Aproveitando-se do auge da crise política que estimularam
sangrando o PT e preocupados com um iminente impasse institucional em
meio ao agravamento da versão brasileira da crise mundial do
capitalismo, os monopólios patrocinadores das campanhas eleitorais da
grande maioria dos governantes e parlamentares impõem um novo pacto
burguês ao país.
Em troca de uma garantia formal e conjuntural de governabilidade, o PT
já no fundo do poço de sua trajetória de
conciliação com o capital e traição à classe
trabalhadora terá que aceitar uma maior
terceirização do governo, reprimir a rebeldia popular e resgatar
uma cara hipoteca: a chamada "Agenda Brasil". Isto significa que
haverá mais exploração dos trabalhadores,
privatização do patrimônio público residual,
destruição do meio ambiente e sucateamento dos serviços
públicos e do Estado, para alavancar a lucratividade dos
monopólios em nome da "responsabilidade fiscal", eufemismo
para garantir o fiel e pontual pagamento aos banqueiros e outros rentistas
beneficiários de uma dívida pública sem
transparência.
Para assegurar essa governabilidade (que em verdade só será
garantida se a economia apresentar sinais de recuperação),
resolvendo a crise política institucional para se concentrar na crise
econômica, instala-se um parlamentarismo de fato, sob o comando do
indefectível PMDB. Os próximos passos, que já se presumem,
são tirar das ruas as manifestações contra e a favor de
Dilma, livrar de processos judiciais por corrupção os que
aderirem à conciliação premiada, desativar a pauta
"bomba", no que se refere às questões fiscais, e isolar
e amaciar os parlamentares recalcitrantes que insistirem em botar fogo no circo
da democracia burguesa.
O acordo imposto pelos monopólios e costurado com as cúpulas do
PT e do PMDB, e que certamente contou com o respaldo de setores do PSDB mais
orgânicos ao capital, não significa um respaldo ao mandato de
Dilma até 2018, mas uma trégua para apagar o incêndio da
atual crise política. A arma do impedimento da Presidente
continuará como uma ameaça potencial, para que ela ceda a mais
exigências do capital e se torne cada vez mais refém dos caciques
do PMDB, que detêm todos os cargos na linha de eventual sucessão
de Dilma, por qualquer motivo.
Antevendo a vigorosa reação dos trabalhadores e dos setores
populares, tanto ao ajuste fiscal e ao corte de direitos que já
vêm sendo praticados por Dilma como à nova agenda neoliberal
anunciada como de "união nacional", o governo da Presidente
eleita pelo PT apresentou ao Congresso Nacional um projeto de lei
(número 2.016), já aprovado pela Câmara, que, a pretexto de
combater o terrorismo, tem como principal objetivo a repressão e a
criminalização das lutas populares contra a ordem do capital.
O PCB chama a atenção de militantes de partidos, correntes e
movimentos sociais ditos de esquerda que, a partir de agora, será ainda
mais insustentável a mobilização popular sob o discurso de
"defesa da democracia e contra o golpe". A burguesia já deu o
golpe e ele foi contra os trabalhadores e dentro do que chamam de democracia!
Convidamos todas as forças e expressões anticapitalistas,
principalmente as que se opõem ao governo petista numa perspectiva de
esquerda, à necessária e urgente organização e
mobilização dos trabalhadores e demais setores explorados numa
unitária e massiva campanha contra as medidas neoliberalizantes contidas
nos ajustes fiscais de Dilma e na "Agenda Brasil" e contra o projeto
de lei 2016.
É preciso ainda incluir nesta pauta a luta pela suspensão
imediata do pagamento da dívida pública. Em 2014, enquanto a
União consumiu 45,11% do seu orçamento para pagar juros e
amortizações da dívida, dedicou apenas 3,98% para a
saúde e 3,73% para a educação. Para assegurar o pagamento
aos rentistas, pontualmente, são cortados investimentos públicos
e se adiam pagamentos de direitos trabalhistas, como foi o caso recente do
abono salarial e, agora, da primeira parcela do décimo terceiro aos
aposentados.
Basta de alimentar ilusões na classe trabalhadora. Não existe
qualquer possibilidade de administrar o capitalismo de forma a torná-lo
humano e ético, sobretudo em meio à crise sistêmica de sua
forma imperialista.
Só a luta dos trabalhadores e demais setores proletários pode
garantir seus direitos e acumular forças para acabar com a
exploração e construir o Poder Popular, pavimentando o caminho
à sociedade socialista.
PCB Partido Comunista Brasileiro
Comitê Central, 18/agosto/2015
PCB não participa de ato governista.
A luta segue pelo poder popular!
O PCB compreende a iniciativa de movimentos sociais e de setores da esquerda
governista que participarão dos atos convocados para o dia 20/08. A
pauta destas manifestações é o enfrentamento à
ofensiva da oposição de direita e em defesa dos trabalhadores
contra o ajuste fiscal e os cortes impostos pelo governo Dilma. Também
é alvo dos protestos o acordo por cima em torno dos pontos da chamada
Agenda Brasil, apresentado pelo presidente do Senado e aceito pelo governo,
acordo este que impõe medidas ainda mais duras contra os trabalhadores e
a população brasileira. Por fim, os movimentos reafirmam a
necessidade de uma mudança profunda e radical em favor dos trabalhadores.
Infelizmente, estes setores não foram e não serão capazes
de neutralizar a tendência dominante de transformar essas
manifestações em atos de defesa do governo Dilma, relativizando
seu conteúdo crítico, pois governo e direção do PT
jogam peso no sentido de atenuar os elementos de crítica ao ajuste,
enfatizando a luta pela chamada "legalidade democrática".
O governo Dilma já operou o acordo por cima para se salvar, pacto que
foi referendado pelos meios de comunicação, incluindo a Rede
Globo e o
Financial Times
, assim como as poderosas organizações empresariais FIRJAN e
FIESP. E trabalha para sacralizá-lo com o Congresso Nacional, ao
preço de aprofundar ainda mais os ataques aos trabalhadores, aos povos
indígenas, ao meio ambiente e a toda população, destruindo
o caráter público do SUS e avançando na política de
cortes de verbas, que já atingem mortalmente a educação
pública e as políticas sociais.
Participar de manifestação de apoio ao governo neste momento
é dar legitimidade ao acordo que já está em andamento,
como ocorreu com o respaldo dado à presidente por estes mesmos setores
nas últimas eleições.
Por isso o PCB não participará dos atos chamados para o dia 20. A
pauta de luta contra o ajuste e os ataques aos trabalhadores terá que
seguir para além desta data, nas greves em curso e naquelas que
emergirão, na luta pela terra e pela moradia, na luta pela saúde
e a educação pública e gratuita de qualidade, acumulando
para a construção do Poder Popular, verdadeira alternativa
à crise conjuntural e ao poder burguês. Estas lutas serão,
necessariamente, contra o governo Dilma e seus aliados de direita.
Nota Política do Comitê Central do PCB
Esta notas políticas encontram-se em
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