Um programa anticapitalista e antiimperialista para o Brasil
O lançamento da candidatura própria do PCB às
eleições presidenciais brasileiras representa um divisor de
águas e um importante factor de esclarecimento. A divisão de
águas é entre a falsa esquerda, representada pelo governo Lula, e
a
verdadeira. Um governo que tem como seu mentor económico um ex-ministro
da ditadura (Delfim Netto), como seu patrão da política
monetária e financeira um homem da Wall Street (Meirelles), que
incumpriu as suas promessas de realizar a Reforma Agrária, que
está ao serviço do capital monopolista e dos seus apetites
sub-imperialistas na América Latina e em África, que não
teve pejo em vender ao narco-governo colombiano aviões destinados a
massacrar os insurgentes das FARC, com um ministro da Defesa (N. Jobim) que
compra ao estado nazi-sionista aviões de guerra destinados a massacrar o
seu próprio povo, que como serviçal do imperialismo envia tropas
para reprimir o povo do Haiti, que adopta uma política social regressiva
contra a maioria pobre da sua população (a onda de emigrantes
brasileiros que hoje se vê em Portugal é um indício disso),
um governo como esse acaba objectivamente por em nada se diferenciar da direita
quimicamente pura.
Assim, a candidatura de Ivan Pinheiro à presidência e de Edmilson
Costa à vice-presidência assinala um marco na política
brasileira (a par de outras candidaturas dignas, como a do Dr. Plínio de
Arruda Sampaio e a do PSTU). Entretanto, que não haja ilusões.
Estas eleições estão formatadas para servirem a classe
dominante e só a ela. É um jogo de cartas marcadas. Seja qual for
o vencedor a candidata apoiada por Lula ou o candidato apoiado pelo
ex-presidente F. H. Cardoso os interesses da classe dominante brasileira
(que está aliada ao capital imperialista) estarão muito bem
servidos. As falsas oposições entre ambos fazem parte da
comédia eleitoral.
O manifesto-programa da candidatura hoje publicado é uma
afirmação corajosa e lúcida de uma política baseada
em princípios. Ele, ao mesmo tempo, prepara o terreno para o mais
importante: o período que se seguirá às
eleições e a constituição de uma frente
anti-capitalista e anti-imperialista para que o povo brasileiro possa se tornar
o sujeito da História.
resistir.info
I - O contexto em que se dão as eleições de 2010
II - O contexto brasileiro
III - O governo Lula
IV - O que está em disputa nas eleições de 2010
V - Um programa anticapitalista e antiimperialista para o Brasil
VI - Os grandes eixos do Programa
1 Uma Democracia de Novo Tipo: o Poder Popular
2 Um Estado de Novo Tipo e uma Nova Sociabilidade
3 Uma Nova Economia: controle dos meios de produção pelos trabalhadores e reordenação da produção
4 Uma Nova Política Social: mais qualidade de vida, mais e melhores direitos
5 Fim da destruição capitalista do meio-ambiente
6 Uma nova inserção internacional: inserção comercial de novo tipo, soberania e solidariedade
I - O contexto em que se dão as eleições de 2010
As eleições deste ano se dão em um momento em que o
sistema capitalista mostra a sua real natureza. A atual crise econômica
internacional é uma crise de superprodução e
superacumulação, acelerada pela vigência, nas duas
últimas décadas, de políticas neoliberais, em que o
capitalismo, mundializado, seja nos mercados de matérias primas, nas
cadeias produtivas de produtos e serviços, seja na presença
dominante de grandes conglomerados internacionais oligopolistas ou mesmo
monopolistas ou na financeirização da riqueza, revela, ao
mesmo tempo, a sua fragilidade e os seus efeitos para a classe trabalhadora: o
desemprego generalizado, a perda de direitos, a desesperança.
As respostas dadas à crise, pelo lado do mercado, são a maior
concentração de capital, com a absorção das
empresas "quebradas" pelos grandes grupos mais
"eficientes"; pelo lado do poder público, a íntima
ligação entre os Estados capitalistas e os grandes grupos
econômicos privados se traduz na enorme "ajuda" dada pelos
governos aos bancos e empresas financeiras, industriais e comerciais em estado
falimentar.
No plano político, as lideranças burguesas dividem-se entre as
que, de um lado, defendem um Estado promotor de políticas
compensatórias e incentivador de um "desenvolvimentismo" capaz
de acelerar o crescimento capitalista e pretensamente resolver as desigualdades
sociais através do ciclo virtuoso da produção, emprego,
consumo. De outro, há os que defendem a ampliação das
políticas neoliberais, com mais retirada de direitos dos trabalhadores,
mais privatização, mais dependência do Estado ao capital
financeiro internacional.
A classe trabalhadora, ainda desarticulada pela perda de garantias e não
menos fragilizada em sua organização pela ameaça constante
do desemprego e pelos processos articulados à chamada
"reestruturação produtiva", começa, no entanto,
a mobilizar-se em amplas manifestações e greves, como vem
ocorrendo na Grécia, na Espanha, na França, em Portugal. No
plano político, os exemplos dos governos progressistas da América
Latina, eleitos com o apoio de movimentos populares organizados e impulsionados
por eles, têm demonstrado que há alternativas reais ao capitalismo
e ao imperialismo capazes de elevar, de fato, o nível de qualidade de
vida e de participação política da classe trabalhadora.
II - O contexto brasileiro
A estrutura de classes, no Brasil, se caracteriza pela formação
de uma burguesia monopolista e suas diversas facções: a burguesia
industrial, a burguesia bancária/financeira, a burguesia comercial, a
burguesia agrária, a burguesia do setor de transportes e um setor que
controla serviços diversos formados pela mercantilização
crescente de setores como o da saúde, educação e outros.
Generalizou-se o assalariamento, formou-se um numeroso proletariado,
majoritariamente urbano, e um grande proletariado precarizado, além de
camadas urbanas intermediárias que vão desde setores de
profissionais assalariados, pequenos e médios comerciantes,
técnicos especializados, professores, pesquisadores, médicos,
advogados e outras categorias.
Aos efeitos da exploração capitalista, no Brasil, somam-se a
vigência das políticas neoliberais dos governos Collor, Itamar
Franco, FHC I e II e a aplicação do programa social liberal de
Lula I e II, associadas a uma grande fragmentação da classe
trabalhadora, com a terceirização e a precarização
do trabalho. Além disso, os trabalhadores perderam, em parte, sua
unidade e identidade política pela degeneração de grande
parcela dos dirigentes sindicais e partidários burocratizados.
A construção do Estado burguês no Brasil se deu pela
ação dos grupos dominantes que o controlaram, e marcou a
formação de um tipo de sociedade civil burguesa e uma forma
particular de constituição da hegemonia capitalista. As
instituições do Estado sempre foram espaços de
organização do poder da classe dominante, com predominância
dos aspectos repressivos e coercitivos.
O período da ditadura empresarial-militar e a fase posterior de retomada
da legalidade democrática marcaram
a consolidação de um bloco dominante, formado pela aliança
de classes entre a burguesia monopolista, o latifúndio tradicional e o
imperialismo, que aprofundou o processo de construção do Estado
burguês no Brasil, um Estado fundado em um ordenamento jurídico
estabelecido, reconhecido e legitimado, com instituições
igualmente consolidadas no Executivo, Legislativo e Judiciário.
Formou-se, assim, uma sociedade civil-burguesa com um conjunto de
instituições enraizadas e, em parte, legitimadas no corpo da
sociedade, tendo se consolidado uma hegemonia liberal burguesa e um regime
formalmente democrático. Este processo se completa com o estabelecimento
de poderoso monopólio capitalista nas comunicações, na
informação e na organização da cultura,
responsável por aprimorar e fortalecer a dominação
ideológica burguesa em nosso país.
A socialdemocracia brasileira formou-se tardiamente, em um período em
que não mais havia a possibilidade de mitigar os efeitos da
exploração do capital sobre o trabalho. Ao contrário de
muitos países europeus no pós-guerra, tais como Suécia,
Dinamarca, Inglaterra e outros, que adotaram programas sociais avançados
em meio a condições específicas como a presença do
Bloco Socialista, a mobilização de forças populares e
comunistas gerada pela luta contra o nazifascismo e a necessidade de contar com
o Estado para enfrentar as condições de destruição
geral causadas pela guerra, o capitalismo brasileiro, nos anos 1980, já
apresentava um caráter monopolista e desenvolvido, e a burguesia
brasileira já se encontrava em pleno processo de
integração mundial. Naquele momento, não havia mais
espaço, no Brasil, para uma mediação política entre
os dois polos do capitalismo que pudesse resultar em ganhos materiais e
direitos sociais significativos para a classe trabalhadora.
As principais representações políticas da socialdemocracia
o PT, a CUT, a UNE e a UBES (aos quais também podemos associar o
PC do B e a recém-criada CTB) mostram-se adaptadas à ordem
dominante. Suas ações limitam-se a meras
proclamações formais, sem capacidade ou intenção de
reverter o quadro geral. Esta situação se explica pela
cooptação das direções e pelo amoldamento de sua
burocracia, que encontra um ponto de existência e privilégio na
própria estrutura burocrática partidária, estudantil ou
sindical e em espaços na institucionalidade do Estado Burguês. O
mesmo ocorre com parte dos movimentos sociais e populares e a base do movimento
sindical, que respondem com o adiamento ou abandono das reais demandas da
classe. Assim, a institucionalidade burguesa logrou deslocar o eixo da luta
para a representação política e a
jurisdicionalização das demandas políticas.
III - O governo Lula
O governo Lula usa com maestria a combinação eficiente de
consenso e coerção, que garante a reprodução do
domínio da ordem monopolista burguesa. Lula usa a
cooptação dos trabalhadores pela ordem burguesa, que os
mantém nos limites da ordem do capital, controlados pelas
determinações do mercado e por um conjunto de mecanismos que
envolve a manipulação dos corações e mentes pelos
meios de comunicação, ações permanentes no interior
das empresas para a colaboração de classe, promoção
da cultura do individualismo, incentivos materiais como
participação nos lucros e resultados das empresas e até a
cooptação pura e simples das lideranças sindicais. Quando
esses métodos não funcionam, as classes dominantes apelam para a
repressão contra todos aqueles que se levantam contra essa ordem. Isso
explica a criminalização dos movimentos sociais, da
militância anticapitalista e da pobreza.
Lula promove a integração da economia brasileira ao mercado
internacional tendo como papel-chave a exportação de
matérias-primas e produtos agrícolas, a importação
de capitais e a conquista de "nichos" nestes mercados e, em
alguns outros, bem demarcados, de produtos industriais com a
criação de grandes empresas transnacionais lastreadas em capital
brasileiro. No plano político, Lula vem ocupando um espaço de
alguma independência em relação aos países
capitalistas desenvolvidos, como no caso da América Latina, adotando
posições que até podem, eventualmente, contrapor-se aos
interesses dos EUA e seus aliados, mas que, na essência, significam a
defesa dos interesses dos grupos econômicos brasileiros no exterior.
A política econômica do governo Lula tem se baseado na oferta de
apoio irrestrito aos interesses dos grandes bancos e empresas industriais,
brasileiras ou estrangeiras, não faltando concessões a grupos
madeireiros ou apoio financeiro a bancos e empresas industriais em dificuldade,
em meio à crise econômica, como foi o caso do grupo Votorantim.
O crescimento, tímido, da economia brasileira, nos últimos anos,
se deu basicamente às custas da expansão da fronteira
agrícola, das divisas provenientes da exportação de
minérios e produtos agrícolas, do impacto do crescimento da
atividade de exploração e produção de
petróleo no mar e do efeito de uma demanda interna de equipamentos e
bens de consumo duráveis, fomentada com uma política de
crédito ao consumidor uma política praticamente ausente,
até recentemente, no Brasil que tem um perfil de
autossustentação que, mesmo com uma escala limitada, gerou uma
relativa expansão das camadas médias.
Lula acena com algumas medidas de fortalecimento do Estado, como no projeto do
regime de partilha para a exploração do petróleo da camada
pré-sal e na retomada de algumas empresas estatais como a Brasil
Telecom. Ao mesmo tempo, mantém o programa de bolsas-família
(criado no governo FHC, a partir de sugestão do Banco Mundial) e adota
outras medidas de caráter assistencialista.
No entanto, o quadro geral da distribuição de renda no
país alterou-se muito pouco, sendo alarmante o número de
residências precárias e sem saneamento básico (mais de 50%)
e situadas em áreas desprovidas de infraestrutura urbana, o elevado
patamar de desemprego, a alta incidência de verminoses e doenças
decorrentes da subnutrição e outras que já haviam sido
erradicadas, a total falta de proteção previdenciária aos
trabalhadores, a insuficiência e fragilidade dos sistemas públicos
de saúde de educação, de transportes e outras áreas
de interesse social.
IV - O que está em disputa nas eleições de 2010
As eleições deste ano dividem, aparentemente, os dois blocos que
representam os interesses da burguesia: de um lado, o PSDB e seus aliados,
sustentados pelo grande capital financeiro, propondo mais neoliberalismo, menos
direitos para os trabalhadores, mais liberdade para os capitais, mais
dependência aos EUA e seus aliados; de outro, o PT e seus aliados,
mantendo o domínio burguês e a política econômica
neoliberal, com algumas concessões de caráter assistencialista e
alguma dose de maior independência no campo internacional. Na
essência, a disputa se dá em torno da gestão do aparelho de
Estado, com poucas distinções quanto ao projeto político
em si.
Para o PCB, a disputa eleitoral se insere estrategicamente na luta pela
superação revolucionária do capitalismo e pela
construção do Socialismo. A ação eleitoral se
soma às manifestações de dissidência contra a ordem
e na defesa das conquistas e direitos dos trabalhadores.
A Campanha Movimento do PCB
, estruturada na perspectiva de contribuir para a organização da
Frente Anticapitalista e Antiimperialista
e do seu programa de superação do capitalismo, aponta para a
construção de um bloco político contra-hegemônico
de partidos, organizações políticas e movimentos
populares , cuja força estará ligada à capacidade
de a classe trabalhadora entrar em cena novamente com independência e
autonomia histórica, bem como à iniciativa das vanguardas que
resistiram à acomodação e mantiveram-se em luta contra a
ofensiva do capital monopolista.
V - Um programa anticapitalista e antiimperialista para o Brasil
O PCB participa das eleições de 2010 combatendo a
institucionalidade política que, consolidada nos marcos da hegemonia
liberal burguesa, se apresenta hoje como a rendição a formas
viciadas e tradicionais de fazer política, de fisiologismo,
corrupção, manipulação de massas para fins
eleitorais, controle autoritário das máquinas políticas,
personalismo e caciquismo, simbiose com o capital para financiar as campanhas,
comprometimento dos candidatos com os esquemas que os financiaram e desvios
burocráticos no controle dos mandatos e cargos governamentais.
Esta institucionalidade consolidou uma cultura passiva da maioria dos
brasileiros em relação às eleições, com uma
divisão social e técnica do trabalho político-eleitoral na
qual cabe a militantes profissionais a condução das campanhas,
apenas para certas lideranças o papel de candidatos e, aos
trabalhadores, o papel de meros eleitores. Descaracterizaram-se os programas
como expressão de interesses reais das classes, transformando-os em
peças de marketing político, quando não em puro
oportunismo eleitoral. Há um evidente desgaste no que se refere à
capacidade de que o processo eleitoral conduza à real
solução dos problemas vividos pela população, e a
desigualdade das condições de disputa eleitoral é cada vez
mais desfavorável para candidaturas contestadoras da ordem.
Mesmo sob condições adversas, o PCB entende que as
eleições são um momento importante na vida política
do país. Um momento em que os partidos e forças políticas
podem apresentar-se diretamente, levando sua visão e sua
avaliação quanto às condições de vida dos
trabalhadores, seu entendimento quanto às causas profundas dos problemas
que afligem a maioria da população e, principalmente, suas
propostas para a construção de uma nova sociedade.
Para o PCB, as precárias condições de vida da maioria dos
trabalhadores e a exclusão de grandes contingentes da
população da possibilidade de ter um emprego formal, com os
direitos trabalhistas garantidos, de ter direitos sociais como uma
aposentadoria digna, moradia, assistência à saúde e acesso
à educação são causadas pelo sistema
capitalista e a dominação imposta sobre a classe trabalhadora
pela burguesia, que se traduz na propriedade das fábricas, dos bancos,
das fazendas, no controle do poder político sobre a difusão das
informações pela grande mídia e outros meios.
Propomos, como alternativa,
a construção revolucionária do Socialismo
, formulado a partir do balanço crítico das experiências
socialistas do século XX, do acúmulo gerado pelos governos
progressistas da América Latina e de países de outras
regiões, das lutas, dos experimentos e das proposições dos
movimentos dos trabalhadores, dos partidos comunistas, socialistas e de outros
grupamentos que lutam contra a exploração capitalista e contra o
imperialismo.
O PCB tem plena clareza de que, no Brasil, não será apenas pela
via eleitoral que a justiça social será alcançada, e de
que o capitalismo só poderá ser superado por meio de um grande
movimento de massa, com a vitória dos ideais socialistas e comunistas na
disputa de ideias, valores, visões de mundo e projetos de futuro que se
trava no seio da sociedade, com a organização dos trabalhadores
num patamar superior: a revolução socialista.
É com este espírito que apresentamos, nestas
eleições, um programa político que aponta para o
exercício do poder como um elemento de organização e de
apoio à classe trabalhadora na luta contra a classe burguesa, um
programa de execução possível e viável, mas que,
pela sua natureza anticapitalista e antiimperialista, requererá, para a
sua execução, grande apoio, mobilização e
participação popular e a transformação profunda do
próprio aparelho de Estado.
O programa que apresentamos se pretende um eixo de lutas contra a ordem
burguesa, na perspectiva da formação do
Bloco Revolucionário do Proletariado
e da construção de uma contra-hegemonia, numa aliança de
segmentos da classe trabalhadora capaz de contrapor ativa e decididamente ao
poder liberal burguês um poder proletário e popular, organizado e
centralizado, para unificar as diversas demandas particulares em um programa
geral de lutas e de ação do poder político.
O programa aponta para a construção de uma ordem institucional e
política própria dos trabalhadores, capaz de impulsionar a
criação de uma nova cultura proletária e popular e de
contribuir para colocar o bloco proletário em movimento na luta contra a
ordem conservadora.
A governabilidade, assim, será garantida pela mobilização,
pela criação de referências claras, para os trabalhadores,
desta nova ordem de cunho socialista, com mudanças estruturais no
país, novas conquistas e formas ativas de participação e
de exercício coletivo do poder político.
VI - Os grandes eixos do Programa
1 Uma Democracia de Novo Tipo: o Poder Popular
O PCB luta pela inversão da base do poder político atual
lastreado no domínio econômico dos grandes grupos capitalistas
, pela construção da democracia direta dos trabalhadores,
com o fortalecimento do poder popular e a reformulação do sistema
partidário-eleitoral atual.
Propomos a instituição de novas formas de
representação direta dos trabalhadores
o Poder Popular
, que viabilizarão a mais ampla liberdade de opinião, com
a participação de movimentos organizados e partidos
políticos.
Entendemos ser necessárias: a reforma do sistema de
representação político / institucional / partidário
/ eleitoral vigente, com a proposição de um Congresso Nacional
unicameral, com o fim do Senado e a abertura das Tribunas parlamentares para
organizações de trabalhadores e de lutas sociais; uma reforma
eleitoral, com a adoção do financiamento público de
campanha, a mais ampla liberdade de organização
partidária, acesso ampliado dos partidos à mídia, fortes
restrições ao uso do poder econômico nas
eleições, a adoção do sistema de listas
partidárias; a ampliação da participação
popular nas decisões através da convocação de
plebiscitos e referendos para os temas de maior interesse dos trabalhadores;
ampliação do direito de iniciativa legislativa popular; a mais
ampla liberdade de opinião para todos, para as
organizações sindicais e partidárias e para os movimentos
sociais e populares em geral; abertura imediata de todos os arquivos da
ditadura e criação de uma efetiva Comissão de Verdade;
luta pela revogação da decisão do STF de anistia aos
torturadores.
2 Um Estado de Novo Tipo e uma Nova Sociabilidade
É necessário transformar o atual Estado moldado segundo os
interesses da classe dominante com a criação de novas
instituições, sob controle dos trabalhadores.
O Estado precisa desenvolver o papel planejador, produtor e provedor de
serviços sociais e de bem-estar em geral para todos os brasileiros, em
substituição à regulação feita pelo mercado,
conforme o interesse dos grandes grupos capitalistas e monopolistas.
É preciso garantir e apoiar a maior organização dos
trabalhadores em sindicatos, associações e partidos
políticos. Será imprescindível promover permanente
mobilização dos trabalhadores e dos setores populares visando
à conquista e a efetiva implementação dos mais amplos
direitos sociais e políticos, como o direito à vida, ao trabalho,
à informação, à participação no
processo político-decisório, à educação
plena e a outros direitos sociais, assim como à propriedade coletiva dos
principais meios de produção.
O Programa Anticapitalista e Antiimperialista do PCB
prevê a superação de toda a exclusão social e
cultural, como resultante do processo de lutas construído em conjunto
com os movimentos organizados dos trabalhadores, para a retomada da
prática do convívio entre todos, para a promoção
dos valores do altruísmo e do coletivismo, para a
superação dos conflitos e preconceitos raciais, de gênero,
de etnias e comportamentais.
3 Uma Nova Economia: controle dos meios de produção pelos
trabalhadores e reordenação da produção
O PCB defende a estatização dos principais meios de
produção em substituição à grande
propriedade privada, industrial, comercial e agrária, assim como de todo
o setor financeiro, com o controle progressivo de todas as grandes empresas
pelo Estado e pelo Poder Popular.
São consideradas prioritárias as áreas de infraestrutura
portos, estradas, silos, geração e transmissão de
energia, da indústria de base, de máquinas e equipamentos, e
todas aquelas consideradas estratégicas e essenciais para a garantia de
condições dignas de vida à classe trabalhadora.
Uma nova política econômica deve ser pensada visando à
construção das bases para a superação do
capitalismo, na direção da economia socialista. Isto implica na
necessária substituição do desenvolvimento econômico
determinado pelos imperativos do mercado pelo desenvolvimento voltado ao
atendimento das necessidades sociais e da qualidade de vida dos trabalhadores e
das camadas populares.
A nova política econômica também deve prever:
a) A produção em larga escala de materiais de
construção, medicamentos, roupas, livros e todos os produtos
essenciais para a vida, garantida a sua distribuição a
preço de custo ou subsidiados, ao passo que todos os produtos
considerados supérfluos terão sua produção
sobretaxada;
b) A reordenação espacial do desenvolvimento econômico e
social, com a criação de polos de desenvolvimento no interior e
planos diretores para as grandes cidades visando à
harmonização e equalização do processo;
c) Ampla reforma urbana, visando à democratização do uso do
solo e a redução das desigualdades sociais, bem como o
macroplanejamento urbano, com a criação de entes administrativos
para as regiões metropolitanas; garantia da mobilidade urbana, da
universalização do provimento de infraestrutura, de
serviços sociais e dos serviços urbanos;
d) Reforma Agrária sob controle das organizações dos
trabalhadores, de forma a democratizar a posse da terra, especialmente com a
construção de grandes fazendas estatais e cooperativas
agropecuárias, estas em regime de usufruto e propriedade estatal;
e) Política agrícola voltada para a produção de
alimentos para o mercado interno, com garantia de financiamento e preços
mínimos, oferta de infraestrutura de armazenagem e escoamento da
produção, apoio técnico e incentivo à
cooperativização;
f) Política de incentivo à pesquisa e desenvolvimento
tecnológico, envolvendo universidades, institutos de pesquisas
governamentais e empresas públicas, voltada para as necessidades da
maioria da população e em consonância com as
potencialidades do país;
g) Produção de energia a partir de fontes renováveis;
aceleração do programa de utilização do
álcool combustível, do biodiesel e de pesquisa para o uso mais
intensivo da biomassa, das energias eólica e solar; tratamento
estratégico para as reservas de petróleo e de outros recursos
minerais brasileiros, com seu ritmo de extração determinado para
a garantia do suprimento de longo prazo das necessidades internas e com o
reinvestimento de parte majoritária das receitas geradas na pesquisa de
novas fontes de energia renováveis e no provimento de infraestrutura
produtiva e social.
O Programa do PCB prevê ainda a implantação do sistema de
planejamento centralizado, visando à introdução
progressiva de mecanismos de regulação e controle de mercados e a
implementação de instâncias decisórias nas grandes
empresas, com a participação direta dos trabalhadores.
Por isso, como medidas imediatas, propomos:
a) Criação de grandes empresas produtivas estatais, com a
participação direta dos trabalhadores na sua gestão;
b) Monopólio estatal do petróleo, com a
reestatização plena da Petrobrás, a extinção
da Agência Nacional de Petróleo (ANP) e a anulação
de todos os contratos de risco e leilões realizados em território
brasileiro;
c) Gerência dos recursos do pré-sal pela Petrobrás,
garantida sua distribuição aos Estados na proporção
inversa do IDH;
d) Reestatização da Vale do Rio Doce, da Embraer e de todas as
empresas estatais estratégicas que foram privatizadas;
e) Reestatização do sistema de geração e
distribuição de energia elétrica;
f) Fim das agências reguladoras, passando suas atribuições
para os respectivos Ministérios;
g) Controle sobre a entrada e saída de capitais, com a
estatização do sistema bancário e do câmbio, o
monopólio cambial e a adoção do regime de câmbio
fixo;
h) Reforma tributária e política fiscal orientada para a
taxação dos lucros das grandes empresas privadas, dos ganhos do
sistema financeiro e das grandes fortunas, voltada para o financiamento
desenvolvimento social;
i) Isenção de imposto de renda sobre salários;
j) Redução das taxas de juros para geração dos
investimentos necessários à retomada do desenvolvimento social
voltado à garantia de qualidade de vida da população;
l) Declaração da moratória da dívida interna, com a
instituição de uma auditoria e a imediata suspensão dos
pagamentos de todas as formas de juros dessa dívida;
m) Fim da autonomia do Banco Central.
4 Uma Nova Política Social: mais qualidade de vida, mais e
melhores direitos
O desenvolvimento científico e tecnológico, a
Educação, a Saúde, a Habitação, a Cultura,
os transportes públicos e as demais áreas vitais para o
desenvolvimento social devem ter caráter predominantemente estatal, de
acesso universal e alta qualidade, com o aumento radical de sua
participação nos orçamentos e com a
instauração de mecanismos de controle direto pelos trabalhadores.
O Programa do PCB prevê novas metas para o desenvolvimento
econômico e social, com destaque para:
a) Criação de um sistema previdenciário único e
universal para todos os trabalhadores, com a garantia de pensões e
aposentadorias plenas; fim do fator previdenciário;
eliminação do desemprego e dos empregos informais; garantia de
renda mínima, alimentação e abrigo em caráter
emergencial para toda a população; imediata redução
da jornada de trabalho, sem redução dos salários; fim do
banco de horas e elevada taxação das horas extras;
elevação imediata do salário mínimo, de acordo com
o DIEESE, e dos salários médios, visando recompor o poder de
compra dos trabalhadores, com o atendimento às necessidades fundamentais
e a melhoria da qualidade de vida;
b) Garantia da vida, com a caracterização do acesso à
saúde pública, gratuita e de qualidade como um direito;
estatização do sistema privado de saúde e expansão
da rede pública, com garantia de acesso a todos os níveis;
instituição do programa de saúde da família em todo
o país; elevação dos salários dos profissionais da
área e implementação de uma política associada de
produção e comercialização de medicamentos a baixo
preço; universalização do acesso ao saneamento
básico; legalização do aborto e fim da
criminalização das mulheres que o praticam; políticas
públicas universais que garantam assistência à
gestação, ao parto e ao puerpério, assim como os cuidados
necessários ao desenvolvimento pleno da criança: creche, escola,
lazer, saúde.
c) Universalidade do acesso à educação, com apoio à
expansão dos sistemas de ensino pré-escolar, fundamental,
médio e superior; apoio à expansão e melhoria das redes de
ensino tecnológico, com elevação dos salários dos
profissionais e melhoria da qualificação do magistério;
oferta de bolsas de estudo e apoio material para os estudantes;
erradicação do analfabetismo em todo o país;
ação cultural voltada para o resgate dos valores e
referências nacionais e para a participação na
construção de uma nova sociedade;
d) Garantia do direito à moradia, com uma política habitacional
voltada para o financiamento público de habitações de
baixa renda integradas à infraestrutura urbana, apoiada em pesquisa e
desenvolvimento tecnológico dirigido para este setor;
realização de uma reforma urbana, com a
desapropriação de espaços urbanos ociosos destinados
à especulação, para a construção de
praças, parques e habitações populares nas grandes
metrópoles, de forma a zerar o déficit habitacional nessas
regiões e expandir o programa para todas as cidades do país;
e) Desenvolvimento de uma política de transportes públicos de
qualidade nos grandes centros urbanos, com ênfase no metrô e
veículos leves sobre trilhos; elaboração de um
planejamento integrado dos transportes, com a estatização das
ferrovias, a recuperação do sistema atual e a
construção de uma rede ferroviária e aquaviária
para o transporte de produtos industrializados e mercadorias em geral;
reestatização dos portos;
f) Ampla reforma do sistema judiciário, com a garantia do acesso
à assistência jurídica para todos, acompanhamento dos
trabalhos da Justiça pelos trabalhadores e cumprimento das leis;
elevação do patamar dos direitos sociais e políticos dos
trabalhadores;
g) Pleno direito dos trabalhadores organizados e da sociedade em geral à
divulgação e ao acesso à informação,
à livre circulação das ideias, à ampla
divulgação dos debates políticos e à
produção cultural; fortalecimento do Estado e
organização de foruns participativos e decisórios no
âmbito do Poder Popular para definição das políticas
públicas de comunicação; criação de rede
estatal de televisão e rádio, com programação
voltada para a cultura e a livre circulação de
informações; revisão das concessões atuais das
emissoras de rádio e tv, para a garantia de mais densidade cultural na
programação e de não interferência política
dos interesses econômicos na geração e difusão de
informações.
5 Fim da destruição capitalista do meio-ambiente
O PCB defende tratamento prioritário para a questão ambiental,
tendo como principal eixo a retirada dos recursos ambientais não
renováveis e a preservação ambiental da influência e
dos ditames dos interesses do mercado capitalista. É preciso garantir a
sustentabilidade do meio-ambiente, com a recuperação de
áreas degradadas, o reflorestamento e a reordenação da
produção para a redução dos gastos com recursos
naturais e de energia. Por isso propomos:
a) A criação de áreas de desenvolvimento especiais, com
destaque para a Amazônia, o Nordeste, visando a implantação
de um modelo de desenvolvimento autossustentado, com a proibição
da ocupação de áreas como a floresta amazônica para
a pecuária e a formulação de um projeto para a sua
exploração econômica racional;
b) Programas especiais de proteção aos biomas, de controle e
redução da poluição do ar, de uso racional dos
recursos naturais, de reciclagem, remanufatura e tratamento de resíduos;
c) Programas voltados para a melhoria do desempenho ambiental de todas as
atividades da vida social, com destaque para a reordenação geral
da produção, a desmaterialização de produtos e a
introdução de sistemas produtivos de ciclo fechado;
d) Uso racional e soberano das reservas de recursos naturais brasileiros,
visando
garantir a sustentabilidade intertemporal e a substituição
progressiva do uso dos recursos não-renováveis pelos recursos
renováveis, no que se refere ao consumo de matérias primas e
à geração de energia;
e) Prioridade para o desenvolvimento dos modos de transporte ferroviário
e
aquaviário.
6 Uma nova inserção internacional: inserção
comercial de novo tipo, soberania e solidariedade
No que tange à inserção internacional do Brasil, propomos:
a) No campo econômico, inversão da atual inserção
brasileira no mercado mundial como exportador de matérias-primas e
importador de capitais, voltando parte das áreas agrícolas para o
consumo interno; equilíbrio na composição das trocas
comerciais, diversificando a pauta de exportações que
não mais priorizará as
commodities
agrícolas; prioridade para as importações de
máquinas e equipamentos e para políticas de
proteção ao mercado interno; parcerias com os países
latino-americanos e os países em desenvolvimento de outras
regiões para o estabelecimento de trocas comerciais mais justas; ruptura
com as políticas do FMI, com a denúncia da dívida externa
e a suspensão dos seus pagamentos, com auditoria; fim dos contratos de
empréstimos com os grandes grupos financeiros internacionais;
b) No campo político, busca de alianças entre os países em
desenvolvimento, assumindo uma posição soberana e independente
com os países desenvolvidos; prioridade para as alianças na
América Latina e para a construção das bases
econômicas com vistas ao desenvolvimento econômico e social da
região em bases igualitárias; política externa
antiimperialista, trabalhando pela paz e pela solidariedade efetiva aos povos e
países em luta pela autodeterminação e soberania;
fortalecimento dos instrumentos atualmente existentes, como a ALBA, Banco do
Sul e Unasul e criação de outros mecanismos que possibilitem uma
integração mais rápida dos países
latino-americanos;
c) No campo institucional, a reformulação do sistema das
Nações Unidas, com vistas à construção de
uma nova rede de instituições multilaterais igualitária e
capaz de intervir para a superação das desigualdades
econômicas e sociais entre os povos; a criação de uma
União Latino-Americana voltada para a classe trabalhadora, para o
desenvolvimento econômico e social equilibrado e harmonioso de toda a
região, visando um novo patamar de integração
internacional soberano e fundado nos princípios da paz e da
justiça social, iniciativa que deve estender-se para além do
comércio e da produção material, cobrindo as áreas
da saúde, da educação, da cultura, do meio-ambiente e de
todas as demais áreas afins; participação nos
fóruns internacionais incentivando encontros de governos de
países não desenvolvidos e em desenvolvimento para o
enfrentamento comum das desigualdades; fortalecimento das alianças
internacionais com os governos progressistas da América Latina; luta
pelos acordos internacionais para o combate aos problemas ambientais.
d) No campo militar, fortalecimento da defesa do país, com todos os
equipamentos necessários para que haja condições efetivas
contra as ameaças do imperialismo, enquanto nação
soberana, tanto no que se refere ao território, especialmente a
Amazônia, bem como as águas territoriais brasileiras e as riquezas
nelas encontradas; reestruturação das Forças Armadas,
dentro de uma nova doutrina de segurança popular, cujos elementos
centrais serão sua transformação em instrumento a
serviço da população e do Poder Popular; busca de
alianças nos marcos da América Latina para a defesa comum e o
desenvolvimento integrado da região; fortalecimento do programa nuclear,
em aliança com a Argentina e outros parceiros, para a
geração de energia e demais fins pacíficos;
e) Respeito à autodeterminação dos povos e a seu direito
de resistência frente à opressão e à
dominação estrangeira; pelo reconhecimento das FARC como
organização política insurgente, condição
para negociações de paz com justiça social na
Colômbia, país que vem se transformando numa base militar
norte-americana e numa ameaça para toda a América Latina;
f) Retirada imediata das tropas brasileiras do Haiti e sua
substituição por médicos, engenheiros e professores;
posicionamento pelo fim do bloqueio a Cuba e contra a base dos Estados Unidos
em Guantánamo; pelo fim da ocupação militar imperialista
no Iraque, no Afeganistão e na Palestina; apoio à
criação do Estado Palestino democrático, popular e laico,
sobre o solo pátrio palestino; devolução do Arquivo
Nacional do Paraguai e renegociação do acordo de Itaipu; apoio
aos processos de mudanças na Bolívia, na Venezuela e em outros
países; pela retirada da Quarta Frota dos mares da América do
Sul, das bases militares na Colômbia e outros países; pela
revogação do acordo militar Brasil/Estados Unidos.
Partido Comunista Brasileiro
Comitê Central
julho de 2010
Este programa encontra-se em
http://resistir.info/
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