâmico, em
todo o Médio Oriente, na antiga União Soviética assim como
na Índia e na China.
Por todo o mundo em desenvolvimento, o aumento de organizações
sectárias, fundamentalistas e outras que tais, tende a servir os
interesses dos EUA. Estas diversas organizações e rebeldes
armados têm vindo a desenvolver-se, principalmente nos países em
que as instituições de estado entraram em queda sob o peso das
reformas económicas patrocinadas pelo FMI.
Estas organizações fundamentalistas contribuem para a
destruição e expulsão das instituições
laicas.
O fundamentalismo islâmico cria divisões sociais e étnicas.
Mina a capacidade das pessoas para se organizarem contra o Império
Americano. Estas organizações ou movimentos, como os dos Taliban,
fomentam quase sempre a "oposição ao Tio Sam" dum modo
que não constitui qualquer ameaça real para os interesses
geopolíticos e económicos mais latos da América.
Apagar a história da Al Qaeda
Desde Setembro de 2001 que esta história da Al Qaeda tem sido amplamente
apagada. As ligações das sucessivas administrações
dos EUA à "rede terrorista islâmica" raras vezes
são referidas.
Em Outubro de 2001, um governo que tinha andado a acoitar o terrorismo
internacional, ao sabor da sua agenda de política externa, desencadeou
uma guerra enorme no Médio Oriente e na Ásia Central,
supostamente "contra o terrorismo internacional". Por outras
palavras, a principal justificação para a guerra do
Afeganistão e do Iraque foi totalmente fabricada. O povo americano foi
deliberada e conscientemente enganado pelo seu governo.
Esta decisão de mistificar o povo americano foi tomada a 11 de Setembro
de 2001, poucas horas depois dos ataques terroristas ao World Trade Centre. Sem
quaisquer provas, Osama já estava escolhido como "principal
suspeito". Dois dias depois, na quinta-feira, 13 de Setembro ainda
a investigação do FBI mal começara o presidente
Bush prometeu "levar o mundo à vitória".
Embora a CIA reconheça tacitamente que a Al Qaeda era um "trunfo
das informações" durante a Guerra-Fria, afirmou-se que essas
relações já "remontavam" a uma época
passada. A maior parte dos relatórios pós 11 de Setembro tendem a
considerar que essas ligações Al Qaeda-CIA pertenciam a uma
"época passada" da guerra sovieto-afegã. São
invariavelmente consideradas como
irrelevantes
para a compreensão do 11 de Setembro e da "Guerra Global contra o
Terrorismo". Mas, poucos meses antes do 11 de Setembro, havia
indícios de activa colaboração entre membros das
forças militares americanas e de operacionais da Al Qaeda na guerra
civil da Macedónia.
Perdido na barragem feita à história recente, os meios de
comunicação ocidentais ignoram despreocupadamente ou desvalorizam
o papel da CIA no apoio e no desenvolvimento de organizações
terroristas internacionais durante a Guerra-Fria e depois dela
Um exemplo gritante da distorção dos meios de
comunicação após o 11 de Setembro é a tese do
"ricochete": diz-se que os "trunfos das
informações se viraram contra os seus patronos; que
criámos explosões na nossa própria cara". Numa
exibição de lógica distorcida, a
administração dos EUA e a CIA são apresentados como as
infelizes vítimas:
"Os sofisticados métodos ensinados aos mujahideen, e os milhares de
toneladas de armas que lhes foram fornecidas pelos EUA e
Grã-Bretanha estão agora a afligir o ocidente no
fenómeno conhecido como "ricochete", em que uma
estratégia política recai sobre os próprios
estrategas". (
The Guardian,
Londres, 15/Setembro/2001)
Os meios de comunicação americanos, apesar de tudo, reconhecem
que "a tomada de poder pelos Taliban [em 1996] é em parte o
resultado do apoio dos EUA aos mujahideen o grupo radical islâmico
nos anos 80 na guerra contra a União Soviética". Mas
pouco ligam às suas afirmações factuais e concluem, em
coro, que a CIA foi enganada por um Osama desonesto. É como "um
filho que se vira contra o seu pai".
A "Guerra contra o Terrorismo" pós 11 de Setembro
A tese do "ricochete" é uma mentira.
A CIA nunca cortou os seus laços com a "Rede Islâmica
Militante". Há amplas provas de que a Al Qaeda se mantém um
trunfo precioso das informações, apadrinhado pelos EUA.
A Al Qaeda é apresentada como o arquitecto do 11 de Setembro sem nunca
se mencionar os seus laços históricos com a CIA e o ISI do
Paquistão.
Embora a Al Qaeda se mantenha firmemente sob o controlo do aparelho de
informações dos EUA, a administração americana tem
declarado repetidas vezes que este "inimigo do exterior"
atacará de novo, que um "segundo 11 de Setembro"
acontecerá algures na América ou no mundo ocidental:
[há] "indicações que os próximos ataques
serão iguais ou ainda piores do que os ataques [de 11 de Setembro]
E é bastante claro que a capital da nação e a cidade de
Nova Iorque estarão em qualquer lista
"
(Tom Ridge, Natal de 2003).
"Vocês perguntam, 'É grave?' É, podem apostar a vossa
vida. Ninguém faz isso a não ser numa situação
grave".
(Donald Rumsfeld, Natal de 2003)
"Relatórios credíveis indicam que a Al Qaeda está a
avançar com o seu plano de realizar um ataque a grande escala nos
Estados Unidos no intuito de dar cabo do nosso processo
democrático
Isto são informações moderadas
sobre os que querem fazer-nos mal
Mas todos os dias reforçamos a
segurança da nossa nação".
(George W. Bush, Julho/2004).
"O inimigo que atacou a 11 de Setembro está dividido e
enfraquecido, mas mesmo assim é letal, mesmo assim está
determinado a atacar-nos de novo".
(Dick Cheney, Julho de 2006).
"Outro ataque [como o de 11/9] poderá criar uma
justificação e uma oportunidade para retaliar contra alguns alvos
conhecidos"
(funcionário do Pentágono, citado no
Washington Post,
23/Abril/2006)
Propaganda de Guerra
Um ataque terrorista em solo americano da dimensão e natureza do 11 de
Setembro levaria segundo o antigo comandante do Comando Central dos EUA
(USCENTCOM), general Tommy Franks, que chefiou a invasão do Iraque em
2003 à queda do governo constitucional. Numa entrevista em
Dezembro de 2003, que quase não foi referida nos meios de
comunicação dos EUA, o general Franks esboçou um
cenário que resultaria na suspensão da Constituição
e na instalação do domínio militar na América.
"[Um] ataque terrorista, forte, provocando baixas [ocorrerá]
algures no mundo ocidental poderá ser nos Estados Unidos da
América o que levará a nossa população a
pôr em causa a nossa própria Constituição e a
começar a militarizar o nosso país para evitar a
repetição de outro incidente de massas, que provoque
baixas".
(Cigar Aficionado,
Dezembro de 2003)
Frank aludia a um chamado "incidente tipo Pearl Harbour" que seria
utilizado para galvanizar a opinião pública em apoio a um governo
militar e a um estado policia.
O "incidente grave que provoque baixas" foi apresentado pelo general
Franks como um ponto crucial de viragem política. A crise, o tumulto
social e a indignação do público daí resultantes
facilitariam uma mudança importante nas estruturas políticas,
sociais e institucionais dos EUA.
É importante perceber que o general Franks não estava a dar a sua
opinião pessoal sobre esta questão. A sua afirmação
é consistente com o ponto de vista dominante tanto no Pentágono
como no departamento de Segurança Nacional quanto ao modo como os
acontecimentos poderiam evoluir no caso duma emergência nacional.
"Incidentes graves que provoquem baixas"
O "incidente grave que provoque baixas" faz parte integrante da
doutrina militar. A destruição e perda de vidas resultantes dum
ataque terrorista servem para criar uma onda de indignação
pública. Criam as condições de medo colectivo e de
intimidação que facilitam a abolição das liberdades
civis e a introdução de medidas de estado policial.
Os ataques de 11 de Setembro de 2001 ao World Trade Centre e ao
Pentágono foram usados para galvanizar o apoio público para a
invasão do Afeganistão, que ocorreu menos de quatro semanas
depois. Sem apresentação de provas, a Al Qaeda, que alegadamente
era apoiada pelo governo Taliban, foi acusada de ser a responsável pelos
ataques do 11 de Setembro.
O planeamento dum importante teatro de guerra já estava em curso muito
antes de 11 de Setembro. Embora as forças militares dos EUA já
estivessem num "avançado estado de prontidão", muito
antes dos ataques de 11 de Setembro, a decisão de entrar em guerra com o
Afeganistão foi tomada na noite de 11 de Setembro e foi formalmente
anunciada na manhã seguinte. Entretanto, a NATO invocou o Artigo 5 do
Tratado de Washington e declarou guerra ao Afeganistão em nome de todos
os estados membros signatários da Aliança Atlântica. A
declaração de guerra da NATO, baseada no princípio de
autodefesa, foi tomada nas 24 horas seguintes aos ataques de 11 de Setembro.
O Artigo 5 do Tratado de Washington foi invocado pela primeira vez a 12 de
Setembro de 2001. Os aliados europeus da América e o Canadá
ofereceram o seu apoio na sequência dos ataques terroristas de 11 de
Setembro. A NATO assumiu a "Guerra Global contra o Terrorismo"
lançada pelos EUA. Catorze estados membros da NATO enviaram tropas para
o Afeganistão. (Ver
NATO Review,
Verão de 2006,
http://www.nato.int/docu/review/2006/issue2/english/summaries.html
)
Operação Northwoods
O "incidente grave que provocou baixas" desempenhou um papel crucial
no processo do planeamento militar. Forneceu, aos olhos da opinião
pública, o pretexto para entrar em guerra.
O lançamento de "incidentes como pretexto para a guerra" faz
parte dos pressupostos do Pentágono. Na realidade faz parte integrante
da história militar dos Estados Unidos.
Em 1962, o Estado-Maior apreciou um plano secreto intitulado
"Operação Northwoods", para provocar deliberadamente
baixas civis a fim de justificar a invasão de Cuba.
"Podemos fazer explodir um barco americano na Baía de Guantanamo e
responsabilizar Cuba", "Podemos lançar uma campanha terrorista
comunista cubana na área de Miami, noutras cidades da Florida e
até mesmo em Washington", "as listas de baixas nos jornais
americanos provocariam uma onda de indignação nacional muito
útil". (Ver o documento Altamente Confidencial de 1962, agora
revelado, intitulado "Justificação para a
intervenção militar dos EUA em Cuba"; ver Operation
Northwoods em
http://www.globalresearch.ca/articles/NOR111A.html
)
Alertas de terrorismo e incidentes terroristas
Para ser "eficaz", a campanha de medo e de
desinformação não pode limitar-se apenas a
"alertas" não consubstanciados de futuros ataques,
também são necessárias ocorrências terroristas
"reais" ou "incidentes" que dêem credibilidade aos
planos de guerra da administração. A propaganda confirma a
necessidade de implementar "medidas de emergência" assim como
de efectuar acções militares de retaliação.
Tanto os alertas de terrorismo como os incidentes terroristas têm servido
de pretexto para justificar decisões militares de longo alcance.
A seguir às explosões de bombas em Londres em Julho de 2005, foi
dada a notícia que o vice-presidente Dick Cheney dera
instruções ao USSTRATCOM para estabelecer um plano de
contingência "para ser posto em prática como resposta a outro
ataque terrorista tipo 11 de Setembro nos Estados Unidos".
Implícita no plano de contingência está a certeza de que o
Irão estaria por detrás de um segundo 11 de Setembro.
Este "plano de contingência" usou o pretexto de um
"Segundo 11 de Setembro", o que ainda não tinha acontecido,
para preparar uma grande operação militar contra o Irão,
enquanto também se exercia pressão sobre o Teerão em
relação ao seu (não existente) programa de armas nucleares.
O que é diabólico nesta decisão do vice-presidente dos EUA
é que a justificação apresentada por Dick Cheney para
entrar em guerra com o Irão assentava no alegado envolvimento do
Irão num hipotético ataque terrorista à América,
que ainda não tinha ocorrido:
"O plano inclui um ataque aéreo de grande escala ao Irão,
utilizando armas convencionais e nucleares tácticas. No interior do
Irão há mais de 450 alvos estratégicos importantes,
incluindo numerosas instalações suspeitas de desenvolverem um
programa de armas nucleares. Muitos dos alvos estão fortificados ou
enterrados a grande profundidade e não podem ser atingidos com armas
convencionais, daí a opção nuclear. Tal como no caso do
Iraque, a resposta não está condicionada a o Irão estar
mesmo envolvido no acto de terrorismo dirigido contra os Estados Unidos.
Há notícias de que diversos oficiais seniores da Força
Aérea envolvidos no planeamento ficaram chocados com as
implicações do que andam a fazer que o Irão
está a ser armadilhado para um ataque nuclear não provocado
mas ninguém está preparado para prejudicar a sua carreira
fazendo quaisquer objecções". (Philip Giraldi, "Attack
on Iran: Pre-emptive Nuclear War" (Ataque ao Irão: Guerra nuclear
antecipativa],
The American Conservative,
02/Agosto/2005)
Devemos concluir que os estrategas militares dos EUA, da Grã-Bretanha e
de Israel estão à espera de um segundo 11 de Setembro, para
desencadear uma operação militar contra a Síria e o
Irão?
O "plano de contingência" proposto por Cheney não se
preocupava minimamente em impedir um Segundo 11 de Setembro. O plano Cheney
baseava-se no pressuposto de que o Irão estaria por detrás dum
Segundo 11 de Setembro e de que os bombardeamentos punitivos podiam ser
activados imediatamente, antes de efectuada qualquer
investigação, da mesma forma como os ataques ao
Afeganistão em Outubro de 2001, alegadamente em resposta ao alegado
apoio do governo Taliban aos terroristas do 11 de Setembro.
Vale a pena assinalar que não se planeia uma guerra em três
semanas: o bombardeamento e a invasão do Afeganistão já
tinham sido planeados muito antes do 11 de Setembro. Como Michael Keefer destaca
num incisivo artigo crítico:
"A um nível mais profundo, isso implica que os 'ataques
terroristas tipo 11 de Setembro' são reconhecidos pelo gabinete de
Cheney e pelo Pentágono como meios apropriados de legitimar guerras de
agressão contra qualquer país escolhido para esse efeito pelo
regime e pelo sistema de propaganda-amplificação colectivo
"(Michael Keefer, "Petrodollars and Nuclear Weapons Proliferation:
Understanding the Planned Assault on Iran" [Petrodólares e
proliferação de armas nucleares: para a compreensão do
ataque planeado ao Irão], Global Research, 10/Fevereiro/2006)
Desde 2001 que o vice-presidente Cheney tem vindo a repetir em diversas
ocasiões o seu alerta de um segundo 11 de Setembro:
"O inimigo que atacou a 11 de Setembro está dividido e
enfraquecido, mas mesmo assim é letal, mesmo assim está
determinado a atingir-nos de novo".
(Waterloo Courier,
Iowa, 19/Julho/2006, itálicos nossos)
"Justificação e oportunidade para retaliar contra alvos
conhecidos"
Em Abril de 2006, o (antigo) secretário da Defesa, Donald H. Rumsfeld,
lançou um plano militar de longo alcance para combater o terrorismo em
todo o mundo, com vista à retaliação no caso de um segundo
grande ataque terrorista à América.
"O secretário da Defesa, Donald H. Rumsfeld, aprovou o mais
ambicioso plano das forças militares para combater o terrorismo em todo
o mundo e retaliar
mais rápida e decisivamente no caso de outro grande ataque terrorista
aos Estados Unidos
", segundo funcionários da defesa.
O há muito esperado plano de campanha para a guerra global contra o
terrorismo, assim como dois planos subordinados também aprovados por
Rumsfeld no mês passado, são considerados a mais alta prioridade
do Pentágono, segundo funcionários familiarizados com os
três documentos, que falaram sob condição de anonimato
porque não foram autorizados a falar deles publicamente.
Os pormenores dos planos são confidenciais, mas na generalidade
prevêem um papel significativamente alargado para as forças
militares e, em particular, uma força reforçada de tropas
de elite das Operações Especiais em
operações contínuas para combate ao terrorismo a partir de
zonas de guerra como o Iraque e o Afeganistão. Desenvolvidos durante
mais de três anos pelo Comando Especial de Operações
(SOCOM) em Tampa, os planos reflectem o reforço do envolvimento do
Pentágono em domínios tradicionalmente da responsabilidade da CIA
e do Departamento de Estado. (Washington Post, 23/Abril/2006)
Este plano assenta na possibilidade de um Segundo 11 de Setembro e na
necessidade de retaliação se e quando os EUA forem atacados:
"Um terceiro plano estabelece a forma como os militares podem dificultar e
reagir a outro grande ataque terrorista aos Estados Unidos. Inclui extensos
anexos que propõem uma lista de opções para os militares
retaliarem rapidamente contra grupos terroristas específicos,
indivíduos ou estados patronos, dependendo de quem se julgue que
está por detrás do ataque.
Outro ataque poderá criar tanto uma justificação como uma
oportunidade, que hoje não existem, para retaliações
contra alguns alvos conhecidos, segundo funcionários antigos e no
activo, familiarizados com o plano.
Este plano pormenoriza 'quais os terroristas ou mauzões que vamos atacar
quando descalçarmos as luvas. Ainda não descalçámos
as luvas', disse um oficial que pediu para não ser identificado dada a
sensibilidade do assunto" (itálicos nossos,
Washington Post,
23/ Abril/2006)
O pressuposto deste documento militar é que um Segundo ataque 11 de
Setembro "que hoje não existe" criará de forma
útil uma "justificação e uma oportunidade" para
entrar em guerra com "alguns alvos conhecidos [Irão e
Síria]".
A realidade das coisas é virada de pernas para o ar. A campanha de
desinformação vai de vento em popa. Os meios de
comunicação americanos e britânicos cada vez apontam mais
para a "guerra preventiva" como um acto de "autodefesa"
contra a Al Qaeda e os estados patronos do terrorismo, que alegadamente
estão a preparar um Segundo 11 de Setembro. O objectivo secreto,
através do medo e da intimidação, é construir a
aceitação pública para a próxima fase da
"guerra contra o terrorismo" no Médio Oriente, que é
dirigida contra a Síria e o Irão.
Notas Finais
A ameaça de um "Ataque à América" pela Al Qaeda
está a ser utilizada profusamente pela administração Bush
e pelo seu indefectível aliado britânico para galvanizar a
opinião pública em apoio de uma agenda militar global.
Conhecida e documentada, a "rede terrorista islâmica" é
uma criação do aparelho de informações dos EUA.
Há provas sólidas de que vários dos "incidentes
terroristas de baixas maciças" que provocaram baixas de civis,
foram desencadeados pelos serviços militares e/ou de
informações. Do mesmo modo, corroborados por provas,
vários dos alertas de terrorismo basearam-se em
informações fabricadas, conforme revelado no frustrado
"ataque de bombas líquidas" de 2006 em Londres, em que os
alegados piratas do ar não tinham comprado bilhetes de avião e
outros nem sequer tinham passaportes para embarcar no avião.
A "guerra contra o terrorismo" é fictícia. A narrativa
do 11 de Setembro, conforme foi transmitida pelo relatório da
Comissão do 11 de Setembro foi fabricada. A administração
Bush está envolvida em actos de encobrimento e de cumplicidade aos mais
altos níveis do governo.
Revelar as mentiras por detrás do 11 de Setembro servirá para
minar a legitimidade da "guerra contra o terrorismo".
Revelar as mentiras por detrás do 11 de Setembro devia fazer parte de
qualquer movimento anti-guerra consistente.
Sem o 11 de Setembro, os criminosos de guerra nos altos cargos não
têm pernas para andar. Toda a construção de
segurança nacional se desmoronará como um castelo de cartas.
20/Janeiro/2008
[*]
Autor de
America's "War on Terrorism"
, Global Research, 2005, que contem uma análise pormenorizada das
questões mencionadas neste artigo.
O texto acima foi publicado pela primeira vez em italiano: Giuletto
Chiesa (Editor), Zero,
Perché la versione ufficiale sull' 11/9 è un Falso,
Piemme, Casale Monferrato, 2007.
O original encontra-se em
http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=7718
.
Tradução de Margarida Ferreira.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.