Um jornal para nossa classe: dez anos do
Brasil de Fato
A história da imprensa no Brasil é pródiga por agir em
duas direções: por um lado, no conluio do aparato de Estado com
os meios de comunicação a serviço da burguesia, e por
outro, a extrema repressão, desses mesmos agentes, aos instrumentos de
divulgação e formação da classe trabalhadora.
O Partido Comunista Brasileiro mesmo com a extrema perseguição
política e a ilegalidade a que esteve submetido por longos
períodos da sua história, sempre teve jornais semanais e
até mesmo diários, assim como revistas de
circulação nacional. Outras organizações, já
no término da ditadura burgo-militar de 1964, também
construíram experiências de jornais alternativos para lutar pelos
interesses dos trabalhadores na transição para o Estado de
direito. Mas, a esquerda brasileira não avançou para ter um
jornal de ampla circulação que unificasse os interesses da nossa
classe.
Há dez anos surgia o
Brasil de Fato
, em 25 de janeiro de 2003. Hoje, esse instrumento unitário dos
movimentos populares está fazendo aniversário. Trata-se de um
espaço onde os trabalhadores, os diversos movimentos sociais e as lutas
mais sentidas do povo brasileiro encontram a divulgação merecida.
Os fatos do Brasil e do mundo são apresentados pela ótica da
nossa classe, levando-se em conta a verdade, que é sempre
revolucionária.
Essa forma comprometida de fazer a imprensa popular se consolidou no trabalho
realizado pelo
Brasil de Fato.
Neste espaço plural da esquerda brasileira, encontramos o combate ao
aparato burguês, e a informação básica para
alimentar os lutadores sociais no seu caminhar pela trilha do acirramento da
luta de classes. Esse jornal apresenta uma proposta contra-hegemônica,
que procura contribuir com os trabalhadores na construção de
outra sociabilidade humana.
Em um país historicamente marcado pelo déficit
democrático, cujas raízes remontam o escravismo, à
política racista como regulação social e o patrimonialismo
como gestão de Estado, a caminhada dos trabalhadores é revestida
de enorme esforço. A luta pela terra, a defesa do meio ambiente, a
manifestação da cultura popular, o apoio irrestrito aos
trabalhadores em seus confrontos e a defesa de uma educação
emancipadora, encontram no espaço democrático do
Brasil de Fato
a repercussão que a luta precisa para prosseguir.
Queremos contribuir para que esse instrumento da imprensa popular seja um
semanário que se transforme numa representação da frente
de esquerda, tendo como horizonte próximo o projeto de tornar-se um
jornal diário, para responder à necessidade da nossa classe de
enfrentar a ideologia do capital, em um país onde a burguesia controla
de forma violenta os meios de comunicação, contando com a
leniência dos governos.
Esse projeto vigoroso de tornar-se diário será efetivado a partir
da participação das forças políticas e sociais, da
crítica fraterna e construtiva à linha editorial, possibilitando
ao jornal encontrar a linha política mais conseqüente, que
abrirá o caminho mais justo para representar o conjunto de forças
que no Brasil luta pela transformação social de caráter
anticapitalista, na perspectiva do socialismo.
Neste momento de comemoração, um registro se faz relevante:
enviamos uma saudação fraterna e convicta ao coletivo de homens e
mulheres, profissionais e militantes que, com a sua dedicação
revolucionária, constroem esse instrumento da classe trabalhadora, que
com acertos e, até mesmo, com problemas se mantém no destacamento
de apoio as vanguardas em luta por todo o Brasil. Afinal, são dez anos
de muitas batalhas de uma guerra em movimento. É dessa experiência
de imprensa popular que as massas trabalhadoras necessitam, para fazer, com a
sua agitação e propaganda, a pauta da luta social avançar
por todos os rincões do país, ajudando a formar o povo
filosófico.
Agora uma nova fase se apresenta para o
Brasil de Fato.
Precisamos avançar nas diversas frentes que, por ora, foram abertas
pelo jornal. Consolidar uma linha editorial com profunda independência de
classe, abrir espaços políticos nas diversas
organizações da esquerda revolucionária brasileira, e ser
um formador coletivo com capacidade real de contribuir para a
direção moral e intelectual dos trabalhadores na sociedade
brasileira.
Esse projeto, essa luta, esse compromisso faz do
Brasil de Fato
um jornal ao lado da nossa classe. Que a luta continue... Agora, mais forte do
que antes.
[*]
Professor de Ciência Política da
Universidade do Estado da Bahia (UNEB), editor da revista
Novos Temas
e membro do CC do PCB.
este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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