Brasília, Outubro de 2005.
Caras amigas e caros amigos:
Recebam minha fraterna, cordial e bolivariana saudação.
Quero nestas letras manifestar a vocês meus agradecimentos por sua
solidariedade internacionalista manifestada através de mensagens,
pronunciamentos, cartas e documentos.
Com estes gestos admiráveis, todas e todos vocês demonstram e
confirmam a validade da luta pela paz com justiça social, tanto para a
Colômbia como para todos os países de Nossa Grande Pátria,
a América Latina. Sabemos que por toda sua geografia sopram ventos que
agitam as bandeiras da dignidade, da independência, da soberania
política, econômica e administrativa e, especialmente, do processo
de integração.
Na maioria de nossos países está-se apresentando uma etapa
generosa em lutas de resistência, inspiradas no legado dos líderes
mais destacados de nossa história. São lutas multiformes, com as
mesmas raízes, os mesmos ideais e, também, contra um mesmo
inimigo, identificado pelo libertador Simón Bolívar da seguinte
maneira: "Os Estados Unidos parecem destinados pela Providência para
infestar a América de misérias em nome da liberdade".
Sabemos que o império dos Estados Unidos da América do Norte
desloca seus falcões pelo continente tentando, em vão, consolidar
sua ingerência em todos os assuntos internos dos nossos países.
Na Colômbia eles têm o narco-paramilitar, Uribe Vélez como
"seu empregado de confiança" para seus planos de
dominação. O dirigente liberal Jorge Eliécer
Gaitán, assassinado pela CIA em 1948, afirmou: "A oligarquia
colombiana está de joelhos diante do Império e tem as armas
apontadas contra o povo". Desde há mais de meio século
está tem sido a forma de governar em nosso país, apoiada por esse
império.
Daí que o Terrorismo de Estado, hoje chamado de "Democracia
Profunda", "Segurança Democrática", tenha
adquirido a forma de "concepção de Estado". Por isso o
dia a dia da Colômbia passa pela perseguição, pela tortura,
pelo assassinato, pela extradição de cidadãos para os
Estados Unidos, pelo magnicídio e pelo genocídio político,
pelo êxodo forçado de mais de três milhões de
camponeses e pela prisão para mais de seis mil presos políticos,
pelo aumento da miséria e da pobreza geradas pela
concentração da renda das mais escandalosas da América
Latina e do mundo.
Com esta forma de governar, os sucessivos governos têm pretendido impedir
o surgimento de uma nova realidade política na Colômbia. Todas as
formas de luta popular têm recebido a mesma resposta governamental:
guerra contra o povo. Guerra que sempre deixou como primeira vítima a
verdade e sobre sua sepultura têm instalado as antenas e as
redações dos grandes meios de comunicação para
difundir permanentemente mentiras, meias verdades, ataques e represarias com
fins espúrios, carentes, portanto, de toda honestidade.
Quero contar a vocês que dois dias antes de ser publicada uma extensa
"reportagem", no mês de março deste ano, em uma revista
cujo nome não quero lembrar (
Veja,
edição de 16/março/2005, N.T.), liguei para o
autor dessa "reportagem" para lhe dizer: "você está
colocando uma corda no meu pescoço. Com certeza serei preso, extraditado
para a Colômbia e depois para os Estados Unidos".
Pois vocês já sabem, hoje estou preso e com pedido de
extradição. Acrescentei-lhe: "se isso ocorrer, sei que
contarei com a solidariedade do povo brasileiro em primeiro lugar, dos demais
povos da América Latina e de outros povos do mundo".
Minhas atividades pela paz com justiça social para a Colômbia e
meus esforços para encontrar o apoio da comunidade internacional para
que essa realidade surja em meu país de maneira pujante, estável
e duradoura têm sido e serão, em minha vida, a bandeira mais
importante, até o fim de meus dias.
Sinto que está preso apenas o meu corpo, pois meus ideais e minha luta
pela paz com justiça social, voam em abundância nas azas da
solidariedade revolucionária e antiimperialista de tantas amigas e
tantos amigos, dos quais vocês formam um grande contingente.
Continuemos firmes e confiantes em que ganharemos esta batalha, pois como nos
diz O Libertador Simón Bolívar: "Unidos seremos
invencíveis".
Muito obrigado, amigas e amigos da Argentina, Austrália, Colômbia,
Equador, Dinamarca, França, Espanha, Estados Unidos, Hong Kong,
México, Portugal, Suécia, Suíça, Venezuela,
Uruguai, especialmente do Brasil, minha Segunda Pátria, e de outras
partes do mundo.
Forte abraço bolivariano.