Brasil: Os dados do censo e a vida real do povo
Alguns meios de comunicação social tentam nos passar a
idéia de que as desigualdades sócio-econômicas vêm
diminuindo no Brasil. Durante os primeiros meses deste ano, até os
membros do governo federal arrotaram tais dados, ocultando a verdade sobre a
miséria, que continua avançando e invadindo os lares do povo
trabalhador. Já nos dois anos anteriores, esta coluna chamava a
atenção para as mentiras e meias verdades constantes dos
pronunciamentos oficiais e o papel enganador exercido pela mídia,
procurando ocultar ou justificar os escandalosos lucros das grandes empresas,
especialmente dos bancos nacionais e internacionais que aqui operam.
Gabriel Ulyssea, pesquisador do
IPEA
(Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada) do Ministério do Trabalho, revela que apenas 10 entre 100
brasileiros detêm 80% da renda nacional
[1]
, isto é, 80% de todas as
riquezas que são produzidas no país. Logo, os outros 20%
são distribuídos pelos 90% dos demais viventes desta terra. Mas,
aí há que fazer outras tantas sérias
diferenciações. Por exemplo, os 52 milhões de brasileiros
que estão abaixo da linha da pobreza leia-se miséria
abocanham tão somente aquilo que resta das feiras, dos
lixões, das bolsas-escola, dos atos misericordiosos de tantos
cidadãos sensibilizados pela fome reinante. Ou seja, nada recebem das
riquezas que ajudaram ou ajudam a criar. Há ainda os que trabalham e que
têm suas rendas situadas abaixo de dois salários mínimos, e
estes beiram os dois terços da população que está
na ativa, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística) de 2006.
Entre os 90% que ficam com 20% das riquezas há também uma pequena
parcela que recebe acima de 46 mínimos mensais, como no caso dos
heróis do Lula, os ministros, que recebiam (já sofreu
aumento) salários líquidos de R$ 17.500
[2]
. Há ainda os
juízes e ministros da Justiça, os deputados e senadores, todos
eles incluídos nesses 10% de pobres.
Assim, mesmo entre aqueles que não fazem parte dos
multimilionários, existe uma parcela que devora boa parte do que aparece
como sendo distribuído entre todos os demais. Pode-se concluir,
portanto, que existem dezenas de milhões que permanecem e morrem na
miséria; existem outras dezenas de milhões que sobrevivem, mas
estão na linha da pobreza, padecendo enormes carências; há
os que se beneficiam dos favores do poder e há os que são os
verdadeiros sanguessugas que proliferam por estas terras de Santa Cruz,
graças aos favores da lei que abrem enormes brechas em favor dos
poderosos.
Outro detalhe importante a conhecer e aprender a diferenciar é que, numa
população de 180 milhões de pessoas, apenas 130 mil
possuem uma riqueza acumulada de R$ 573 mil milhões, mais da metade do
PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro, tornando-se os mais ricos de toda a
América Latina (dados da Receita Federal), segundo a
Folha de S. Paulo
de 15 de julho. Ora, esses 130 mil são bem menos que os 10% mais ricos
já citados. Portanto, concentração ainda maior,
desigualdade crescente e não decrescente.
Quando o IBGE e outros órgãos de pesquisa oficial fazem seus
levantamentos recebem de volta as declarações dos entrevistados.
Ora, os dados fornecidos não correspondem à realidade dos fatos
porque a imensa maioria dos ricaços sonega a verdade, seja para se
livrar do Fisco pagando menos imposto, seja por medo da violência que se
alastra no país, segundo Ulyssea, em comentário de Clóvis
Rossi de 17 de julho. Portanto, a riqueza de um punhado de privilegiados
é bem maior do que têm arrotado a mídia e membros do
governo, assim como é maior ainda a desigualdade.
Estamos sendo nivelados por baixo, gota a gota, até que a maioria da
população seja jogada no fundo do poço da miséria e
da amargura. Nossas esperanças de que esse estado de coisas comece a
mudar se fundam no amadurecimento, embora lento, da consciência
crítica e da mobilização das forças sociais
organizadas. Os protestos continuam a crescer por toda parte do país e
sua tendência não é de arrefecer, muito pelo
contrário.
18/Julho/2007
[1] No Brasil usa-se esta expressão para designar o rendimento nacional.
[2] 1 =~ 2,57 reais
[*]
Metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da
Arquidiocese de São Paulo.
O original encontra-se em
http://www.correiocidadania.com.br/content/view/617/48/
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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