Temer estará no fim?
por Michael Roberts
[*]
A notícia de que o presidente de direita do Brasil, Temer, foi apanhado
a tentar subornar políticos para mantê-los silenciosos acerca de
alegações de corrupção aumenta a probabilidade de
que este ano será submetido a impeachment pelo Congresso. Temer
já é mais impopular presidente da história
democrática do Brasil. Ele só chegou a tomar posse por organizar
um "golpe constitucional" que derrubou a presidente eleita de
centro-esquerda Dilma Rousseff com o argumento das chamadas
"violações orçamentais". Uma aliança de
partidos em favor de medidas pró capitalista para cortar
salários, benefícios sociais e pensões assumiu o comando
do Congresso em apoio a Temer. Os mercados de acções e de divisas
do Brasil entraram em auge e o capital internacional retornou para investir.
Mas Temer e o capital brasileiro, após o derrube de Dilma, esperavam que
uma recuperação geral na economia do mundo se propagasse ao
Brasil. Se as coisas ocorressem ao contrário isto lhes permitira
consolidar seu domínio. E houve alguns sinais de uma tal
recuperação. Os negócios brasileiros mostraram sinais de
mais confiança.
Embora os preços das
commodities
não tenham retornado para as alturas estonteantes anteriores a 2010,
eles pelo menos reverteram um pouco o seu colapso profundo no período
até o fim de 2015. Além disso, no ano passado, parece que o
prognóstico de um colapso na China e um desaquecimento nos EUA
não se materializou. A China e os EUA são de longo os maiores
mercados de exportação do Brasil.
Além disso, a recessão económica levou a uma grande queda
nas importações de bens estrangeiros. Assim, a balança
comercial do Brasil melhorou.
E após uma significativa "fuga de capitais" por parte dos
ricos sob o governo Dilma, o investimento estrangeiro começou a retornar
ao Brasil, dado o seu governo pró capitalista.
Um dos resultados da depressão profunda foi uma nítida queda da
inflação. Assim, embora os salários para a família
brasileira média tenham estagnado ou mesmo caído, em termos reais
(após inflação) eles têm ascendido, ainda que apenas
para o nível de dois anos atrás.
Mas o desemprego continua a escalar quando empresas do Brasil cortam pessoal e
empregos do sector público são destruídos.
O futuro a médio prazo para a economia do Brasil não parece
brilhante, apesar do optimismo recente de economistas convencionais e de
políticos pró capitalistas do Brasil. Foi um boom de
commodities
que alimentou grande parte do crescimento do PIB brasileiro anterior a 2010. A
fatia do país nas exportações globais de recursos
não petrolífero subiu de 5 por cento em 2002 para 9 por cento em
2012. Hoje os preços das
commodities
permanecem altos em comparação com as suas médias
históricas, mas a alta excepcional tanto na procura como nos
preços os estabilizou.
A produtividade do Brasil tem estado quase estagnada desde 2000; hoje é
pouco mais do que a metade do nível alcançado pelo México.
Segundo a McKinsey, consultores globais de gestão, mais da metade da
população do Brasil permanece abaixo de um rendimento real per
capita de R$560 [153]. Cortar este nível de pobreza para menos de
25% exigiria [aumento] de produtividade quase vezes mais rápido do que a
taxa actual. E não há perspectiva disso sob o capitalismo no
Brasil. Eis porque a lucratividade do capital brasileiro é baixa e
continua a permanecer baixa.
Ainda que Temer sobreviva, a elite dominante do Brasil enfrenta uma tarefa
difícil de impor controle sobre sua classe trabalhadores e cortas
despesas públicas e salários, e então atrair capital
estrangeiro significativo. A elite dominante é mais provável que
fuga com o seu capital diante de qualquer sinal de dificuldade. Assim, o
capitalismo do Brasil estará encravado num crescimento baixo, baixa
lucratividade futura e com paralisia política e económica
continua. E isto sem que uma nova recessão global surja no horizonte.
20/Maio/2017
[*]
Economista.
Ver também: O original encontra-se em thenextrecession.wordpress.com/2017/05/20/brazil-at-the-end-of-its-temer/ Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ . |