Um governo a serviço do grande capital
Pacote da privataria petista é o "kit felicidade" do
empresariado
por PCB
A Comissão Política Nacional do PCB avalia que o recente pacote
econômico anunciado pelo governo, envolvendo recursos no valor de R$ 133
bilhões
[1]
para obras de infraestrutura da malha ferroviária e rodoviária,
consolida e aprofunda a opção do governo do PT pelo grande
capital e amplia de maneira acelerada o processo de privatização
da economia brasileira, sob os disfarçados nomes
"concessões", "parceria público-privada".
Esse pacote é apenas a primeira etapa do chamado Programa de
Investimento em Logística, que ainda vai abranger os setores de energia,
portos e aeroportos e vem consolidar a linha iniciada com a
privatização dos três principais aeroportos do País
e de uma rodovia que liga o Rio de Janeiro ao Espírito Santo.
Esta medida representa o escancaramento de uma linha política muito
semelhante à do governo Fernando Henrique Cardoso, de entregar o
patrimônio público para a iniciativa privada; tanto que o
próprio PSDB publicou matéria paga nos jornais cumprimentando a
presidente Dilma pelo novo programa de privatizações. Além
disso, todo o empresariado comemorou o pacote e fez coro em elogios à
presidente, chegando ao ponto de Eike Batista, o empresário mais rico do
País, ter definido o pacote como o "kit felicidade" para o
empresariado.
O chamado choque de capitalismo um volume colossal de concessões
à iniciativa privada, como bem definiu a revista reacionária
Veja
vai privatizar 7,5 mil quilômetros de rodovias, muito mais que
todas as concessões do governo passado, que atingiram pouco mais de 5
mil quilômetros, e ainda 10 mil quilômetros de ferrovias. Como
informa orgulhosamente o jornal
O Globo,
porta-voz dos interesses do grande capital, o Brasil, com 23,4 mil km de
rodovias com pedágio
[2]
, passa a ser recordista mundial dessa forma de privatização,
à frente até da Alemanha e Estados Unidos.
Para facilitar ainda mais a vida do empresariado, o governo se encarregou de
garantir a compra de toda a capacidade de transporte de carga das novas
empresas concessionárias, o que significa que esses empresários
não correrão qualquer risco de prejuízo em caso de baixa
demanda por transporte de carga.
Além disso, ainda dentro do pacote de bondades ao empresariado, ficou
acertado que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES) financiará cerca de 80% dos projetos de
privatização, num processo também semelhante ao do governo
FHC. É o dinheiro público, mais uma vez, financiando os
investidores privados. E, para que não se tenha dúvida dos
objetivos do governo, este ainda vai conceder incentivos (renúncias
fiscais) aos consórcios vencedores das privatizações das
rodovias e ferrovias e divulgar nas próximas semanas novas medidas
privatizantes na área de portos e aeroportos.
O governo, anuncia com alegria a imprensa burguesa, também
concederá "incentivo" adicional aos vencedores das
concessões: a desoneração da folha salarial nos setores de
transporte aéreo e de carga, navegação de cabotagem,
transporte marítimo, navegação de apoio marítimo e
portuário, e manutenção e reparação de
aeronaves, motores e componentes (renúncia de cerca de R$ 900
milhões
[3]
). Ganha a burguesia e perdem os trabalhadores, pois estes setores deixam de
contribuir com 20% da folha de pagamentos à Previdência Social, e
passam a recolher uma alíquota de 1% ou 2% sobre o faturamento bruto.
Trata-se, portanto, da consolidação de um modelo radical de
construção de um estado máximo para o grande capital e
mínimo para os trabalhadores. Não é essa a essência
do que se chama de neoliberalismo? Mais uma vez fica demonstrado o
caráter de classe do governo Dilma: enquanto nega reajuste de
salários aos 400 mil funcionários públicos e professores
universitários em greve e endurece as negociações com os
trabalhadores, abre os cofres do governo, via BNDES, para os empresários
adquirirem o próprio patrimônio público. O mais vergonhoso
é que a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e outras centrais
pelegas
[4]
, que deveriam estar ao lado dos trabalhadores grevistas, avaliaram as medidas
privatizantes como positivas e deram seu aval às
privatizações, o que demonstra a completa
degeneração tanto do sindicalismo chapa branca
[5]
quanto do sindicalismo pelego
[6]
no Brasil.
Não precisamos esperar que os vencedores das concessões sejam
anunciados para saber, a priori, que, além das empreiteiras e dos novos
ricos escolhidos pelo governo, os fundos de pensão ligados ao
sindicalismo oficial e pelego (como Previ, Petros e Funcef) estarão
entre os principais beneficiários da decisão do governo. Mais uma
vez, o "PT Patrão" estará representado nos conselhos de
administração das grandes empresas que serão criadas, em
novos setores estratégicos da economia brasileira.
Com esse pacote de privatizações, o governo do Partido dos
Trabalhadores (e seus aliados à esquerda e à direita) tira a
máscara definitivamente e sepulta as ilusões dos ingênuos e
daqueles que ainda acreditavam que esse governo possuía alguma
dimensão popular. Além disso, confirma as
avaliações que o PCB vem fazendo a respeito do PT desde 2005,
quando rompemos com o governo e passamos a ter uma posição
independente, mesmo com a incompreensão de vários setores da
esquerda. Afinal, o critério para avaliar um governo é a sua
relação com os interesses dos trabalhadores. E, nesse caso, essa
é uma administração que governa essencialmente para o
capital, que articula e financia seus negócios, e dá apenas
migalhas para os trabalhadores, de quem ainda quer retirar o pouco que
têm, com a proposta de flexibilização para baixo de
direitos trabalhistas, que em breve enviará ao Congresso Nacional.
PCB Partido Comunista Brasileiro
Comissão Política Nacional, agosto de 2012
[1] 53 mil milhões
[2] Pedágio: portagem
[3] 359 milhões
[4] Centrais pelegas: centrais amarelas
[5] Chapa branca: cor da matrícula dos carros oficiais
[6] Sindicalismo pelego: sindicalismo amarelo
O original encontra-se em
pcb.org.br/...
Esta declaração encontra-se em
http://resistir.info/
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