Brasil: Manifesto pela Reforma Agrária
Os movimentos sociais do campo, que fizeram uma reunião no começo
desta semana em Brasília, lançaram um manifesto em defesa da
Reforma Agrária, do desenvolvimento rural com o fim das desigualdades,
da produção e acesso a alimentos saudáveis, da
agroecológica e da garantia e ampliação de direitos
sociais aos trabalhadores rurais.
As entidades mais representativas do meio rural no Brasil consideraram a
reunião "um momento histórico, um espaço qualificado,
com dirigentes das principais organizações do campo que esperam a
adesão e o compromisso com este processo".
No manifesto, foi criticado também o modelo de produção de
commodities
agrícolas baseado em latifúndios, na expulsão das
famílias do campo e nos agrotóxicos.
"O agronegócio representa um pacto de poder das classes sociais
hegemônicas, com forte apoio do Estado Brasileiro, pautado na
financeirização e na acumulação de capital, na
mercantilização dos bens da natureza, gerando
concentração e estrangeirização da terra,
contaminação dos alimentos por agrotóxicos,
destruição ambiental, exclusão e violência no campo,
e a criminalização dos movimentos, lideranças e lutas
sociais", afirmam no manifesto.
O documento é assinado pelo MST, Via Campesina,
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) e
a Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar (Fetraf),
entre outras entidades (veja a lista no final).
Os movimentos sociais prometem "um processo de luta unificada em defesa da
Reforma Agrária, dos direitos territoriais e da produção
de alimentos saudáveis".
Na tarde desta terça-feira (28/2), os movimentos apresentam o manifesto
à sociedade em ato político no plenário 15 da Câmara
dos Deputados, em Brasília.
Abaixo, leia a versão integral do manifesto.
Manifesto das organizações sociais do campo
As entidades APIB, CÁRITAS, CIMI, CPT, CONTAG, FETRAF, MAB, MCP, MMC,
MPA e MST, presentes no Seminário Nacional de Organizações
Sociais do Campo, realizado em Brasília, nos dias 27 e 28 de fevereiro
de 2012, deliberaram pela construção e realização
de um processo de luta unificada em defesa da Reforma Agrária, dos
direitos territoriais e da produção de alimentos saudáveis.
Considerando:
1) O aprofundamento do capitalismo dependente no meio rural, baseado na
expansão do agronegócio, produz impactos negativos na vida dos
povos do campo, das florestas e das águas, impedindo o cumprimento da
função socioambiental da terra e a realização da
reforma agrária, promovendo a exclusão e a violência,
impactando negativamente também nas cidades, agravando a
dependência externa e a degradação dos recursos naturais
(primarização).
2) O Brasil vive um processo de reprimarização da economia,
baseada na produção e exportação de
commodities
agrícolas e não agrícolas (mineração), que
é incapaz de financiar e promover um desenvolvimento sustentável
e solidário e satisfazer as necessidades do povo brasileiro.
3) O agronegócio representa um pacto de poder das classes sociais
hegemônicas, com forte apoio do Estado Brasileiro, pautado na
financeirização e na acumulação de capital, na
mercantilização dos bens da natureza, gerando
concentração e estrangeirização da terra,
contaminação dos alimentos por agrotóxicos,
destruição ambiental, exclusão e violência no campo,
e a criminalização dos movimentos, lideranças e lutas
sociais.
4) A crise atual é sistêmica e planetária e, em
situações de crise, o capital busca saídas
clássicas que afetam ainda mais os trabalhadores e trabalhadoras com o
aumento da exploração da força de trabalho (inclusive com
trabalho escravo), super exploração e concentração
dos bens e recursos naturais (reprimarização),
flexibilização de direitos e investimento em tecnologia
excludente e predatória.
5) Na atual situação de crise, o Brasil, como um país
rico em terra, água, bens naturais e biodiversidade, atrai o capital
especulativo e agroexportador, acirrando os impactos negativos sobre os
territórios e populações indígenas,
quilombolas
, comunidades tradicionais e camponesas. Externamente, o Brasil pode se tornar
alavanca do projeto neocolonizador, expandindo este modelo para outros
países, especialmente na América Latina e África.
6) O pensamento neodesenvolvimentista centrado na produção e
no lucro, defendido pela direita e por setores de esquerda, exclui e trata como
empecilho povos indígenas, quilombolas e camponeses. A
opção do governo brasileiro por um projeto neodesenvolvimentista,
centrado em grandes projetos e na exportação de
commodities,
agrava a situação de exclusão e de violência.
Consequentemente não atende as pautas estruturais e não coloca a
reforma agrária no centro da agenda política, gerando forte
insatisfação das organizações sociais do campo,
apesar de pequenos avanços em questões periféricas.
Estas são as razões centrais que levaram as
organizações sociais do campo a se unirem em um processo nacional
de luta articulada. Mesmo reconhecendo a diversidade política, estas
compreendem a importância da construção da unidade, feita
sobre as bases da sabedoria, da maturidade e do respeito às
diferenças, buscando conquistas concretas para os povos do campo, das
florestas e das águas.
Neste sentido nós, organizações do campo, lutaremos por um
desenvolvimento com sustentabilidade e focado na soberania alimentar e
territorial, a partir de quatro eixos centrais:
a) Reforma Agrária ampla e de qualidade, garantia dos direitos
territoriais dos povos indígenas e quilombolas e comunidades
tradicionais: terra como meio de vida e afirmação da identidade
sociocultural dos povos, combate à estrangeirização das
terras e estabelecimento do limite de propriedade da terra no Brasil.
b) Desenvolvimento rural com distribuição de rendimento e
riqueza e o fim das desigualdades;
c) Produção e acesso a alimentos saudáveis e
conservação ambiental, estabelecendo processos que assegurem a
transição agroecológica.
d) Garantia e ampliação de direitos sociais e culturais que
permitam a qualidade de vida, inclusive a sucessão rural e
permanência da juventude no campo.
Este é um momento histórico, um espaço qualificado, com
dirigentes das principais organizações do campo que esperam a
adesão e o compromisso com este processo por outras entidades e
movimentos sociais, setores do governo, parlamentares, personalidades e
sociedade em geral, uma vez que a agenda que nos une é uma agenda de
interesse de todos e todas.
Brasília, 28 de fevereiro de 2012.
APIB Associação dos Povos Indígenas do Brasil
CÁRITAS Brasileira
CIMI Conselho Indigenista Missionário
CPT Comissão Pastoral da Terra
CONTAG Confederação Nacional de Trabalhadores na
Agricultura
FETRAF Confederação Nacional dos Trabalhadores na
Agricultura Familiar
MAB Movimento dos Atingidos por Barragens
MCP Movimento Camponês Popular
MMC Movimento de Mulheres Camponesas
MPA Movimento dos Pequenos Agricultores
MST Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
Via Campesina Brasil
O original encontra-se em
www.mst.org.br/...
Esta notícia encontra-se em
http://resistir.info/
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