Carta de São Paulo:
Por um Bloco da Esquerda Socialista
A luta de classes no Brasil entrou em uma nova etapa. Vivemos uma das crises
econômicas e sociais mais graves de nossa história. Junto com ela,
uma crise política resultante, de um lado, das manobras
antidemocráticas da direita e do grande capital e, de outro, da absoluta
falência da política de conciliação de classes
adotada pelo PT e o modelo lulista.
A ofensiva da direita e as manobras antidemocráticas que resultaram no
impeachment de Dilma Rousseff oferecem ao grande capital uma chance para que
aprofundem ao máximo sua política de colocar na conta dos
trabalhadores e do povo todo o peso da crise. Com Michel Temer buscarão
aplicar de maneira mais brutal as contra-reformas estruturais que o
débil governo de Dilma vinha aplicando de maneira lenta.
Diante de nós temos a ameaça concreta de uma nova contra-reforma
da previdência, o fim da garantia legal dos direitos trabalhistas, a
desvinculação permanente dos recursos da saúde e
educação no orçamento e uma política radical de
privatizações. Já estamos vendo a
concretização dessa política de ataques nos cortes do
programa Minha Casa Minha Vida Entidades e o desmonte do
Ministério da Cultura. Além disso, existe o risco de um
retrocesso histórico nos direitos das mulheres, negros e negras,
população LGBT, indígenas, etc.
Sem ter recebido nenhum voto e sem apoio popular, o conglomerado
reacionário que usurpou o poder (PSDB, DEM, PMDB, etc), liderado por
Michel Temer, terá que recorrer à repressão em
níveis qualitativamente superiores para que consiga implementar suas
políticas. Para isso, aprofundará a criminalização
dos movimentos sociais e a perseguição a quem luta e resiste.
Poderá inclusive utilizar-se do aparato repressivo e legal (como a lei
antiterrorismo) criados pelo próprio governo Dilma Rousseff.
A luta contra o governo ilegítimo, golpista e antipopular de Michel
Temer é a tarefa central de toda a esquerda e dos movimentos da classe
trabalhadora, de todos os explorados e oprimidos em nosso País. Lutamos
para construir um grande movimento de massas pelo "Fora, Temer" e
suas políticas de ataques aos direitos e garantias dos trabalhadores, na
perspectiva de construção de um novo rumo para o País.
Para isso, é preciso o máximo de combatividade,
organização de base, democracia e unidade nas fileiras da classe
trabalhadora, da juventude e do povo.
Um exemplo da combatividade e radicalidade necessários é o da
juventude estudantil na ocupação de escolas em vários
estados e sua disposição de luta conjunta com os trabalhadores da
educação, como no caso do Rio de Janeiro.
Porém, além disso, essa nova etapa exige novas respostas e
alternativas políticas que a esquerda socialista ainda não foi
capaz de apresentar plenamente. Essa alternativa política se mostra
ainda mais urgente na medida em que a velha direção lulista e
petista coloca a nu todos os seus limites e debilidades.
Um dos principais obstáculos da luta contra a direita no último
período, incluindo a luta contra o impeachment, foi o caráter
burguês e antipopular do próprio governo Dilma. Esse governo
até o último dia insistiu em aplicar políticas
típicas da direita como a lei antiterrorismo, o apoio ao projeto de
abertura do pré-sal para exploração de empresas
estrangeiras, a reforma da previdência, o PL 257 que ataca os servidores
e, mesmo com o impeachment já definido, ainda buscava ilusoriamente um
pacto nacional com a burguesia.
As direções do PT e do PCdoB, atreladas ao governo como estavam,
não foram capazes de levar a luta até as últimas
consequências. Da mesma forma, não conseguem apontar uma
estratégia de luta contra Temer que vá além da disputa
institucional e supere sua velha forma de fazer política, além de
procurar desviar a luta das massas contra o impeachment para ilusões em
relação à disputa eleitoral de 2018.
Uma nova alternativa de esquerda é urgentemente necessária. Uma
alternativa que rejeite o sectarismo estéril que saiba, portanto,
fazer unidade de ação contra o inimigo de classe e ao mesmo tempo
saiba construir coletivamente, sem hegemonismos, no campo da esquerda, uma
frente de luta anticapitalista, que recuse firmemente o atrelamento à
estratégia do lulismo e que aponte uma nova perspectiva para os
trabalhadores.
A construção dessa alternativa política passa
necessariamente pela unidade das forças políticas e sociais da
esquerda socialista sobre uma base programática clara, anticapitalista e
socialista. Por isso, defendemos a construção de um Bloco da
Esquerda Socialista para lutar em todos os espaços possíveis,
unificando partidos como o PSOL, PSTU e PCB, organizações
políticas de esquerda não legalizadas e movimentos sociais
classistas e combativos, como o MTST, a CSP-Conlutas, Intersindical,
além da juventude que enfrenta com bravura a política neoliberal.
Esse bloco político unificado da esquerda socialista poderá
representar um grande polo de atração para amplos setores que
estão tirando as conclusões sobre os limites do lulismo e do PT e
suas organizações aliadas, além de poder atrair as novas
gerações que nunca tiveram referência nessas velhas
direções.
Na luta por esse Bloco da Esquerda Socialista buscaremos promover a
discussão política sobre programa, políticas,
táticas e estratégia, além de uma
intervenção organizada em todos os espaços de luta da
classe trabalhadora. Não somos aqueles que já têm as
respostas prontas, mas sim aqueles que querem, a partir do debate franco e
aberto e da atuação concreta na luta, ajudar na
construção de novas sínteses e alternativas para os
trabalhadores e a juventude.
Primeiros signatários
Coletivo "Chega de Sufoco"- Metroviários
Conspiração Socialista CS
Insurgência (PSOL)
Liberdade, Socialismo e Revolução LSR (PSOL)
Nova Organização Socialista NOS (PSOL)
Partido Comunista Brasileiro PCB
Socialismo ou Barbárie SoB (PSOL)
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